Whale project, in Estátua de Sal, 04/02/2024, revisão da Estátua)
(Este artigo resulta de um comentário a um texto que publicámos sobre os 50000 milhões de euros aprovados pela UE para a Ucrânia, ver aqui. Pela pertinência, neste momento, resolvi dar-lhe o destaque que, julgo, merece.
Estátua de Sal, 04/02/2024)
Isto não deixa de me fazer lembrar os tempos da troika. Quando foi negociado o primeiro grande pacote de “ajuda” à Grécia, um jornal noticiava que o presidente da Câmara de Atenas tinha ido jantar com uns amigos e, da ementa, teria constado lagosta. A coisa era denunciada como sendo um exemplo de desrespeito atroz pelos cidadãos trabalhadores do Norte da Europa, que iam emprestar dinheiro à nação perdulária. Eu presumo que o ordenado de presidente da Câmara desse para comer uma lagosta de quando em vez. Pelos vistos, o homem não fazia aquilo todos os dias, ou também teria sido noticiado. Mas, parecia que todos tínhamos de fazer uma espécie de penitência, sem poder comer o que nos dava na gana – mesmo que o nosso ordenado desse para, isso -, porque os nossos países tinham vivido acima das suas possibilidades e éramos todos um bando de chulos a explorar os pobres trabalhadores do Norte da Europa.
Tivemos ainda o Passos Coelho a sentir-se envergonhado porque na Madeira, após um jantar envolvendo responsáveis políticos, um turista finlandês bêbado, lhe perguntou se seria ele a pagar aquilo. Qualquer pessoa com a espinha direita teria o dever de mandar o nórdico fascista beber outro copo e apagar a luz. Mas o Passos ouviu calado e veio depois insultar-nos a todos.
Sobre a especulação financeira em torno das dívidas ninguém deu um pio. A dívida da Grécia chegou a ter juros de 100%. Claro que subiu, e muito. Aliás, quem questionasse os “mercados” só podia ser um malandro esquerdista radical. Mas, o certo é que em troca do dinheiro que nos emprestaram fomos obrigados a cortar no nível de vida. Na Grécia o ordenado mínimo desceu, as condições laborais se eram terríveis mais terríveis se tornaram: houve trabalhadores da hotelaria a morrer de pura exaustão. A Grécia tornou-se o pior país para trabalhar, de toda a União Europeia. Portugal era o quarto.
Em troca destes empréstimos fomos obrigados a desarticular os sistemas de saúde; com os cortes impostos, milhares de pessoas morreram por falta de assistência e por infeções hospitalares, porque nem lixivia havia. Voltaram a existir caldeirões da sopa dos pobres em plena rua, muita gente não aguentou e pôs termo à vida. Mas, tudo era visto como um castigo merecido pelos povos corruptos, que não queriam trabalhar.
O problema dos gregos, tal como o nosso, foi sermos poucos. Mesmo que viéssemos para a rua fazer barulho, o que são 20 milhões num império de 500 milhões? Por isso, fomos o laboratório na Europa de tudo quanto eram politicas neoliberais, à Pinochet, enquanto os dirigentes do Norte da Europa nos despejavam para cima todas as atoardas racistas que levavam, pelo menos no caso português, a população a autoflagelar-se e a achar que éramos mesmo todos uns malandros. Eu, cá por mim, só perguntava se esses malandros do Norte da Europa – quando para cá vinham beber que nem uns porcos e lavar-se no mar -, se serviam a eles próprios nos hotéis e restaurantes, e se eram eles que variam as ruas, recolhiam o lixo que faziam, e assim por diante. E, um dia, tive mesmo de fugir para não ter que ir às trombas a uma criatura que – a propósito do último balde de miséria lançado sobre a Grécia quando o Tsipras “rachou” -, disse o seguinte: “não vamos viver mal para eles viverem bem”. Eu tinha engolido uma reportagem, conduzida em 25 de Janeiro desse ano pelo José Rodrigues dos Santos, em que não faltaram fake news. Eu tinha enterrado, uma semana antes, um amigo meu que morreu, na última das misérias, por os cuidados de saúde estarem à míngua, como estavam. Por isso, foi levantar-me e literalmente fugir, porque vi vermelho.
Não nego que, tenha havido corrupção, tanto na Grécia como aqui. Pelo menos na Grécia, o artista que comprou quatro submarinos à mesma empresa alemã a que o Paulinho das Feiras comprou dois, malhou com os ossos na cadeia. O Paulinho das Feiras, esse, continua a dar-nos, até hoje, lições de moral.
O problema é que fomos alvo de um castigo coletivo. Gente que se levantava cedo para trabalhar teve a vida virada do avesso. Na Grécia recuperaram-se “receitas” do tempo da ocupação nazi. Sofremos um castigo coletivo, cruel e desumano, ministrado por uma cambada de racistas.
Mas agora, como a União Europeia continua a acalentar o sonho do Hitler de destruir a Rússia, enterramos rios de dinheiro num estado nazi, e ninguém faz perguntas. A mesma cambada de racistas, que quase nos matou à fome e à falta de tudo, desperdiça agora o nosso dinheiro numa cambada de racistas e nazis, que glorificam assassinos de outros tempos, como Stepan Bandera, e chamam aos vizinhos “pretos da neve”.
Tudo porque queremos os recursos da Rússia, porque sonhamos com a sua destruição – como sucedeu com a Jugoslávia -, e porque queremos pilhar os seus recursos. Se, no caso de Portugal e da Grécia, o que se pretendeu era vir a banhos bem mais barato, agora, com o apoio a nazis, o que se quer é a destruição da Rússia.
Isso já não pode ser escondido. Em 2022, a Ucrânia estava armada até aos dentes com tudo quanto era equipamento ofensivo, e o palhaço de Kiev prometeu – dias antes da invasão russa -, que no Verão teria armas nucleares. E para quê? Para enfeitar? Logo se arranjaria um pretexto para que as hordas nazis avançassem pela estepe e chegassem a Moscovo, que até fica ali bem perto. O sonho de Hitler, o sonho que os dirigentes alemães nunca deixaram de ter, o sonho de Napoleão seria finalmente cumprido. Teríamos todos os recursos daquele povo bárbaro – que nunca vimos como igual, desde que os andávamos a caçar com a ajuda dos tártaros.
A verdade é que o nosso racismo sempre transformou os russos em pretos. Por isso ameaçámos um país europeu com a destruição económica dizendo, com todas as letras, que se a Hungria tinha a pistola nós tínhamos a bazuca.
Isto vai durar até ao dia em que irá correr mal. Uma das razões, que fez muita gente na Grã-Bretanha votar Brexit, foi o conhecimento das atrocidades cometidas contra a Grécia. É que, se em Portugal somos uns tesos, mas muitas vezes vamos às Caraíbas porque lá é barato, os ingleses iam à Grécia. Viam e não podiam ignorar. Sem contar com as reportagens que mostravam a miséria negra que por lá se vivia. Uma colega de trabalho, num segundo emprego que tive por essa altura, contava que uma amiga que estava em Inglaterra lhe ligara, lavada em lágrimas, porque tinha visto uma reportagem sobre a Grécia, e perguntava se, em Portugal, também iríamos chegar áquilo. Isso fez muita gente ver que, se as coisas dessem alguma vez para o torto, não seria a União Europeia que iria ajudar. Por isso, antes só que mal acompanhado.
Ora, quando a teta secar – porque tem de secar -, também a Hungria, e provavelmente outros, vão fazer um manguito a esta mafia.
E, o que faz com que ainda aguentemos isto, é que a propaganda funciona em pleno. Tão em pleno, que ninguém se lembrou de perguntar ainda para que raio quereria a Rússia mais espaço e, ainda por cima, quase sem recursos nenhuns. Agora eles até têm a Crimeia e nem precisam de vir a banhos ao Sul. Mas lá andamos nós a dar dinheiro a fascistas corruptos. E, ai de quem diga que eles são corruptos: só pode ser putinista…
Foi de racismo que se tratou, aquando do castigo coletivo que sofremos e é de racismo que se trata agora. E, se não está a correr como se esperava, talvez seja porque a Rússia é capaz de ter acordado para o perigo do racismo com o castigo que foi infligido a povos que pertenciam à Europa Ocidental. Não se tratou de árabes, ou gente do Leste como os jugoslavos.
Por isso os que sonhavam com o empalamento de Putin num par de semanas – vi muitos histéricos darem saltos que nem macacos -, veem agora que a coisa está para durar.
Porque a estação de serviço acordou para o racismo e tratou se de armar. Porque, sofrer a miséria da Grécia – num país onde as temperaturas no Inverno se contam por dezenas de graus abaixo de zero -, não era opção.
Mas o racismo não nos deixa ver, por isso, é lidar.
https://estatuadesal.com/2024/02/04/mas-o-racismo-nao-nos-deixa-ver-por-isso-e-lidar/
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