(Armando Rosa, in MaisRibatejo.pt, 02/01/2023)
O que são os “warmongers” atuais?
Como introdução e esclarecimento prévio fica aqui o que eu
penso poderem ser os três níveis de “warmongers” que,
segundo a minha perspetiva, se têm revelado neste conflito e que passo a citar:
Nivel 1- Os verdadeiros puros e duros “warmongers” são
aqueles que realmente alimentam esta guerra como o são todos os dirigentes
ocidentais que têm contribuído para o incremento do conflito, onde também se
incluem os governantes portugueses.
Nível 2 – A seguir, podemos considerar os ajudantes
de “warmongers” onde se incluem todos os que comentam e informam na
comunicação social, guiados pelas grandes multinacionais da informação e pelos
serviços secretos, principalmente os do UK e EUA. Estes são os influenciadores
da opinião pública e os principais responsáveis por manter as massas conectadas
à narrativa oficial.
Nível 3 – Por fim vêm os “warmongers” de sofá e das redes
sociais. Estes, embora não produzam qualquer efeito prático no desfecho da
guerra, servem de megafone amplificador dos grandes momentos e das opiniões dos
seus ídolos e mentores ideológicos. São úteis também para responder a
inquéritos de opinião onde são mostradas as grandes maiorias a que pertencem, o
que dá sempre jeito para apoio das decisões já previamente tomadas pelos
verdadeiros “warmongers”.
Falemos, então e aleatoriamente de uns e de outros.
O que se passa atualmente na Ucrânia é, hora a hora, tema de
análise feita por dezenas de comentadores: militares, académicos, politólogos,
jornalistas, políticos e outras gentes com necessidades de subir nos escalões
da opinião e que são a palha e o pão-de-ló com que se alimenta a nossa
comunicação social, na sua totalidade, afiliada ao discurso oficial e único
que, muitas das vezes, nos faz sair do sério, tal é a bajulice e a deturpação
factual utilizadas.
Tudo está bem afinado e cantam no tom que lhes é mais fácil e
também mais agradável aos ouvidos dos crentes e seguidores. Não têm o poder ou a influência
dos reais “warmongers”, mas não deixam de lhes completar o serviço com a
intoxicação e manipulação das verdades, das mentiras e das omissões
convenientes para o efeito.
Estava tudo previsto desde o golpe de Maidan.
Os verdadeiros e reais “warmongers” da guerra na Ucrânia,
aqueles que decidem do futuro e da história dos povos, têm uma história muito
bem documentada desde 2014, ano do golpe de Maidan promovido pelos EUA. Foi aí,
onde a principal “warmonger” da época, a secretária da defesa dos EUA, Victoria
Nuland, se revelou especialmente ativa na preparação do golpe e muito
contundente durante um telefonema com o seu embaixador na Ucrânia, Geofrey
Pyat. No final da conversa descaiu-se com um mortífero e premonitório “Fuck
EU”. [1].
Foram “warmongers” como Boris Johnson conluiado com o seu
mentor Joe Biden, que logo depois do início da invasão e com promessas de apoio
e vitória da Ucrânia, fizeram boicotar as reuniões em que a Rússia e Ucrânia se
propunham negociar. “O
Porta voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Moscovo está a exigir que a
Ucrânia acabe com a ação militar (iniciada em 2014, mude a sua constituição
para garantir neutralidade, que reconheça a Crimeia como território russo e que
reconheça as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk como estados
independentes.”[2]
Um acordo que permitisse a esses dois territórios russófonos
tornarem-se autónomos, teria evitado milhares de mortes, bem como a destruição da Ucrânia,
mas os “warmongers” sabiam bem o que queriam e não deram hipótese a
negociações. Eles que não podem esticar muito a corda aos russos, vão
aproveitando o tempo para alimentar os ucranianos da esperança de poderem, um
dia, reconquistar os territórios ocupados, embora bem saibam que isso terá
sempre a resistência militar russa até às últimas consequências.
A Rússia pode perder a guerra?
Estes belicistas de segundo nível, acham/dizem que a Rússia
pode perder a guerra. Como têm pouca ou nenhuma informação para além da que
lhes é impingida pelas multinacionais da comunicação e por serviços secretos
afiliados e bem dirigidos (Inteligence Services…), escondem que os
russos têm mais ogivas nucleares do que todos os países da Nato juntos e que é
o único país que, com os misseis hipersónicos, pode atingir qualquer cidade do
planeta em pouco mais de duas horas sem qualquer obstáculo ou defesa antiaérea.
Mesmo alguns mais bem informados, à pala do que não podem provar e da
instituição do medo (o perigo de a Rússia avançar sobre a Europa depois da
Ucrânia) e que é uma mistificação barata das intenções e objetivos explícitos
no início da invasão por Peskov, apoiam o prolongamento da guerra até à mais que
previsível WW3. Não me admira este tipo de pensamento em oportunistas,
situacionistas, superficiais e pro fachos que por aí peroram. Já me custa que
pessoas com conhecimentos (?), algumas que se dizem de esquerda, embarquem na
narrativa oficial e quase única de que isto começou em 24/02/22 e que só
termina com a vitória militar de um dos lados.
E depois essa gente chama de putinistas e até
comunistas (vejam a ignorância), a quem se insurge contra o prolongamento
indeterminado destes massacres.
A maioria destes “warmongers” de segunda, apenas mostra a sua
desonestidade intelectual e afiliação comprometida com quem lhes paga os
serviços. Os onze princípios de manipulação ensinados por Goebbels são
bem aplicados por esta gente e modelam a opinião pública à medida dos
interesses dos poderes do momento.
Os interesses americanos e os imperialismos.
Os americanos já atingiram os seus principais objetivos com
esta guerra, a saber: passaram a ser os principais fornecedores de gás à
Europa, substituindo a Rússia; resolveram a crise interna da indústria de
armamento e da sua economia e simultaneamente enfraqueceram a Rússia e a EU,
retirando-lhes qualquer protagonismo concorrencial, tanto nas áreas económica
ou da geopolítica.
Os “warmongers” no geral e os interesses americanos sempre
estiveram de mãos dadas, para além das direitas liberais, com certa dita
esquerda organizada em partidos, PS incluído. Do BE nem se fala. Depois daquela
ovação de pé ao comediante, parece que a guerra não lhes diz nada. Nem a guerra
nem a autodeterminação de povos massacrados (neste caso os povos eslavos do
Donbass). A eles e a muita gente que assobia para o lado, não convém
comprometerem-se com posições fora das grandes maiorias de opinião. “Há
que conter o imperialismo russo” dizem eles. O outro imperialismo, aquele que
detém 750 bases militares fora dos EUA em 80 países, esse há que apoiar e desculpar
qualquer coisinha que façam pelo mundo fora, como por exemplo as
intervenções no Iraque, Síria, Afeganistão, Jugoslávia, etc. Para não falarmos
do que se passa na atual Palestina e do apoio total a Israel.
Official family portrait
Os “warmongers” que convidam o Zelensky para congressos e
parlamentos são os mesmos que aceitaram passivamente e ainda justificam
todas as ações terroristas e belicistas patrocinadas por países protegidos pela
bandeira da NATO e
subservientes aos EUA.
Os “warmongers” desmascarados!
Os belicistas ocidentais ficaram agora oficialmente desmascarados
com a confirmação de Ângela Merkel sobre a má-fé com que os acordos de Minsk
(2014/15) foram aprovados e seguidos pela Ucrânia e Ocidente [3].
Esses acordos que previam a paragem dos bombardeamentos ucranianos e da guerrilha
separatista no Donbass, com a progressiva autodeterminação dos povos russófonos
dessas regiões, não passou então de um embuste perpetrado para dar tempo à
Ucrânia para ser armada e preparada para esta guerra. Guerra esta que, em 2019,
foi desenhada e justificada pela Rand Corporation (task force de apoio à
administração dos EUA) no documento agora público: “Extending Russia: Competing
from Advantageous Ground”[4] e que tem sido a “Bíblia” e o guião da
estratégia americana no plano de enfraquecimento da Rússia.
Os “warmongers” que alimentam e organizam a guerra contra a
Rússia na Ucrânia, nem escondem os objetivos com que iniciaram todo o processo
desde 2014: o enfraquecimento russo e a eliminação de uma concorrência
planetária, em termos estratégicos e comerciais, como tem sido dito pelos
principais responsáveis americanos (Loyd Austin e Anthony Blinken). [5]
Os “warmongers” e os negócios.
Os “warmongers” negam tudo o que possa ser entendido como
possibilidade de a Ucrânia não ter êxito sobre a Rússia. Para eles a guerra só
deve terminar com a humilhação dos russos. Até lá o mundo ocidental, tal como é
por eles visto, isto é, cerca de 20% dos países e da população do planeta, deve
continuar a enterrar recursos e a provocar crises económicas e sociais na UE,
ao mesmo tempo que vai resolvendo os problemas internos dos EUA.
Além de belicistas, estes manipuladores de consciências e
instigadores de morticínios, são, simultaneamente, agentes de negócios a
trabalhar para as grandes multinacionais. A destruição da Ucrânia é um
filão de oportunidades proporcionado pela reconstrução e pelo reequipamento
militar e tecnológico e isso já foi assegurado pela entrega de toda a gestão
desses investimentos à Black Rock (EUA). Essa multinacional que é a
maior empresa de investimentos e a maior gestora de ativos do mundo negociou
com Zelensky a coordenação dos investimentos públicos e privados no pós
guerra[6]. Por alguma razão os congressistas americanos (80% são multimilionários)
aplaudiram freneticamente o comediante na sua recente visita a Washington. O
futuro deles e da economia americana estão assegurados…
Censura, a principal arma dos “warmongers”.
Os que prepararam esta guerra (EUA/NATO/EU) sabem bem que só
a conseguem justificar perante as massas e manter a sua continuidade com um
forte controlo sobre a informação. Os “warmongers” (os de primeira e os de
segunda) também sabem que a Ucrânia há muitos anos que não é uma democracia. É
um estado empobrecido, de partido único, onde jornais da oposição e partidos
políticos foram ilegalizados [7] e em que, recentemente, Zelensky assinou
uma lei que deu ao seu governo poderes para restringir os media, bloquear sites
e ordenar a censura pura e dura. [8]
Sabem, mas não podem divulgar, que muitos hotéis e
blocos residenciais civis em Kiev e nas principais cidades ucranianas, estão
ocupados por centenas ou até milhares de instrutores (?) e inspetores
ocidentais[9] que apoiam e são imprescindíveis para manter o exército
ucraniano ativo. Depois há quem se admire serem alvo de bombardeamentos russos.
A NATO pode ainda não ter as botas na Ucrânia, mas já lá anda de pantufas desde
2014.
A racionalidade com base nos factos.
Em contraponto aos guerreiros das redes sociais e de chinelos
(quase de certeza que muito poucos alguma vez calçaram botas da tropa…) que
acreditam em tudo o que passa na comunicação social “mainstream”, há os que
tentam colocar um pouco de racionalidade nas opiniões e na análise dos factos.
Sou dos que anteveem um desastre para a humanidade, caso esta guerra não seja
parada a tempo. Conhecendo o poderio bélico e a grandeza económica da Rússia,
bem como o nível de apoios internacionais que tem (BRICS, África e Sul Global)
e o passado e capacidade de sofrimento em guerras anteriores, é de
extrema insensatez não atender aos avisos já amplamente expressos sobre as
linhas vermelhas que o ocidente não pode ultrapassar.
Não é fácil nem isento de contrariedades reputacionais quando
não se está alinhado com as narrativas oficiais que, por mais evidências que se
apresentem e à falta de mais argumentos, vão dar invariavelmente aos dois
bordões dos seus discursos: “Há um invasor e um invadido” e “Putin é um
ditador e assassino”. Como se isso não fossem evidências conhecidas e também
aplicáveis a outros conflitos mas com outros protagonistas. Evidências que em
nada contribuem para discutir o início ou o fim da guerra, ou a sua
compreensão, mas que são usadas pelos que concordam com a continuação da
matança e a destruição de um país.
Os “warmongers” alimentam guerras, aproveitam-se das
desgraças alheias e provocam milhares de mortos, pena é que, por causa deles,
os nossos filhos e netos podem ter um futuro próximo bem negro. E não será por
causa das alterações climáticas.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=WV9J6sxCs5k
[2]:https://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/research_reports/RR3000/RR3063/RAND_RR3063.pdf
[5] https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61229275
[8] https://www.nytimes.com/2022/12/30/world/europe/zelensky-journalism-law-free-speech.html
https://estatuadesal.com/2023/01/03/os-warmongers-e-a-guerra-na-ucrania/
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