quarta-feira, 16 de abril de 2008

Meio Ambiente & Geopolítico

por Eron Bezerra*
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O Instituto Mauricio Grabois -IMG e o Partido Comunista do Brasil - PCdoB, através da Secretaria Nacional de Meio Ambiente, acabam de realizar um seminário para tratar da questão do meio ambiente e as suas implicações ecológicas e geopolíticas.


A realização do evento, por si só, já é digna de registro. Demonstra uma prática política contemporânea, de debater os grandes temas, tanto dos de natureza essencialmente teóricos quanto os temas que polemizam e antagonizam as variadas correntes de pensamento.


O evento foi aberto pelo Presidente Nacional do PCdoB, Renato Rabelo, pelo Secretário Nacional de Meio Ambiente, Aldo Arantes, e pelo Presidente do IMG, Adalberto Monteiro, que situaram as pretensões e os limites daquele debate, alertando especialmente para as implicações ideológicas que esse debate enseja.


As mesas que se sucederam trataram do marxismo e meio ambiente, do aquecimento global e de Amazônia e Biodiesel.


Nossa modesta contribuição, numa mesa com o Professor Enio Candoti e o ilustre Presidente da ANP, Haroldo Lima, foi sobre o caráter ideológico desse debate, destacando que ela se insere dentro de uma estratégia global do imperialismo.


Do ponto de vista teórico iniciei sublinhando que “na natureza, como na sociedade, todos os fenômenos estão interligados, interconectados e são interdependentes”, de onde se conclui que não há desenvolvimento sem sustentabilidade e nem sustentabilidade sem desenvolvimento.


A sustentabilidade ambiental, portanto, é uma exigência produtiva e não um mero capricho ecológico. Mas não se pode ter ilusões quanto ao seu uso ideológico. Muitos atores esgrimam a questão ambiental por mera motivação geopolítica.


Para os países imperialistas a questão ambiental é predominantemente ideológica. Faz parte de toda uma tática, usada ao longo dos tempos, como forma de se assenhorear de áreas que eles entendem como reservas estratégicas de recursos naturais, como a Amazônia, por exemplo. O imperialismo já utilizou o militarismo, a ciência, a teoria do arrendamento, a economia, a “defesa” dos povos indígenas e, atualmente, o ambientalismo.


Assim, a negativa de utilização do espaço amazônico não está associada, necessariamente, a questões ambientais. Expressa, na maioria dos casos, um posicionamento ideológico, assentado na concepção “santuarista”, que entende a Amazônia como “patrimônio da humanidade”.


Da “Companhia Comercial Londrina” (1832) até a recente declaração do presidente alemão, Horst Kohler (2007), defendendo a gestão compartilhada de nossas florestas, a Amazônia sempre foi vista como reserva estratégica do imperialismo.


Quanto a polemica em si, se há ou não aquecimento global, a mim parece resolvido. O mundo aquece e, talvez, tenda a aquecer ainda mais. O que não há unanimidade é quanto às causas que levaram a esse aquecimento. Enquanto o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) sustenta que o aquecimento decorre da emissão de CO2, dezenas de outros pesquisadores argumentam que o aquecimento decorre da própria mutação solar. É uma polêmica que promete.


Mas, igualmente importante, é saber quem polui. O mundo, com seus 6,5 bilhões de habitantes, produzem 49 bilhões de toneladas de CO2 por ano, com uma média de 7,5 tonelada/habitante. Um americano ou europeu é responsável por uma média de 17 toneladas dessa poluição, enquanto brasileiro ou chinês responde por menos de 03 toneladas.



Mesmo assim os “ricos” exigem, para reduzirem suas emissões, que os países em “desenvolvimento”, especialmente Brasil e China, reduzam na mesma proporção. Em verdade não querem é competidores. O encontro do G8, recém concluído na Alemanha, remeteu para até 2050 a data limite para que os países ricos adotem medidas para reduzirem em 50% suas emissões de CO2, o que evidencia o descompromisso desses países com a questão ambiental.


A pressão sobre a Amazônia em particular é claramente de natureza geopolítica. Considerando que a Amazônia “queime” 1 milhão de hectares por ano ela seria responsável por uma emissão de 100 milhões de toneladas de CO2 (0,2% da emissão total). Sua floresta, entretanto, seqüestra algo como 350 milhões de toneladas de CO2. O saldo é de 250 milhões de toneladas de CO2. Significa que a Amazônia limpa e não polui o meio ambiente como de maneira geral nós somos levados a acreditar pela propaganda unilateral. Em boa parte essa propaganda é estimulada pelo unilateralismo dos financiadores de projetos de caráter ambiental na Amazônia. Como regra, bancada por capital estrangeiro.


É possível usar a Amazônia com sustentabilidade, especialmente pelos seus diversos biomas. A Amazônia pode ser desde uma grande produtora de alimentos a partir dos milhões de hectares de várzea que possui até um grande centro de biotecnologia, em decorrência de sua extraordinária biodiversidade. Pode, também, fornecer peixe para o mundo, suprir boa parte de nossa dependência energética, gerar milhares de reais com a atividade turística e, inclusive, reflorestar boa parte de suas áreas degradadas com o dendê e substituir usinas a diesel por biodiesel. As alternativas são várias e, creio, o seminário ajudou a abrir essa polêmica.




*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.


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in Vermelho - 15 DE ABRIL DE 2008 - 20h10
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