* Carlos Matos Gomes
Considerar inteligência como a capacidade de comparar soluções mais vantajosas é negar a arte. A inteligência é, em minha opinião, um atributo de todas as espécies, é circunstancial e pode ser tratada como tratamos os outros componentes dos nossos corpos, a potência dos nossos músculos, a flexibilidade do nosso esqueleto, a coordenação dos nossos movimentos, o tempo de reação dos nossos reflexos e tem a mesma finalidade: tornar cada espécie e cada ser dentro de cada espécie mais apto para sobreviver e para dominar.
Estamos a descobrir como o modo como a inteligência é manipulada constitui um elemento essencial para o domínio da vida em sociedade amputada do sentido do dever.
Voltemos a Cícero: De facto, parcela alguma da vida, quer nos negócios públicos, quer nos da esfera estritamente pessoal pode prescindir do dever” “Toda investigação a respeito do dever é de dois tipos. Um envolve o limite dos bens, o outro os preceitos pelos quais o seu uso para a vida passa a ser confirmado em todas as partes”.
Tomar a ciência, a tecnologia como o centro do poder político é hoje, ou devia ser, a prioridade da sociedade como um todo, devia constar dos programas dos partidos, da discussão pública, devia ser a preocupação dos democratas, dos políticos, dos intelectuais porque um dia seremos todos ovelhas do rebanho do senhor Elon Musk, como Trump já é.
Os movimentos progressistas deviam concentrar a sua atenção na utilização política da tecnologia e não ficarem encadeados com as luzes e estrelinhas que projetam. A Google, a Microsoft, a Amazom, a X, a Starlink, o GPS, são instrumentos do exercício da política, são o instrumento que, como há 2 mil anos, orientava as naves romanas no Mediterrâneo. São o Cavalo de Troia. São as Parcerias Publico-Privadas, são a emissão de moeda, o dólar, sem base material. A imposição do domínio das capacidades dos computadores, dos seus programas e das bases de dados — conectadas através de cabos submarinos e de redes de satélites — por uma única potência é o centro de todas as disputas a que estamos as assistir. Vivemos uma situação idêntica à do início do século XX (1913) — quando a família Rothschild finalmente conseguiu introduzir nos Estados Unidos o sistema bancário que havia criado na Europa a partir do final do século XVII, assente no que pomposamente se designa por fractional reserve lending, ou “empréstimo baseado numa reserva fracionada” ou “empréstimo sem cobertura ou base real”. Embora de enunciado complexo, a prática é muito simples. Significa emprestar mais dinheiro do que está em caixa e transformou-se na maior fraude de todos os tempos, na principal responsável pela vasta pobreza que assola o mundo e responsável pelas guerras que se travam.
Hoje o domínio da tecnologia é o equivalente ao domínio do dólar e ao sistema de fractional reserve lending. Devíamos pensar em colocar este assunto no centro da discussão política.
O uso da inteligência é o ponto central da organização das sociedades, logo da política.
Em que medida os cidadãos têm o poder de determinar o uso a inteligência, ou do resultado da inteligência?
Falamos de democracia e referimos muitas vezes a frase falaciosa de Churchill de que é o pior sistema excetuando todos os outros — ora nem o regime inglês foi uma democracia — é um sistema de castas — nem os cidadãos ingleses tiveram poder de decidir o uso dos seus meios — a expansão inglesa é uma associação entre piratas em comerciantes — da qual os cidadãos ingleses estiveram arredados. A inteligência dos poderosos consistiu, como consiste hoje, em convencer de que as ações da inteligência de uma minoria contribuem para a felicidade — sempre associada ao poder — da maioria.
A inteligência — de novo natural ou artificial — que permitiu a exploração das minas do norte de Inglaterra teve como primeira resposta a utilização de crianças como mineiros das frentes de exploração, por serem mais pequenas e não terem responsabilidades familiares. Uma solução deste tipo é fruto da inteligência natural ou artificial, ou apenas da ambição de lucro e ausência de valores para além da inteligência? #
Termino com dois títulos, o do romance de Lobo Antunes: O que farei quando tudo arde?, que é o do poema de Sá de Miranda. E o de Por um Mundo Novo, a Sério, de Pedro Ferraz de Abreu e com uma imagem da Inteligência Natural — o grande computador: o Dólar.
2024 12 15
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