Manual seria proposto na última reunião plenária mas foi retirado depois de várias objeções. Ainda assim, garante Francisco Assis, não caiu. Objetivo é tornar linguagem mais inclusiva.
14 mar 2021, 13:57 38
Questionado sobre a pertinência
da proposta, em tempo de pandemia, o presidente do Conselho Económico e Social
respondeu: “Não estamos em estado de paralisia, nem impedidos de pensar”
O documento tem 16 páginas e uma
série de exemplos e sugestões, todos com o objetivo de tornar a linguagem
“neutra e inclusiva”. A regra base é quase sempre a mesma: em vez de dar
primazia ao género masculino, invariavelmente utilizado quando é necessário
fazer generalizações, sugere-se que se transforme o substantivo em adjetivo e
se lhe acrescente “a população” ou “as pessoas”. Assim, os desempregados passam
a ser “a população desempregada”, os migrantes serão “a população migrante”, os
pensionistas serão “a população pensionista” e por aí em diante — sendo que as
propostas alternativas para gestores ou trabalhadores, por exemplo, são
irregulares: “a população em cargos de gestão” e “a população contribuinte”.
Outra opção será a de “especificar os dois determinantes”: “o
trabalhador e a trabalhadora”; “o pensionista e a pensionista”, “o migrante e a
migrante”.
Apresentada na passada
segunda-feira em reunião plenária do Conselho Económico e Social (CES), a
proposta para o novo manual de linguagem, redigida por Sara Falcão Casaca,
socióloga, especialista em questões de igualdade, e vice-presidente da
concertação social, acabou por não ser submetida a votação, revela o Expresso desta semana. Tudo porque algumas
organizações e representantes dos parceiros sociais presentes terão levantado
algumas objeções quanto ao seu conteúdo e ao timing em que foi apresentado.
Questionado pelo jornal a propósito
da pertinência da proposta de um novo manual de linguagem, em plena pandemia,
Francisco Assis, empossado em julho de 2020 presidente do CES, respondeu que
“não estamos em estado de paralisia, nem impedidos de pensar”. Também garantiu
que a decisão de não levar a proposta a votação no dia 8 de março, ainda para
mais simbólico, por assinalar o Dia Internacional da Mulher, não teve nada que
ver com o receio de a ver chumbada, mas apenas com a necessidade de “acolher os
vários contributos apresentados na reunião”.
“Estou convencido que a proposta
iria passar, embora com algumas abstenções e dois ou três votos contra”, disse
Francisco Assis àquele jornal, para depois afiançar: a iniciativa não vai cair.
Até porque o manual também resulta das recomendações que vários órgãos
oficiais, Conselho Europeu e Conselho de Ministros incluídos, têm feito no
sentido de que os documentos oficiais se tornem “mais inclusivos”.
Apesar de o principal objetivo do
manual ser uniformizar, desta forma “neutra e inclusiva”, a linguagem dos
documentos oficiais produzidos no CES, a ideia é estender às reuniões e e-mails
enviados pelos seus membros as mesmas regras. Para iniciar as assembleias, há
até sugestão de uma introdução-tipo: “Bem-vindas e bem-vindos senhoras
e senhores conselheiros” — ou vice-versa, já que “a ordem é
indiferente”.
Uma coisa que fará diferença e
para a qual Sara Falcão Casaca chama a atenção é a forma como são referidas
habitualmente questões relacionadas com as deficiências de pessoas ou as
especificidades de comunidades. “A título ilustrativo, não é a pessoa que é
deficiente, pelo que não é a pessoa que se qualifica, mas sim a sua condição de
deficiência ou de incapacidade para o trabalho profissional”, explica a
socióloga no documento. Neste sentido, sugere que deficientes passem a ser
referidos como “pessoas com deficiência”, amblíopes como “pessoas com
baixa visão” e idosos como “pessoas idosas”. Para substituir raça cigana há
três opções: “etnia cigana”, “povo cigano”, “comunidade cigana”.
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