quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Lídia Borges - Coisas da terra, coisas do mundo

* Lídia Borges


primeiro, o poeta 
busca o absoluto. Não tenham dúvida:
o poeta busca o absoluto.
mas depressa o absoluto
suplica remedição

e o que era a alegria de viver
transforma-se na luta por estar vivo
em alegria

isto pensa o poeta
descendo uma calçada de maio
até ao âmago da comoção

estar ali
ouvir a paz rosada das rosas
as voltas ansiosas das abelhas
pela doçura do pólen
carregado de mel

sentir em êxtase 
o tremular da claridade
a subir, de folha em folha
até aos topo destas coisas 
que nos vêm da terra

das outras coisas 
das que nos chegam do mundo
um arrepio profundo

um fio de sangue
um grito aflito
uma sirene em contramão
a rasgar a noite, a paz, o coração...

e o poeta tropeça 
na mansidão 
dos ecos de maio
que em desmaio

lhe fogem da mão.


Sem comentários: