quinta-feira, 3 de abril de 2008

Caracas: manifestantes protestam contra o ''terrorismo midiático''


A polêmica sobre o papel dos meios de comunicação venezuelanos, tanto privados como estatais, surgiu neste final de semana, durante a reunião semestral da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), em Caracas. A SIP é uma entidade de caráter patronal que busca defender os interesses empresariais no setor de telecomunicações e mantém estreito alinhamento com os interesses dos Estados Unidos no continente. Paralelamente a esta reunião, ativistas de vários países, que lutam pela democratização da comunicação, promoveram em Caracas o primeiro ''Econtro Latino-americano contra o terrorismo midiático''.



Cerca de 300 participantes deste encontro promoveram no sábado (29) uma manifestação em frente ao hotel onde se realiza a assembléia da SIP. Os manifestantes condenavam o terrorismo na mídia ao mesmo tempo em que defendiam o direito à liberdade de expressão.


Com cartazes contra os grandes meios de comunicação, uma passeata seguiu do Centro Rómulo Gallegos --onde se realiza o fórum alternativo chamado 'contraSIP'-- até a sede do ministério do Turismo.


''Protesto contra este bando de imorais da imprensa que nos quer dar aulas de ética'', destacou no canal estatal VTV uma manifestante, que levava uma faixa em que destacava os perigos dos meios de comunicação.

O deputado da Assembléia Nacional Pedro Lander, que depôs no fórum alternativo sobre terrorismo na mídia, disse à France Presse que a passeata ''representa uma prova de que na Venezuela há liberdade de expressão''.


Algumas pessoas foram à manifestação vestidas de branco e com máscaras representando uma caveira, em alegoria à ''guerra declarada'' mantida pelos meios de comunicação contra os governos progressistas da América Latina, segundo imagens da televisão.


Dois bonecos representavam o canal opositor venezuelano Globovisión e a americana CNN.


Os manifestantes chegaram a entregar o ''Prêmio liberdade de expressão de Pinochet'' ao jornal ''Mercúrio'' de Chile; o ''ignorância'' ao diário ''El Nuevo Herald'' de Miami e o ''prêmio perfeito anexionista latino-americano'' ao jornal venezuelano ''El Universal''.


Outro lado


Na reunião da SIP, o protesto foi alvo de muitos comentários. O editor do jornal venezuelano ''El Nacional'', Miguel Henrique Otero, criticou o que ele chama de ''ameaças'' à livre imprensa na Venezuela e ressaltou a estratégia governamental de preencher o espaço radioelétrico com centenas dos chamados ''meios comunitários e alternativos''.


Defensor da idéia de que os meios de comunicação devam permanecer sobre controle de grupos privados e setores da elite, Otero tenta justificar sua discordância com a pluralidade nos meios comunicacionais da Venezuela dizendo que Chávez pretenderia instalar uma ''hegemonia comunicacional'' e projetar assim uma só visão da realidade, a da ''revolução''.


O editor do ''Nacional'' deu como exemplo que nos últimos anos a administração de Chávez promoveu a criação de 500 meios de comunicação comunitários, e inclusive chegou a ''tirar'' a freqüência de emissoras privadas para entregá-la às chamadas ''mídias alternativas'' favoráveis ao governo.


Otero também rejeitou as acusações do governo venezuelano de que a SIP defende seus interesses econômicos.


Argumentou que o grupo de editores e proprietários de meios de imprensa ibero-americanos faz uma ''defesa ferrenha da liberdade de expressão'', que é indispensável para informar de forma ampla e sem empecilhos.


Mas o membro da organização Jornalistas pela Verdade, Marcos Hernández, criticou duramente as grandes mídias privadas venezuelanas por atuar como ''partidos políticos de oposição'' e supostamente esquecer seu papel social.


Hernández, a quem Otero assinalou como um ''representante do Governo que veio a ameaçar a SIP'', negou vínculos com o Executivo de Chávez.


Expressou sua ''preocupação'' pelo futuro do jornalismo no país, que nos últimos anos viu diminuída sua ''credibilidade'' perante a opinião pública precisamente por assumir posições políticas.


O jornalista cumprimentou os anúncios oficiais de direcionar os meios de imprensa estatais rumo a um enfoque mais aberto e competitivo, e expressou seu desejo de que os privados também se tornem mais plurais.

Da redação,
com agências

in VERMELHO - 30 DE MARÇO DE 2008 - 20h33

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