Bem-vindos a mais um esclarecedor debate
Humorista
08 FEVEREIRO 2024
Bom, eu gostaria de começar por dizer que...
— Não, isso é falso.
— Desculpe, eu estava a falar.
— Ah, pois. Não quer ouvir. Não quer ouvir. Não quer ouvir.
— O que eu estava a dizer era que...
— Não quer ouvir.
— ...o meu partido considera que...
— Não quer ouvir.
— ...bom, assim é impossível.
— Pois, é, porque não quer ouvir.
— Se eu puder completar o meu raciocínio...
— Eu sei que custa. Eu sei que custa.
— Nós temos uma proposta para resolver o problema da habitação.
— Ai é? Então e esta folha A4 que eu trouxe que é a fotocópia de uma notícia antiga?
— A proposta consiste em...
— Não, mas olhe aqui esta fotocópia de uma notícia antiga que eu trouxe.
— ...investir em habitação pública.
— Não quer falar sobre esta notícia antiga, não é? Não interessa. Não pode negar. Isto veio nos jornais.
— Ainda ontem li no jornal que as propostas do seu partido levam o país à ruína.
— Desculpe lá, isso só pode ser para nós nos rirmos. Os jornais só dizem mentiras.
— Não, desculpe lá.
— Não, desculpe lá.
— Não, desculpe lá.
— Não, desculpe lá.
— Não interrompa, por favor. Eu não o interrompi.
— Não quer ouvir, não é? Não quer ouvir.
— O seu partido tem nas suas listas de candidatos a deputados pessoas que foram constituídas arguidas por serem suspeitas de crimes.
— Mas a minha gravata é azul.
— O que é que isso tem a ver com o que eu disse?
— É mentira?
— Não tem nada a ver com o que eu disse.
— Mas é mentira? Responda à pergunta. É mentira?
— Posso falar?
— Não quer responder. A verdade incomoda, não é? Por isso é que as sondagens dão um péssimo resultado ao seu partido.
— As últimas sondagens também dão o seu partido a descer.
— As sondagens são uma vigarice e têm o único objectivo de prejudicar o meu partido. A sondagem que interessa é o voto do povo, nas urnas. O povo é que interessa.
— O povo tem dado maiorias a outros partidos, que não o seu.
— O povo não percebe nada, está completamente dependente da máquina do Estado, por isso é que vota sempre nos mesmos.
— Posso falar?
— Ai, coitadinho. A vítima. Lá vêm as queixinhas. Isto é política, habitue-se. É por causa deste tipo de político que o país está como está. O Parlamento tem deputados a mais, que não estão lá a fazer nada.
— É o caso do seu grupo parlamentar, que aprovou zero propostas.
— É mentira.
— Que propostas é que aprovaram?
— Nenhuma, porque não nos deixaram. Chumbaram as nossas propostas de propósito.
— Está a queixar-se? Então isso não é política? Desculpe, isto é uma bandalheira.
— Não é, não. Eu e o meu partido viemos precisamente para acabar com a bandalheira. Agora vou defecar na mão e arremessar-lhe as fezes.
* Ricardo Araújo Pereira
08 FEVEREIRO 2024
Bom, eu gostaria de começar por dizer que...
— Não, isso é falso.
— Desculpe, eu estava a falar.
— Ah, pois. Não quer ouvir. Não quer ouvir. Não quer ouvir.
— O que eu estava a dizer era que...
— Não quer ouvir.
— ...o meu partido considera que...
— Não quer ouvir.
— ...bom, assim é impossível.
— Pois, é, porque não quer ouvir.
— Se eu puder completar o meu raciocínio...
— Eu sei que custa. Eu sei que custa.
— Nós temos uma proposta para resolver o problema da habitação.
— Ai é? Então e esta folha A4 que eu trouxe que é a fotocópia de uma notícia antiga?
— A proposta consiste em...
— Não, mas olhe aqui esta fotocópia de uma notícia antiga que eu trouxe.
— ...investir em habitação pública.
— Não quer falar sobre esta notícia antiga, não é? Não interessa. Não pode negar. Isto veio nos jornais.
— Ainda ontem li no jornal que as propostas do seu partido levam o país à ruína.
— Desculpe lá, isso só pode ser para nós nos rirmos. Os jornais só dizem mentiras.
— Não, desculpe lá.
— Não, desculpe lá.
— Não, desculpe lá.
— Não, desculpe lá.
— Não interrompa, por favor. Eu não o interrompi.
— Não quer ouvir, não é? Não quer ouvir.
— O seu partido tem nas suas listas de candidatos a deputados pessoas que foram constituídas arguidas por serem suspeitas de crimes.
— Mas a minha gravata é azul.
— O que é que isso tem a ver com o que eu disse?
— É mentira?
— Não tem nada a ver com o que eu disse.
— Mas é mentira? Responda à pergunta. É mentira?
— Posso falar?
— Não quer responder. A verdade incomoda, não é? Por isso é que as sondagens dão um péssimo resultado ao seu partido.
— As últimas sondagens também dão o seu partido a descer.
— As sondagens são uma vigarice e têm o único objectivo de prejudicar o meu partido. A sondagem que interessa é o voto do povo, nas urnas. O povo é que interessa.
— O povo tem dado maiorias a outros partidos, que não o seu.
— O povo não percebe nada, está completamente dependente da máquina do Estado, por isso é que vota sempre nos mesmos.
— Posso falar?
— Ai, coitadinho. A vítima. Lá vêm as queixinhas. Isto é política, habitue-se. É por causa deste tipo de político que o país está como está. O Parlamento tem deputados a mais, que não estão lá a fazer nada.
— É o caso do seu grupo parlamentar, que aprovou zero propostas.
— É mentira.
— Que propostas é que aprovaram?
— Nenhuma, porque não nos deixaram. Chumbaram as nossas propostas de propósito.
— Está a queixar-se? Então isso não é política? Desculpe, isto é uma bandalheira.
— Não é, não. Eu e o meu partido viemos precisamente para acabar com a bandalheira. Agora vou defecar na mão e arremessar-lhe as fezes.
Ricardo Araújo Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia
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