sexta-feira, 14 de junho de 2024

Tiago Franco - DIAS DE MERDA, QUEM OS NÃO TEM?


* Tiago Franco 


Foi um daqueles dias em que tudo correu mal.

Um dos vários em que uma pessoa se levanta de madrugada para ver o castelo de cartas a cair.

Gente desesperada no trabalho, despedimentos que não terminam, projectos atrasados ou clientes que não aparecem. Chineses que gritam em Xangai por mais, mais e mais. Somos apenas peças anónimas de uma engrenagem que gera fortunas para uma minoria. Accionistas, membros da direcção, gente dos tais mercados que nos juram ser o futuro.

Cá fora aquele frio de merda de um junho que nunca foi de verão. Pedalar contra o vento, evitando os buracos numa cidade que está em obras há quase 10 anos. Vai ficar um arraso de modernidade que espero não ver.

Passo por dois cartazes dos liberais, ainda resquícios das eleições. Um pergunta se quero as energias limpas ou o carvão chinês? Pergunta feita numa zona onde o investimento chinês garante emprego a milhares de pessoas. A hipocrisia é uma forma de fazer política quando se apanha um ignorante pela frente. O outro cartaz pergunta-me se quero uma europa democrata ou a tirania de Putin?

O que eu queria Zé Alberto (porta dos fundos - googlem), era que não me fodessem.

Enquanto o tirano Putin andou a fazer discursos no parlamento europeu e a vender gás e petróleo para a Europa, os eurodeputados não estiverem muito preocupados com a tirania russa. Como não estão preocupados com a tirania saudita ou azeri, enquanto fazemos negócios com eles.

Por outro lado...o que é que importam os 720 eurodeputados quando nem leis conseguem redigir e é aquela comissão não eleita, com a Von der Leyen à cabeça, que vai decidindo a melhor forma de nos enterrar?

Ucrânia, Ucrânia, Ucrânia. Dia e noite, há mais de 2 anos a ouvir que temos que apoiar esta merda. Há 28 meses que milhões de pessoas, nas quais me incluo, trabalham dia e noite numa impotente tentativa de compensarem a inflação, a perda do poder de compra e o aumento das taxas de juro. O sufoco em que se transformou a luta diária para não perdermos o teto debaixo do qual dormem as nossas famílias.

E no fim do dia lá aparecem mais uns quantos milionários, não eleitos, que vão decidindo a continuação do sufoco. De um lado a Lagarde a fazer o que pode para manter o jackpot para a banca mais uns anos e, do outro, a Ursula a exigir percentagens do pib para armamento e para a Ucrânia.

Quais idiotas úteis, vamos empobrecendo e dizendo que sim. Achando que ao contribuir para mais mortes ucranianas, estamos a ajudar outros que não os falcões da guerra e a indústria do armamento que, com a banca, estão a lucrar como nunca.

Dois anos a enriquecer as farmacêuticas e os laboratórios de análises e agora, mais dois anos para a banca e para o armamento. No tal Ocidental civilizado, enquanto nos matamos a trabalhar para alimentar uma elite profundamente corrupta, ainda discutimos a moralidade do que é justo ou a certeza do que deve ser feito. Ainda ouvimos diariamente que com mais armas, mais mortes e mais empobrecimento geral, os ucranianos vão correr com os russos. Quando? Onde? Como? Já alguém consultou um livro de história ou viu há quanto tempo os russos garantiram os territórios ocupados? Alguém quer mesmo uma terceira guerra mundial por causa do Donbass, da Crimeia, da Abecássia ou da Transnístria? Sabem sequer apontar essa merda no mapa? Ou o nosso compasso moral contra invasores só aponta para o lado dos invadidos louros? Se forem pretos ou mestiços, é uma luta contra o terrorismo? Estou farto desta hipocrisia Ocidental que somos forçados a pagar.

A Alemanha oferece-se para dar uma ajuda gigantesca na construção da Ucrânia. Não é ajuda, é criação de divida a favor das construtoras alemãs. Tal como a "troika" que nos veio salvar e no fim, tínhamos financeiras francesas e alemãs a meter cá dinheiro que depois seria gasto a contribuir para as exportações alemãs e francesas. O Paulinho Portas, versão antes de senador, explica.

Andamos sempre a lutar por migalhas enquanto trabalhamos para enriquecer as elites. Por que raio decide o BCE o nosso futuro? Como diria o poeta, quantos batalhões tem o BCE?

Dia e noite, uma guerra para a qual nada contribuí, que não me sai da cabeça e não pára de me dificultar a vida. Quando o Bugalho dizia que as armas serviam para defesa das famílias ucranianas eu diria que, o fim dessas armas, serve para a defesa das restantes famílias europeias. Pelo menos as famílias que não pertencem a elites e que contraíram crédito à habitação.

A meio da batalha contra o vento passo em frente à universidade e vejo a solidariedade com a Palestina. Envergonho-me de imediato com o egoísmo dos meus pensamentos.

Eu e muitos europeus, lutamos com bancos e empregadores, para não perder casas e modos de vida. Os Palestinianos não chegam sequer a ter tempo de negociar com ninguém ou a lutar para salvar o tecto que lhes dá guarida. Não chegam a acordar, eles e as respectivas famílias, mortos debaixo dos escombros, a cada passagem do exército genocida de israel.

E sempre, mas sempre, com o patrocinio do Ocidente. O nosso, portanto.

Lembrem-se que houve quem festejasse a morte de 300 Palestinianos para resgatar 4 israelitas. 75 vidas por uma. É como metralhar uma sala de cinema cheia para trazer uma só pessoa e no fim...cantar vitória. Foi aqui que chegámos.

Por vezes a vida só precisa de um pouco de perspectiva para nos fazer corar de vergonha com aquilo que julgamos ser a injustiça.

2024 06 14

https://www.facebook.com/tiago.franco.735


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