quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Contradições das eleições nos EUA

A eleição para a presidência dos Estados Unidos, em 1860, foi acompanhada com interesse profissional por Karl Marx, que à época colaborava regularmente com o jornal americano New-York Daily Tribune. Abraham Lincoln era o candidato do Partido Republicano, contrário à escravatura. O pensamento estratégico de Lincoln considerava necessário – num primeiro momento -- circunscrever o território onde a abolição da escravidão poderia vigorar. Apesar de uma experiência política limitada – havia sido apenas um deputado sem maior destaque da Câmara dos Representantes – Lincoln foi eleito o 16º. Presidente dos Estados Unidos da América e o primeiro presidente republicano.

Entretanto, os primeiros passos dados no sentido da abolição da escravatura desencadearam uma reação violenta dos plantadores escravistas do Sul, que acabaram proclamando um após o outro a separação de seus respectivos Estados da União Americana. Este movimento de secessão desembocou, por sua vez, em abril de 1861, numa guerra civil de proporções gigantescas que durou até 1865. Marx sublinhou, em suas análises, que era a questão da escravatura que constituía a essência da Guerra Civil. A propósito das origens históricas dessa luta, Marx escreveu em artigo publicado no Daily Tribune em 11 de outubro de 1861 que as contradições entre o Norte industrial e o Sul escravista haviam se transformado na “força motriz da história (dos Estados Unidos) durante quase meio século”. A leitura atenta deste material jornalístico, entretanto, não fornece parâmetros que pudessem alimentar ilusões a respeito da ideologia e da prática política de Lincoln.

Hoje, passados 147 anos, a questão racial ainda mobiliza corações e mentes entre os eleitores dos EUA – veja-se o debate ocorrido nas prévias do Partido Democrata na Carolina do Sul, encerrado neste último sábado com a vitória do senador Barack Obama por 55,4% dos votos, contra a candidata Hillary Clinton que ficou com apenas 26,5% e em terceiro lugar o ex-senador John Edwards, com 17,6%. Na discussão travada, Hillary chegou a dizer que as idéias de Martin Luther King não dariam em nada se não fosse a iniciativa do ex-presidente Lyndon B. Johnson de transformar em lei algumas dessas idéias. Mas o pano de fundo do debate político em curso dos Estados Unidos, na fase atual, se dá destacadamente em torno da crise econômico-financeira desencadeada pela falência dos créditos imobiliários podres, os chamados subprime. Os analistas econômicos mais responsáveis apontam para um período de recessão na economia americana. O sucessor de George “War” Bush receberá o país com um déficit fiscal de aproximadamente US$ 220 bilhões, que poderá aumentar com o pacote acertado no Congresso americano de estímulo à economia de US$ 150 bilhões. A dívida dos EUA está no patamar dos US$ 9,2 trilhões, o maior aumento já ocorrido na história. As guerras do Afeganistão e do Iraque já consumiram US$ 691 bilhões desde 11 de setembro de 2001. Bush pediu, para 2008, outros US$ 193 bilhões só para dar continuidade a essas guerras, o que aumentará ainda mais o déficit orçamentário.

Assim como certamente Karl Marx não nutria ilusões a respeito da disputa das eleições presidenciais nos Estados Unidos de 1860 – mas destacava a importância da luta contra a escravatura para a luta democrática -- hoje também os observadores atentos da cena política americana sabem da necessidade de se alterar o domínio do grupo capitaneado por Bush, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Condoleezza Rice, representantes da oligarquia que açambarcou o poder efetivo num país dominado pelo que os comunistas americanos chamam de ultra-direita. A renomada jornalista americana, Ida Tarbell, já acusava a Standard Oil de construir o seu império na base da “fraude, impostura, privilégios especiais, ilegalidades descaradas, suborno, coerção, corrupção, intimidação, espionagem e terror”. É o que ocorre hoje na maior potência imperialista do mundo. Na verdade, além das prisões secretas da CIA, dos abusos cometidos na Baía de Guantánamo e Abu Ghraib, a utilização descarada da tortura como método de coletar informações de prisioneiros, os Estados Unidos vivem sob a égide de uma espécie de AI-5, a chamada Lei Patriota, ou Patriot Act, assinada por Bush em 26 de outubro de 2001, que permite ao Governo e aos órgãos de segurança americanos espionar as mensagens eletrônicas, promover escutas telefônicas, vasculhar as contas bancárias e movimentações financeiras de qualquer cidadão entre outros abusos sem maiores precauções judiciais.

Na esfera da situação social – pelas estatísticas oficiais dos EUA -- o número de americanos abaixo do nível da pobreza cresceu para 3,6 milhões de pessoas, ou seja, 12,3% da população, desde que Bush assumiu seu primeiro mandato, em 2001. Um em cada oito americanos hoje vive na pobreza. Apesar de toda a propaganda governamental tentando mostrar que o abalo econômico atual é passageiro, as últimas pesquisas levadas a cabo pelo Wall Street Journal mostram que mais de 64% dos entrevistados estão convencidos que haverá recessão na economia americana em 2008. A pergunta sobre os rumos da situação do país foi respondida com falta de esperança: 7 em cada 10 americanos disseram que os EUA estão no caminho errado. Mais do que nunca os eleitores condenam as políticas econômicas de Bush e não esperam soluções dele ou de seu partido. De fato, os eleitores americanos nesta corrida das eleições presidenciais procurarão encontrar o caminho que os permitam lutar em melhores condições, num ambiente de maior democracia que propicie a liquidação das leis fascistas em vigor e que abra caminho para grandes mobilizações pela paz e contra a guerra para acabar com as intervenções imperialistas dos EUA no Oriente Médio e no resto do mundo.

in Vermelho 27 DE JANEIRO DE 2008 - 19h39

Farc: terroristas ou insurgentes?



por Altamiro Borges*


A revista Fórum de janeiro acertou em cheio na sua reportagem de capa. A edição especial sobre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) saiu no momento de uma brutal ofensiva da mídia contra a negociação humanitária liderada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que resultou na libertação de duas reféns (Clara Roja e Consuelo González) do cativeiro do mais antigo e organizado agrupamento guerrilheiro do continente. Enquanto a mídia venal acusava as Farc de terrorista, narcotraficante e outros impropérios, a Fórum revelou os reais motivos da sua fundação em maio de 1964, seu projeto político de matriz socialista e seu cotidiano nas selvas.


Mesmo discordando dos métodos usados, a revista praticou o bom jornalismo, informando e não manipulando os seus leitores. “Antes de entrar na trilha, uma rápida olhada para trás me faz ver um acampamento distinto daquele que conheci dias antes. Talvez não uma casa, como me havia sugerido [a guerrilheira] Adriana. Mas um espaço de convivência política e militar que insiste na idéia de transformar o continente”, conclui a reportagem o jornalista Jacques Gomes, que passou três dias numa área sob o comando das Farc, que controlam quase 40% do território nacional.


Os verdadeiros terroristas


A tentativa de qualificar as Farc como grupo terrorista, negando a sua história e a sua proposta de libertação nacional, serve a distintos interesses. Da parte do “império do mal”, encaixa-se no seu intento de domínio da região, considerada um “quintal dos EUA”. O presidente-terrorista George W. Bush mantém atualmente cerca de 800 “consultores militares” manietando as forças armadas do país vizinho. Através do belicista “Plano Colômbia”, o governo estadunidense injeta bilhões de dólares na indústria de armamentos e põe em risco a segurança militar de todo o continente. Qualquer êxito de uma “paz negociada”, que restabeleça os canais democráticos no país, poderia confirmar a tendência progressista na região, prejudicando as ambições imperialistas dos EUA.


Já da parte do governo Álvaro Uribe, a “paz negociada” poderia representar a débâcle das forças oligárquicas que controlam o país há décadas. O atual presidente só sobrevive graças à violência. Ele é um homem da guerra, com todas suas marcas fascistas. Tanto que o seu governo é ocupado por chefes dos grupos paramilitares de direita e por latifundiários e industriais – inclusive o dono da Coca-Cola –, que saqueiam o país e bancam o genocídio. A “paz negociada” também ajudaria a implodir os vínculos de Uribe com as poderosas máfias da cocaína que disputam o controle do território. Dois livros recentes – “Amando Pablo, odiando Escobar”, escrito por Virgínia Vallejo, ex-amante do maior chefão das drogas, e “Biografia não autorizada”, do jornalista da Newsweek Joseph Contreras – comprovam fartamente as ligações do atual presidente com o narcotráfico.


Paz negociada e não rendição


A libertação de duas importantes reféns, intermediada pelo presidente Hugo Chávez, demonstra que as Farc estão interessadas em solucionar um conflito que dura quatro décadas e que resultou na morte de 70 mil pessoas e no deslocamento de suas casas de 5 milhões de colombianos. Mas, para isso, é preciso derrotar os senhores da guerra – Bush, Uribe e seus porta-vozes da mídia. A paz terá que ser negociada e não imposta através da rendição. Nos anos 80, as Farc aceitaram um cessar-fogo e criaram um braço político institucional, a União Patriótica. Mas dois candidatos presidenciais da UP, assim como seu senador eleito, foram barbaramente assassinados. Enquanto não se firmar a “paz negociada”, as Farc não abandonaram seus questionáveis métodos de luta.





*Altamiro Borges, Miro é jornalista, Secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
in Vermelho
29 DE JANEIRO DE 2008 - 11h52

"Tua raça não morreu, Jim..."


por Fatima Oliveira*

Analistas têm dito que em "O Presidente Negro" Lobato foi clarividente. Engendrou um conflito racial eleitoral em 2228.


Muito esperançosa, estou ligada nas eleições dos Estados Unidos. Foram de muita peleja os anos de Bush Filho. De triste memória: o apoio incondicional ao ideário fundamentalista, a disposição e a prática bélicas do governo dele. Escrevo sob emoção da avalanche do entusiasmo pela vitória do senador Barack Obama nas primárias da Carolina do Sul que, dentre outros, sepulta o mito de que "negro não vota em negro".


O respeito aos ancestrais é sagrado na cultura africana. Ao minimizar o papel do venerado Martin Luther King, dizendo que o sonho dele foi concretizado por Lyndon Johnson, Hillary espezinhou a memória de um mito. Bill Clinton ousou tripudiar: "a mensagem de Obama é um conto de fadas". Obama soube capitalizar os deslizes do casal. Fez bonito ao destacar o apoio multiétnico: "não se trata de escolher segundo a região de cada um, a religião ou o gênero; de ricos contra pobres, jovens contra velhos, nem brancos contra negros. Trata-se do passado contra o futuro". É páreo duro. Duvidar, quem há de?


Intriga-me a citação exaustiva, no Brasil, com status de Nostradamus, de "O Choque das Raças" ou "O Presidente Negro: romance americano do ano 2228" (Monteiro Lobato, 1926). Pra quem ainda não sabe, Lobato compartilhava das falsas teorias científicas racistas de inferioridade dos negros, ideário que permeia sua obra, hegemônicas em seu tempo. O fim do seu romance só poderia ser a extinção da raça negra: "Tua raça morreu, Jim..."


Analistas têm dito que em "O Presidente Negro" Lobato foi clarividente. Engendrou um conflito racial eleitoral em 2228, quando os brancos se dividiram em Partido Masculino e Partido Feminino, possibilitando que o presidente da Associação Negra, Jim Roy, vencesse as eleições. Ganhou, mas não levou! Sequer tomou posse. Morreu antes. Vingativos, os brancos criaram uma tecnologia (raios ômega) que, ao alisar os cabelos dos afro-americanos, os esterilizava. E eles se apresentaram como manadas de bois aos "Postos Desencarapinhantes"! O presidente Kerlog, que era candidato à reeleição, casa-se com a líder do Partido Feminino, Evelyn Astor, e assim recupera o poder. Sem mais comentários.


Maria Ana Quaglino, em tese de doutoramento sobre raça, gênero e identidade nacional na vida e obra de Monteiro Lobato, afirma, no artigo "Noções de raça e eugenia em Monteiro Lobato: vida e obra", que relacionou as representações de raça e eugenia na obra do escritor com as teorias e noções "científicas" que as inspiraram. Todas falsas.


E concluiu: "A obra infantil de Monteiro Lobato há muito envelheceu no que diz respeito a representações de raça, sem que suas reedições tenham o cuidado de alertar o leitor para o fato. A bibliografia que analisa as questões de raça e de eugenia em Monteiro Lobato tende a analisar - quando chega a tanto - apenas parcialmente a vida e a obra do autor. Pouco ou nada trata a respeito da formação 'filosófica' do autor e do impacto desta tanto na sua obra de adultos quanto na obra infantil".


Em carta a Godofredo Rangel (1908), Lobato explicitou a "associação entre miscigenação entre 'raças muito desiguais' e degeneração física e admitia que o regime de segregação adotado nos Estados Unidos fosse a atitude correta para evitar a miscigenação entre brancos e negros no Brasil". Qual o intuito do uso de supostos pendores proféticos agourentos e de alicerces racistas na corrida em curso rumo à Casa Branca?


Se o enredo profetiza algo é o "ganhou, mas não levou", condizente com as concepções de Lobato sobre raça e eugenia e a sua crença na "degeneração racial", pois ele "condena a miscigenação entre brancos e negros, dizendo que este fato produzira uma classe de 'corcundas de Notre-Dame', ao invés da 'beleza grega,' entre as classes populares dos subúrbios do Rio de Janeiro".


Coluna publicada originalmente em:
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=68031





*Fatima Oliveira, Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e
Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das
Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
in vermelho
30 DE JANEIRO DE 2008 - 13h20

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

My Exploration of January




My Exploration of January

Manouchehr Saadat Noury

PhD
Whenever I asked what January meant, I was simply told: “The first month of the year in the calendar”. That statement sounded very abstract and it was a tad too vague for me. I therefore set out on a search for more information about January, so as to satisfy my own personal curiosity. In this article, I present and discuss cultural background on the name “January” including its history, traditions, and customs. All pertinent facts are thoroughly examined and considered in detail.

THE NAME:
January is named for Janus, a god in Roman mythology, and is represented by a look to signify his knowledge of the present and future. He was the god of the doorway and protector of all entrances and gateways. It has been documented that Janus has a distinctive artistic appearance in that he is commonly depicted with two faces, one regarding what is behind and the other looking toward what lies ahead. Thus, Janus is representative of contemplation on the happenings of an old year while looking forward to the new. Some sources claim that Janus was characterized in such a peculiar fashion due to the notion that doors and gates look in two directions. Therefore, the god could look both backward and forward at the same time. Originally, Janus was portrayed with one bearded face and the other clean-shaven, which may have symbolized the moon and the sun, or age and youth. Later, he is most often shown with beards on both faces and frequently holds a key in his right hand.

In his role as the Guardian of Exits and Entrances, Janus was also believed to represent beginnings. The explanation for this belief being that one must emerge through a door or gate in order to enter into a new place. Therefore, the Romans also considered Janus as the god of Beginnings and his name was an obvious choice for the first month of their year, a month referred to by the Ancient Romans as “Ianuarius”, which is not so far removed from the modern-day "January," taken from the Etruscan word “jauna” which means "door." Originally, however, Janus was honored on the first day of every month, in addition to being worshipped at the beginning of planting season and again at the harvest. Deference was also paid to him at the most important beginnings in the life of an individual such as birth and marriage.

The dual-faced image of Janus could be found on most city gates and many Roman coins. Given his role as Guardian of Gates, his position as the god of Beginnings and the esteem of having the first month of the year named in his honor, it is apparent that Janus played a significant role in Roman myth and religion. He was invoked at the start of each new day and often referred to as the Porter of Heaven. He particularly presided over all that is double-edged in life and represented the transition between the primitive and civilization. Romans prayed to Janus during war. The Romans had an important temple to Janus, which was called the Ianus geminus. This temple served a symbolic function. When the gates of the structure were closed, this represented peace in the Roman Empire; but when the gates were open, it meant that the Romans were at war. They also called on him at the beginning of every prayer, even before Jupiter (In Greek mythology, Zeus corresponds to Jupiter in Roman mythology who was the king of Heaven and Earth and of all the Olympian gods. He was also known as the god of justice).

Janus in the Italian Culture:
Janus, the fabled offspring of Coelus and Hecate, or of Apollo and Creusa, reigned in early times over Italy, and was the founder of the town Janiculum, the boasted father of Fontus. According to other documents Janus as the fabled son of Uranus, was and still is believed to have been the most ancient King of Italy, whose hospitality received Saturn, when, as a fugitive from Crete, the father of Jupiter, banished by his son, arrived on the shores of Latinum. According to the account of Aurelius Victor, Janus was the master-mind of the age in which he lived; and as the founder of Janiculum, he taught his people the divisions of the year, the use of shipping, and of money, the rules of justice, and the mode of living happily under the authority of the laws; he also instructed them how to build temples and to honor the Gods with sacrificial worship; to surround the cities with walls, to grow corn and to plant the vine. It was out of gratitude for these alleged benefits that Janus was placed by the Romans in the rank of the gods, and regarded as presiding over treaties. On the first of January, or in the calends of that month, they celebrated the Janualia. At that festival they offered to Janus a mixture of flour and salt, with incense and with wine.

Janus in the Persian and the Greek Cultures:
Janus did not have any counterpart in either Persian or Greek mythologies.

Janus in the Vedic Culture:
Veda is a term for one or all of the holy books of writings of Hinduism. In Vedic culture, the myth of the god Janus had four heads, each of which represented a phase of the moon in Sagittarius, which marked the four seasons. One head was the full moon, which gave the time of the spring equinox, another was the new moon, during which time the autumn equinox fell, still another was the half waning moon, marking the winter solstice, and finally came the head representing the half waxing moon, during which time came the summer solstice. From current knowledge of the movement of the sphere of stars surrounding the earth, it can be calculated that the observations leading to the myth of Janus were made around 4000 BC. Additionally, within the “Veda” is a verse observing the winter solstice in Aries, which would have placed it at around 6500 BC.

In other Cultures:
The Anglo-Saxons called the first month of the year as Wolf Monath (meaning wolf month) because wolves came into the villages in winter in search of food.
In old Japanese calendar, the month is called Mutsuki. The second day of the month is known as Hatsuyume and the 7th day as Nanakusa. In Finnish, the month is called Tammikuu, meaning "Month of the Oak".

In different Languages:
Here is the list of “January” in different languages:
January in Afrikaans is Januarie
January in Danish is Januar
January in Dutch is Januari
January in Finnish is Tammikuu
January in French is Janvier
January in German is Januar
January in Italian is Gennaio
January in Norwegian is Januar
January in Persian is Jaanveeyeh
January in Portuguese is Janeiro
January in Spanish is Enero
January in Swedish is Januari


Events::
The important events on January the 1st or the New Year Day in history are:
153 BC - Roman consuls first began their year in office
45 BC - Julian calendar went into effect
404 - Last gladiator competition in Rome
1438 - Albert II of Habsburg became King of Hungary
1502 - Rio de Janeiro discovered
1600 - Scotland first began the numbered year of its Julian calendar
1651 - Charles II crowned King of Scotland
1700 - Russia first adopted Western numbers for its Julian calendar
1707 - John V became King of Portugal
1788 - First edition of The Times, previously The Daily Universal Register, was published.
1804 - End of French rule in Haiti.
1808 - Importation of slaves into the United States was banned
1880 - Construction of the Panama Canal began
1887 - Queen Victoria was proclaimed Empress of India
1893 - Japan accepted the Gregorian calendar
1899 - End of Spanish rule in Cuba.
1901 - Nigeria became a British protectorate
1901 - Establishment of the Commonwealth of Australia (Federation).
1902 - The first Rose Bowl game was played in Pasadena, California
1908 - A ball signifying New Year's Day dropped in Times Square, NYC, for the first time
1912 - Establishment of Republic of China
1925 – Reza Shah became the Shah of Iran
1934 - Alcatraz became a Federal Prison in the US.
1942 - The word "United Nations" was first officially used to describe the Allied Pact.
1948 - Nationalization of UK railways to form British Railways.
1956 - End of Anglo-Egyptian Condominium in Sudan.
1958 - European Community established
1959 - Cuba: Fulgencio Batista was overthrown by Fidel Castro.
1960 - Cameroon became independent
1971 - Cigarette was banned on United States television
1973 - United Kingdom, Ireland and Denmark joined the EEC
1981 - Greece entered the European Community
1984 - Brunei became a fully independent state.
1984 - Spain and Portugal entered the European Community
1993 - Czechoslovakia divided. Establishment of Slovakia and the Czech Republic
1993 - A single market within the European Community was introduced
1994 - North American Free Trade Agreement (NAFTA) went into effect
1995 - World Trade Organization went into effect
1995 - Austria, Finland and Sweden entered the European Union
1999 - Euro currency introduced.
2002 - Euro banknotes and coins became legal tender.
2004 - Pervez Musharraf got vote of confidence to continue as President of Pakistan.
It should be also noted that in the month of January, there are two significant days in the history of Iran. On January 16, 1979 Shah of Iran together with his family left the country and on January 26, 1980 Abolhassan Bani Sadr was appointed as the First President of the Islamic Republic of Iran, and he was overthrown a year after.

Observances:
The Religious Observances of the New Year Day (January the 1st) are:
Anglican, Lutheran: Feast of Holy Name of Jesus
Christian: Feast of St Odilo
Old Roman Catholic: Commemoration of Circumcision of Jesus
Roman Catholic: Solemnity of Mary, Mother of God
Unification Church: God's Day
Orthodox: St Basil's Day

January Definition in the Historical Documents:
Très Riches Heures Du Duc De Berry (a classic example of a medieval book of hours) described January as: “The month of giving New Years' gifts”.

Special Days:
The first Monday in January is known as Handsel Monday in Scotland and northern England. In England, the agricultural year began with Plough Sunday on the Sunday after Epiphany. The coming of age day in Japan is the second Monday of January, for those becoming 20 years old in the new calendar year. It is a national holiday. The day has existed since 1948, but fell on January 15 until 1999, when it was moved by the Japanese government in an attempt to lift the economy by making more holidays consecutive.

The Celebrations:
January the 1st is the beginning of the New Year and it is a time for looking forward. It is also a holiday. People welcome the New Year on the night before. This is called New Year's Eve. In Scotland, people celebrate with a lively festival called Hogmanay. All over Britain there are parties, fireworks, singing and dancing, to ring out the old year and ring in the new. As the clock, Big Ben, strikes midnight, people link arms and sing a song called Auld Lang Syne. It reminds them of old and new friends. In the USA, as the New Year approaches, New York City gets ready for its annual Times Square celebration. The famous ball drop atop of Times Square has been a tradition dating back to 1906. Each year, hundreds of thousands of people descend upon Times Square to experience this free event.

the Door Custom:
In the old days, the New Year started with a custom called 'First Footing', which was supposed to bring good luck to people for the coming year. As soon as midnight had passed and January 1st had started, people used to wait behind their doors for a dark haired person to arrive. The visitor carried a piece of coal, some bread, some money and some greenery. These were all for good luck, the coal to make sure that the house would always be warm, the bread to make sure everyone in the house would have enough food to eat, money so that they would have enough money, and the greenery to make sure that they had a long life. The visitor would then take a pan of dust or ashes out of the house with him, thus signifying the departure of the old year.

The Medieval Superstitions:
The 1st of January was a highly significant day in medieval superstitions regarding prosperity, or lack of it, in the year ahead. A flat cake was put on one of the horns of a cow in every farmyard. The farmer and his workers would then sing a song and dance around the cow until the cake was thrown to the ground. If it fell in front of the cow that signified a good luck, and to fall behind it indicated the opposite.

The Unlukiest Day of the Year:
It was an Old Saxon belief that January the 2nd was one of the unluckiest days of the whole year. Those unfortunate enough to be born on this day could expect to die an unpleasant death.

The Coldest Month and Day of the Year in britain:
January regularly produces frost, ice and snow and is the chilliest month of the year in Britain. St Hilary's feast day on 13th January has gained the reputation of being the coldest day of the year. This probably dates back to 1086, when a great frost started spreading over the country on St Hilary's Day. It lasted well into March, and is said to be the severest Arctic spell ever experienced in Britain.

January Thaw in North America:
The January thaw is an observed but unexplained weather phenomenon found in mid-latitude North America whereby temperatures tend to rise briefly in mid-winter. For five days around January 23 - 25, empirical expected temperatures are usually significantly warmer than as predicted by the sinusoidal estimate, and also warmer than neighboring temperatures on both sides. During this "thaw" period, usually lasting for about a week, temperatures are generally about 10°F (6°C) above normal. This is not invariant from year to year, and temperatures fluctuate enough that such a rise in late-January temperature would be unremarkable; what is remarkable (and unexplained) is the tendency for such rises to occur more commonly in late-January than in mid-January or early February, which sinusoidal estimates have to be slightly warmer. In some regions (such as northern Canada) this phenomenon will not be manifest as a "thaw" in the technical sense, since temperatures will remain below freezing.

Saint Agnes's Eve:
JANUARY 20th: This was the day on which girls and unmarried women who wished to dream of their future husbands would perform certain rituals before going to bed. These included transferring pins one by one from a pincushion to their sleeve whilst reciting the Lord's Prayer, or abstaining from food and drink all day, walking backwards up the stairs to bed, and eating a portion of dumb cake before lying down to sleep.

Custom of the Years's First New Moon:
It is said that if a woman looks at the new moon through a silk handkerchief, which has never been washed, the number of moons she sees will be the number of years that will pass until she is married. To dream of the future husband, it is said that at the first appearance of the first new moon of the year a woman should go out and stand over the spars of a gate or stile and look at the moon saying:
All hail to thee moon, all hail to thee,
I pray thee, good moon, reveal to me,
Who shall be my husband tonight?

Anniversaries on Different Days of January:
1st - The London Credit Exchange Company issued the first traveler’s checks in 1772.
2nd - On this date in 1770, a huge Xmas pie was baked for holiday consumption in London. According to the Newcastle Chronicle, it was made of "two bushels of flour, twenty pounds of butter, four geese, two turkeys, two rabbits, four wild ducks, two woodcocks, six snipes, four partridges, two curlews, seven blackbirds, and six pigeons. It was nearly nine feet in circumference at bottom, weighed about twelve stone."
9th - Income Tax was first introduced, at two shillings in the pound in England.
10th - The London Underground began operating in 1863.
11th - The first televised weather broadcast featuring a presenter on screen was transmitted from the BBC's Lime Grove Studios in 1954
11th - Charring Cross Station, London, opened in 1864
17th - Robert Scott and his party reached the South Pole in 1912
21st The BBC in London made its first world broadcast in 1930
26th - Australia Day
27th – Mozart, one of the world's greatest music composers, born in 1756 in Austria: (27th January 2006 is the 250th anniversary of Mozart’s birth).

The State of the union address on January:
The State of the Union Address is an annual event in which the President of the United States reports on the status of the country, normally to a joint session of the US Congress (the House of Representatives and the Senate). The address is also used to outline the President's legislative proposals for the upcoming year. It has occurred in the month of January except for 6 occasions in February since 1934.

A New Year resolution:
A New Year Resolution or A January Quest is a commitment that an individual makes to a project or a habit, often a lifestyle change that is generally interpreted as advantageous. The name comes from the fact that these commitments normally go into effect on New Year's Day (January the 1st) and remain until the set goal has been achieved, although many resolutions go unachieved and are often broken fairly shortly after they are set.


In conclusion, let’s read “A Poem For January” composed by Adrienne Rich who is one of the major American poetesses of the last half of this century:

"The work of winter starts fermenting in my head
How with the hands of a lover or a midwife
To hold back till the time is right
Force nothing, be unforced
Accept no giant miracles of growth
By counterfeit light
Trust roots, allow the days to shrink
Give credence to these slender means
Wait without sadness and with grave impatience
Here in the north where winter has a meaning
Where the heaped colors suddenly go ashen
Where nothing is promised
Learn what an underground journey
Has been, might have to be; speak in a winter code
Let fog, sleet, translate; wind, carry them".
"Janus did not have any counterpart in either Persian or Greek mythologies. "






©2002 All rights reserved
Contact IranDokht


irandokht

domingo, 27 de janeiro de 2008

A MULHER SEM ALMA

Régine Pernoud

Em 1975, “ano internacional da mulher”, o ritmo de referências à Idade Média tornou-se estonteante; a imagem da Idade Média, dos tempos obscuros de onde se emerge, como a Verdade de um poço, impunha-se a todos os espíritos e fornecia um tema básico para os discursos, colóquios, simpósios e seminários de todos os tipos. Como eu mencionasse, um dia, em sociedade, o nome de Eleonora de Aquitânia, obtive logo aprovações entusiásticas: “Que personagem admirável! — exclamou um dos presentes. Numa época em que as mulheres só pensavam em ter filhos...”. Eu lhe fiz uma observação sobre o fato de que Eleonora parecia haver pensado assim pois teve dez e, considerando sua personalidade, isto não poderia ter ocorrido por simples advertência. O entusiasmo tornou-se um pouco menor.

A situação da mulher, na França medieval, é na atualidade assunto mais ou menos novo: poucos estudos sérios lhe foram consagrados, pode-se mesmo dizer que se os poderia contar pelos dedos. A sociedade Jean Bodin, cujos trabalhos são tão notáveis, editou em 1959-1962 dois grossos volumes (respectivamente 346 e 770 páginas) sobre a mulher. Todas as civilizações são sucessivamente examinadas. A mulher é estudada na sociedade do Sião, ou de acordo com os vários direitos cuneiformes, ou no Direito malikité-magrebino, mas, para o nosso Ocidente medieval, não se contam mais do que dez páginas relativas ao Direito canônico, outras dez ao período que vai do século XIII ao fim do século XVII, um estudo consagrado aos tempos clássicos até o Código Civil, um outro, a monarquia Franca, e trabalhos mais pormenorizados sobre a Itália, a Bélgica e a Inglaterra, na Idade Média. E eis tudo. O período feudal é completamente esquecido.

É igualmente inútil procurar nesta obra um estudo sobre a mulher nas sociedades célticas, onde, estamos certos, ela tinha um papel contrastante com o confinamento a que estava sujeita nas sociedades do tipo clássico greco-romano. No que se refere aos celtas, para os historiadores de nossa época, o homem e a mulher se encontravam num pé de igualdade completa, tanto que não se ressalta nunca nem um nem outro. Aos celtas, de uma vez por todas, foi recusado o direito de existir.

No entanto, impõe-se uma imagem, à qual já tive ocasião de me referir.[i] Não é, em realidade, surpreendente pensar que nos tempos feudais a rainha é coroada como o rei, geralmente em Reims, às vezes em outra catedral do domínio real (em Sens, como Margarida de Provence), mas sempre pelas mãos do arcebispo de Reims? Dito de outra forma, atribuía-se à coroação da rainha tanto valor quanto à do rei. Ora, a última rainha a ser coroada foi Maria de Medicis; ela o foi, aliás, tardiamente, em 1610, na véspera do assassinato de seu marido, Henrique IV; a cerimônia ocorreu em Paris, segundo um costume consagrado nos séculos anteriores (atingir Reims representava então um feito militar por causa das guerras anglo-francesas). E, além disso, desde os tempos medievais (o termo é tomado aqui em oposição a tempos feudais), a coroação da rainha tinha-se tornado menos importante que a do rei; numa época em que a guerra se alastrava pela França de forma endêmica (a famosa Guerra dos Cem Anos), as necessidades militares começaram a ter primazia entre todas as preocupações, por ser o rei, antes de tudo, o “chefe da guerra”. Tanto assim é que, no século XVII, a rainha desaparece literalmente da cena em proveito da favorita. Basta lembrar qual foi o destino de Maria Teresa ou o de Maria Leszcynska para se convencer. E quando a última rainha quis retomar uma parte deste poder, lhe foi dada ocasião de se arrepender, pois ela se chamava Maria Antonieta (é justo lembrar que a última favorita, a Du Barry, reuniu-se à última rainha no cadafalso).

Esta rápida visão do papel das rainhas dá idéia bem exata do que se passou com as mulheres; o lugar que elas ocuparam na sociedade; a influência que exerceram seguiu, exatamente, um traçado paralelo. Enquanto uma Eleonora de Aquitânia, uma Branca de Castela dominam realmente seus séculos, exercem poder sem contestação no caso de ausência do rei, doente ou morto, e têm suas chancelarias, suas alfândegas, seus campos de atividade pessoal (que poderia ser reivindicado como um fecundo exemplo para os movimentos feministas de nosso tempo), a mulher, nos tempos clássicos, foi relegada a um segundo plano; exerce influência só na clandestinidade e se encontra notoriamente excluída de toda função política ou administrativa. Ela é mesmo tida como incapaz de reinar, de suceder no feudo ou no domínio, principalmente nos países latinos e, finalmente, em nosso Código, de exercer qualquer direito sobre seus bens pessoais.

É, como sempre, na História do Direito que se deve procurar os fatos e seu significado, ou seja, a razão desta decadência que se transformou, com o século XIX, no desaparecimento total do papel da mulher, principalmente na França. Sua influência diminui paralelamente à ascensão do Direito romano nos estudos jurídicos, depois nas instituições e, por fim, nos costumes. É um apagar progressivo do qual se pode seguir as principais etapas, pelo menos na França, muito bem.

Curiosamente a primeira disposição que afasta a mulher da sucessão ao trono foi tomada por Filipe, o Belo. É verdade que este rei estava sob a influência dos legisladores meridionais, que tinham literalmente invadido a corte de França, o começo do século XIV, e que, representantes típicos da burguesia das cidades notadamente das do Sul mais voltadas para o comércio, redescobriram o Direito romano com uma verdadeira avidez intelectual.

Esse Direito concebido por militares, funcionários, comerciantes, conferia aos proprietários o jus utendi et abutendi, o direito de usar e abusar, em completa contradição com o Direito consuetudinário de então, mas eminentemente favorável aos que detinham riquezas, principalmente móveis. Àqueles, com razão, esta legislação parecia infinitamente superior aos costumes existentes para assegurar e garantir bens, tráficos e negócios. O Direito romano do qual vemos renascer a influência na Itália, em Bolonha principalmente, foi a grande tentação do período medieval; ele foi estudado com entusiasmo não só pela burguesia das cidades, mas, também, por todos os que viam nele um instrumento de centralização e de autoridade. Ele se ressente, com efeito, de suas origens imperialistas e, por que não dizer, colonialistas. Ele é o Direito, por excelência, dos que querem firmar uma autoridade central estatizada. Também é reivindicado, adotado, estendido para as potências que procuravam, então, a centralização: pelo imperador, primeiro, depois pelo Papa. Em meados do século XIII, o imperador Frederico II, cujas tendências eram as de um monarca, fez deste tipo de direito a lei comum dos países germânicos. A universidade que ele funda em Nápoles — a única que os súditos do imperador estavam daí em diante autorizados a freqüentar — ministra o estudo do Direito romano, tão bem que esse Direito regeu as instituições e os costumes dos países germânicos numa época em que o Ocidente não o admitia ainda.[ii] Apenas ao longo do século XVII é que o estudo do Direito romano, precisamente, porque era o Direito imperial, será admitido na Universidade de Paris. É verdade que, muito antes, era ensinado em Toulouse, e que, favorecido pela admiração exagerada que se sente, no século XVI, pela Antiguidade, tinha começado a impregnar os hábitos e a modificar profundamente os costumes e as mentalidades, na própria França.

Ora, o Direito romano não é favorável à mulher, nem tampouco à criança. É um direito monárquico, que só admite um fim. É o direito do pater familias, pai, proprietário e, em sua casa, grande-sacerdote, chefe da família com poderes sagrados, sem limites no que concerne a seus filhos; tem sobre eles direito de vida e de morte — e da mesma forma sobre sua mulher, apesar das limitações, tardiamente introduzidas sob o Baixo Império.

Apoiando-se no Direito romano é que juristas como Dumoulin, por seus tratados e seus ensinamentos, contribuem, por sua vez, para estender o poder do Estado centralizado e também — o que nos interessa aqui — para restringir a liberdade da mulher e da sua capacidade de ação, principalmente no casamento. A influência deste direito será tão forte que, no século XVI, a maioridade, que era aos doze anos para as meninas e quatorze para os rapazes, na maior parte dos costumes, vai ser transferida para a mesma idade fixada em Roma, isto é, vinte e cinco anos (em Roma, a maioridade não importava muito, pois o poder do pai sobre os filhos perdurava durante toda a vida). Era uma nítida regressão sobre o Direito consuetudinário, que permitia à criança adquirir, muito jovem, uma verdadeira autonomia, sem que, por isso, a solidariedade da família lhe fosse negada. Nesta estrutura, o pai tinha autoridade de gerente, não de proprietário: ele não tinha o poder de deserdar seu filho mais velho e era o costume que, nas famílias nobres ou de homens comuns, regulava a devolução dos bens, em um sentido que mostra claramente o poder que a mulher conservava sobre o que lhe pertencia: no caso de um casal morrer sem herdeiros diretos, os bens provenientes do pai iam para a família paterna, mas os provenientes da mãe voltavam para a família materna, segundo o adágio bem conhecido do Direito consuetudinário: paterna paternis, materna maternis.

No século XVII já se constata uma profunda evolução neste ponto de vista: os filhos, considerados como menores até vinte e cinco anos, continuam sob a autoridade do pai e a característica de propriedade tendente a tornar-se monopólio do pai não faz mais do que se firmar. O Código de Napoleão dá o último retoque a este dispositivo e dá um sentido imperativo às tendências que começaram a se firmar desde o fim da época medieval. Lembremos que apenas no fim do século XVII a mulher toma obrigatoriamente o nome do marido; e, também, que é somente com o Concílio de Trento, portanto na segunda metade do século XVI, que o consentimento dos pais torna-se necessário para o casamento de adolescentes; tanto quanto se tornou indispensável a sanção da Igreja. Ao velho adágio dos tempos anteriores:

Beber, comer, dormir juntos

Fazem o casamento, me parece

junta-se:

Mas é preciso passar pela Igreja.

Não nos esqueceremos de destacar aqui o número de uniões devidamente arranjadas pela família nos tempos feudais: os exemplos são abundantes realmente, moças e rapazes, noivos desde o berço, prometidos um ao outro. Também não faltou quem quisesse argumentar com o fato de que as mulheres não eram livres na época; o que é fácil de retrucar, pois que, deste ponto de vista, rapazes e moças se encontravam em pé de igualdade rigorosa, porque se dispõe do futuro esposo absolutamente do mesmo modo que da futura esposa. Deste modo, é incontestável que ocorria, então, o que ainda hoje acontece em dois terços do mundo, isto é, que as uniões, em sua grande maioria, eram arranjadas pelas famílias. E nas famílias nobres, especialmente as reais, essas disposições faziam, de algum modo, parte das responsabilidades de nascimento, porque um casamento entre dois herdeiros de feudo ou de reinos era considerado como o melhor meio de selar um tratado de paz, assegurar amizade recíproca e, também, de garantir para o futuro uma herança vultosa.

Uma força lutou contra estas uniões impostas, e esta foi a Igreja; ela multiplicou, no Direito canônico, as causas de nulidade, reclamou sem cessar a liberdade para os que se unem, um com relação ao outro e, com freqüência, mostrou-se bastante indulgente ao tolerar, na realidade, a ruptura de laços impostos — muito mais nesta época do que mais tarde, notemos. O resultado é a constatação que provém da simples evidência de que o progresso da livre escolha do esposo acompanhou em toda parte o progresso da difusão do Cristianismo. Hoje, em países cristãos, esta liberdade, tão justamente reclamada, é reconhecida pelas leis, enquanto que, nos países muçulmanos ou nos países do Extremo Oriente, esta liberdade, que nos parece essencial, não existe ou só recentemente foi concedida.[iii]

Isto nos leva a discutir o slogan: “Igreja hostil à mulher”. Não nos demoraremos em questionar a afirmação acima, o que exigiria um volume à parte; não iremos mais discutir as tolices evidentes[iv] que foram proferidas sobre o assunto. “Não foi senão no século XV que a Igreja admitiu que a mulher tinha alma”, afirmava candidamente, um dia no rádio, não sei que romancista certamente cheio de boas intenções, mas cuja informação apresentava algumas lacunas! Assim, durante séculos, batizou-se, confessou-se e ministrou-se a Eucaristia a seres sem alma! Neste caso, por que não aos animais? É estranho que os primeiros mártires honrados como santos tenham sido mulheres e não homens. Santa Agnes, Santa Cecília, Santa Ágata e tantas outras. É verdadeiramente triste que Santa Blandina ou Santa Genoveva tenham sido desprovidas de uma alma imortal. É surpreendente que uma das mais antigas pinturas das catacumbas (no cemitério de Priscille) representasse, precisamente, a Virgem com o Menino, bem designado pela estrela e pelo profeta Isaías. Enfim, em quem acreditar, nos que reprovam na Igreja medieval justamente o culto da Virgem Maria, ou naqueles que julgam que a Virgem Maria era, então, considerada como uma criatura sem alma?

Sem nos demorarmos, portanto, nestas tolices, recordaremos aqui que algumas mulheres (que nada designavam particularmente, pela família ou pelo nascimento, pois que vinham, como diríamos atualmente, de todas as camadas sociais, como, por exemplo, a pastora de Nanterre) usufruíram na Igreja, e justamente por sua função na Igreja, de um extraordinário poder na Idade Média. Certas abadessas eram senhoras feudais cujo poder era respeitado do mesmo modo que o de outros senhores; algumas usavam o báculo como os bispos; administravam, muitas vezes, vastos territórios com cidades e paróquias... Um exemplo, entre mil outros: no meio do século XII, cartulários nos permitem seguir a formação do mosteiro de Paraclet, cuja superiora é Heloisa; basta percorre-los para constatar que a vida de uma abadessa, na época, comporta todo um aspecto administrativo: as doações que se acumulam, que permitiam perceber ora o dízimo de um vinhedo, ora o direito às taxas sobre o feno e o trigo, aqui o direito de usufruir uma granja, e lá o direito de pastagem na floresta... Sua atividade é, também, a de um usufruidor, ou seja, a de um senhor. Quer dizer que, a par de suas funções religiosas, algumas mulheres exerciam, mesmo na vida laica, um poder que muitos homens invejariam no presente.

Por outro lado, constata-se que as religiosas desta época — sobre as quais, digamos de passagem, ainda nos faltam estudos sérios — são na maioria mulheres extremamente instruídas, que poderiam rivalizar, em sabedoria, com os monges mais letrados do tempo. A própria Heloísa conhece e ensina às monjas o grego e o hebraico. É de uma abadia de mulheres, a de Gandersheim, que provém um manuscrito do século X contendo seis comédias, em prosa rimada, imitação de Terêncio, e que são atribuídas à famosa abadessa Hrostsvitha, da qual, há muito tempo, conhecemos a influência sobre o desenvolvimento literário nos países germânicos. Estas comédias, provavelmente representadas pelas religiosas, são, do ponto de vista da história dramática, consideradas como prova de uma tradição escolar que terá contribuído para o desenvolvimento do teatro na Idade Média. Digamos, de passagem, que muitos mosteiros de homens e de mulheres ministravam instrução às crianças da região.

É surpreendente, também, constatar que a mais conhecida enciclopédia do século XII é da autoria de uma religiosa, a abadessa Herrade de Landsberg. É a famosa Hortus deliciarum (Jardim das delícias) na qual os eruditos retiravam os ensinamentos mais corretos sobre o avanço das técnicas, em sua época. Poder-se-ia dizer o mesmo das obras da celebre Hildegarde de Bingen. Enfim, uma outra religiosa, Gertrude de Helfa, no século XIII, conta-nos como se sentiu feliz ao passar de estado de “gramaticista” ao de “teóloga”, isto é, depois de ter percorrido o ciclo de estudos preparatórios ela galgara o ciclo superior, como se fazia na Universidade. O que prova que, ainda no século XIII, os conventos de mulheres permaneciam sendo o que sempre foram desde São Jerônimo, que instituiu o primeiro dentre eles, a comunidade de Belém: lugares de oração, mas, também, de ciência religiosa, de exegese, de erudição; estuda-se a Escritura Sagrada, considerada como a base de todo conhecimento e, também, os elementos de saber religioso e profano. As religiosas são moças instruídas; portanto, entrar para o convento é o caminho normal para as que querem desenvolver seus conhecimentos além do nível comum. O que parece extraordinário em Heloísa é que, em sua juventude, não sendo religiosa e não desejando claramente entrar para o convento, procurava, todavia, estudos muito áridos, ao invés de se contentar com a vida mais frívola, mais despreocupada, de uma jovem desejando “viver no século”. A carta que Pedro, o Venerável lhe enviou o diz expressamente.

Mas há algo mais surpreendente. Se quisermos fazer uma idéia exata do lugar ocupado pela mulher na Igreja dos tempos feudais, é preciso perguntarmo-nos o que se diria, em nosso século XX, de conventos de homens colocados sob a direção de uma mulher. Um projeto deste gênero teria, em nosso tempo, alguma possibilidade de se realizar? E, no entanto, isto foi realizado com pleno sucesso, e sem provocar o menor escândalo, na Igreja por Robert d’Arbrissel, em Fontevrault, nos primeiros anos do século XII. Tendo resolvido fixar a incrível multidão de homens e mulheres que se arrastava atrás dele — porque ele foi um dos maiores pregadores de todos os tempos —, Robert d’Abrissel decidiu fundar dois conventos, um de homens, outro de mulheres;[v] entre eles se elevava a Igreja, único lugar em que monges e monjas podiam se encontrar. Ora, este mosteiro duplo foi colocado sob a autoridade, não de um abade, mas de uma abadessa. Esta, por vontade do fundador, devia ser viúva, tendo tido a experiência do casamento. Para completar, digamos que a primeira abadessa que presidiu os destinos da Ordem de Fontevrault, Petronila de Chemillé, tinha 22 anos. Não acreditamos que, mesmo nos dias de hoje, semelhante audácia tivesse a menor oportunidade de ser considerada ao menos uma única vez.

Se se examinam os fatos, uma conclusão se impõe: durante todo o período feudal, o lugar da mulher na igreja apresentou algumas diferenças daquele ocupado pelo homem (e em que medida não seria esta uma prova de sabedoria: levar em conta que o homem e a mulher são duas criaturas equivalentes, mas diferentes?), mas este foi um lugar eminente, que simboliza, por outro lado, perfeitamente o culto, insigne também, prestado à Virgem entre todos os santos. E é pouco surpreendente que a época termine por uma figura de mulher: a de Joana D’Arc, que, seja dito de passagem, não poderia, jamais, nos séculos seguintes, obter a audiência e suscitar a confiança que conseguiu, afinal.

É surpreendente, também, observar a rigidez que se produziu ao redor da mulher no extremo fim do século XIII. É por uma medida bastante significativa que, em 1298, o Papa Bonifácio VII decide para as monjas (cartuxas, cistercienses) a clausura total e rigorosa que elas conheceram a partir daí. Em seguida, não se admitirá mais que a religiosa se misture com o mundo. Não se tolerarão mais estas leigas consagradas, que foram as penitentes, no século XIII, que levavam uma vida igual a todos, mas que se consagravam por um voto religioso. No século XVII, principalmente, veremos as religiosas da Visitação, destinadas, por sua fundadora, a se misturarem com a vida quotidiana, obrigadas a se conformar com a mesma clausura das carmelitas; tanto que São Vicente de Paulo, para permitir às Irmãs de Caridade prestar serviço aos pobres, tratar dos doentes e cuidar das famílias necessitadas, evitará trata-las como religiosas e de faze-las proferir os votos: seu destino foi, então, de Visitadoras. Não se poderia mais conceber que uma mulher tendo decidido consagrar sua vida a Deus não fosse enclausurada; enquanto que, nas novas ordens criadas para os homens, por exemplo os Jesuítas, estes permaneciam no mundo.

Basta dizer que o status da mulher na Igreja é exatamente o mesmo que na sociedade civil e que tudo o que lhe conferia alguma autonomia, alguma independência, alguma instrução, lhe foi, pouco a pouco, retirado depois da Idade Média. Ora, como ao mesmo tempo a universidade — que admite apenas os homens — tenta concentrar o saber e o ensino, os conventos deixam, de modo gradativo, de ser os centros de estudo que tinham sido anteriormente; digamos que eles param, também, e muito rapidamente, de ser centros de oração.

A mulher se encontra, portanto, excluída da vida eclesiástica, como da vida intelectual. O movimento se precipita quando, no começo do século XVI, o rei de França mantém nas mãos a nomeação de abadessas e abades. O melhor exemplo continua sendo a Ordem de Fontevrault, que se torna um asilo para as velhas amantes do rei. Asilo onde se leva daí em diante uma vida cada vez menos edificante, porque a clausura tão rigorosa não demora a sofrer grandes alterações, confessadas ou não. Se algumas ordens, como a do Carmelo ou de Santa Clara, guardam sua pureza graças a reformas, a maior parte dos mosteiros de mulheres, no fim do Antigo Regime, é de casas de recolhimento onde as filhas caçulas de grandes famílias recebem muitas visitas e onde se jogam cartas e outros “jogos proibidos”, até tarde da noite.

Faltaria falar das mulheres que não eram nem grandes damas nem abadessas, nem mesmo monjas: camponesas ou citadinas, mães de família ou trabalhadoras. Inútil dizer que, para ser corretamente tratada, a questão reclamaria muitos volumes e, também, que exigiria trabalhos preliminares, que não foram feitos. Seria indispensável pesquisar não somente as coleções sobre os costumes ou os estatutos das cidades, mas, também, os cartulários, os documentos judiciários ou, ainda, os inquéritos ordenados por São Luís; [vi] destacam-se aí, colhidos na vida quotidiana, mil pequenos pormenores colhidos ao acaso e sem ordem preconcebida, que nos mostram homens e mulheres através dos menores atos de suas existências: aqui a queixa de uma cabeleireira, ali a de uma salineira (comércio do sal), de uma moleira, da viúva de um agricultor, de uma castelã, da mulher de um cruzado, etc.

É por documentos deste gênero que se pode, peça por peça, reconstituir, como em um mosaico, a história real. Ela nos parece aí, é inútil dizer, muito diferente das canções de gesta, dos romances de cavalaria ou das fontes literárias que tão freqüentemente tomamos por fontes históricas!

O quadro que se delineia da reunião desses documentos nos apresenta mais de um traço surpreendente, pois vemos, por exemplo, mulheres votarem como homens em assembléias urbanas ou nas das comunas rurais. Freqüentemente, no divertimos em conferências ou palestras diversas, citando o caso de Gaillardine de Fréchou, que diante de um arrendamento proposto aos habitantes de Cauterets, nos Pirineus, pela Abadia de Saint-Savin, foi a única a votar não, quando todo o resto da população votou sim. O voto das mulheres nem sempre é expressamente mencionado, mas isto pode ser porque não se via necessidade em faze-lo. Quando os textos permitem diferenciar a origem dos votos, percebe-se que, em certas regiões, tão diferentes como as comunas bearnenses, certas cidades de Champanha, ou algumas cidades do leste como Pont-à-Mousson, ou ainda na Touraine, na ocasião dos Estados-Gerais de 1308, as mulheres são explicitamente citadas entre os votantes, sem que isto seja apresentado como um uso particular do local. Nos estatutos das cidades indica-se, em geral, que os votos são recolhidos na assembléia dos habitantes sem nenhuma especificação; às vezes, faz-se menção da idade, indicando, como em Aurillac, que o direito de voto é exercido com a idade de vinte anos, ou em Embrun, a partir de quatorze anos. Acrescentamos a isto que, como geralmente os votos se fazem por fogo, quer dizer, lar, lareira, por casa, de preferência a por indivíduo, é aquele que representa o “fogo”, portanto, o pai de família, que é chamado a representar os seus; se é o pai de família que é naturalmente seu chefe, fica bem claro que sua autoridade é a de um gerente e de um administrador, não a de um proprietário.

Nas atas de notários é muito freqüente ver uma mulher casada agir por si mesma, abrir, por exemplo, uma loja ou uma venda, e isto sem ser obrigada a apresentar uma autorização do marido. Enfim, os registros de impostos (nós diríamos, os registros de coletor), desde que foram conservados, como é o caso de Paris, no fim do século XIII, mostram multidão de mulheres exercendo funções: professora, médica, boticária, estucadora, tintureira, copista, miniaturista, encadernadora, etc.

Não é senão no fim do século XVI, por um decreto do Parlamento, datado de 1593, que a mulher será afastada explicitamente de toda a função no Estado. A influência crescente do Direito romano não tarda, então, a confinar a mulher no que foi sempre seu domínio privilegiado: os cuidados domésticos e a educação dos filhos. Até o momento em que isto, também lhe será retirado por lei, porque, destaquemos, com o Código de Napoleão ela já não é nem mesmo a senhora de seus próprios bens e desempenha, em sua casa, papel subalterno. Embora desde Montaigne até Jean-Jacques Rousseau sejam os homens que elaborem tratados sobre a educação, o primeiro, publicado na França foi de uma mulher, Dhuoda, que o elaborou (em versos latinos) por volta de 841-843, para uso de seus filhos. [vii]

Há alguns anos, certas discussões ocorridas a respeito da questão da autoridade paterna, na França, foram muito desconcertantes para o historiador da Idade Média; realmente, a idéia de que foi necessária uma lei para dar à mulher direito de olhar pela educação de seus filhos teria parecido paradoxal nos tempos feudais. A comunidade conjugal, pai e mãe, exercia conjuntamente, então, a função da educação e da proteção dos filhos, assim como, eventualmente, a administração de seus bens. É verdade que a família era concebida em um sentido mais amplo; esta educação causa infinitamente menos problemas, porque ela se faz no meio de um contexto vital, de uma comunidade familiar mais abrangente e mais diversificada do que hoje, pois não está reduzida à célula inicial pai-mãe-criança, mas comporta também os avós, colaterais, domésticos no sentido etimológico do termo. O que não impede que a criança tenha, eventualmente, sua personalidade jurídica distinta; assim, se ela herda bens próprios (legados, por exemplo, por um tio), estes são administrados pela comunidade familiar, que, em seguida, deverá prestar-lhe conta.

Poder-se-ia multiplicar assim os exemplos, com pormenores fornecidos pela história do Direito e dos costumes, atestando a degradação do lugar ocupado pela mulher entre os costumes feudais e o triunfo de uma legislação “à romana”, da qual nosso Código ainda está impregnado. Seria melhor que, na época em que os moralistas queriam ver “a mulher em casa”, fosse mais indicado inverter a proposição e exigir que o lar fosse da mulher.

A reação só chegou em nossos tempos. Entretanto, ela é, digamo-lo, muito decepcionante: tudo se passa como se a mulher, eufórica pela idéia de ter penetrado no mundo masculino, continuasse incapaz da força da imaginação suplementar, que lhe seria necessária, para levar a este mundo seu traço particular, precisamente aquele que faz falta à nossa sociedade. Basta-lhe imitar o homem, ser julgada capaz de exercer as mesmas funções, adotar os comportamentos e até os hábitos de vestir do seu parceiro, sem mesmo se questionar sobre o que é realmente contestável e o que deveria ser contestado. Seria o caso de se perguntar se ela não está movida por uma admiração inconsciente, o que podemos considerar excessivo, por um mundo masculino que ela acredita necessário e suficiente copiar com tanta exatidão quanto possível, seja perdendo ela própria sua identidade, ou negando antecipadamente sua originalidade.

Tais constatações levaram-nos bem longe do mundo feudal; elas podem, em todo o caso, levar ao desejo que este mundo feudal seja um pouco mais bem conhecido, dos que crêem, de boa fé, que a mulher “sai enfim da Idade Média”: elas têm muito que fazer para reencontrar o lugar que foi seu nos tempos da rainha Eleonora ou da rainha Branca...

Idade Média: O Que Não Nos Ensinaram, Capítulo VI, Editora Agir, Rio de Janeiro 1978.



Notas:

[i] Histoire de la bourgeoisie, op. Cit., t. II, pp. 30-31.

[ii] Paradoxalmente, os países germânicos foram modelados pelo Direito romano, enquanto que, na França, embora desagrade aos que continuam presos ao mito de “raça latina”, os costumes eram formados por hábitos que acreditamos “germânicos” e que devíamos antes chamar “célticos”.

[iii] “A legislação muçulmana proíbe à mulher o que ela reivindica, atualmente, e que chama de seus direitos, o que não constitui senão uma agressão contra os direitos que foram conferidos apenas aos homens”. Assim se exprimia, em 1952, em uma publicação intitulada Al Mistri, o Xeque Hasanam Makhluf (ver La Documentation française, n° 2418, 31 de maio de 1952, p. 4).

[iv] Não pensamos que fosse necessário, quando da primeira edição deste livro, lembrar as origens desta ridícula afirmação. Mas acontece que, ouvindo-a recentemente (1989), este esclarecimento parece útil. Gregório de Tour, na sua Histoire des Francs (História dos Francos), cap. 91, conta que o Sínodo de Mâcon de 486, ao qual ele não assistiu — diga-se de passagem —, um dos prelados fez notar “que não se devia compreender as mulheres sob o nome dos homens”, dando à palavra homo o sentido restrito do latim vir. Acrescenta que, consultando a Sagrada Escritura, “os argumentos dos bispos o fizeram reconhecer” essa falsa interpretação, o que “fez cessar a discussão”. Mas os autores da Grande Enciclopédia do século XVIII iriam explorar este pequeno incidente (que sequer consta dos cânones do Concílio) para deixar crer que se recusava à mulher a natureza...

[v] Houve, daí em diante, numerosas ordens duplas na época, principalmente nos países anglo-saxões e na Espanha.

[vi] Iniciativa sem precedente, e também sem futuro, que consistia em fazer supervisionar, pelo rei, sua própria administração, dirigindo-se diretamente aos administradores: o rei enviava aos lugares os pesquisadores, unicamente encarregados de recolher as palavras das pessoas sem importância, que tinham motivos de reclamar dos agentes reais, e reformar assim, no local, os abusos cometidos; em outras palavras, era o caminho eficaz que remediou os defeitos do estatismo.

[vii] P. Riché, Dhuoda Manuel pour mon fils, Paris, Ed. du Cerf, 1975.


http://www.permanencia.org.br/revista/historia/pernoud.htm

O Livro Negro do Cristianismo


O Livro Negro do Cristianismo, Jacobo Fo, Sérgio Tomat e Laura Malucelli
16/08/2007

Em 2 de fevereiro de 1512, o chefe indígena dos tainos, Hatuey após uma tentativa de rebelar contra os conquistadores espanhóis foi capturado e condenado á morte na fogueira. Quando estava a ponto de ser executado, um frade franciscano implorou perguntando se ele queria converter-se ao cristianismo para subir aos céus, Hatuey respondeu indagando: "E esses homens brancos também vão para o céu?", e ao receber uma afirmação disse "então eu não quero ir onde esses homens irão".



"Acreditar num deus cruel, faz um homem cruel."
Thomas Paine



Em O Livro negro do cristianismo: dois mil anos de crimes em nome de Deus (Il libro negro del cristianismo, tradução de Mônica Braga, Ediouro, 270 páginas, R$ 39,90), os italianos Jacobo Fo, Sérgio Tomat e Laura Malucelli narram as inúmeras atrocidades praticadas pela Igreja Católica ao longo de seus dois mil anos de história.

Em uma investigação bem detalhada os jornalistas fazem um vasto panorama desta história sanguinária. Fo, filho do Nobel de Literatura de 1997, Dario Fo, é um dos jornalistas italianos mais requisitados, iniciou seus trabalhos com publicações alternativas durante a década de 1970 e atualmente escreve para l´Expresso, Il corriere della Sera, entre outros. Contou com a colaboração de Tomat e Malucelli para trazer esta obra, cujo enfoque impressiona pelo horror cometido em nome de Deus.

Conduzindo a história do catolicismo, deste a época de Constantino até a omissão diante do movimento nazi-fascista em plena II Guerra Mundial, os autores analisam e detalham a extensa relação de crimes causada por ganância, riqueza e uma "fé".

O porquê da proibição de ler a Bíblia durante tanto tempo, o porquê do extermínio, e da união do clero com os exércitos seculares no passado. Como foi a instauração dos poderes inquisitórios? Quanto dinheiro entrou nos cofres da Igreja via perdões papais? Em que grau a Igreja obscureceu o desenvolvimento cientifico ao perseguir figuras como Galileu ou Giordano Bruno? Porque relegar a figura da mulher a um papel submisso e secundário no cristianismo? Essas e outras perguntas são respondidas ao longo das páginas deste Livro Negro.

Os ensinamentos de Jesus Cristo podem ter sido uma lição de paz e amor. É tanto verdadeira a premissa que o fato de hoje o mundo parecer menos violento se deve a maturidade desses ensinamentos. Contudo a evolução da Igreja, de párias crentes a cultistas do Estado, principalmente com a união da Igreja com o Estado romano, deu àquelas mensagens pregadoras a rígidos dogmas impostos aos fiéis, e iniciou o áspero, desconhecido e oculto de momentos sádicos, amorais e desumanos que incluem: caça às bruxas e considerados hereges, a Inquisição, Cruzadas, escravidão, colonialismo, apoio a ditaduras, casos de pedofilia...entre outros.

Polêmico, o livro revisiona os pontos negros do cristianismo e daqueles personagens e instituições que fizeram parte desta história obscura. Amparado em documentos de diferentes arquivos, incluindo os do próprio pai, Jacobo torna a obra em um dos melhores fontes para essa desconhecida história, chafurdando os porões e os sótãos obscuros dessa instituição poderosa, que chega ao século XXI, longe da vida cotidiana e perde fiéis.

Atrevido, O Livro Negro do Cristianismo, best-seller na Itália e chega ao país mais católico do mundo como uma obra necessária à manipulação de informações que caem sempre sobre os assuntos da Igreja maculada e cansada aos novos tempos.
.
http://www.leialivro.com.br/texto.php?uid=16416

Colonialismo: um Crime

Colonialismo: um crime contra a humanidade ainda a ser reparado


Por Waldir José Rampinelli - professor do Departamento de História na Universidade Federal de Santa Catarina

Os crimes praticados pelo governo nazista levaram a Alemanha, no início dos anos 1950, a entrar em negociações com instituições judaicas, assinando um acordo de indenização no valor aproximado de US$ 60 bilhões. Isso aconteceu sem grandes pressões internacionais(i) . Hoje, com todo o grito e o clamor dos povos do Terceiro Mundo por uma nova ordem econômica mundial, ocorrem apenas alguns pedidos de desculpa pelo colonialismo e o escravismo e, às vezes, renegociações de suas dívidas externas. O perdão e a reparação não fazem parte da agenda do grupo dos sete países mais ricos (G-7).

A Idade Moderna, também denominada época dos descobrimentos, inaugurou uma nova forma de acumulação: o colonialismo. O mundo foi conquistado pelas potências européias, causando às populações nativas um verdadeiro genocídio. Nenhum crime do século XX, diz Tzvetan Todorov, pode ser comparado aos massacres daquele período. O livro negro do colonialismo (ii), que começa no século XVI e chega à atualidade, conclui que, se ontem o mecanismo de dominação foi o colonialismo e mais tarde o imperialismo, como também o neocolonialismo, hoje é a globalização.

Esse livro, fazendo par com o do comunismo e o do capitalismo, mostra a pilhagem das riquezas das terras dominadas. No entanto, ele é benevolente com as metrópoles ibéricas, vistas por Marc Ferro como menos sanguinárias que as demais européias, já que espanhóis e portugueses queriam fazer dos indígenas seres cristãos. Refere-se à carta emitida pelo Papa Paulo III, em 1537, na qual se dizia que os nativos eram portadores de alma e não animais selvagens. O conteúdo desse documento, porém, jamais chegou à América, e coube a alguns religiosos isolados, como Las Casas e Montesinos, fazer a defesa dos indígenas. Não há colonialismo brando quando se trata de dominar para expropriar. Neruda sintetizou a chegada de homens estranhos em um verso: “a espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem”. A resistência dos nativos, no entanto, logo se fez presente, esparramando-se por todo o continente. O grito de Tupac Amaru, quando sentiu que seria esquartejado, foi o de que muero, pero volveré hecho millones.

Na verdade, é um equívoco pensar em exploração mais humana, já que a América Latina paga até hoje o preço dessa subjugação. Os indígenas passaram, por exemplo, por um processo de extinção em algumas regiões. Contra eles, e mais tarde contra os negros, o peso da escravidão. “O que o burguês supercristão do século XX não perdoa a Hitler” – já assinalava Aimé Césaire, o poeta antilhano de Guadalupe – “não é o crime em si, não é a humilhação do homem em si, mas o crime contra o homem branco [...] de ter aplicado à Europa procedimentos colonialistas que até então só abrangiam os árabes, os cules da Índia e os negros da África”(iii) .

Ferro apresenta a Igreja e o Exército como instituições igualitárias na América luso-hispânica. Na verdade, ambas foram discriminatórias com os indígenas e o negros, pois os mesmos ocupavam espaços inferiores nos atos religiosos e também não ascendiam na carreira militar como os brancos. Simón Bolívar, quando os convocou a fazer parte de seu exército libertador, teve que lhes prometer terra e liberdade, ou seja, igualdade. Só assim os descalços o seguiram na travessia dos Andes.

O historiador francês Marc Ferro, organizador do livro e único representante da Escola dos Annales que se dedica ao estudo da história contemporânea, mostra o racismo como um componente fundamental do colonialismo. Classifica-o em dois tipos: um que se baseia na desigualdade, isto é, seres humanos menos desenvolvidos, mas que poderiam, eventualmente, ascender à condição do conquistador; outro que se escora em “diferenças de natureza ou de genealogia entre certos grupos humanos” que jamais chegariam à condição do europeu. Charles Boxer já dissera “que uma raça não pode escravizar sistematicamente membros de outra, em grande escala, por mais de três séculos, sem adquirir um sentimento, consciente ou não, de superioridade racial”(iv) . Respondia aos escritores portugueses modernos que afirmavam que seus compatriotas nunca tiveram qualquer sentimento preconceituoso de cor ou de discriminação contra o negro africano.

O colonialismo pode se transformar em uma forma de dominação totalitária, sempre e quando utiliza de sua própria ideologia e mantém a maior parte da população dominada por razões racistas. Muitos traços, diz Ferro, aproximam as práticas colonialistas daquelas dos regimes totalitários, tais como os massacres, o confisco dos bens de uma parte da população, o racismo e a discriminação correspondente.

O conceito de neocolonialismo, nova forma de imperialismo, é apresentado no livro como criação de Kwame Nkrumah – primeiro-ministro de Gana – para definir “a situação de um Estado independente em teoria e dotado de todos os atributos da soberania, mas que, na realidade, tem sua política dirigida a partir do exterior”. As potências imperialistas já não queriam controlar formalmente as velhas colônias, mas tão-somente ajudá-las a se desenvolver, substituindo “uma presença visível por um governo invisível, o dos grandes bancos: Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial etc.(v)” Edward Goldsmith diz que a única solução foi ampliar “nossos” mercados ao Terceiro Mundo, incorporando-os ao sistema industrial, dentro da órbita de “nosso” comércio. E esta é a parte central do que foi a conferência de Bretton Woods, em 1944.

O colonialismo sem colonos é outro fenômeno de dominação, no qual uma nova classe dirigente, autóctone e muito minoritária, enxertada nos grandes bancos, subjuga suas populações. Desse modo, os colonizados puderam livrar-se dos colonos, mas não do imperialismo nem de certos traços do colonialismo.

1 Algumas faltas com a América Latina

O livro negro do colonialismo, ao se referir à América Latina, mantém um silêncio doído sobre a última colônia de nosso continente: Porto Rico. Nenhuma palavra com relação à luta dos independentistas, alguns deles presos nas masmorras estadunidenses há mais de 20 anos. Embora a ilha leve o nome de Estado Livre Associado (ELA), é, na verdade, uma terra submetida inteiramente aos interesses estratégicos de Washington. Isso porque por aí passam algumas das principais rotas marítimas de petróleo que abastecem os Estados Unidos, como também porque Porto Rico está localizado na entrada do Canal do Panamá. Para complicar ainda mais a situação dessa colônia, ela se encontra muito próxima da Cuba socialista. O domínio sobre os assuntos portorriquenhos é tão grande, diz Maldonado-Denis, que já não somos uma neocolônia como a República Dominicana ou o Haiti, senão uma colônia no sentido clássico da palavra (vi).
Já a revolução dos escravos negros no Haiti, a derrota imposta ao exército de Napoleão e a primeira terra a proclamar a sua independência na América Latina são temas tratados no livro. No entanto, perdeu-se a oportunidade de mostrar que Toussaint L’Ouverture, comandando os negros haitianos, derrotou os planos coloniais de Bonaparte e o propósito de conquistar a Luisiânia(vii) . Desse modo, teve participação efetiva na manutenção da integridade territorial e no processo de independência dos Estados Unidos. É óbvio que o orgulho anglo-saxão não reconhece tais fatos.

No livro negro usam-se termos que expressam conceitos polêmicos. Dizer que a América Latina é um Novo Mundo ou que foi descoberta, quando os indígenas estavam aqui há mais de 50 mil anos, é, no mínimo, questionável. Também se chega ao extremo de apresentar como razão da conquista a conversão das nações pagãs ao cristianismo. “A busca do ouro, embora não dissimulada, só vem depois”(viii) . Na verdade, os europeus, como porcos famintos, ansiavam pelo metal precioso.

Dos nove autores que escrevem sobre a África, nenhum deles trata da última colônia existente naquele continente: o Saara Ocidental e a luta da Frente Polisário por sua independência. Todos os anos, na Quarta Comissão da ONU, onde se discute o processo de descolonização, é lembrada o nome da República Árabe do Sahauri Democrática. Os saarauís dizem que são pouco falados na imprensa internacional porque não costumam recorrer ao terrorismo. Por enquanto...

2 A história como arma de dominação

A história, como as outras ciências, será sempre incompleta se não ajudar as pessoas a viverem melhor. Ela tem obrigação de trabalhar em favor dos homens e das mulheres, já que os homens e as mulheres são o objeto primeiro de seu estudo. Por isso, Marc Bloch procurava “compreender o presente pelo passado” e ao mesmo tempo entender “o passado pelo presente”. Dessa maneira, abre-se uma perspectiva para o futuro. Não é ele apenas um historiador, mas também um homem de seu tempo, parecendo-se – como diz o provérbio árabe – muito mais com sua época do que com seus pais.

O colonialismo precisa ser estudado, lembrado e visto para ser vencido em sua nova forma: o imperialismo, o neocolonialismo e a globalização. O livro fala da necessidade de museus que mostrem os mecanismos de dominação e exploração impostos aos colonizados. “Diante das transformações políticas do mundo, os museus têm de evoluir redefinindo suas responsabilidades no seio das sociedades. Os museus da África do Sul, apesar de suas dificuldades orçamentárias, procuram ser a vitrine das mudanças políticas do país que aspira a uma reconciliação”(ix) . Hoje, nos Estados Unidos, existem sete grandes museus sobre o Holocausto. Nenhum sobre escravidão. É hora de fazê-los brotar em todas as partes do mundo.

Nos Países Baixos, o estudo da história ocultou a exploração e as intervenções armadas nas colônias, mostrando, apenas, o lado civilizatório. A história colonial também não atraía os estudantes, não havendo uma imagem histórica do processo de colonização e descolonização. Coube a um grupo de historiadores desencavar os arquivos que mostram os horrores das guerras coloniais.

Já no Portugal salazarista adotou-se, na década de 1930, a estratégia assimilacionista, isto é, o branqueamento da África. Com o fracasso dessa política e os novos ventos do pós-guerra apontando para o fim do colonialismo, Lisboa adere à tese luso-tropicalista do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre que mostra a ação colonizadora nas províncias ultramarinas, contrapondo ao discurso da racionalidade econômica um outro, calcado nos valores culturais, civilizacionais e cristãos(x). Somente após a Revolução dos Cravos (1974) os historiadores encontraram ampla liberdade para pesquisar o Portugal que começava no Minho e terminava no Timor Leste.

3 Marcas profundas

O colonialismo deixou um rastro de miséria e sangue na maioria dos lugares por onde passou. As seqüelas são econômicas, políticas, ecológicas, sociais, culturais e militares. De cómo Europa subdesarrolló a Africa é o título do livro de Walter Rodney. Hoje, algumas entidades internacionais começam a discutir formas de devolver, pelo menos, parte da riqueza expropriada. Não basta perdoar as dívidas externas dos países que foram colonizados, mas sim repor o pilhado. A própria cultura dos povos vencidos, quando não destruída, foi levada para as metrópoles. Uma simples visita aos museus das principais cidades européias nos mostra todo um acervo de arte roubado das terras conquistadas. A cada vitória de Napoleão, diz o guia do Museu do Louvre, chegavam obras de todos os lados.

Portanto, se ontem a resistência se deu contra o colonialismo, hoje ela terá de lutar contra o imperialismo, que assume um novo nome: globalização. Isso porque, num futuro muito próximo, algum historiador será compelido a organizar O livro negro da globalização.

Uma observação pontual: o livro traz muitas datas erradas, assim como a paginação do sumário em nada corresponde ao que é apresentado ao longo dos textos.

*************

i FINKELSTEIN, Norman. A indústria do Holocausto: reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001, p. 93-94.
ii FERRO, Marc (Org.). O livro negro do colonialismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, 957 p.
iii CÉSAIRE, Aimé. Discours sur le colonialisme. Presença Africana, 1995.
iv BOXER, Charles. Relações raciais no império colonial português 1415-1825. Porto: Afrontamento, 1977, p. 58-59.
v FERRO, Marc (Org.). Op. cit., p. 35.
vi MALDONADO-DENIS, Manuel. El imperialismo y la dependencia: el caso de Puerto Rico. In: vii GONZALEZ CASANOVA, Pablo (Org.). América Latina: historia de medio siglo. 4. ed. México: Século XXI, 1987, vol. 2, p. 459.
viii GUERRA, Ramiro. La expansión territorial de los Estados Unidos: a expensas de Espanha y de los paises hispanoamericanos. La Habana: Editorial de Ciências Sociais, 1975, p. 69.
ix FERRO, Marc. Op. cit., p. 55.
Ibidem, p. 559.
x RAMPINELLI, Waldir José. As duas faces da moeda: as contribuições de JK e Gilberto Freyre ao colonialismo português. Florianópolis: Editora da UFSC, 2004.

***********