«Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura, famintas histéricas nuas,/ a arrastarem‐se na aurora pelas ruas de negros em busca de uma dose feroz,/ gingões de angélicas cabeças ardendo pelo velho contacto celeste com o dínamo estelar na maquinaria da noite,/ que de miséria e andrajos e olhos cavos e alucinados se sentavam a fumar na penumbra sobrenatural de quartos de águas frias/ flutuando pelos cumes das cidades contemplando o jazz». Assim começa o icónico poema “Howl” (Uivo), de Allen Ginsberg, que abalou a sociedade norte-americana e revolucionou a poesia. Inicialmente considerado obsceno e proibido pelas autoridades – eram tempos de racismo, de caça aos comunistas, de conformismo – , “Howl and Other Poems” tornou-se num sucesso de vendas e numa espécie de manifesto da Beat Generation, movimento contestatário que tirou a poesia dos gabinetes e a trouxe para a rua. Filho de descendentes de imigrantes judeus russos, o pai poeta-professor e a mãe comunista, Ginsberg combateu a censura, a guerra, os preconceitos sexual e racial, a repressão, e sobretudo bateu-se pela liberdade de expressão. Quando morreu, em 1997, “Uivo e Outros Poemas” tinha vendido mais de 800 mil exemplares e estava traduzido em mais de 25 línguas.
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