por Rodrigo Carvalho*
Este artigo se situa em uma polêmica protagonizada pelo próprio autor, ao lançar seu livro ''Em Brasília, 19 horas'', onde analisa sua passagem pela Radiobrás durante o governo Lula. No livro e em várias entrevistas, Bucci sustenta a tese das pressões que sofreu do governo, em especial da Casa Civil (quando o ministro era José Dirceu) para os programas e coberturas jornalítiscas fossem direcionados, num claro aparelhamento partidário e falta de independência jornalística, segundo o autor.
Entre a polêmica da independência jornalística de um instrumento oficial do governo (não confundir agência de notícia estatal e pública) e possíveis orientações que soam como partidarização, chama a atenção o argumento de Bucci sobre o apartidarismo no referido artigo: “O jornalismo – assim como a comunicação social – não funciona adequadamente quando se deixa reger pelo parâmetro da lógica partidária. Ao se render a esses parâmetros, a imprensa renuncia a seu campo próprio e se converte em instrumentos de causas estranhas ao seu direito à informação. A própria política em seu sentido mais alto – sai prejudicada”.
O principal problema no argumento de Bucci é exatamente a hipótese de se fazer um jornalismo chamado “independente”, como se não houvesse em todos os veículos de comunicação (digo todos os públicos e os privados), uma ideologização da notícia. A notícia, a informação, a formação da sociedade não é neutra. E não é neutra porque todos os que produzem informação, que transmitem mensagens, são providos de conceitos estabelecidos, são formados em determinada consciência, optam por uma opinião, tem valores morais e culturais que, quer queira ou não, estão embutidos na elaboração das informações, das mensagens, na formação coletiva.
Essa história de imprensa “neutra” ou “independente”, muito difundida na escola jornalística norte-americana, seja nos meios acadêmicos ou nas redações dos meios de comunicação, é uma tese que não se sustenta. Se o instrumento de comunicação é privado, terá por princípio, a concepção particularista e não pública da notícia. Em muitos e recorrentes casos, os interesses da empresa jornalística em questão estará sendo defendido pelo veículo de comunicação ligado a ela. Ou em última instância, haverá necessariamente, uma concepção ideológica embutida na publicação da notícia. Portanto, a tese do compromisso com a verdade, defendida por veículos que se julgam independentes, como a Folha de São Paulo (talvez o melhor exemplo dessa influência da escola norte-americana de comunicação) não se sustentam porque são privados.
E, em se tratando de veículos públicos, como a polêmica apresentada pelo autor? Existe a necessidade legítima da amplitude e da diversificação da informação, baseada no espaço para as múltiplas versões que envolvem as notícias.
A idéia de imprensa e, por conseguinte, os meios de comunicação independentes e neutros não é uma novidade nos argumentos de Bucci. Em ''Sobre Ética e Imprensa'', ele destaca a necessidade que todo e qualquer jornalista que trabalha em redações não deve ter filiação partidária, sob o risco de influenciar a notícia e não torná-la crível.
O erro que Eugênio Bucci comete é o de satanizar as organizações partidárias e os partidos políticos, no argumento fácil da preservação da independência, como se isso efetivamente ocorresse. Os partidos e os militantes partidários nas diversas profissões que atuam, são fontes vivas das lutas políticas e, na melhor acepção da palavra, da luta de idéias. Se for seguida a tese da “neutralidade” da informação ou do jornalista não haverá a consciência sugerida, ao contrário, a alienação é que estará presente.
O fato é que não existem veículos de comunicação independentes porque estão ligados às diversas forças vivas da sociedade. Não precisam ser partidários, mas necessariamente terão lado, nas mais diversas polêmicas e se pronunciarão de forma ideológica.
Nesse caso, a sugestão é a interpretação gramsciana que todo o sujeito na sociedade elabora idéias, das mais simples às mais complexas. Sendo assim, sempre tomará uma decisão ideológica, sendo influenciado por grupos e instrumentos que formam conceitos centrais da sociedade (a busca da hegemonia das idéias).
*Rodrigo Carvalho, Sociólogo, membro da direção estadual do PCdoB em São Paulo.
* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
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in vermelho - 11 DE ABRIL DE 2008 - 18h49
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