A eleição para a presidência dos Estados Unidos, em 1860, foi acompanhada com interesse profissional por Karl Marx, que à época colaborava regularmente com o jornal americano New-York Daily Tribune. Abraham Lincoln era o candidato do Partido Republicano, contrário à escravatura. O pensamento estratégico de Lincoln considerava necessário – num primeiro momento -- circunscrever o território onde a abolição da escravidão poderia vigorar. Apesar de uma experiência política limitada – havia sido apenas um deputado sem maior destaque da Câmara dos Representantes – Lincoln foi eleito o 16º. Presidente dos Estados Unidos da América e o primeiro presidente republicano.
Entretanto, os primeiros passos dados no sentido da abolição da escravatura desencadearam uma reação violenta dos plantadores escravistas do Sul, que acabaram proclamando um após o outro a separação de seus respectivos Estados da União Americana. Este movimento de secessão desembocou, por sua vez, em abril de 1861, numa guerra civil de proporções gigantescas que durou até 1865. Marx sublinhou, em suas análises, que era a questão da escravatura que constituía a essência da Guerra Civil. A propósito das origens históricas dessa luta, Marx escreveu em artigo publicado no Daily Tribune em 11 de outubro de 1861 que as contradições entre o Norte industrial e o Sul escravista haviam se transformado na “força motriz da história (dos Estados Unidos) durante quase meio século”. A leitura atenta deste material jornalístico, entretanto, não fornece parâmetros que pudessem alimentar ilusões a respeito da ideologia e da prática política de Lincoln.
Hoje, passados 147 anos, a questão racial ainda mobiliza corações e mentes entre os eleitores dos EUA – veja-se o debate ocorrido nas prévias do Partido Democrata na Carolina do Sul, encerrado neste último sábado com a vitória do senador Barack Obama por 55,4% dos votos, contra a candidata Hillary Clinton que ficou com apenas 26,5% e em terceiro lugar o ex-senador John Edwards, com 17,6%. Na discussão travada, Hillary chegou a dizer que as idéias de Martin Luther King não dariam em nada se não fosse a iniciativa do ex-presidente Lyndon B. Johnson de transformar em lei algumas dessas idéias. Mas o pano de fundo do debate político em curso dos Estados Unidos, na fase atual, se dá destacadamente em torno da crise econômico-financeira desencadeada pela falência dos créditos imobiliários podres, os chamados subprime. Os analistas econômicos mais responsáveis apontam para um período de recessão na economia americana. O sucessor de George “War” Bush receberá o país com um déficit fiscal de aproximadamente US$ 220 bilhões, que poderá aumentar com o pacote acertado no Congresso americano de estímulo à economia de US$ 150 bilhões. A dívida dos EUA está no patamar dos US$ 9,2 trilhões, o maior aumento já ocorrido na história. As guerras do Afeganistão e do Iraque já consumiram US$ 691 bilhões desde 11 de setembro de 2001. Bush pediu, para 2008, outros US$ 193 bilhões só para dar continuidade a essas guerras, o que aumentará ainda mais o déficit orçamentário.
Assim como certamente Karl Marx não nutria ilusões a respeito da disputa das eleições presidenciais nos Estados Unidos de 1860 – mas destacava a importância da luta contra a escravatura para a luta democrática -- hoje também os observadores atentos da cena política americana sabem da necessidade de se alterar o domínio do grupo capitaneado por Bush, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Condoleezza Rice, representantes da oligarquia que açambarcou o poder efetivo num país dominado pelo que os comunistas americanos chamam de ultra-direita. A renomada jornalista americana, Ida Tarbell, já acusava a Standard Oil de construir o seu império na base da “fraude, impostura, privilégios especiais, ilegalidades descaradas, suborno, coerção, corrupção, intimidação, espionagem e terror”. É o que ocorre hoje na maior potência imperialista do mundo. Na verdade, além das prisões secretas da CIA, dos abusos cometidos na Baía de Guantánamo e Abu Ghraib, a utilização descarada da tortura como método de coletar informações de prisioneiros, os Estados Unidos vivem sob a égide de uma espécie de AI-
Na esfera da situação social – pelas estatísticas oficiais dos EUA -- o número de americanos abaixo do nível da pobreza cresceu para 3,6 milhões de pessoas, ou seja, 12,3% da população, desde que Bush assumiu seu primeiro mandato, em 2001. Um em cada oito americanos hoje vive na pobreza. Apesar de toda a propaganda governamental tentando mostrar que o abalo econômico atual é passageiro, as últimas pesquisas levadas a cabo pelo Wall Street Journal mostram que mais de 64% dos entrevistados estão convencidos que haverá recessão na economia americana em
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