sábado, 26 de abril de 2008

Obra recorda História de Portugal através de frases emblemáticas


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Cultura
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Tiradas de governantes, escritores, actores e outros intervenientes na cena política ou cultural portuguesa foram reunidas em "Frases que fizeram a História de Portugal", editado esta semana pela Esfera dos Livros.
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Da autoria dos jornalistas Frases que fizeram a História de Portugal de Ferreira Fernandes e João Ferreira, o livro reúne cerca de 250 frases que se tornaram emblemáticas por diversas razões, sendo conhecidas ainda hoje na sua versão original ou alteradas pelos mediadores.
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É o caso do alegado verso de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, "Aquela que depois de morta foi rainha", sobre Inês de Castro, que difere daquilo que o poeta realmente escreveu e que foi "Aquele que depois a fez rainha", referindo-se a D.Pedro (1320-1367).
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O livro permite ainda recordar a origem de expressões comuns como "arraia miúda", que Fernão Lopes (1380-1460, sensivelmente) usou para se referir ao povo nas suas "Crónicas" e que tem caracterizado as massas populares ao longo dos séculos.
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Outro caso é o da frase "à grande e à francesa" relativa aos modos luxuosos do general Jean Andoche Junot (1771-1813), auxiliar de Napoleão que chegou a Portugal na primeira invasão francesa, e dos seus acompanhantes, que se passeavam vestidos de gala pela capital.
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"Frases que fizeram a História de Portugal" permite ainda conhecer a origem de expressões celebrizadas por um uso posterior.
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"Felizmente há luar" é uma frase de Dom Miguel Pereira Forjaz, secretário do governo da regência nomeada por Dom João VI, a dizer que a noite de 18 de Outubro de 1817 estava boa para o enforcamento de um grupo de revoltosos contra a ocupação inglesa de Portugal.
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O episódio inspiraria a peça de teatro homónima de Luís de Sttau Monteiro, que, por chamar a atenção sobre a repressão e as perseguições políticas no Estado Novo, esteve proibida até 1974.
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A obra dos dois jornalistas revela também os erros que Luís António Verney (1713-1792), autor de "O Verdadeiro Método de Estudar", apontava, há mais de dois séculos, ao sistema educativo português quando escreveu "É lástima que homens que passaram tantos anos mas escolas não saibam escrever uma carta!".
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O sentido crítico é ainda o ponto forte de "O governo não há- de cair - porque não é um edifício. Tem que sair com benzina - porque é uma nódoa", frase de "O Conde de Abranhos", de Eça de Queiroz (1845- 1900) que, ainda hoje, circula regularmente por e-mail.
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"Queres fiado? Toma!", a legenda com que Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) fez acompanhar a figura do Zé Povinho a fazer o manguito (caricatura do português ignorante e explorado pelo poder), é outra das expressões indexadas nesta obra da Esfera dos Livros.
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O sector político é dos mais bem representados no livro de Ferreira Fernandes e João Ferreira.
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São disso exemplo as frases de Salazar (1889-1970) "Para Angola, rapidamente e em força", adaptada da intervenção que fez em 1961, na tomada de posse de um governo remodelado que tinha Adriano Moreira à frente do Ministério do Ultramar, ou "Orgulhosamente sós", retirada de um discurso de 1965, quando o facto de manter as colónias em África valia a Portugal o isolamento político.
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"Meia dúzia de safanões a tempo", frase que - com algumas variantes - se escuta por vezes nos debates sobre métodos educativos, também foi dita por Salazar, numa entrevista em que António Ferro o questionou sobre "rumores" de torturas a presos políticos.
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Incluída no livro está também o "Obviamente, demito-o", que o general Humberto Delgado disse a 10 de Maio de 1958, em Lisboa, na conferência de imprensa de apresentação da sua candidatura à Presidência da República.
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Humberto Delgado respondia assim a um jornalista da Agência France Presse, que lhe perguntou o que faria em relação a Salazar se fosse eleito a 08 de Junho de 1958, data em que o "General Sem Medo" perdeu para Américo Tomás devido a uma fraude eleitoral.
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Américo Tomás (1894-1987) que também não foi esquecido, pois frases como "É a primeira vez que estou cá desde a última vez que cá estive" valeram-lhe uma secção especial na revista Seara Nova, ligada à oposição, como recorda o volume agora publicado.
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A organização cronológica das máximas termina com o exemplo recente de "Nunca me engano e raramente tenho dúvidas" - frase atribuída a Aníbal Cavaco Silva, que a terá dito em 1990 durante uma entrevista, algo que o actual Presidente da República já refutou.
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Agência LUSA2006-03-13 17:36:17
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NOTA - Também há o célebre «É só fumaça» ou «O povo é sereno» do Almirante Pinheiro de Azevedo perante a explosão de algo no meio da multidão que enchia o Terreiro do Paço, para evitar o pânico, ou o «Olhe que não, olhe que não», resposta de Álvaro Cunhal a Mário Soares durante uma entrevista televisiva. (VN)
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