domingo, 6 de janeiro de 2008

As seqüelas da Operação Condor


por Tony Solo [*]

Os irmãos Carlos (esq.) e Alejandre (dir.) Bulgheroni. Quando Shimon Peres comemorou seu 80º aniversário em 22 de setembro, no topo da lista de convidados — à frente até de Bill Clinton, Mikhail Gorbachev, F. W. De Klerk da África do Sul e Bob Hawke da Austrália — estava Carlos Bulgheroni. Bulgheroni é o chefe da companhia energética argentina Bridas [1] . Se o terrorismo fosse o tema da conversa entre ambos, tanto Bulgheroni como Peres teriam muito o que lembrar. Israel e Argentina serviram como prepostos para o treinamento de terroristas na América Central durante os anos 70 e 80.

Instrutores argentinos de esquadrões da morte com base na Guatemala disfarçavam-se de funcionários da Bridas. Durante aquele período Peres foi ministro da Defesa de Israel, primeiro-ministro, vice-primeiro-ministro e ministro do Exterior – consciente dos compromissos militares de Israel nas Américas. A análise dos antecedentes do terrorismo argentino e israelense revela como a fictícia “guerra contra o terror” é apenas mais um pretexto para a pilhagem da América Latina pelo governo dos EUA e pelas multinacionais por ele favorecidas.

ARGENTINA – 30 MIL RAZÕES PARA CHORAR

Três anos depois de destruir a democracia no Chile, instigando o golpe militar de 1973 contra Salvador Allende, Henry Kissinger esteve em Santiago para uma reunião da Organização de Estados Americanos. Lá contactou o ministro do Exterior da junta militar argentina. De acordo com Robert Hill, então embaixador dos EUA na Argentina, “Kissinger perguntou quanto tempo levaria... para liquidar o problema (terrorista)... Kissinger deu aos argentinos o sinal verde... o secretário queria que a Argentina encerrasse seu plano terrorista antes do fim do ano” [2] . Hill devia saber. Foi ele quem serviu de intermediário entre os organizadores dos esquadrões da morte guatemaltecos e as lideranças do governo argentino [3] .

Entre 1976 e 1983, sob a ditadura militar, as forças armadas argentinas mataram mais de 30 mil civis membros da oposição política do país. Aproximadamente 500 bebês de mulheres que deram à luz enquanto detidas foram distribuídos entre os assassinos dos seus pais. Em mais de 300 campos e centros de detenção as vítimas eram torturadas até à morte e a seguir empilhadas em covas coletivas ou lançadas no Atlântico de aviões militares de transporte. Suas propriedades e bens foram repartidos entre seus torturadores e assassinos – no valor de mais de 70 milhões de dólares.

HISTÓRICO DA OPERAÇÃO CONDOR

A determinação dos EUA em destruir a oposição ao seu domínio da América Latina tem raízes na sua derrota no Vietnã. A equipe de 1972 que ajudou Kissinger a negociar com os vietnamitas em Paris incluía o atual embaixador para as Nações Unidas, John Negroponte, e Vernon Walters, mais tarde conselheiro de Ronald Reagan, então adido militar na embaixada dos EUA em Paris. Naqueles dias, George Bush pai era embaixador nas Nações Unidas.

Em 1975 Bush pai era o chefe da CIA e trabalhava juntamente com Kissinger e Vernon Walters para desenvolver a Operação Condor – uma operação coordenada contra movimentos de oposição por toda América Latina [4] . A Operação Condor incluía o uso de fachadas ilícitas como a equipe de assassinato coordenada entre o serviço de segurança chileno DINA e terroristas cubanos de Miami como Orlando Bosch, Guillermo Novo e Luis Posada Carriles [5] . Também incluía o apoio a políticas brutais de repressão em massa em países de toda América do Sul. A Operação Condor foi uma tentativa ambiciosa e bem-sucedida de coordenar aquela repressão.

A OPERAÇÃO CONDOR DESLOCA-SE PARA O ISTMO

Por volta de 1980, as prioridades para a equipe latino-americana do presidente Reagan eram derrotar os sandinistas na Nicarágua, travar os movimentos revolucionários na Guatemala e em El Salvador e varrer o movimento popular em Honduras. No final de 1981 já se falava em muitas pessoas que hoje são familiares. Elliot Abrams (hoje diretor de segurança para o Conselho Nacional de Segurança para Assuntos do Oriente Médio e Norte da África) era secretário de Estado assistente, para, por incrível que pareça, direitos humanos e assuntos humanitários. John Negroponte era embaixador em Honduras e John Maisto embaixador na Nicarágua. John Poindexter, Colin Powell, Richard Armitage, Otto Reich, Roger Noriega, todos trabalhavam na América Latina durante a presidência de Reagan. Todos foram trazidos de volta para a Casa Branca por George Bush filho depois de a Corte Suprema (recheada de republicanos) ter legitimado a fraude eleitoral da Flórida nas eleições presidenciais de 2000 [6] .

Assim, no início de 1980, oficiais do exército e da marinha argentina chegaram à Guatemala para dar treinamento de técnica contra-insurrecional ao regime de Lucas Garcia. Juntamente com conselheiros do Chile e de Israel deram assistência aos esquadrões da morte guatemaltecos, originalmente criados pela CIA nos anos 60. Estima-se que 200 mil pessoas tenham sido mortas pelo exército guatemalteco durante a prolongada resistência popular às ditaduras apoiadas pelos EUA naquele país. Em agosto de 1981, o vice-diretor da CIA, Vernon Walters, providenciou um encontro na Cidade da Guatemala com o objetivo de consolidar uma força anti-sandinista com treinamento na Argentina [7] .

Entre 1981 e 1983, membros do Batalhão 601 da Argentina, a unidade responsável por grande parte do terror na própria Argentina, trabalharam com instrutores israelenses fora da Guatemala. Em El Salvador eles ajudaram a treinar assassinos como Roberto D'Aubuisson (que planejou a morte do Arcebispo Oscar Romero). Em Honduras ajudaram a organizar tanto o infame esquadrão da morte Batalhão 3-16 como os assassinos em massa dos Contra nicaragüenses. A partir de 1983 os israelenses treinaram Carlos Castaño e outros líderes atuais dos esquadrões da morte paramilitares AUC [8] .

JOHN NEGROPONTE, VICE-REI FASCISTA

Pode parecer estranho hoje que Elliot Abrams e John Negroponte tenham auxiliado os fascistas argentinos (que refinaram os tormentos de vítimas judias em Buenos Aires torturando-as com retratos de Adolf Hitler ao fundo). Mas Abrams e Negroponte fizeram exatamente isso. Oficiais argentinos treinaram integrantes do exército hondurenho em técnicas de repressão em massa enquanto John Negroponte foi embaixador em Tegucigalpa de 1981 a 1985. Lá ele trabalhou lado a lado com o chefe das Forças Armadas hondurenhas Gustavo Álvarez Martínez para impor um estado de “segurança nacional” ao estilo argentino – quer dizer, um estado policial fundado em execuções extrajudiciais.

Como embaixador dos EUA em Honduras, John Negroponte mostrou um cínico desprezo pela legitimidade e pelo Congresso dos EUA, violando vergonhosamente a Emenda Boland que restringia o auxílio aos Contra. Com a recomendação de Negroponte, o governo Reagan deu a Alvárez Martínez a Legião do Mérito em 1983 por “encorajar a democracia”. Álvarez Martínez foi responsável pelo desaparecimento de 140 sindicalistas, estudantes e outros líderes do movimento popular hondurenho entre 1981 e 1984. Em 1989, em um caso exemplar, o Tribunal Inter-Americano de Direitos Humanos condenou Honduras pelo desaparecimento forçado de quatro pessoas entre 1981 e 1983. Durante aquele período, sob o vice-reinado de Negroponte, terroristas argentinos e israelenses ajudaram o exército hondurenho a refinar suas técnicas de repressão.

Traficantes e sauditas eram os financiadores. Esse treinamento não era de graça. Quem o pagava? Principalmente o contribuinte americano através de ajuda militar à Argentina e a Israel. Mas quando era difícil obter recursos legais, fontes ilícitas também serviam, incluindo receitas com drogas e dinheiro canalizado através do Banco de Comércio e Crédito Internacional (BCCI), cortesia de ligações entre George Bush pai, a família real saudita e a família Bin Laden [9] . O BCCI reconheceu que lavava dinheiro do cartel das drogas de Medellín, que mais tarde figuraria no escândalo Irã-Contras.

Nesse período, tanto a Colômbia quanto Taiwan deram treinamento. Mas os principais países envolvidos eram a Argentina e Israel. Para facilitar as coisas, Israel instalou na Guatemala uma indústria para fabricar rifles Galil. Por um acordo estabelecido em outubro de 1981, 200 oficiais do exército guatemalteco participaram de cursos de contra-insurreição em Buenos Aires que incluíam o uso de “técnicas de interrogatório”. Entre os “instrutores", estava Ricardo Cavallo.

O ESCÂNDALO CAVALLO

Em 11 de junho deste ano as autoridades mexicanas confirmaram uma ordem de extradição contra Ricardo Cavallo pelo juiz espanhol Baltasar Garzón por crimes contra a humanidade durante o terror na Argentina [10] . Cavallo é acusado de 337 seqüestros políticos, 227 desaparecimentos forçados e o roubo de crianças de prisioneiros políticos. A história de Cavallo tem raízes na Operação Condor e estende-se até a atual administração Bush.

Cavallo e seus colegas Jorge Radice, Jorge Acosta e outros foram torturadores das Forças Armadas argentinas. Eles forçavam suas vítimas a assinar procurações que lhes permitiam alienar suas propriedades, contas bancárias e pertences. Cavallo também trabalhou lado a lado com o exército boliviano comandado por Luis Garcia Meza no início dos anos 80, quando a Bolívia era virtualmente governada por traficantes de drogas.

Com seu capital ilícito, Cavallo e seus amigos criaram as empresas de segurança e controle de dados Martiel e Talsud na Argentina. Eles fizeram negócios com a Seal Lock, uma companhia argentina que era representante da empresa dos EUA Advantager Security Systems. A Martial era representante da casa da Moeda do Brasil, a CONSAD da Argentina, a Ciccone Calcográfica [11] e a firma de cartões inteligentes francesa Gemplus [12] . A Talsud e a Martial eram virtualmente intercambiáveis, ambas trabalharam para imprimir o dinheiro do presidente Mobutu, favorito da CIA, no Zaire em 1993.

Em 1995, a TTI, subsidiária da Bridas, e a Seal Lock ajudaram a Talsud a obter negócios lucrativos na província argentina de Mendoza. Em 1996, a Talsud ganhou o contrato para emissão de carteiras de motorista na província argentina de La Rioja. Os clientes da Seal Lock incluíam o Ministério das Relações Exteriores da Argentina, o Banco Central argentino, o Registro Nacional da Bolívia, a Shell do Paraguai e a empresa marítima ZIM de Israel. Cavallo e seu irmão Oscar também criaram uma empresa em El Salvador chamada Sertracen, estreitamente associada ao exército salvadorenho. A Sertracen emite carteiras de motorista e portes de arma em El Salvador.

Em agosto de 1998, Cavallo entrou no México como turista, miraculosamente conseguindo visto de residência após um mês. Em um ano, sua companhia Talsud estava participando de concorrências para o departamento de trânsito mexicano (RENAVE), juntamente com a Gemplus e a companhia mexicana CIFRA. Em 7 de setembro de 1999, eles ganharam a concorrência garantindo uma receita anual estimada em 400 milhões de dólares.

O escândalo Cavallo/RENAVE estourou no início do ano no México e em meio a evidências crescentes de irregularidades. O vice-ministro do Comércio Raul Tercero, que autorizou o negócio com a RENAVE, foi achado num bosque próximo à Cidade do México com sua garganta cortada. Ele deixou várias cartas defendendo-se de acusações de corrupção.

Os parceiros de negócios de Cavallo têm uma desafortunada tendência para morrer violentamente. Em outubro de 1998, durante um escândalo de propinas envolvendo a IBM, Marcel Cattaneo, irmão do dono da CONSAD, empresa cliente de Cavallo, foi achado pendurado num poste. O aparente suicídio foi seguido por mortes igualmente suspeitas. Em junho de 1998, um amigo do presidente Carlos Menem, o megaempresário Alfredo Yabran, associado à subsidiária da De La Rue Ciccone Calcográfica, foi encontrado morto. Em agosto do mesmo ano, Jorge Estrada, ex-chefe de Cavallo no centro de tortura da ESMA (Escola de Mecânica da Armada – NT) e acionista da Martiel foi encontrado morto, outro suicídio aparente.

VETERANO DA OPERAÇÃO CONDOR NO MÉXICO

Como Cavallo, alguém mais entrou no México em 1998, mas não como turista – o embaixador dos EUA Jeffrey Davidow [13] . Davidow era conselheiro político na embaixada dos EUA no Chile de 1971 a 1974. Em Santiago, ele estava ao par de segredos da embaixada quando a CIA e a agência de segurança chilena DINA organizavam a quadrilha de pistoleiros que mais tarde assassinou importantes figuras da oposição chilena, Carlos Prats em Buenos Aires e Orlando Letelier em Washington. No México, Davidow continuou a aperfeiçoar as habilidades que aprendera no Chile, encobrindo abusos de direitos humanos em Chiapas e cultivando relacionamentos dúbios com empresários que lidavam com drogas – tudo o que podia se esperar de um veterano da Operação Condor.

O escândalo Cavallo aumentou as preocupações no México e no resto da América Latina quanto às notícias de que a empresa de prospecção de dados Choicepoint comprava informações confidenciais de companhias como a Talsud e a Martiel sobre populações inteiras de países centro e sul americanos. As pessoas receiam violações da legítima privacidade de latino-americanos viajando ou morando nos Estados Unidos. A Choicepoint foi a companhia cuja subsidiária DBT bagunçou o processo eleitoral na Flórida permitindo que George Bush vencesse a eleição presidencial de 2000 [14] .

ABUSO DE DADOS – A CONEXÃO CHOICEPOINT

É difícil conseguir pormenores precisos sobre quem está vendendo à Choicepoint essa informação confidencial [15] . Mas pode-se ter uma idéia do utilidade de todos esses dados pelo papel que John Poindexter vislumbrou para o seu programa Total Information Awareness (TIA) no Estado cada vez mais policial de John Ascroft (Procurador Geral dos EUA – NT). Embora Poindexter, condenado por mentir ao Congresso durante as audiências do caso Irã-Contras, possa ter saído de cena após o fiasco do “mercado futuro de terrorismo” da DARPA, o TIA actua sob diferentes disfarces, como o programa MATRIX em vários estados dos EUA, principalmente a Flórida.

Richard Armitage, um dos conspiradores do Irã-Contras, era membro da diretoria da Database Technologies (DBT/Choicepoint Inc) antes de assumir um cargo no governo Bush filho. Agora é vice-secretário de Estado de Colin Powell. A Choicepoint é parceira da empresa de prospecção de dados SAIC cujo site proclama que “desenvolveu uma aliança estratégica com a Choicepoint Incorporated a fim de proporcionar a nossos clientes uma coleta de informações rápida e sem esforço a partir de bancos de dados públicos. A Choicepoint Incorporated mantém milhares de gigabytes de dados de arquivos públicos” [16] . Os clientes da SAIC incluem a Guarda e Reserva Nacional do Exército dos EUA, o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos e a British Petroleum Amoco. Antes de se tornar secretário de Estado, Donald Rumsfeld pertencia ao Conselho de Administração da BP Amoco.

BP-Amoco? Soa como Bridas-Pan American Energy... de volta à conversa entre Shimon Peres e Carlos Bulgheroni. Engraçado como os tempos mudam e amigos de outrora se indispõem.

No início dos anos 90 a Bridas obteve concessões para a exploração de petróleo no Turquemenistão. Em 1997 estavam negociando com o regime Talibã do Afeganistão a construção de um oleoduto naquele país. A Bridas viu-se competindo pelos favores dos talibãs com a Unocal, uma companhia petrolífera dos EUA duramente criticada por suas operações em Myanmar (Birmânia), controlada pelo exército.

Richard Armitage [17] trabalhou para a Unocal juntamente com outro personagem do Irã-Contras, Robert Oakley. O regime talibã favorecia um acordo com a Bridas. A Bridas e a Unocal acabaram brigando nos tribunais dos EUA. A Bridas perdeu. Ao mesmo tempo, entre 1997 e 1998, a política dos EUA no Afeganistão azedou [18] . De novembro de 2000 a agosto de 2001, a Argentina teve suas finanças arruinadas por bancos dos EUA e pelos mercados financeiros internacionais [19] . Em outubro de 2001 os EUA invadiram o Afeganistão.

Essa é uma boa ilustração da doutrina Bush: nenhum país poderá representar uma ameaça ao que os EUA considerarem como seus interesses, nem mesmo um Estado-cliente amigo ex-terrorista como a Argentina. A Bridas pôde ver como as coisas iam indo e deixou-se levar pela corrente. Em 1997 ela associou-se à BP Amoco. Renascida como Panamerican Energy, a Bridas está trabalhando com a BP Amoco para explorar gás e reservas petrolíferas por toda América Latina, mas principalmente na Argentina, e de forma controversa, na Bolívia. A BP Amoco beneficia-se dos ativos da Bridas na Ásia Central.

OPERAÇÃO CONDOR – BEM, OBRIGADO

A progressão do Chile, Argentina, Uruguai passando pela América Central até a Venezuela e a Colômbia da atualidade é evidente. Os mesmos atores aparecem de tempos em tempos. Elliot Abrams, John Negroponte, Colin Powell, Richard Armitage, John Maisto, Roger Noriega e Oto Reich – todos circulam entre empregos confortáveis no governo dos EUA e a plutocracia empresarial que determina a política de governo dos EUA.

Todos eles participaram de uma forma ou de outra na conspiração Irã-Contras para enganar o Congresso. Abrams foi indiciado e considerado culpado pela Comissão Parlamentar de Inquérito mas indultado por George Bush pai. Richard Armitage escapou de ser processado porque a CPI carecia de recursos. Eles haviam sido exauridos com o desmascaramento do ex-secretário da Defesa Caspar Weinberger, também indultado por Bush pai. Agora Powell, Armitage, Maisto, Noriega e Reich estão conspirando para derrubar o democraticamente eleito Hugo Chávez na Venezuela e tentando aprofundar o envolvimento militar dos EUA na Colômbia. Na Guatemala, um velho parceiro, o assassino em massa Ríos Montt está ameaçando derrubar violentamente o regime democrático duramente conquistado pelo país.

Nada disso tem algo a ver com qualquer “guerra contra o comunismo”, “guerra contra as drogas” ou “guerra contra o terror”. Os Estados Unidos e a União Européia estão na América Latina pelas mesmas razões dos colonialistas espanhóis, portugueses, britânicos, franceses e holandeses antes deles – recursos naturais e mão-de-obra barata, combinados hoje em dia com a extração neocolonial da “dívida” contraída à força. Os métodos são a privatização, desmantelamento das economias de agricultura familiar, e mercados abertos impostos pelo FMI e Banco Mundial por meio de clientes locais a fim de favorecer multinacionais como a BP-Amoco, Monsanto, Cargill e outros nomes demasiado familiares.

Para a opinião pública dos Estados Unidos as lições da América Latina deveriam ser muito claras. A filósofa francesa Simone Weil escreveu certa vez que as pessoas na Europa ficavam chocadas com os nazistas porque estes praticavam na Europa os métodos que as potências européias aplicavam às suas colônias. Agora é a vez dos Estados Unidos. Os indivíduos vulgares atualmente dominando a Casa Branca estão pondo em prática dentro de casa aquilo que fizeram durante três décadas ao promoverem o terror na América Latina.

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NOTAS

1. A Bridas é uma companhia de produção e exploração de energia. Ela opera na América Latina e Ásia Central. Possui uma joint venture para exploração e produção com a BP Amoco chamada Pan American Energy. A companhia possui 40% da Pan American Energy (60% é propriedade da BP Amoco). A Pan American Energy LLC é uma companhia registrada em Delaware, EUA (tirado da BP Amoco e sites relacionados).

2. Para a citação de Hill, vide: www.icai-online.org/72616,46136.html , entre várias outras

3. "Guatemala: Laboratorio estadounidense del terror", fevereiro de 2002. Gustavo Meoño Brenner, Nuevo Diario, Guatemala. Esse artigo cita: Ariel C. Armony "La Argentina, los Estados Unidos y la Cruzada Anti-Comunista en América Central, 1977-1984" Editorial Universidad Nacional de Quilmes, 1999; Stella Calloni "Operación Cóndor, pacto criminal" Ediciones La Jornada, Ciudad de México, 2001; "Las intimidades del proyecto político de los militares en Guatemala". Jennifer Schirmer, Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, Guatemala, 1999.

4. A mesma equipe ajudou a criar em 1975 o Comitê para o Perigo Presente, no qual Paul Wolfowitz era uma figura de destaque.

5.Hernando Calvo Ospina, "Pinochet, la CIA y los terroristas cubanos", 23 de agosto del 2003, www.rebelion.org .

6. Colin Powell é secretário de Estado. Richard Armitage é vice-secretário de Estado. John Maisto é representante dos EUA para a Organização de Estados Americanos. Roger Noriega é secretário-assistente de Estado para assuntos do Hemisfério Ocidental. Otto Reich é enviado especial para iniciativas do hemisfério ocidental.

7. Depoimento de Edgar Chamorro, ex-organizador dos Contra à Corte Internacional de Justiça na Haia, 5 de setembro de 1985.

8. Jeremy Bigwood, Narco News, "Israel y los paramilitares colombianos" de www.rebelion.org 15 de agosto de 2003

9. A administração Reagan também utilizou o BCCI para enviar fundos aos mujahedin afegãos nos dias em que Bin Laden era um herói dos EUA. Dois ex-diretores da CIA, Richard Helms e William Casey estavam envolvidos com o BCCI antes que este confessasse ter lavado dinheiro para o Cartel das drogas de Medellín. William Casey morreu antes que as audiências do Irã-Contras fossem realizadas. Entre diversas fontes: "Grupo de armas dos EUA se dirige para Lisboa" The News, Portugal's English language Weekly, 4 de abril de 2003. www.globalresearch.ca ; "À qui profite le crime? Les liens financiers occultes des Bush et des Ben Laden" Réseau Voltaire 11 septembre 2001

10. Fontes de informações sobre Cavallo: artigo de Olga Viglieca, Hector Pavon e Guido Braslavsky. Clarín-Zona. Argentina 10 de setembro de 2000; "Renave: los porqué de un fracaso" Jorge Fernández Menéndez. Semanario Milenio. Mexico, 14 de setembro de 2000; "El largo brazo de la mafia argentina", José Steinsleger La Jornada. Mexico 24 de setembro de 2000; "Se expanden las empresas del ex marino Ricardo Cavallo licencia." Mario Fiore. Los Andes. Mendoza. Argentina 17 de agosto de 2001; "Tiene Cavallo Información Estrategica" Jorge Carrasco A. La Reforma. Data incerta.

11. Uma subsidiária da De la Rue que produzia passaportes para o governo mexicano. A De la Rue atualmente é proprietária da Sequoia, companhia de sistemas de votação eletrônica dos EUA, que também é em parte propriedade da sócia do grupo Carlyle, a companhia de investimentos americana Madison Dearborn, que se apossou da participação da Jefferson Smurfit na Sequoia.

12. A Texas Pacific Group recentemente fez um grande investimento de entre 300 e 500 milhões de dólares na Gemplus para aumentar a participação da Gemplus nos mercados de comunicações sem fio, comércio eletrônico e segurança da Internet internacionais.

13. "Comportamento limítrofe", Al Giordano. The Boston Phoenix. 16 a 23 de dezembro de 1999

14. Greg Palast, 2 de novembro de 2002,"A Reeleição de Jim Crow: Como a Equipe de Jeb Bush está tentando roubar a Flórida de novo" e seu livro "A Melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar"

15. "Imperio de control", Dieter Drüssel. www.rebelion.org , 1º de setembro 2003. Drussel menciona a Silnica, controalda pelos costarriquenhos, na Nicarágua. Em El Salvador e na Guatemala as preocupações públicas estão focadas na Sertracen e InforNet.

16. Site da SAIC

17. Relatório da Comissão Especial do Irã-Contras "a Comissão Independente deixou de processar Armitage devido a que os recursos limitados da OIC estavam focados no caso contra Weinberger e porque as provas contra Armitage, ainda que substanciais, não alcançaram o limiar das provas além da dúvida razoável.

18. Diversos sites--" Petróleo e Gás do Afeganistão e Turcomenistão, e o Oleoduto Projetado" Timeline, www.worldpress.org/specials/
www.thedubyareport.com/oilwar.html - "A Enron Desempenhou um Papel Central nos Eventos que Antecipavam a Guerra", Martin Yant. Columbus Free Press. 10 de abril de 2002

19. "A Argentina não caiu por si só - Wall Street forçou a dívida até o limite", Paul Blustein. The Washington Post. 3 de agosto 2003

[*] Toni Solo é um ativista radicado na América Central. Contato: tonisolo52@yahoo.com .

O original encontra-se em Counterpunch . Tradução do Círculo Bolivariano de São Paulo .


Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

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