quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Socialismo Reaccionário



* Marcelo Alves


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O nosso Primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou no primeiro aniversário do seu governo que "do ano passado há uma coisa que ninguém diz que é que ficou tudo na mesma".
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E não é que o homem tem mesmo razão. Nada ficou na mesma, tudo piorou.
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De facto nada nos fazia adivinhar que um socialista (e digo isto com toda a reserva, o do socialista, é claro) que foi ministro do governo de António Guterres, o executivo mais esbanjador de dinheiros públicos do pós 25 de Abril, seria o primeiro-ministro de outro governo que prima pela total falta de princípios genuinamente democráticos, de respeito pelas conquistas sociais da revolução e pelo incumprimento de todas as promessas eleitorais. E se as promessas que nos diz que vai efectuando são péssimas, então aquelas que nos escondeu são de bradar aos céus. Uma pergunta se nos impõe: se em tempos de vacas gordas concordou por completo com o destruir das contas públicas, o que o leva agora, em tempo de crise, a ser pior que Marcelo Caetano?
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A sua arrogância pseudo democrática tem fortes tiques de autoritarismo e a sua total insensibilidade social e política tem laivos de iluminismo serôdio e reaccionário. Então a sua teimosia leva-o a campos perfeitamente delirantes.
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Por exemplo, um dos seus tiques mais estúpidos está relacionado com a atitude que o próprio e os seus governantes revelam em relação aos sindicatos ou outra qualquer manifestação de cariz social ou político. E patenteiam o seu profundo desprezo quando afirmam: "estão no seu direito de se manifestarem, mas o governo tem de governar". E é nesta falta de diálogo que reside a atitude mais pré-fascista da nossa recente democracia. É como quem pensa, berrai para aí seus agitadores de rua, que nós estamo-nos pura e simplesmente borrifando para isso. Como a querer dizer: ainda vos deixamos manifestar, mas daqui a algum tempo nem isso vos será permitido. Trabalhai vadios. Eu é que sei o que vos faz falta. Vós sois quase todos uns inconscientes e agitadores comunistas.
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O nosso primeiro pensa como Salazar: se soubessem quanta custa governar, todos vós preferiríeis ser governados.
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E a prova do que afirmo está nas afirmações de um ex-governante socialista, o economista Daniel Bessa, que afirmou ao Público: "Os sindicatos são muitas vezes mais parte do problema do que da solução".
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Claro que são. São parte do problema dos trabalhadores. Coisa que Daniel Bessa já esqueceu porque farejou o inebriante cheiro do dinheiro.
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Sinais dos tempos são as afirmações que o líder dos patrões da indústria portuguesa, Francis Van Zeller, proferiu em entrevista à revista Visão:
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"adoro governos autoritários". Isto referindo-se ao governo de José Sócrates. Por isso é que não nos custa nada admitir que este governo é o mais à direita depois do 25 de Abril. Mas o seu maior problema, a sua incongruência não reside no facto de ser de direita, o busílis da questão está no facto de se afirmar socialista e ser mais à direita do que um hipotético governo do senhor Paulo Portas. Essa é que é essa.
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Não custa nada afirmar que as políticas económicas e sociais da ex-ministra Manuela Ferreira Leite ao pé das praticadas pelo governo do engenheiro Sócrates são de extrema-esquerda. Afinal a senhora era uma perigosa socialista. Os rapazes desapiedados escondiam-se debaixo do manto pardacento do Partido Socialista.
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A verdade dos factos diz-nos que a economia atravessa uma fase indecente. Pois mesmo com o crescimento económico no zero, com meio milhão de pessoas no desemprego, com os salários mais baixos da Europa, com o tecido empresarial das pequenas e médias empresas estrangulado, chega a ser escandalosa a pompa e o reclame que fazem aos anúncios dos lucros multimilionários da banca, das seguradoras e das empresas de energia e telecomunicações. Bem vistas as coisas, esses lucros escandalosos só são possíveis devido à sobreexploração dos clientes, pagadores de impostos e consumidores. Mas o mais aberrante da situação relaciona-se com o facto dessas empresas serem quase todas fortemente participadas pelo Estado, explorando privilegiadamente certas redes de serviços públicos. É tudo isto um verdadeiro escândalo.
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A sensação que nos fica é a de que os desequilíbrios sociais e económicos em Portugal regrediram para níveis anteriores ao 25 de Abril. E isto muito por causa deste dito socialista que mais parece um prestidigitador e trapezista suplente num circo de província.
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Para vos provar o que acima fica dito, proponho que voltemos ao senhor Van Zeller. Disse ele: "Gosto muito da autoridade, adoro governos autoritários, não me afligem absolutamente nada. Nós, latinos, portugueses, gostamos muito disso. Tanto assim é que José Sócrates está com uma quota de aprovação elevada. Os portugueses apreciam, de facto, a autoridade".
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Ora este paleio de plutocrata remete-nos para os velhos tempos do salazarismo quando também se defendia que o povo português queria era ser mandado, tal e qual um rebanho de cordeiros.
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Sinal dos tempos é também esta sua dedução: "Se Portugal crescesse três ou quatro por cento ao ano, os excluídos aumentavam." Ou seja, se tudo ficar como está, tudo fica mal. Mas se a economia crescer tudo fica ainda pior do lado de quem trabalha.
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Triste dilema o nosso: se a doença nos tem prostrados na cama, a cura parece que vai levar-nos à morte.


Posted by carmim at 02:06 AM

março 22, 2006 in pinpao

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