sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Carlos Coutinho - Para nunca esquecer

* Carlos Coutinho
 
    Escrever na pele pode ser uma tatuagem em Lisboa ou em Paris, mas em Gaza é a mais desesperada forma de, na melhor das hipóteses, poder reagrupar a família. 

   Ontem, uma profissional de saúde que trabalha na organização Médicos sem Fronteiras estava ao lado de um local atingido por mais bombardeamento israelita e resolveu enviar a seguinte mensagem a outros membros da equipa:

   “Escrevi os nomes dos meus filhos e da minha família nos pulsos nos seus pulsos e nas suas pernas, para que possamos ser identificados.” 

   Na mensagem seguinte escreveu:

   “Vamos morrer todos. Todos nós. Espero que suficientemente cedo para parar o sofrimento que estamos a viver a cada segundo.”

   “Sobrevi”, contou depois, “mas na ninha cabeça não. Quando vi partes de corpos no quintal, pensei que não fazia sentido.”

   A uma centena de quilómetros dali, nalgum covil subterrâneo como de Hitler, Netanyahu, ignorando as pressões internacionais e contando com a absolvição do fiteiro Biden, retocava os últimos pormenores da “solução final” para os palestinianos encurralados no sul da Faixa de Gaza.

   A cidade de Rafah tem 64 quilómetros quadrados onde se acotovelam 1,4 milhões de palestinianos para ali empurrados pelas forças israelitas. Estes, enquanto não são desfeitos pelas bombas, vão sobrevivendo à falta de comida, medicamentos, água potável, combustíveis, eletricidade, enfim, tudo o que constitui a mínima resposta às necessidades básicas de vida, bem como sem tratamento de doenças e de ferimentos ou queimaduras.

   Para que não se esqueça.

2024 02 15

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