quarta-feira, 12 de junho de 2024

António José Rodrigues - Abril Sempre. A propósito do 25 de Novembro,

 

OPINIÃO - 11 junho 2024 -  

* António José Rodrigues

Membro do Grupo de Estudos do PCP para a Defesa Nacional

Os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975 são o corolário de um longo período de instabilidade e das várias tentativas de estancar a Revolução de Abril e as suas conquistas. Aliás, são os “herdeiros” dessas acções contra-revolucionárias que hoje clamam pela celebração do 25 de Novembro, procurando ofuscar os 50 anos do 25 de Abril, ao mesmo tempo que reclamam a subversão da Constituição da República, aprovada e promulgada em Abril de 1976, apesar do 25 de Novembro, visando apagar princípios e valores que ela encerra, apesar de sucessivas revisões, e atentar contra o regime democrático e os direitos progressistas nela inscritos. Os que viram defraudados os seus objectivos de no 25 de Novembro liquidar a liberdade e a democracia, procuram hoje o que então não conseguiram.

O 25 de Novembro retrata um longo processo que seguiu a lógica e objectivos das várias tentativas e acções contra-revolucionárias como o golpe Palma Carlos, o 28 de Setembro e o 11 de Março, visando controlar, conter e, em certos casos, inverter o processo de democratização e descolonização encetados com a Revolução de 25 de Abril. Acções e golpes, que os seus autores e cúmplices procuraram justificar como sendo respostas a tentativas ou golpes das forças democráticas mais consequentes, nomeadamente dos comunistas.

O 25 de Novembro de 1975 surgiu na sequência, por um lado, do chamado “verão quente”, marcado pela divisão no campo democrático e por uma intensa acção violenta e terrorista das forças mais reaccionárias dirigidas contra partidos, sindicatos e personalidades da esquerda. Por outro, da queda do V Governo Provisório e do afastamento do general Vasco Gonçalves dos cargos e das estruturas superiores das Forças Armadas e do Movimento das Forças Armadas.

O “verão quente” de 1975 foi um período caracterizado por uma profunda crise político-militar, com graves repercussões no plano económico e social e que, no essencial, marcou uma intensa actividade das forças reaccionárias face à derrota dos golpistas, em 11 de Março, cuja consequência imediata se traduziu na tomada de importantes decisões, nomeadamente a institucionalização do MFA e as transformações que se operaram no plano político, económico, social e na liquidação dos grupos monopolistas, suportes e beneficiários da ditadura.

Foi neste quadro que se desenvolveu um vasto conjunto de acções contra-revolucionárias, recorrendo ao terrorismo, procurando semear a intranquilidade, isolar as forças de esquerda, desestabilizar a situação política e pôr em causa a democracia. Uma acção terrorista que atingiu sobretudo o PCP e os sindicatos, através de assaltos, pilhagens, atentados, agressões mesmo mortes.

O 25 de Novembro, ao contrário do afirmado por muitos dos seus protagonistas não foi um golpe promovido pelo PCP, pela Esquerda militar ou pela “ala gonçalvista” do MFA, mas sim um golpe militar contra-revolucionário, fruto de uma cuidada e longa preparação, no quadro de um tumultuoso processo de rearrumação de forças no plano político-militar.

Aos nostálgicos que viram gorados em Novembro de 1975 os seus projectos liquidacionistas da democracia e agora o evocam, a resposta está dada pela imensa participação popular nas comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril.

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