Esta quinta-feira (2) marcou os 54 anos da morte do escritor Ernest Hemingway. E neste ano o Campeonato de Pesca de Peixe Agulha Ernest Hemingway, realizado em Cuba, foi o maior dos últimos tempos. O principal hobby do mestre das palavras era a pesca esportiva e foi, em primeiro lugar, o mar cubano que o seduziu, não a Revolução, apesar de ser um apoiador declarado da investida do jovem Fidel Castro contra o ditador Fulgêncio Batista.
Por Mariana Serafini
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O Velho e o Mar rendeu a Hemingway, além do Nobel, um Pulitzer
Hemingway e Fidel, nunca foram amigos, na verdade só se viram uma vez, quando o jovem revolucionário venceu o concurso de pesca. Porém, a admiração era mútua. Anos depois da revolução o líder cubano confessou que, durante a batalha na Sierra Maestra estava lendo, Por quem os sinos dobram, e disse ter aprendido muito com a obra sobre táticas de guerrilha. Em tom também de admiração, o escritor disse certa vez em uma entrevista no aeroporto de Havana que a Revolução havia sido o melhor acontecimento em Cuba. Dois mestres, cada um em seu front.
Apesar de nunca ter tido um forte engajamento político, era nítida a simpatia de Hemingway pelo comunismo, iniciada durante a guerra Civil Espanhola, que ele acompanhou de perto.
Um escritor genial e um pescador beberrão, talvez em vida tenha sido famoso mais pela segunda característica. Autor de uma obra vasta, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1954, dois anos depois de publicar sua obra-prima O Velho e o Mar.
Nesse livro, os valores e a consciência política de Hemingway são expressados com maestria. A obra relata as dificuldades de um velho pescador ao se lançar sozinho no mar em busca de seu sustento. De forma sagaz e intensa, o escritor destrincha a relação do homem com o trabalho na sociedade moderna onde vale entregar a própria vida para fazer valer a máxima de que “o trabalho dignifica o homem”. Não, este trecho não se trata de “spoiler” da obra. O personagem Santiago não morre.
Santiago, que lutou contra tubarões, se lança ao mar em busca não só do sustento, mas de uma prova capaz de fazê-lo sentir-se digno diante dos demais pescadores, e orgulhoso de seu trabalho. O Velho e o Mar talvez seja a melhor metáfora, ainda hoje, sobre esta relação do homem com o trabalho.
Foto do fotógrafo da Revolução, Alberto Korda
Uma vida agitada por torneios de pesca, porres homéricos e infinitas discussões com cada uma de suas quatro esposas levaram Hemingway a cometer suicídio. Aos 61 anos, enfrentando hipertensão, diabetes, perda de memória e depressão, Hemingway disparou contra si a mesma arma que seu pai usou para se matar em 1929. Deixou para trás sua última esposa, Mary, sua casa em Habana Vieja com mais de dez mil livros e seu prazer pela pesca.
Hoje os amantes da literatura de Hemingway podem facilmente reconstruir a rotina do escritor por entre as ruas de Havana. Sua casa se tornou um museu, com a organização interna intacta, como ele e Mary deixaram, incluindo todos os livros e manuscritos. Os bares da região também preservam os lugares exatos onde ele costumava se sentar e o famoso mojito, que lhe causou muitas ressacas.
Considerado de uma “geração perdida” de escritores, todos com uma forte relação com a Europa, Hemingway se destacou não só pelo seu temperamento excêntrico, mas principalmente por sua linguagem acessível. Talvez sua relação com os pescadores da região o tenha ajudado a desenvolver este estilo, ao mesmo tempo simples e perspicaz.
Há apenas uma obra sobre Hemingway no cinema, trata-se do filme Hemingway & Gellhorn, que retrata sua vida desde o fim do casamento com sua segunda esposa, Pauline, e a parceria intensa com a jornalista Marta Gellhorn, com quem iniciou um relacionamento durante a Guerra Civil Espanhola.
Assista ao trailer de Hemingway & Gellhorn:
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