quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

«Capitalism and Freedom»



NA ECONOMIA NEOLIBERAL, QUE QUEREM PPD-PSD, IL & CHEGA, O 'ESTADO SOCIAL' DESAPARECE, OS POBRES VÃO FICAR AINDA MAIS POBRES E DESPROTEGIDOS, E OS RICOS AINDA MAIS RICOS...

- salienta Alfredo Barroso, recordando o que foi o estrondoso fracasso da economia neoliberal no Chile, durante a sangrenta ditadura militar do general Augusto Pinochet, expressamente apoiado e aconselhado por Milton Friedman e Friederich Hayek, teóricos do neoliberalismo

«A contra-revolução neoliberal é essencialmente antidemocrática» – afirmou o economista norte-americano (Prémio Nobel) Paul Krugman. De facto, nenhuma maioria de eleitores desejaria ver reduzida a quase nada a cobertura social que protege a generalidade dos cidadãos. Isso nunca. Por isso mesmo, o único meio de forçar a mão do povo é levá-lo a acreditar que não há alternativa

Na sua obra «Capitalism and Freedom», o economista neoliberal norte-americano Milton Friedman ousa afirmar que, como a obtenção do lucro é a essência da democracia neoliberal, todo o governo que conduza políticas que contrariem o mercado está a portar-se de forma antidemocrática, sendo irrelevante o apoio de que goze por parte da maioria de uma população esclarecida.

Foi esta visão absolutamente perversa da democracia que fez com que ele próprio e Friederich Hayek manifestassem o seu apoio ao golpe de Estado do general Augusto Pinochet, no Chile – que depôs, em 1973, o governo democraticamente eleito do presidente Salvador Allende, dado que este estava a interferir com o controlo dos negócios da plutocracia da sociedade chilena.

Hayek foi mesmo ao ponto de declarar, em defesa do indefensável Pinochet, o seguinte: «Pessoalmente, prefiro uma ditadura liberal a um governo democrático completamente alheado do liberalismo». Foi essa 'ditadura liberal', brutal e selvagem, que os 'Chicago boys' - os discípulos de Milton Friedman - ajudaram a sustentar durante 15 anos, transformando o Chile num laboratório experimental das políticas neoliberais preconizadas por Hayek e Friedman.

Entretanto, ficou a saber-se que Friedrich Hayek, o ‘profeta’ venerado pelo general Pinochet e por Margaret Thatcher, não quis visitar os EUA em 1973 – a convite do milionário norte-americano Charles Koch, um dos pilares do desmantelamento do Estado-Providência – por ter medo de perder os seus direitos à Segurança Social no seu país, a Áustria. De facto, Hayek – que nos seus discursos e palestras proclamava que a Segurança Social é «essencialmente um absurdo» que urge banir – explica com todo o detalhe, na correspondência que trocou com Charles Koch, os benefícios sociais a que tinha direito, e que não queria arriscar-se a perder ausentando-se da Áustria.

Para além da hipocrisia pessoal, o que aqui se manifesta é a hipocrisia de um discurso que consiste em fazer crer às pessoas que aquilo que se pretende é apenas proteger a sua ‘responsabilidade’ e a sua ‘liberdade de escolha’ – quando, afinal, são despojadas dos seus direitos sociais e do seu dinheiro para encher os bolsos da ínfima minoria dos mais ricos do planeta, sem nunca chegarem a ter qualquer ‘liberdade de escolha’ por mais responsáveis que sejam.

Também se tornou patente que o sistema neoliberal gera um perigoso e inevitável subproduto: uma cidadania despolitizada, caracterizada pela apatia e pelo cinismo. O neoliberalismo é, na prática, o primeiro e mais perigoso inimigo de uma genuína democracia participativa. É claro que actua melhor quando existe uma democracia eleitoral meramente formal, mas precisa que a população seja desviada das fontes de informação e dos debates públicos que a habilitem a formar opinião e a intervir nos processos de tomada de decisão.

A partir da noção crucial de «mercado über alles» – «mercado em todo o lado» – a democracia neoliberal cria ‘centros comerciais’ em vez de espaços comunitários e produz ‘consumidores’ em vez de cidadãos. E o resultado prático é uma sociedade atomizada, constituída por indivíduos desenraizados que se sentem desmoralizados e socialmente impotentes.


2024 02 08

ALFREDO BARROSO, no seu livro «Corações de Pedra - a maldição neoliberal» (Porto Editora, 2017)

https://www.facebook.com/somera.simoes 


ADENDA, por Victor Nogueira

Kissinger

  • "Não vejo porque precisamos ficar parados e assistir um país tornar-se comunista por causa da irresponsabilidade do seu povo. As questões são muito importantes para deixarmos os eleitores chilenos decidirem por si mesmos."
Sobre o apoio dos EUA ao golpe que derrubou Salvador Allende, presidente democraticamente eleito do Chile, em 11 de setembro de 1973.
citado em Richard R. Fagen, "The United States and Chile: Roots and Branches", Foreign Affairs, January 1975.

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