segunda-feira, 8 de março de 2021

Ary dos Santos - Soneto a Catarina


xilogravura de José Dias Coelho

* Ary dos Santos

Vararam-te no corpo e não na força 
e não importa o nome de quem eras 
naquela tarde foste apenas corça 
indefesa morrendo às mãos das feras. 

Mas feras é demais. Apenas hienas 
tão pútridas tão fétidas tão cães 
que na sombra farejam as algemas 
do nome agora morto que tu tens. 

Morreste às mãos da tarde mas foi cedo. 
Morreste porque não às mãos do medo 
que a todos pôs calados e cativos. 

Por essa tarde havemos de vingar-te 
por essa morte havemos de cantar-te: 
Para nós não há mortos. Só há vivos. 

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