Os torcionários
Janeiro 19, 2010.
Com base em duas reportagens televisivas, Correia da Fonseca denuncia que “em muitas empresas portuguesas é aplicada a tortura a trabalhadores que se tornaram indesejados pelas respectivas gestões”.
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“Dizê-lo parece um exagero. Não é. Não se trata, é certo, daquele tipo de torturas que sabemos ter sido aplicado no quadro de brutalidades mais primitivas e primárias, com sangue a jorrar e as vítimas a uivarem de dor. Mas há outras formas e, de resto, sabe-se que as práticas torcionárias fizeram grandes progressos nos últimos cem anos, número redondo. Agora, usam-se métodos que não fazem sangue e não deixam marcas visíveis nos corpos”.
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Correia da Fonseca – 18.01.10
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Primeiro foi, na RTP1, um brevíssimo apontamento de reportagem transmitido quando o Telejornal daquela noite já ia adiantado, porventura já quase totalmente ausente o inicial interesse do telespectador, esgotado após as primeiras notícias e a primeira meia hora. Depois, num outro dia, foi uma reportagem bem mais extensa, mas na RTPN, isto é, só acessível à minoria que recebe televisão por cabo. De onde, presume-se, que poucos se tenham dado adequada conta da informação.
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Contudo bem mais importante que a maioria das notícias que recheiam telejornais e afins, de facto tão dramática quanto outros dramas de que nos são dados circunstanciados aspectos: em muitas empresas portuguesas é aplicada a tortura a trabalhadores que se tornaram indesejados pelas respectivas gestões.
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Dizê-lo parece um exagero. Não é. Não se trata, é certo, daquele tipo de torturas que sabemos ter sido aplicado no quadro de brutalidades mais primitivas e primárias, com sangue a jorrar e as vítimas a uivarem de dor. Mas há outras formas e, de resto, sabe-se que as práticas torcionárias fizeram grandes progressos nos últimos cem anos, número redondo. Agora, usam-se métodos que não fazem sangue e não deixam marcas visíveis nos corpos.
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Mesmo entre nós, a PIDE utilizou largamente a tortura do sono, sem vestígios sanguinolentos, ainda que na maior parte dos casos combinada com modalidades mais tradicionais. Ora, as formas adoptadas nas empresas portuguesas a que a reportagem se referiu, embora tendo o cuidado de não as identificar, são deste género mais recente. Deve ser um sinal claro de modernidade.
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Porém, quanto aos métodos concretos a reportagem foi um poucochinho mais explícita.
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Desde retirar ao trabalhador (ou trabalhadora, é claro), qualquer tarefa, obrigando-o a manter-se no seu lugar durante todo o tempo do horário sem nada para fazer, ou distribuir-lhe tarefas menoríssimas e inúteis que resultam em humilhação profissional óbvia, até colocar a secretária da vítima virada para uma parede e de costas voltadas para todo o resto durante o dia laboral inteiro, ou ainda, em hipótese mais agressiva, colocar o empregado numa sala vazia de tudo incluindo assentos, há uma gama de «tratos especiais» que algumas empresas aplicam. Com um objectivo: o de pressionar o empregado para que ele peça a demissão, já que em certos casos despedir um trabalhador sem justa causa ainda é oneroso e complicado.
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A tudo isto, chama-se, pelos vistos, «assédio moral». Esta designação soft é que nunca foi descoberta pela PIDE, que seguramente teria gostado dela. Se ainda há por aí algum antigo agente com planos para o futuro ou, mais provavelmente, algum seu descendente ou discípulo, bem poderá reflectir que «fica para a outra vez».
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A reportagem não explicou se este comportamento empresarial, adoptado por directas instruções de algum patronato ou por inspirada iniciativa de quadros de chefia intermédia, se arrisca a ser reprimido por quem vela pelas condições de trabalho em Portugal, e se expõe quem o pratica a sanções severas. Infelizmente, tenho para mim como provável que se mantenha impune, ao menos por agora.
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De qualquer modo, esta denúncia pela TV, relativamente discreta, sugere que está a ser adoptado com certa frequência. Será porventura uma nova etapa na modernização, já há algum tempo em curso, das relações laborais no nosso País, assim se complementando a flexibilização com um estímulo a que poderá chamar-se «flexitortura».
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De qualquer modo, parece impor-se que todos saibamos mais sobre o assunto. Isto é: que sejamos esclarecidos pelos serviços públicos que têm o estrito dever evitar uma confusão, mesmo que pontual, entre patrões e torcionários.
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* Correia da Fonseca é amigo e colaborador de odiario.info
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“Dizê-lo parece um exagero. Não é. Não se trata, é certo, daquele tipo de torturas que sabemos ter sido aplicado no quadro de brutalidades mais primitivas e primárias, com sangue a jorrar e as vítimas a uivarem de dor. Mas há outras formas e, de resto, sabe-se que as práticas torcionárias fizeram grandes progressos nos últimos cem anos, número redondo. Agora, usam-se métodos que não fazem sangue e não deixam marcas visíveis nos corpos”.
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Correia da Fonseca – 18.01.10
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Primeiro foi, na RTP1, um brevíssimo apontamento de reportagem transmitido quando o Telejornal daquela noite já ia adiantado, porventura já quase totalmente ausente o inicial interesse do telespectador, esgotado após as primeiras notícias e a primeira meia hora. Depois, num outro dia, foi uma reportagem bem mais extensa, mas na RTPN, isto é, só acessível à minoria que recebe televisão por cabo. De onde, presume-se, que poucos se tenham dado adequada conta da informação.
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Contudo bem mais importante que a maioria das notícias que recheiam telejornais e afins, de facto tão dramática quanto outros dramas de que nos são dados circunstanciados aspectos: em muitas empresas portuguesas é aplicada a tortura a trabalhadores que se tornaram indesejados pelas respectivas gestões.
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Dizê-lo parece um exagero. Não é. Não se trata, é certo, daquele tipo de torturas que sabemos ter sido aplicado no quadro de brutalidades mais primitivas e primárias, com sangue a jorrar e as vítimas a uivarem de dor. Mas há outras formas e, de resto, sabe-se que as práticas torcionárias fizeram grandes progressos nos últimos cem anos, número redondo. Agora, usam-se métodos que não fazem sangue e não deixam marcas visíveis nos corpos.
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Mesmo entre nós, a PIDE utilizou largamente a tortura do sono, sem vestígios sanguinolentos, ainda que na maior parte dos casos combinada com modalidades mais tradicionais. Ora, as formas adoptadas nas empresas portuguesas a que a reportagem se referiu, embora tendo o cuidado de não as identificar, são deste género mais recente. Deve ser um sinal claro de modernidade.
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Porém, quanto aos métodos concretos a reportagem foi um poucochinho mais explícita.
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Desde retirar ao trabalhador (ou trabalhadora, é claro), qualquer tarefa, obrigando-o a manter-se no seu lugar durante todo o tempo do horário sem nada para fazer, ou distribuir-lhe tarefas menoríssimas e inúteis que resultam em humilhação profissional óbvia, até colocar a secretária da vítima virada para uma parede e de costas voltadas para todo o resto durante o dia laboral inteiro, ou ainda, em hipótese mais agressiva, colocar o empregado numa sala vazia de tudo incluindo assentos, há uma gama de «tratos especiais» que algumas empresas aplicam. Com um objectivo: o de pressionar o empregado para que ele peça a demissão, já que em certos casos despedir um trabalhador sem justa causa ainda é oneroso e complicado.
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A tudo isto, chama-se, pelos vistos, «assédio moral». Esta designação soft é que nunca foi descoberta pela PIDE, que seguramente teria gostado dela. Se ainda há por aí algum antigo agente com planos para o futuro ou, mais provavelmente, algum seu descendente ou discípulo, bem poderá reflectir que «fica para a outra vez».
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A reportagem não explicou se este comportamento empresarial, adoptado por directas instruções de algum patronato ou por inspirada iniciativa de quadros de chefia intermédia, se arrisca a ser reprimido por quem vela pelas condições de trabalho em Portugal, e se expõe quem o pratica a sanções severas. Infelizmente, tenho para mim como provável que se mantenha impune, ao menos por agora.
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De qualquer modo, esta denúncia pela TV, relativamente discreta, sugere que está a ser adoptado com certa frequência. Será porventura uma nova etapa na modernização, já há algum tempo em curso, das relações laborais no nosso País, assim se complementando a flexibilização com um estímulo a que poderá chamar-se «flexitortura».
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De qualquer modo, parece impor-se que todos saibamos mais sobre o assunto. Isto é: que sejamos esclarecidos pelos serviços públicos que têm o estrito dever evitar uma confusão, mesmo que pontual, entre patrões e torcionários.
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* Correia da Fonseca é amigo e colaborador de odiario.info
Eu sei o que é este tipo de selvaria. Sofria na carne, enquanto soldado do exército cobarde e fascista que manteve Portugal naquela situação até ao 25 de Abril. Situação de exército cobarde, entenda-se.
Agora, penso eu, que todas as entidades patronais que praticam tais crimes deviam ser denunciadas a trabalhadores e trabalhadoras honestos (as), para que todos, em conjunto, estudassem uma forma para que se fizesse um julgamento justo a esses assassinos. E, como é bem evidente, esse ou esses julgamentos nunca deveriam passar pelos nossos tribunais, porque estes, na minha perspectica claro, também estão comprometidos. Por isso, ainda que muitos me venham a chamar de qualquer coisa, devíam ser os próprios lesados a fazer justiça a esses bandidos.
Eu já estou velho, mas alinho. Acabar o resto da minha vida numa prisão deste sistema judicial, com estes Juízes, corruptos, só traria serenidade ao meu espírito.
Abraços
David Santos, São João da Madeira.
por David Santos Janeiro 20, 2010 at 2:23 am
por Luciano Caetano da Rosa Janeiro 20, 2010 at 2:55 am
Defacto, os patroês sao todos iguais seja em portugal ou na europa tudo isto chama-se capitalismo.
Na sociadade capitalista o homem so conta como força de trabalho mais nada,se nao entra no sixtéma fica de lado.A todos os que resistem coragem camaradas,a rasâo é nossa. Joao FERNANDES Toulouse França, 20/01/10
por Joao Janeiro 20, 2010 at 9:22 am