segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Cartas de prisioneiros portugueses na I Grande Guerra

 

* Miguel Castelo Branco

2024 02 02
  
Entre Maio e Novembro de 1918, as cartas sucederam-se suplicantes, magoadas, desesperançadas. Pediam livros, mas também tabaco, marmelada, biscoitos e conservas que por cá já não havia. Eram aos milhares na longínqua Alemanha contra a qual havíamos sido empurrados para uma guerra que não era nossa e que dizimou a flor da juventude europeia, desfigurou centenas de milhares e deixou psicologicamente estropiados milhões. Encontro um basto dossier do Comité de Socorros aos prisioneiros de guerra portugueses e pressinto que a engrenagem da história, com o seu cortejo de desgraças, nos pode de novo atirar para um conflito que trará sofrimento, fome, doença e morte, como aconteceu entre 1916 e 1918. Há quem por ela anseie, se bem que não saiba que aquela não trouxe apenas a desgraça aos quase dez mil que tombaram na Flandres, em Angola e Moçambique, mas logo tocou a todos pela Carpa da Gripe Espanhola e pela miséria que se abateu sobre este povo. Há pedidos desesperados de famílias «sem pão e sem leite», sem roupas e sapatos, a correspondência vem invariavelmente debruada a negro e os atestados médicos confirmam que nesta casa chegou a haver 50% de baixas entre o corpo de funcionários.

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