segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Morreu o maldito Pacheco

Óbito: Aos 82 anos e quase cego


* Ana Maria Ribeiro com Lusa

Era o mais desbocado, porventura o mais corajoso dos escritores portugueses, homem que não temia ninguém – muito menos o Poder – e que viveu, contra tudo e contra todos, como bem lhe apeteceu, mesmo que isso implicasse passar, frequentemente, por graves dificuldades económicas.

Morreu, no sábado, aos 82 anos, o ‘maldito’ Luiz Pacheco, ainda mais conhecido pela vida atribulada e pelas entrevistas polémicas do que pela obra fundamental que deixa para a posteridade, e cujo corpo será cremado amanhã, às 19h00, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

Luiz Pacheco, que deu entrada sábado à noite, já sem vida, no Hospital do Montijo, vindo de um lar, tinha passado nos últimos anos por várias instituições para a terceira idade, afligido com algumas doenças – sobretudo pela quase cegueira provocada pelas cataratas. No entanto, nem mesmo isso o impediu de ser uma voz activa na vida cultural portuguesa: continuava a ser frequentemente requisitado para dar entrevistas, pois a forma desassombrada como falava de tudo – desde os seus colegas escritores aos políticos da nossa praça – era garantia de algum colorido para os dias cinzentos.

TALENTO PRECOCE

Muito cedo manifestou Luiz Pacheco um talento natural para a escrita, não podendo prosseguir os estudos em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa apenas por dificuldades económicas. Empregue, aos 21 anos, como agente fiscal da Inspecção de Espectáculos, demitiu-se, dizendo que estava farto do emprego.

E estava dado o mote para uma existência errante. Nesse mesmo ano, Luiz Pacheco publica o texto ‘História Antiga e Conhecida’, incluído na obra colectiva ‘Bloco’, e, nas próximas décadas, dedicar-se-á totalmente à escrita. Escreve artigos para jornais, assina críticas literárias, funda uma editora – a Contraponto, em 1950 – com a qual revela vários talentos das letras nacionais.

Autor de uma obra de forte pendor autobiográfico e libertino – que o próprio apelidou de ‘neo-abjeccionista’ – viveu muitas vezes em situações de miséria, subsistindo à custa de esmolas. Todavia, nunca esteve disponível para negociar o seu silêncio, denunciando sempre a desonestidade intelectual, mesmo durante a ditadura de Salazar.

AS ÚLTIMAS ENTREVISTAS

Entre as últimas entrevistas que concedeu, Luiz Pacheco falou, em Abril de 2007, ao Correio da Manhã. Uma entrevista em que saudou a revolução que a pílula veio trazer às relações entre os dois sexos, recordou quando foi preso no Limoeiro por ter “desflorado umas garotas que eram menores” (acrescentando que, na altura, ele também era menor), em que falou a favor da despenalização do aborto. E, como sempre, fez jus à sua fama de desbocado. Quando lhe perguntaram se gostava de José Sócrates, respondeu: “Quem é? Não o conheço.”

PERFIL

Nascido a 7 de Maio de 1925, no seio de uma família da classe média (o pai era funcionário público e músico amador), Luiz Gomes Machado Guerreiro Pacheco, apelidado de ‘escritor maldito’ das letras portuguesas, frequentou a Faculdade de Letras mas abandonou os estudos por dificuldades financeiras. Foi cronista e editor mas viveu quase sempre em situação precária. Preso duas vezes por envolvimento com raparigas menores, teve oito filhos de várias mulheres. Entre as suas obras mais conhecidas estão ‘Exercícios de Estilo’ ou ‘Comunidade’.

DEPOIMENTOS

"ESCRITOR AUTO-IRÓNICO" (Manuel Gusmão, Professor universitário)

“Era um escritor relativamente escasso, mas bastante interessante que combinava uma matriz surrealista e uma certa tendência quase paradoxalmente realista. Pacheco praticou uma fusão entre a literatura e a vida. Tudo o que fez foi marcado por um riso ao mesmo tempo satírico, irónico e auto-irónico.”

"O NOSSO JORGE LUÍS BORGES" (Rui Zink, Escritor)

“Luiz Pacheco é um dos escritores mais importantes do século XX português, um dos grandes estilistas da literatura portuguesa. Ele é o nosso Jorge Luís Borges, porque não tendo nada a ver, à partida, com o Borges, escreveu sempre textos curtos, normalmente com cinco páginas, dez páginas, e marcou as nossas letras.”

"SACRIFICOU TUDO À ESCRITA" (João Aguiar, Escritor)

“O Luiz Pacheco é um caso muito pouco comum no século XX português. É um homem de enorme talento e só lamento que esse talento tivesse algo de autodestrutivo, porque ele podia ter ido mais longe. Claro que não o podemos – nem devemos – criticar. Mas poucos terão tido a coragem de sacrificar tudo ao ímpeto criador.”

"TINHA UM FARO PARA TALENTOS" (Jaime S. Sampaio, Dramaturgo)

“Conheci-o no Liceu e fui amigo dele até ao fim. Se o Pacheco não se tivesse suicidado aos poucos, com os copos, teria sido um dos maiores escritores do século XX. Mas toda a gente se esquece da sua faceta de leitor: ele tinha um faro incrível para descobrir talentos e sempre me serviu de referência. Era mesmo único.”
Ana Maria Ribeiro com Lusa

in Correio da Manhã 2006.01.07
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Foto - Bruno Colaço - Nos últimos anos quase cego pelas cataratas Pacheco passou por vários lares da terceira idade
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08-04-2007 - 00:00:00 Sócrates? Quem é? Não o conheço
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Segunda-feira, 7 Janeiro

- Lusitano
Concordo em pleno com o comentário da da D.a Margarida!

- Margarida
Não conheço a obra do sr. e acho k nem quero conhecer. Chamam-lhe desbocado em vez de malcriado, e acham mt graça ter desflorado várias menores ( a outros chamam pedófilos), é giríssimo não querer trabalhar nem estudar, em vez de lhe chamarem preguiçoso..enfim portugueses no seu melhor!Que descanse em paz.

- ana pereira
Bem começo por dizer que o senhor que considera que Luiz Pacheco nunca foi um escritor, das duas uma, ou não conhece a litaratura portuguesa ou andou estes anos todos muito distraído.Escrevendo, agora, aquil oque realmente é importante. A morte de Luiz Pacheco constitui uma grande perda para a literatura portuguesa. Luiz Pacheco é e será sempre único

- Orlando
Ao Sr. Herlander Duarte: Antes de fazeres críticas literárias burras e indigentes talvez fosse melhor que lesses o autor em questão. Ou talvez não, talvez seja uma perda de tempo...

- Herlander Miguel Mateus Duarte
Este senhor até pode ter tido outras vocações agora por amor de Deus não digam que o senhor era escritor, por que é uma ofença aos escritores, pois nessa matéria coitado não valia nada.

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