40 anos após sua morte, Martin Luther King ainda atrai políticos
Quarenta anos após sua morte, o reverendo Martin Luther King Jr. atrai políticos como um desfile de dia da independência - especialmente políticos que almejam ser rei. Três pré-candidatos presidenciais e um representante visitarão Atlanta neste fim de semana no Dia de Martin Luther King, o maior número nos 22 anos de história do feriado.
O senador Barack Obama falará na missa das 10h de domingo na Igreja Batista Ebenezer, onde King foi co-pastor. A campanha da senadora Hillary Clinton enviará seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, à cerimônia oficial na igreja na segunda-feira. O ex-governador de Arkansas, Mike Huckabee, o único republicano com visita agendada a Atlanta, comparecerá à cerimônia de segunda-feira a convite de um membro da família King.
O ex-senador John Edwards planejava passar à frente de todos, fazendo uma parada no sábado no salão da Irmandade Internacional dos Trabalhadores do Setor Elétrico, perto do centro de Atlanta.
Do reverendo Jesse Jackson nos anos 80 ao presidente George W. Bush há quatro anos, os candidatos freqüentemente fazem peregrinação à Atlanta para prestar homenagem durante a semana de aniversário de Martin Luther King.
"Bill Clinton, Ted Kennedy, os Bushes - vi todos passarem pela Auburn Avenue", disse o deputado estadual Tyrone Brooks, um democrata de Atlanta que trabalhou no movimento dos direitos civis. "Talvez nem todos tenham apreciado o que o dr. King fez enquanto estava vivo: as marchas, os boicotes e tudo mais. Mas eles vêem o valor de se associarem a ele agora. É boa política."
E é uma política particularmente boa neste ano, com disputas abertas em ambos os partidos e o feriado caindo apenas duas semanas antes da Super Terça, quando mais de 20 Estados realizarão suas eleições primárias.
E há o fator Obama.
"Muita gente considerou o voto afro-americano certo ao longo dos anos", disse o senador estadual Emanuel Jones, um democrata de Ellenwood que apóia Obama. "Agora que temos um candidato como o senador Obama, há uma disputa acirrada por tal voto. Eu acho que é o motivo para vermos a presença de tantos candidatos."
A disputa pelos eleitores negros aqueceu recentemente, quando Hillary Clinton disse à "Fox News" que o sonho de King só começou a se concretizar quando um presidente, Lyndon B. Johnson, aprovou a lei de direitos civis. Obama criticou os comentários como um menosprezo a King, provocando um debate rancoroso.
O convite para Obama falar em Ebenezer foi feito pelo menos um ano antes da campanha presidencial. O pastor da igreja, o reverendo Raphael Warnock, começou a falar com Obama sobre vir a Atlanta no final de 2005.
"Ele representa a promessa do movimento dos direitos civis e da lei de direito ao voto. Ele é a resposta às orações de Ebenezer", disse Warnock, que rapidamente acrescentou que Hillary Clinton também foi convidada para a cerimônia na igreja.
A campanha de Obama disse que ele aproveitará a oportunidade para discutir unidade, reconciliação e o legado de King.
O campo de Hillary Clinton terá sua vez no dia seguinte, quando o ex-presidente voltar a Ebenezer para a cerimônia do feriado.
"A presença dos Clintons não é incomum", disse Verna Cleveland, a diretora do comitê eleitoral na Geórgia. "Isso demonstra o apreço deles pelos direitos civis, pelo que King fez para promover o avanço de nosso país e o compromisso deles com a continuidade de seu legado."
O Centro King, que organiza os eventos de segunda-feira, tenta tratar os candidatos com igualdade.
"Nós reconheceremos a presença deles, mas eles não falarão", disse o presidente do Centro King, Isaac Farris, sobrinho do líder dos direitos civis. "Se permitir que todos falem, se transformará em um evento político."
Mas Bill Clinton não é candidato e poderá falar na condição de ex-presidente.
Huckabee, um pastor batista, será apresentado na segunda-feira. Ele planejava visitar Atlanta na terça-feira para participar de um comício antiaborto no aniversário da decisão "Roe contra Wade". Ele mudou sua agenda a convite da reverenda Alveda King, uma sobrinha de King que não apóia Huckabee, mas é oponente do aborto e do casamento gay. Ela planeja acompanhá-lo ao café da manhã de oração da Conferência da Liderança Cristã do Sul, na segunda-feira, e depois à cerimônia em Ebenezer.
Participar do Dia de Martin Luther King só ajudará o governador, disse Farris. "Associar-se ao legado o ajudará a transmitir a mensagem de que não está demais à direita."
Associar-se a King não era considerado prudente quando esta saga dos direitos civis e da política presidencial teve início nos anos 60.
Durante a campanha naquele ano, King foi preso na Geórgia por uma antiga infração de trânsito. O candidato democrata John F. Kennedy relutou em se envolver por achar que aquilo lhe custaria votos dos eleitores brancos, mas finalmente telefonou para Coretta Scott King para expressar sua solidariedade e oferecer apoio. Quando a notícia se espalhou, milhares de republicanos negros deixaram o partido de Lincoln para apoiar Kennedy.
Um deles foi o reverendo Martin Luther King Sr. - papai King - que disse durante uma missa em Ebenezer que planejava votar em Richard Nixon e contra o católico Kennedy, "por causa de sua religião", mas que tinha mudado de idéia.
King Jr. não apoiou candidatos, mas duas vezes chegou perto.
Em 1964, ele fez campanha contra o candidato republicano Barry Goldwater, que era contrário à legislação de direitos civis, mas nunca apoiou formalmente o eleito Lyndon B. Johnson.
Em 1967, King viajou duas vezes para Cleveland para registrar eleitores que supostamente votariam em Carl Stokes em sua campanha para se tornar o primeiro prefeito negro de uma grande cidade americana.
Naquele ano, ativistas anti-Guerra do Vietnã pediram para King concorrer à presidência em uma chapa de protesto com o pediatra Benjamin Spock.
"Ele nunca considerou tal pedido", lembrou Andrew Young, assistente de King. "Ele não considerava aquele o seu papel."
Após sua morte, King se transformou em um ícone - um símbolo de irmandade e igualdade - reivindicado por políticos de todas as classes, pelo menos em parte.
"Os candidatos gostam de se identificar com ele porque ele lhes dá uma estatura moral", disse Young. "Nenhum líder moral americano nos últimos 50 anos foi mais citado do que Martin Luther King Jr."
A pergunta é se vir a Atlanta para o Dia de Martin Luther King de fato ajuda nas eleições.
"Eu não sei se influencia o voto de alguém. Pode ser", disse Merle Black, cientista político da Universidade Emory. "Mas se você não comparecer, pode prejudicar porque terá que explicar o que estava fazendo que era mais importante."
Fonte: Cox Newspapers
Tradução: George El Khouri Andolfato / UOl Mídia Global
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in Vermelho - 20 DE JANEIRO DE 2008 - 13h13
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