Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
domingo, 25 de fevereiro de 2024
Carlos Coutinho - Afinidades
sábado, 24 de fevereiro de 2024
Carlos Coutinho - Folias
Atenção, atenção! A comunicação social confirma que só existem 6 jovens no país
EDITORIAL|COMUNICAÇÃO SOCIAL
AbrilAbril
23 DE FEVEREIRO DE 2024
O debate sobre a falta de representatividade dos jovens acabou. A comunicação social dominante resolveu esse problema e encontrou os únicos seis jovens que, aparentemente, existem. Repetem a cassete, mas com laivos joviais para suavizar.
Longe vão os tempos onde se falava da falta de representatividade juvenil nos espaços de comentário político. Recentemente, esse problema foi sanado e os órgãos de comunicação social conseguiram encontrar os únicos jovens que, aparentemente, existem. Andavam escondidos na camada oprimida da fina flor do comentário no Twitter, mas finalmente foi-lhes consagrado um espaço mediático à altura das suas ambições, para poder dizer tudo aquilo que a sua geração quer dizer.
Bem, talvez não seja uma geraçãoTalvez seja o que a sua classe quer dizer. Dizem apenas o que é repetido em todo o lado pela narrativa dominante, mas fazem-no de uma forma muito descontraída, desapegada e alegadamente irreverente. O ar jovial conjugado com uma boa articulação discursiva, sem deixar de lado a testa franzida para aparentar seriedade, dá aos jovens premiados com este lugar de fala um passaporte para nada de importante acrescentar.
A reboque destes elementos vem a replicação de tudo o que já é dito em todos os espaços de comentário, inclusive praticar o mesmo tipo de revisionismo histórico e desonestidade intelectual. Veja-se o exemplo do mais recente podcast do Expresso, o «Lei da Paridade». Apresentado por Adriana Cardoso, hoje jovem «apartidária», mas que nasceu no seio da Iniciativa Liberal; Maria Castelo Branco, ex-militante da Juventude Popular, agora militante da Iniciativa Liberal e ex-jovem promessa; e Leonor Rosas, militante do Bloco de Esquerda e candidata à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Lisboa.
O podcast que teve o seu começo na TSF, regressou agora ao jornal de Pinto Balsemão. Neste importante retorno, até às eleições legislativas serão entrevistadas mulheres do BE, IL, PS, AD. Segundo Adriana Cardoso foram excluídos «evidentemente desta conta partidos que não são feministas». Uma escolha caricata já que são jovens que são vendidas como bem informadas, mas parece que deliberadamente se esqueceram do importante e determinante papel do PCP na luta emancipatória das mulheres ao longo dos seus mais de 100 anos de história.
Nas redes sociais, quando confrontada com este facto, Adriana Cardoso usa como argumento o facto de serem «os 4 partidos com mais intenção de voto» e não haver «espaço nem episódios infinitos até às próximas eleições». Um critério nunca antes visto. Uma escolha editorial clara que visa beneficiar determinados partidos e apagar outros. A suposta jovialidade é usada para repetir as manobras de apagamento e o revisionismo histórico.
Neste ramalhete temos ainda o caso de João Maria Jonet com espaço assíduo na SIC Notícias. Habilidoso com metáforas, supostamente irreverente, vende-se como um militante de base PSD com uma voz própria. É uma espécie de jovem Pacheco Pereira que, no momento certo, não hesita em esgrimir um conjunto chavões analíticos que dão jeito à narrativa dominante. Defende a NATO, define-se «americanista» e promove a União Europeia. Invoca sempre a social-democracia para aparentar a moderação, mas no final do dia, não falta à chamada dos projectos mais reaccionários e nebulosos como os de Luís Newton e Carlos Moedas.
Surge ainda o «jovem» Gaspar Macedo. As aspas não são inocentes. É que Gaspar Macedo, passista assumido e militante do PSD, parece ter saido de um governo de Cavaco Silva, arrancado por uma máquina do tempo directamente dos anos 80. Viralizou nas redes sociais com vídeos pequenos com música de fundo épica onde "debatia" contra alguém, sendo que estava sempre a falar sozinho. Nesses vídeos, falava do orgulho nacional, dos heróis da pátria desprezados, e em todas as teses de Nostradamus aplicadas à realidade nacional. No momento da responsabilização, sem colocar quais os reais problemas, apaga a responsabilidade do PSD e só sabe falar do PS. A CNN viu nele um pequeno Tucker Carlson e, neste momento, tem espaço de comentário com a Joana Amaral Dias.
Por fim, há ainda o já renomado Sebastião Bugalho. Jornalista reformado que quase exclusivamente escrevia sobre o partido da extrema-direita em Portugal (com dezenas de artigos sobre o assunto nos dois anos em que exerceu funções), integrou as listas do CDS-PP à Assembleia da República, a convite de Assunção Cristas, e tem actualmente espaço fixo de comentário na SIC Notícias e um podcast no Expresso. Apresenta-se como uma alma velha, algo que corresponde também à visão política que transpõe para o seu comentário. Recentemente comprou a heróica batalha de defender Diogo Pacheco de Amorim e de apagar os crimes do MDLP. Nas análises que fez aos debates, talvez por defender colégios privados, inflaccionou sempre as notas dadas dos candidatos dos partidos de direita. Cada análise do jovem Bugalho parece saída de um antiquário, cumprindo o papel que lhe foi destinado no grupo Impresa.
Parece que estes são os únicos jovens que existem no país. Quem não tem lugar de comentário é o jovem que não tem professor numa disciplina, que estuda na Escola Pública e está numa turma sobrelotada. Quem não tem lugar no espaço opinativo é o jovem que tem dificuldade a pagar as propinas, alojamento e alimentação. Quem não tem direito à palavra é o jovem que recebe o salário mínimo e tem um vínculo precário. Quem não interessa ouvir é o jovem que tem actividade sindical e se assume de esquerda. Quem é ignorado é o jovem que vê um mundo que pode ser transformado e dá a sua vida por essa transformação. Esses jovens não existem. Só existem seis jovens e nenhum deles é o jovem real. São, enfim, jovens de uma outra classe.
https://www.abrilabril.pt/nacional/atencao-atencao-comunicacao-social-confirma-que-so-existem-6-jovens-no-pais
O OCIDENTE ‘OXIDANTE’ (‘L'’OXYDANT ‘) – por Alain de Benoist
O OCIDENTE ‘OXIDANTE’
(‘L'’OXYDANT ‘) – por Alain de Benoist
(*), tradução de Alfredo Barroso
Há muito tempo
que o Ocidente não se define pela sua oposição ao “Oriente”. O que hoje se
designa por “Ocidente”, é o conjunto político-tecno-económico que associa, sob
domínio anglo-saxónico, os Estados-Unidos da América e a Europa Ocidental. Ora,
os Estados-Unidos nasceram de um desejo de romper com a Europa e, após terem
substituído, quase por completo, as populações autóctones, e de terem criado
uma nova Terra Prometida, nunca deixaram de impor ao mundo, desde então, uma
americanização indissociável da extensão planetária do comércio livre, da
“sociedade aberta” e da lógica do mercado. Um prelúdio do velho sonho de um
Estado mundial.
Dum lado e
doutro do Atlântico, os interesses são necessariamente divergentes. Tomar
partido pelo Ocidente, é tomar partido pelo Mar contra a Terra, pelas potências
comerciais marítimas contra as potências políticas continentais, ou seja,
ignorar os dados mais fundamentais da geopolítica. Porque o Ocidente é, antes
de tudo o mais, isso: uma aberração histórica, ideológica e geopolítica.
O OCIDENTE,
CONTRASTE DO SUL GLOBAL
Nem por isso o
“ocidentalismo” deixa de estar mais presente do que nunca. Como é habitual, ele
reúne, em proporções variáveis, os idiotas úteis e os colaboracionistas
estipendiados. Tem-se visto a propósito do consenso mediático relativo à guerra
na Ucrânia ou ao conflito israelo-palestiniano: os grandes partidos da direita
e da esquerda estão hoje convertidos ao atlantismo, em ruptura com a tradição
de independência característica duma linha “gaullista” hoje repudiada. O
ocidentalismo, é uma espécie de inventário à Prévert: reúne atlantistas de
sempre, que endossam sem estados de alma o papel de vassalos da América;
liberais que acham que tudo o que vem de além-Atlântico é necessariamente
melhor; bravos conservadores que ainda acreditam que o Ocidente é a
“civilização”; leucodermes alucinados, pertencentes aos meios marginais da
chamada “lunatic fringe” que se atém no essencial a um “nacionalismo puro” (um
nacionalismo vazio, sem raízes sociais-históricas, portanto tipicamente
americano) totalmente impolítico.
«Aqueles que
(‘esquerda’ cosmopolita à cabeça) - escreve Panagiotis Kondylis - acreditam
numa coesão do Oeste baseada exclusivamente na comunidade dos valores, são
politicamente e historicamente ingénuos. A comunidade dos valores não cria só
por si comunidade de interesses – pode mesmo suceder o contrário». No passado,
aliás, a comunidade dos valores nunca impediu os países europeu de fazerem a
guerra uns contra os outros.
Mas, de que
valores estamos a falar? Ontem, o Ocidente era respeitado ou detestado, mas em
geral invejado. Hoje, todavia, é considerado decadente, depravado, envergonhado
da sua própria existência e, precisamente por essa razão, (justamente)
desprezado. Para uma maioria de países que se recusam a considerar que a teoria
do género e os delírios LGBT, a “cancel culture” e o “wokismo” são “valores
universais”, o Ocidente já não é um modelo. É apenas um repelente.
«A política
supremacista ocidentalista conduzida desde o fim da URSS conduziu-nos à
situação em que estamos hoje», disse recentemente Hubert Védrine. Mas Joe
Biden, esse, garante friamente que «a liderança americana é o que hoje une o
mundo» (qualificando, de passagem, a ajuda à Ucrânia como «investimento
inteligente que renderá dividendos para a segurança dos EUA por várias
gerações»!). Na Europa, o ocidentalismo só pode, por conseguinte, tender para a
direcção dos países e dos povos por um governador-geral [um ‘gauleiter’] de
além-Atlântico. Em última análise, um tal conceito de Ocidente remete para a
colonização e para a submissão. Uma Europa «ocidental» é uma Europa que já não
tem nem a vontade nem os meios de determinar a sua política em função dos seus
interesses. A adesão ao Ocidente é sinónimo de dependência e de vassalagem.
Tal como o
capitalismo predatório, também o Ocidente é o inimigo da Europa. Um inimigo
‘íntimo’ se preferirem, um inimigo interno, sinónimo da tentação de ceder ao
conforto da impotência e da vassalagem.
Trotsky passa
por ter dito que «a guerra é a locomotiva da história». Mas foi de facto Marx
que afirmou que «as revoluções são a locomotiva da história» (‘A Luta de
Classes em França’, 1850). Mas é verdade que a guerra da NATO contra a Rússia,
conduzida na Ucrânia, desempenhou o papel dum formidável acelerador dos
processos em curso. Por pouco que analisemos todas as suas consequências, vê-se
perfeitamente que ela já mudou o mundo.
Na assembleia
geral da ONU, quarenta países que representam dois terços da humanidade
recusaram-se a condenar a entrada de tropas russas na Ucrânia e a aprovar a
política americana de sanções contra a Rússia. Dezanove países já fazem hoje
fila à porta dos BRICS [Brasil, Rússia, India, China, África do Sul] que
contribuem por si sós para uma maior parte do crescimento mundial do que os
países do G7. Como então, nestas condições, continuar a falar de uma
«comunidade internacional» que só representa os países anglo-saxónicos e os
seus aliados?! Se há, doravante, uma comunidade internacional, ela tem de ser
sobretudo a dos países emergentes, que recusam considerar o Ocidente como a
encarnação do «mundo civilizado».
Uma nova
clivagem se impõe, anunciadora de um Nomos da Terra fundado na multipolaridade
(ou no ‘pluriversalismo’) e no não-alinhamento: de um lado, o «Ocidente
colectivo» e o seu núcleo anglo-saxónico; do outro lado, o «resto do mundo», a
começar pelos países que durante muito tempo foram qualificados como
«emergentes» e que surgem agora como potências de futuro. Há um Sul periférico,
assim como há uma França periférica. Este corte entre o «Ocidente colectivo» e
o «resto do mundo» só pode aprofundar-se. Há que ver nisso uma boa notícia.
Como escreve Max-Erwan Gastineau em “A era da afirmação”, é a
desocidentalização que constitui uma possibilidade para uma Europa que está em
dormência [entorpecida, sonolenta, em estado soporífero].
O futuro da
Europa não está a Oeste, do lado do estado ‘terminal’ do Poente californiano.
Está do lado do Sol nascente, do Levante.
(*) Na revista
francesa “éléments”, número 206, de Fevereiro-Março de 2024
2024 02 23 (*), tradução de Alfredo Barroso
Há muito tempo
que o Ocidente não se define pela sua oposição ao “Oriente”. O que hoje se
designa por “Ocidente”, é o conjunto político-tecno-económico que associa, sob
domínio anglo-saxónico, os Estados-Unidos da América e a Europa Ocidental. Ora,
os Estados-Unidos nasceram de um desejo de romper com a Europa e, após terem
substituído, quase por completo, as populações autóctones, e de terem criado
uma nova Terra Prometida, nunca deixaram de impor ao mundo, desde então, uma
americanização indissociável da extensão planetária do comércio livre, da
“sociedade aberta” e da lógica do mercado. Um prelúdio do velho sonho de um
Estado mundial.
Dum lado e
doutro do Atlântico, os interesses são necessariamente divergentes. Tomar
partido pelo Ocidente, é tomar partido pelo Mar contra a Terra, pelas potências
comerciais marítimas contra as potências políticas continentais, ou seja,
ignorar os dados mais fundamentais da geopolítica. Porque o Ocidente é, antes
de tudo o mais, isso: uma aberração histórica, ideológica e geopolítica.
O OCIDENTE,
CONTRASTE DO SUL GLOBAL
Nem por isso o
“ocidentalismo” deixa de estar mais presente do que nunca. Como é habitual, ele
reúne, em proporções variáveis, os idiotas úteis e os colaboracionistas
estipendiados. Tem-se visto a propósito do consenso mediático relativo à guerra
na Ucrânia ou ao conflito israelo-palestiniano: os grandes partidos da direita
e da esquerda estão hoje convertidos ao atlantismo, em ruptura com a tradição
de independência característica duma linha “gaullista” hoje repudiada. O
ocidentalismo, é uma espécie de inventário à Prévert: reúne atlantistas de
sempre, que endossam sem estados de alma o papel de vassalos da América;
liberais que acham que tudo o que vem de além-Atlântico é necessariamente
melhor; bravos conservadores que ainda acreditam que o Ocidente é a
“civilização”; leucodermes alucinados, pertencentes aos meios marginais da
chamada “lunatic fringe” que se atém no essencial a um “nacionalismo puro” (um
nacionalismo vazio, sem raízes sociais-históricas, portanto tipicamente
americano) totalmente impolítico.
«Aqueles que
(‘esquerda’ cosmopolita à cabeça) - escreve Panagiotis Kondylis - acreditam
numa coesão do Oeste baseada exclusivamente na comunidade dos valores, são
politicamente e historicamente ingénuos. A comunidade dos valores não cria só
por si comunidade de interesses – pode mesmo suceder o contrário». No passado,
aliás, a comunidade dos valores nunca impediu os países europeu de fazerem a
guerra uns contra os outros.
Mas, de que
valores estamos a falar? Ontem, o Ocidente era respeitado ou detestado, mas em
geral invejado. Hoje, todavia, é considerado decadente, depravado, envergonhado
da sua própria existência e, precisamente por essa razão, (justamente)
desprezado. Para uma maioria de países que se recusam a considerar que a teoria
do género e os delírios LGBT, a “cancel culture” e o “wokismo” são “valores
universais”, o Ocidente já não é um modelo. É apenas um repelente.
«A política
supremacista ocidentalista conduzida desde o fim da URSS conduziu-nos à
situação em que estamos hoje», disse recentemente Hubert Védrine. Mas Joe
Biden, esse, garante friamente que «a liderança americana é o que hoje une o
mundo» (qualificando, de passagem, a ajuda à Ucrânia como «investimento
inteligente que renderá dividendos para a segurança dos EUA por várias
gerações»!). Na Europa, o ocidentalismo só pode, por conseguinte, tender para a
direcção dos países e dos povos por um governador-geral [um ‘gauleiter’] de
além-Atlântico. Em última análise, um tal conceito de Ocidente remete para a
colonização e para a submissão. Uma Europa «ocidental» é uma Europa que já não
tem nem a vontade nem os meios de determinar a sua política em função dos seus
interesses. A adesão ao Ocidente é sinónimo de dependência e de vassalagem.
Tal como o
capitalismo predatório, também o Ocidente é o inimigo da Europa. Um inimigo
‘íntimo’ se preferirem, um inimigo interno, sinónimo da tentação de ceder ao
conforto da impotência e da vassalagem.
Trotsky passa
por ter dito que «a guerra é a locomotiva da história». Mas foi de facto Marx
que afirmou que «as revoluções são a locomotiva da história» (‘A Luta de
Classes em França’, 1850). Mas é verdade que a guerra da NATO contra a Rússia,
conduzida na Ucrânia, desempenhou o papel dum formidável acelerador dos
processos em curso. Por pouco que analisemos todas as suas consequências, vê-se
perfeitamente que ela já mudou o mundo.
Na assembleia
geral da ONU, quarenta países que representam dois terços da humanidade
recusaram-se a condenar a entrada de tropas russas na Ucrânia e a aprovar a
política americana de sanções contra a Rússia. Dezanove países já fazem hoje
fila à porta dos BRICS [Brasil, Rússia, India, China, África do Sul] que
contribuem por si sós para uma maior parte do crescimento mundial do que os
países do G7. Como então, nestas condições, continuar a falar de uma
«comunidade internacional» que só representa os países anglo-saxónicos e os
seus aliados?! Se há, doravante, uma comunidade internacional, ela tem de ser
sobretudo a dos países emergentes, que recusam considerar o Ocidente como a
encarnação do «mundo civilizado».
Uma nova
clivagem se impõe, anunciadora de um Nomos da Terra fundado na multipolaridade
(ou no ‘pluriversalismo’) e no não-alinhamento: de um lado, o «Ocidente
colectivo» e o seu núcleo anglo-saxónico; do outro lado, o «resto do mundo», a
começar pelos países que durante muito tempo foram qualificados como
«emergentes» e que surgem agora como potências de futuro. Há um Sul periférico,
assim como há uma França periférica. Este corte entre o «Ocidente colectivo» e
o «resto do mundo» só pode aprofundar-se. Há que ver nisso uma boa notícia.
Como escreve Max-Erwan Gastineau em “A era da afirmação”, é a
desocidentalização que constitui uma possibilidade para uma Europa que está em
dormência [entorpecida, sonolenta, em estado soporífero].
O futuro da
Europa não está a Oeste, do lado do estado ‘terminal’ do Poente californiano.
Está do lado do Sol nascente, do Levante.
(*) Na revista
francesa “éléments”, número 206, de Fevereiro-Março de 2024
2024 02 23
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
Margarida Gomes entrevista Gonçalo da Câmara Pereira
Câmara Pereira: “Não vejo
diabolização nenhuma em aceitar o apoio do Chega”
Líder do PPM vai entrar na
campanha da AD na próxima semana, mas não sabe se irá participar na caranava da
coligação pré-eleitoral ao lado de Luís Montenegro e de Nuno Melo.
23 de Fevereiro de 2024, 18:34
Câmara Pereira: “Não vejo
diabolização nenhuma em aceitar o apoio do Chega”
Gonçalo da Câmara Pereira praticamente só ainda entrou na campanha eleitoral
através de declarações por si feitas no passado. Apesar de o PPM, que lidera,
integrar a AD, Câmara Pereira não conta integrar a caravana da coligação, mas,
se " for chamado a fazer actividades", irá participar "com
certeza".
Tem estado afastado da pré-campanha da
Aliança Democrática (AD), embora seja um dos três líderes da AD. Foi
silenciado?
A mim ninguém me manda calar.
Quero ser uma pessoa útil à coligação, mas não me quero pôr em bicos de pés
porque essa não é a minha postura. Assinámos um acordo com a Aliança
Democrática em que consideramos o doutor Luís Montenegro o nosso líder, o meu líder.
Ele é que tem de ser o porta-voz, é ele que dirige a coligação. Se for preciso
fazer alguma acção [de campanha], se me pedirem, com certeza que estarei
disponível. Acho mais importante ser útil do que ser importante. Eu não quero
ser importante, quero ser útil.
Disse que iria participar na campanha oficial da AD, nomeadamente no círculo
de Lisboa, pelo qual concorre. A campanha arranca domingo, quando é que se vai
juntar a Luís Montenegro?
Estou na Madeira em campanha para apoiar o candidato do PPM [Paulo Brito] e
espero na terça ou quarta-feira começar as minhas actividades na campanha.
Vai integrar a caravana da AD?
Não sei se é integrar a caravana, mas se
for chamado a fazer actividades vou com certeza. Neste momento, prefiro andar
nas associações a falar com as pessoas e ver o que nós poderemos fazer para
mudar o país.
E é esse papel que vai assumir a partir de agora?
Sim, talvez seja esse o meu
papel. Quero ser útil a fazer outras acções, como comunicação com organizações
e com instituições e vou fazê-lo. É talvez mais importante neste momento focar
a posição do doutor Luís Montenegro, porque ele é que vai ser primeiro-ministro.
Estive uma vida inteira em palco como actor – o palco para mim não me é
estranho –, mas nunca fui segunda figura, fui sempre uma primeira figura em
palco.
A ausência na pré-campanha da
AD é uma opção sua ou está a ser mantido à margem por causa das posições
machistas que revelou num programa televisivo?
Não tem nada que ver uma coisa com a
outra. Ao fim destes anos todos fui aceite como um actor por excelência. Fiz um
programa em que fiz aquele boneco – como chamamos em teatro – durante 10 anos
para divertir as pessoas e hoje em dia o boneco do palco passou para a minha
vida privada. Ora, isto é de um bom actor. Nesta questão do machismo, o que
aconteceu foi que agora trouxeram isto para a política e para a vida real, e
isso é de quem não sabe o que é o teatro ou desconhece completamente o que é a
cultura.
O secretário-geral do PS
mostrou disponibilidade para viabilizar um governo minoritário AD. Como
presidente do Partido Popular Monárquico (PPM), agradece a disponibilidade do
líder socialista?
Com certeza, desde que viabilize o governo para mudar o paradigma da política
em Portugal. Não vejo diabolização nenhuma em aceitar o apoio do Chega. Não
vejo aqui mal nenhum. Não se justifica!
Na sua opinião, a AD devia
viabilizar um governo minoritário do PS?
Isso é com o doutor
Luís Montenegro, mas, se for eleito deputado, com certeza que não me
importarei nada de viabilizar qualquer governo minoritário. O que é preciso é
que Portugal tenha estabilidade. Não concordei com a queda do Governo de Pedro
Santana Lopes nem com o de António Costa.
Luís Montenegro já disse que
não governará com o Chega. Concorda?
Estou na coligação
com o doutor Luís Montenegro e se ele tomou essa posição eu estou ao lado
dele.
O PPM ainda é um partido para ser levado a
sério?
Quem quiser levar a sério, leva, temos
essa liberdade. O PPM tem um programa, é um partido ecologista e ambientalista,
mas não é um partido revanchista, que entre em guerras. Temos Os Verdes, que
aproveitam o ambiente e a ecologia para fazer guerra, a favor do PCP; temos o
PAN, que faz guerra permanente a favor do PS. Mas nós não. Nós queremos
construir uma sociedade mais ecológica, mais ambientalista e mais amiga de
todos.
Há uma coisa engraçada, os jovens
não votam no PPM, mas têm hoje em dia uma postura muito de acordo com o nosso
programa, que é viver numa comunidade em que não se faça guerra nem à economia
nem à política.
O PPM está para a AD como Os Verdes estão
para o PCP?
Não. Porque eles aproveitam o
ambiente e a ecologia para fazerem guerra política e nós não queremos fazer
guerra política. O que queremos é induzir ideias dentro do programa e soluções
que respondam à agressividade do dia-a-dia, o que é completamente diferente.
O partido a que preside está reduzido à
família Câmara Pereira?
O PPM é um partido que defende a
família e há muitos militantes dentro da família. Se defendesse oficialmente a
família e não defendesse a minha, não estava cá a fazer nada.
O PPM não pode ser considerado
como um partido dinástico?
Não. O PPM é um partido
monárquico. Já o PS é um partido dinástico. Há a dinastia de António Costa com
o seu filho [Pedro Costa], que preside à Junta de Freguesia de Campo de
Ourique, e a dinastia de Carlos César [que foi presidente do Governo Regional dos
Açores] e do seu filho, Francisco César, que encabeça a lista de candidatos a
deputados do PS nos Açores.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Pedro Tadeu - Os nossos políticos são cobardes?
Carla Romualdo - História em que não acontece nada
Carlos Matos Gomes - Portugal é uma Ilha?
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Carlos Coutinho - Absoluta impiedade à beira do Mondego ou em Jarmelo?
[No alto de Jarmelo, nas traseiras do edifício da antiga Câmara Municipal, D. Inês de Castro está ladeada de duas crianças, ajoelhada e olha para três homens que revelam insensibilidade à sua dor. As estátuas em metal são do artista Rui Miragaia e inspiram-se no quadro de Columbano Bordalo Pinheiro intitulado O Drama de Inês de Castro.]
2024 02 19
Vamos por partes
ONTEM, na sequência de um momento
picante da visita guiada em que participei ao centro histórico e à sé da
Guarda, quase chorei. É que as décadas que levo de vida razoavelmente informada
e cada vez mais sedenta de informação, tiveram sempre como certeza que a Quinta
da Lágrimas, em Coimbra, foi o camoniano lugar onde três fulanos mataram Inês
de Castro, a mando de um rei estratega e resoluto, D. Afonso IV.
Então não é que agora me
garantem, com argumentação alegadamente bem documentada, que a tal dama ao
serviço da Corte afonsina, aquela que depois de morta foi rainha, partiu desta
para melhor num lugar serrano chamado Jarmelo ainda hoje integrado neste concelho
ventoso e alto-beirão, a Guarda?
Vamos por partes.
Parte 1
Confirmei que o político
assassínio ocorreu lá no alto da antiga vila de Jarmelo, nas traseiras do
decrépito edifício que já foi o poiso da respetiva e desaparecida Câmara
Municipal. Inês estátua metálica está aí ladeada por duas crianças aflitas,
coisas de metal como a mãe.
Anotei que as esculturas são da
autoria de Rui Miragaia que se inspirou num quadro famoso de Columbano, havendo
ainda quem pense que D. Pedro mandou escombrar a vila porque um dos assassinos
havia nascido lá. Foi o que fugiu para a Espanha, o Pêro Coelho, que depois
seria recambiado para Portugal, tendo rei “Cruel” ou “Justiceiro” mandado que
lhe tirassem de entre os pulmões o seu coração impiedoso.
Sem tomar partido por nenhuma
destas duas versões da mesma execução, hoje consideradas lendárias pelos
especialistas em indagações historiográficas, confesso que sempre que atravesso
o Mondego em Coimbra, vou à Quinta das Lágrimas lançar um olhar condoído para
as suas fontes, junto ao Mosteiro de Santa Clara a Velha.
A Fonte das Lágrimas, ao lado da
Fonte dos Amores, era, segundo a lenda, o local dos encontros discretos e
vulcânicos do príncipe herdeiro, casado com D. Constança, e a sua amada e já
mãe, como a legítima rival. E foi aí que no dia 7 de janeiro de 1335 de
banharam de sangue os punhais dos três fidalgos leais ao rei mandante. A fonte
possui a forma de uma cruz e dela sai uma água profunda, serena e dolente que
nunca seca.
Parte 2
Tendo tudo isto em conta,
deambulei pelo centro histórico da Guarda, uma urbe com infância pré-romana que
a Federação Europeia do Bioclimatismo galardoou com o título de Primeira
“Cidade Bioclimática Ibérica” em 2002 e reparei que é desta região que partem
as linhas de água subsidiárias das três maiores cidades portuguesas: para a
bacia do Tejo que abastece Lisboa, para a bacia do Mondego que dá de beber a
Coimbra e para a bacia do Douro donde brotam os melhores vinhos de Portugal, se
não do mundo.
Na verdade, tenho alguma
dificuldade em meter em mim a ideia de que os primeiros residentes conhecidos
nesta região, muito antes da chegada dos romanos foram os celtiberos,
coabitando com as feras tribos que Roma apelidou de lusitanas e de outras como
as dos igediatanos, as dos ausetanos, bastulos, cessetanos, contestanos,
edetanos, ilercavões, ilergetes, indigetes, laietanos, oretanos, lancienses
opidanos e as dos transcudanos que preferiam a cerveja de bolota e lutavam com
uma espada curva chamada falcata.
Estes povos colaboraram uns com
os outros, durante mais de dois séculos, na resistência à romanização.
Existência e ação especialíssimas teriam sido as a dos túrdulos. Seguiram-se
aos romanos os bárbaros visigodos já cristianizados e, finalmente, os muçulmanos.
Admite-se, não sei como, que
topónimo Guarda tenha derivado do de um castro sobranceiro ao Mondego, o Castro
de Tintinolho.
Parte 3
O poeta e distribuidor de
castelos que também mandou semear os os pinhais de Leiria e a quem chamaram o
Lavrador, ficou mês e meio na Guarda em gozo de núpcias com D. Isabel de
Aragão, onde também estudou as hipóteses de uma guerra com Castela, conflito que
foi para a frente mas não deu em nada a não ser na assinatura do Tratado de
Alcanizes que fixou os limites fronteiriços entre os dois reinos.
Também parece indesmentível que
aconteceu aqui o “nascimento da língua portuguesa” em 1169, já que aqui foi
escrito o primeiro texto literário em português pelo trovador galego Paio
Soares de Taveiró para a sua amada Ribeirinha, ou seja, Maria Pais Ribeira,
trova que chegou ao conhecimento de D. Sancho I que também fez dela sua amante
e com ela semeou duas filhas e quatro filhos, além de mais nove em três outras
mulheres.
À Ribeirinha, “branca de pele, de
fulvos cabelos, bonita, sedutora” muitos a queriam para si, tal como este rei
prolífico que também trovava e até dedicou o a seguinte cantiga de amigo a uma
donzela que lhe caiu no goto:
Ay eu, coitada,
como vivo em gram cuydado
por meu amigo
que ey alongado!
muyto me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ay eu, coitada, como vivo
en gram desejo por meu amigo
que tarda e non vejo!
muyto me tarda
o meu amigo na Guarda!
Tudo isto na minha emoção se
sobrepôs à contemplação da maravilhosa sé com o seu magnífico retábulo em pedra
de ançã executado na oficina do célebre João de Ruão.
Parte 4
À tarde, a minha excursão
dirigiu-se a Celorico da Beira, aonde eu já no ia há mais de quatro décadas,
apesar de ser considerada a “capital do queijo da serra”. Terão sido os
túrdulos os primeiros povos a povoar a zona., a partir do ano 500 a.n.e. – dizem
alguns historiadores, mas outros garantem que esta povoação foi fundada 2 000
anos antes da nossa era. De todos ficaram resíduos arqueológicos de grande
monta que têm vindo a ser postos à luz do dia.
D. Afonso Henriques atribuiu-lhe
o primeiro foral que foi várias vezes remodelado por outros reis e aqui nasceu,
já no século XX um certo António Rosa, que foi almirante e tão Coutinho como
eu.
À tarde parti para Trancoso,
aonde eu também já não ia há muitos anos.
Devo dizer que era absolutamente
urgente para mim o reencontro com um sapateiro que já morreu há 479 anos e se
chamava Gonçalo Annes, o Bandarra. Grande alvoroço e acontecimentos
inenarráveis, diria Camilo Castelo Branco, ele causou em Portugal durante mais
de três séculos.
Muito familiarizado com o Antigo
Testamento, compôs uma série de trovas e profecias que aludem ao futuro de
Portugal e do mundo, assim como da vinda de um segundo Messias a quem chamou o
Encoberto.
Alegava ele que tais prenúncios
lhe eram fornecidos em sonhos e profetizava papa Portugal a constituição de um
V Império que virou a cabeça ao jesuíta Padre António Vieira e a muitos outros
visionários mais ou menos bacocos, chegando a inspirar repetidamente Fernando
Pessoa, o poeta com mais heterónimos que eu conheço.
Foi, enfim, o sebastianismo e o
milenarismo lusitano, desvarios que assustaram a Inquisição porque via neles
provas insofismáveis de judaísmo e condenaram o sapateiro de Trancoso a
integrar na fila de um auto de fé no Rossio.
A seguir foi obrigado a voltar
para Aldeia Velha, antiga cabeça do concelho que existia a sudoeste da vila de
Trancoso. Aí onde morreu em 1556 e há agora na vila uma rua com o seu nome,
além de uma estátua de bronze que faz um sapateiro parecer um alcaide. As sua
trovas foram incluídas em 1581 no “Catálogo dos Livros Proibidos”.
Em 1642, D. Álvaro Abranches,
general da província da Beira, mandou fazer um epitáfio o tumulo do Bandarra,
na Igreja de São Pedro da Vila de Trancoso, com os seguintes dizeres:
“Aqui jaz Gonçaliannes Bandarra
natural desta Vila que profetizou a restauração deste reino, e que havia de ser
no ano de seiscentos e quarenta por el Rei D João o quarto nosso senhor, que
hoje reina, faleceu na era de mil e quinhentos e quarenta e cinco.”
Parte 5
Se formos à Wiquipédia, veremos
que em Trancoso há histórias ainda mais atordoantes que tudo o que tenho vindo
a escrever aqui.
Só é cidade desde dezembro de
2004, mas as suas muralhas apertam lendas e histórias verdadeiras que
surpreendem até o mais abstrato dos visitantes. Uma delas é a de um padre que
viveu no século XV e terá gerado 299 filhos em 53 mulheres, muitas das quais
suas familiares diretas ou próximas, incluindo irmãs e a própria mãe.
A história do padre Costa parece
ter começado em 1487 quando, por carta régia datada de 31 de agosto, o monarca
português «legitimou Maria Gomes, filha de Diogo Gomes, pároco da Igreja de São
Pedro (de Trancoso) e de Maria Eanes, mulher solteira, residente na vila de
Trancoso».
As fornicações quase sem
intervalos do Padre Costa também incluíram 1 tia, de quem teve 3 filhos, e a
própria mãe, na qual terá incubado 2 irmãos-tios ou tios-irmãos, como se
queira.
A lenda refere que o prior terá
sido julgado em 1487, com 62 anos, e condenado a ser “degredado de suas ordens
e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo
e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi
arguido e que ele mesmo não contrariou”.
No entanto, apesar da tétrica
sentença, conta-se que “El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em
liberdade aos 17 dias do mês de março de 1487 com o fundamento de ajudar a
povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo, e guardar no Real
Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o
processo”.
Sentença proferida no processo
contra o prior de Trancoso (1487)
(Torre do Tombo, Armário 5, Maço
7)
“Padre Francisco da Costa, prior
de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e
arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e
postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi
arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de:
– ter dormido com 29 afilhadas e tendo delas 97 filhas e 37 filhos;
– de 5 irmãs teve 18 filhas;
– de 9 comadres 38 filhos e 18 filhas;
– de 7 amas teve 29 filhos e 5 filhas;
– de 2 escravas teve 21 filhos e 7 filhas;
– dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve 3 filhas, da
própria mãe teve 2 filhos.
Total: 299 filhos, sendo 214 do
sexo feminino e 85 do sexo masculino, tendo concebido em 53 mulheres.
Parte 6
Já que falei dos túrdulos, talvez
não seja enjoativo regressar a eles.
Formavam uma antiga tribo
tartéssica, ou melhor, um povo pré-romano que vivia no Sul de Portugal,
assentada, a leste do Alentejo, entre os vales do rio Guadiana e do
Guadalquivir, aproximadamente entre a Oretânia e a Turdetânia.
A sua capital foi o antigo ópido
de Ipolka, conhecida como Obulco na época dos romanos, correspondendo
atualmente à cidade de Porcuna, em Jaén. Entre outras particularidades, crê-se
que os túrdulos se diferenciavam dos demais povos ibérios de então na língua,
supostamente de origem tartéssia.
Eis o que encontrei em castelhano
e não parece necessário traduzir:
"Porcuna es un pueblo con
historia, con una gran historia bajo su gruesa piel de olivos. Un lugar que no
ha dejado de estar habitado en los últimos 5.000 años y que entraña numerosos
tesoros aún por descubrir. Fue poderosa nación ibera, Ipolka, y decisiva ciudad
romana después, Obvlco. De sus épocas tartesias e iberas aún quedan por pulir
muchas aristas, mientras que de su glorioso pasado romano las evidencias asoman
en cada rincón de la urbe. Pero no menos importante fue para visigodos y
musulmanes, y en la Edad Media los reyes deseaban en sus dominios a
Porcuna."
Parte 7
Em Coimbra, no regresso a casa,
parei no Largo da Portagem e logo desci para a Rua dos Gatos, porque Miguel
Torga não veio à janela do seu consultório e na rua escura em que me embrenhei
nem o mais infeliz dos felinos me apareceu.
Torga tinha morrido, afinal, como
Inês e o próprio Joaquim António de Aguiar, o pedreiro livre que foi cartista e
chefe de governo três vezes no século XIX, ainda continua em silêncio a olhar
para o Mondego, desde o dia 26 de maio de 1861.
sábado, 17 de fevereiro de 2024
José Pacheco Pereira - A São na campanha do PS
* José Pacheco Pereira
17 de Fevereiro de 2024
Pedro Nuno Santos não é único, a São está por todo o lado nos textos
eleitorais, mas ele pôs-se mais a jeito.
Por que raio quer ele mais a São? Não sei, mas
duvido que haja muitas razões benévolas para isso, e as perversas ficam para as
redes sociais. Repito o plebeísmo, que é sempre apropriado para estas coisas
enquanto não for proibido. Por que raio Pedro Nuno Santos resolveu, logo no seu
primeiro cartaz de propaganda eleitoral, usar uma das palavras que ficaram mais
estragadas com o novo acordo ortográfico? Indiferença é de
certeza, ignorância também, mas fico-me pela primeira, que é, junto com a
inércia, a grande força motora do novo acordo ortográfico, em bom rigor, a
única. Pedro Nuno Santos não é único, a São está por todo o lado nos textos
eleitorais, mas ele pôs-se mais a jeito.
Por que raio Pedro Nuno Santos resolveu, logo
no seu primeiro cartaz de propaganda eleitoral, usar uma das palavras que
ficaram mais estragadas com o novo acordo ortográfico? Indiferença é de
certeza, ignorância também, mas fico-me pela primeira
O Acordo Ortográfico de 1990, pomposamente assinado pela maioria dos países de
língua portuguesa, foi um dos maiores desastres diplomáticos dos últimos anos,
com países como Angola e Moçambique a continuarem na mesma e todos os outros
com diferentes graus de implementação. E, mesmo no Brasil, cada um escreve como
quer, o que é aliás um dos factores do dinamismo do português do Brasil, fruto
da pujança da sociedade brasileira, para o bem e para o mal.
Os resultados do Acordo foram separar
ainda mais, uns dos outros, os países cuja língua oficial é o português e,
dentro de cada um, haver na prática duas ortografias, como se vê neste jornal.
Mesmo quando todos os passos legais para a sua implementação foram dados, quem
escreve português bem, recusa o Acordo. E mais: considera uma questão de
princípio escrever com a ortografia antiga, o que torna muito mais radical a
divisão. Basta comparar os jornais dos vários países da CPLP para perceber
isso, já para não falar de Portugal. Só que em Portugal deu-se um passo, cuja
legalidade é contestada, de obrigar instituições, escolas e outras dependências
do Estado a usar esse abastardamento da língua portuguesa que é o Acordo de
1990. E isso trouxe, como aliás a decisão de fazer o Acordo, muitos interesses
económicos em jogo, que só se têm reforçado e hoje são um lóbi poderoso.
Apesar de uma enorme contestação, por
que razão não se volta a escrever o português que tem a riqueza da memória da
língua? A razão principal é que os nossos governantes, do PSD ao PS, estão-se
literalmente nas tintas para o que é importante na nossa identidade cultural,
mesmo quando se mostram muito indignados com a bandeirinha vermelha e verde,
cuja história também desconhecem, ou se esquecem de colocar no orçamento as
verbas para comemorar o Camões.
(No Arquivo Ephemera não nos ensaiamos nada
para colocar o episódio do Velho do Restelo em painéis pelas cidades com estes
versos em negrito
"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!”
para envergonhar a São…)
A memória de uma língua, que muitas
vezes se traduz na ortografia – e não me venham com o “pharmacia”, que é outra
coisa –, faz parte da sua riqueza, nunca impediu ninguém que fale português no
Brasil, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde ou na Guiné, de ler Camões,
Vieira, Camilo, Eça de Queirós ou Pessoa. Aliás, são mais lidos no Brasil do
que cá. O que atenta contra essa capacidade de ler é outra coisa, é o ataque à
leitura em papel, é a progressiva desaparição dos livros nas escolas, como se
os ecrãs os substituíssem, é a desaparição da herança cultural das histórias da
mitologia clássica ou da Bíblia, que são indispensáveis para ler, por exemplo, Os
Maias, que é suposto ser lido nas escolas e que eu duvido muito se possa
ler sem essas histórias, e, por fim, a progressiva limitação do vocabulário
circulante, que empobrece a capacidade de expressão, logo, o poder de quem fala
ou escreve.
Quando o Ministério Público está a espatifar o
sistema político e a democracia, entre a intencionalidade e a
irresponsabilidade, quando a campanha eleitoral foge de tudo o que é importante
cá dentro e lá fora, quando Trump apela à invasão russa da Europa, quando a
traição à Ucrânia e aos palestinianos mostra a nossa cobardia e vergonha,
quando Putin assassina na cadeia o seu principal opositor, porque é que a São é
relevante? Porque a diferença entre a São e a Acção tem que ver connosco, com a
nossa identidade, com a nossa língua, com a nossa cultura, com a nossa
capacidade de falar bem, logo, de pensar bem, logo, de sermos mais fortes. E
vamos muito precisar de ser mais fortes nos tempos que aí vêm.
O autor é colunista do PÚBLICO
https://www.publico.pt/2024/02/17/opiniao/opiniao/sao-campanha-ps-2080597
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Carlos Coutinho - Para nunca esquecer
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
Chay Bowes - Palavras que matam:
Palavras que
matam: como os manipulares de comunicação ocidentais desumanizam povos
seleccionados para justificar a guerra
Chay Bowes 15.Feb.24 Outros autores
O papel da comunicação social dominante na justificação e promoção das infindáveis guerras desencadeadas pelo “ocidente” está definitivamente posto à vista. Os casos da Ucrânia e da Palestina arrumaram a questão. Já vem de longe o recrutamento e a instrumentalização de jornalistas pelos serviços secretos e de “informações”, a subordinação dos media às estratégias do complexo militar-industrial. Tal com “a guerra é a continuação da política por outros meios”, esta rede mediática inteiramente manipulada e servil configura a “antecipação da guerra por outros meios”.
Com a operação punitiva de Israel contra Gaza no seu quarto mês, é impossível não comparar a indignação ocidental em relação a outros conflitos com a moralidade selectiva agora a ser aplicada quando se trata de Israel.
Mesmo a mais
breve avaliação da forma como as inúmeras guerras do Ocidente têm sido
retratadas nos meios de comunicação social clientes rapidamente produz provas
irrefutáveis de que o marketing dos conflitos, tal como justificado pelas
potências ocidentais, é fundamental para a sua contínua legitimação.
Desde a Segunda
Guerra Mundial, os EUA têm estado directa e indirectamente envolvidos em
dezenas de guerras e golpes de Estado, a par de inúmeros conflitos secretos e
abertos em todo o mundo. Dados os vastos recursos necessários para perpetuar
este mecanismo agressivo de influência global, é importante reconhecer que os
contribuintes a quem se pede que financiem estas “guerras eternas” talvez nunca
as tivessem aceite sem a ajuda e o alinhamento secreto de um meio de
comunicação social cliente.
A linguagem e a
terminologia são, evidentemente, um elemento central e fundamental quando é
necessário apresentar uma guerra como moralmente aceitável. Isto é claramente
óbvio quando examinamos a forma como os meios de comunicação ocidentais estão a
retratar a actual escalada em Gaza. Os meios de comunicação norte-americanos e
britânicos retratam subtilmente as vítimas de um lado como sendo mais
dispensáveis do que as do outro, por exemplo, referindo-se às baixas israelitas
como tendo sido “mortas”, enquanto as palestinianas são descritas como tendo
simplesmente “morrido”, enquanto os menores detidos por Israel, que estão
detidos sem julgamento em alguns casos há vários anos, são referidos como
“prisioneiros”, enquanto os israelitas detidos pelo Hamas são referidos como
“reféns”.
Esta utilização
intencional da linguagem para esterilizar e desumanizar uma vítima, ou mesmo
toda uma etnia, não é de modo algum acidental. É um elemento essencial de um
esforço psicológico para fazer pender a balança no cálculo de culpabilidade
subconsciente dos espectadores (fisicamente afastados do conflito). É simples
considerar justificável a eliminação de “terroristas”, ao passo que o
assassínio em massa de muitos milhares de crianças, mulheres, doentes e idosos
indefesos é uma tarefa muito mais difícil de vender a um público ocidental cada
vez mais informado.
A manipulação
dos meios de comunicação social ocidentais não é, de forma alguma, um desvio da
norma. Os actuais consumidores de notícias “fidedignas” no Ocidente devem
recordar a utilização generalizada de jornalistas pela CIA, tanto no país como
no estrangeiro, para influenciar a opinião pública nos anos 60, largamente
entendida como fazendo parte da “Operação Mockingbird”, uma operação
labiríntica e com vastos recursos que se propunha influenciar as mensagens dos
principais meios de comunicação social. Embora a existência dessa operação
específica nunca tenha sido confirmada, os esforços anteriores da CIA para
recrutar jornalistas - centenas deles, tanto no país como no estrangeiro -
foram expostos numa investigação do Senado dos EUA.
Hoje em dia,
dado o preço exorbitante da guerra por procuração na Ucrânia, o observador
comum seria excepcionalmente ingénuo se presumisse que uma influência
semelhante não está a ser aplicada aos meios de comunicação social quando se
trata de justificar conflitos e de vilipendiar os supostos “inimigos” do Tio
Sam, como a Rússia e a China. Convém lembrar que estamos a falar de meios de
comunicação social que dependem quase exclusivamente das “boas relações” com a
Casa Branca e Downing Street para terem acesso a informações “secretas” e se
manterem na “faixa favorável” do negócio das notícias. Se sujarem o vosso
babete uma vez, fazendo a pergunta errada, é para o deserto da informação que
ides. Não é à toa que se chama “narrativa alimentada à colher”.
A análise da
linguagem em torno do conflito na Ucrânia dá-nos uma boa ideia de como é
incutido um preconceito no espectador e no leitor. Apesar das questões
complexas e de longa data que contribuíram para a intervenção russa em 2022, os
media ocidentais optam por uma narrativa descaradamente unilateral,
intencionalmente atribuindo a culpa exclusiva à Rússia. A desumanização dos
russos vivos e mortos parece ser uma pedra angular desta táctica, a par de
revisões selectivas da história. Diz muito o indefensável fracasso de meios de
comunicação social que se apresentam como os campeões da igualdade e da
liberdade em enfrentar o impulso essencialmente xenófobo que constitui o cerne
desta estratégia.
Qualquer pessoa
que observe o fluxo e refluxo da cobertura ocidental do conflito ucraniano
notará o surgimento de uma narrativa centralmente formada e “leve nos factos”
que sugere que os ucranianos são totalmente inocentes, num conflito que, de
facto, não começou em 24 de Fevereiro de 2022, mas com um golpe de Estado da
CIA em Kiev, em 2014, impulsionado por ultranacionalistas e pela
extrema-direita. As suas raízes são ainda mais profundas, décadas atrás, com as
tentativas de desestabilização da RSS ucraniana pelas agências de informação
ocidentais.
É claro que o
espectador ocidental é convenientemente poupado a esses pormenores. A
habilidade de enganar através da omissão de factos tem sido bem aperfeiçoada
por empresas do calibre da BBC e da CNN. Para além disso, os meios de
comunicação ocidentais também têm sido hábeis a ocultar os crimes de Kiev
contra o seu próprio povo no rescaldo do golpe de Maidan de 2014. Não há espaço
para relatar a corrupção grosseira, os batalhões punitivos neo-nazis
desencadeados na região de Donbass, ou os assassinatos, raptos e violações
cometidos contra as populações de língua russa que se recusaram a aceitar o
mandato ilegítimo do governo pós-Maidan.
Assim, enquanto
os meios de comunicação ocidentais se apegam alegremente a esta narrativa
centralizada, há questões muito difíceis a colocar sobre as motivações e os
instrumentos psicológicos que estão a ser utilizados para licenciar e vender a
justificação da guerra e, no que diz respeito à Palestina, uma dessas
realidades desconfortáveis é a utilização do racismo subconsciente.
Vejamos a
conveniente demonização do Islão. Não é de modo algum um acidente o facto de a
maioria das vítimas da catastrófica “guerra contra o terrorismo” dos EUA pós 11
de Setembro ser muçulmana. Décadas de demonização do Islão como uma religião
selvagem empenhada em dominar o mundo tiveram um efeito subconsciente na “mente
colectiva” do Ocidente. Este efeito é depois energicamente explorado pelos
media ocidentais, conforme necessário.
Quando os
refugiados sírios e africanos das guerras estimuladas pelas potências
ocidentais procuraram refúgio na Europa, foram recebidos com protestos e, em
muitos casos, com violenta objeção. No entanto, quando se tratou do conflito
ucraniano, alguns comentadores ocidentais falaram abertamente do facto de os
refugiados ucranianos “se parecerem connosco”, de poderem ser “a nossa gente”,
de serem loiros e de olhos azuis. Foi uma demonstração chocante da forma como
os ucranianos são tratados como seres humanos semelhantes, enquanto milhares de
muçulmanos castanhos que se afogam no Mediterrâneo lutam para ocupar linhas nas
colunas dos mesmos jornais.
A relação
íntima entre os media clientes e o complexo militar industrial também requer
investigação e análise profunda. Impérios mediáticos como o News Corp de Rupert
Murdoch exercem uma vasta e esmagadora influência no discurso público quando se
trata de justificar a guerra. A relação entre o complexo militar industrial, de
importância crítica, e a criação de uma narrativa de guerra defensável é
inegável, mas persistentemente negada. Assim, à medida que o mundo desvia o seu
olhar da Ucrânia para o Médio Oriente, é notável a rapidez com que o conflito
ucraniano deixou de estar no topo das notícias no Ocidente. É igualmente
notável a forma como as críticas ao Presidente ucraniano Vladimir Zelensky se
tornaram subitamente aceitáveis, quando as mesmas críticas, há apenas alguns
meses, eram universalmente suprimidas nos meios de comunicação ocidentais.
Tudo isto
sugere também que uma sinistra narrativa centralizada está a ser utilizada no
interesse de uma vontade política e não na procura da verdade pelos meios de
comunicação social do establishment. Qualquer observador objectivo
tem de se esforçar muito para se convencer de que os media não estão agora a
desempenhar um papel fundamental na justificação do conflito “do dia”. A
deturpação intencional da representação de um grupo em oposição a outro, a
utilização selectiva e astuta da história no cultivo de narrativas e o mal
disfarçado uso do racismo para descrever um lado como essencialmente culpado
pelo próprio tratamento brutal que lhe é infligido pelo outro.
Parece agora
chocantemente óbvio que os meios de comunicação ocidentais estão determinados a
suprimir qualquer debate informado sobre a razão de ser de um conflito quando
esse conflito emana dos EUA ou de um dos seus clientes ou aliados. É também
cada vez mais evidente que, mesmo quando os meios de comunicação social do
sistema mudam de tom, o fazem para lubrificar uma mudança de direção política
previamente acordada, como está a acontecer actualmente na Ucrânia. Meios de
comunicação ocidentais como o Washington Post, o New York
Times e o The Independent no Reino Unido estão agora
a retratar abertamente um regime ucraniano à beira do colapso. A tão apregoada
“contraofensiva” ucraniana, outrora incessantemente apregoada pelos media como
uma manobra “revolucionária” liderada por mentes brilhantes e combatida com
armamento ocidental inatacável, tornou-se agora uma fonte de escárnio aberto.
O que seria
impensável assinalar há apenas alguns meses, tornou-se agora corrente. Surgiram
milagrosamente relatos pormenorizados de “fontes anónimas” sobre a natureza
fracturante do regime do Presidente Zelensky e sobre a intriga shakespeariana
em Kiev, quando o Chefe das Forças Armadas, Zaluzhny, enfrenta o endemicamente
corrupto establishment ucraniano. Esta narrativa tornou-se
subitamente aceitável para os media clientes do Ocidente. Alguém acredita
realmente que esta mudança de opinião não tenha sido aprovada ou moldada a
nível central? Tendo em conta a história da relação íntima dos serviços
secretos americanos com os meios de comunicação social nos Estados Unidos e não
só, qualquer pessoa que acredite que o ADN da CIA não está presente nesta
mudança radical de informação é excepcionalmente ingénua.
O manual para
licenciar a guerra é, de facto, bastante simples. Primeiro, demonize o seu
inimigo - chame-lhe orc, chame-lhe terrorista, cultive o medo entre a sua
própria população e convença-a de que o seu inimigo não é o grosseiramente
incompetente governo que gasta incessantemente milhares de milhões de dólares
dos seus impostos em guerras no estrangeiro, mas sim os povos de terras
longínquas que muito provavelmente sofrem as suas próprias privações devido a
essas mesmas guerras perpétuas.
Depois,
convencer os contribuintes de que as elites políticas que elegem não têm culpa
destas guerras e das políticas económicas de dominação, que conduziram a vastas
crises migratórias, como as enormes multidões de indivíduos que atravessam a
fronteira sul dos EUA. Alguém sugere que a política externa norte-americana não
teve qualquer influência nestes movimentos maciços de pessoas? Alguém sugere
que os migrantes que morrem aos milhares no Mar Mediterrâneo, enquanto clamam
desesperadamente por uma vida melhor na Europa, não foram levados para lá pelas
inúmeras guerras no Médio Oriente? Estas guerras são travadas contra
comunidades e países quase exclusivamente islâmicos que se tornaram endurecidos
e radicalizados, não necessariamente pela religião em si, mas pelas políticas
externas vazias e idiotas que resultaram da intromissão e interferência do
Ocidente no Médio Oriente ao longo de séculos.
Para aqueles de
nós que desejam uma paz justa e o fim das guerras eternas, há uma obrigação
absoluta de desafiar o enganoso licenciamento dos conflitos por parte dos media
clientes. Estas guerras desnecessárias empobrecem e tornam miseráveis não só as
vítimas, mas também as populações enganadas dos países de onde emanam. Afinal
de contas, são os contribuintes ocidentais que involuntariamente financiam esta
grotesca fábrica de lucros circulares, um moedor de carne que suga vidas
humanas e cospe uma vasta riqueza para uma pequena elite, a mesma pequena elite
intimamente relacionada com a classe política que procura justificar esses
conflitos desnecessários. Tudo licenciado e vendido como moralmente defensável
pelos sempre leais meios de comunicação social clientes.
Fonte:
HomeWorld News, 6 Fev 2024
https://www.odiario.info/palavras-que-matam-como-os-manipulares/