terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Poesia de Bertold Brecht - Análise

A PROCURA DA POESIA
21 outubro, 2007
(ANÁLISE): O testemunho dos poetas em tempos sombrios (breve leitura da poética de Brecht)
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POEMAS DE BERTOLT BRECHT
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(Tradução de Paulo César de Souza)

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SOBRE A ESTERILIDADE
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A árvore que não dá frutos
É xingada de estéril. Quem
Examina o solo?
O galho que quebra
É xingado de podre, mas
Não havia neve sobre ele?
 

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AOS QUE VÃO NASCER
[1]
É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.
Que tempos são esses, em que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?
Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar.
Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)
As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d'água falta ao que tem sede?
E no entanto eu como e bebo.
Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

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"O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera./ O tempo pobre, o poeta pobre/ fundem-se no mesmo impasse." — a angústia de Carlos Drummond (exposta aqui nos versos de "A flor e a náusea", do livro A rosa do povo) está em viver os tempos sombrios do século XX. Não há como o poeta deixar de ser político, e não elucidar, em sua poética, a pobreza das leis de convivência entre os homens. Abre ele, portanto, mão da beleza que emana da organização das puras palavras para testemunhar a História.
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Bertolt Brecht e o tempo pobre também se fundem no mesmo impasse. O poema "Sobre a esterilidade" revela, em linguagem alegórica (alegoria: dizer uma coisa referindo-se a outra), os tempos sombrios por ele vivenciados. Assim, o talento do poeta parece não sobreviver à opressão; a neve e o solo infértil (imagens da opressão) não criam condições de a árvore (cujas partes ecoam a imagem da poesia) ser frutífera (imagem da beleza). Há, porém, muitos ignorantes de toda essa realidade (no ato de xingar), que não compreendem o movimento histórico por eles vivido.

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O poema "Aos que vão nascer [1]", por sua vez, já usa de uma linguagem direta; ecoa o sentido do poema anterior. O eu-lírico fala da consciência de ser quase um crime cantar um mundo belo ("Falar de árvores é quase um crime/ Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?"). Não pode ele distanciar-se dos grandes problemas, ainda que deseje estar afastado de tudo que não inspira sabedoria.

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Mas há momentos que exigem participação daqueles que tem o poder de conscientizar; momentos que obrigam o poeta a não se calar em tempos sombrios, denunciados em linguagem de não transcendência — embora linguagem desenhando, em testemunho poético-testamental para as gerações futuras, alguma esperança de união e compreensão entre os homens ("Mas vocês, quando chegar o momento/ Do homem ser parceiro do homem/ Pensem em nós/ Com simpatia." — versos de "Aos que vão nascer" [3]).

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A seção "(ANÁLISE)", como câmera fotográfica, tenta flagrar algumas nuanças mágicas do poema. Esperam-se aqui comentários que possam ajudar a interpretar a beleza da poesia. Críticas pertinentes e sugestões de leitura serão muito bem recebidas.
Exercite sua capacidade de ler e pensar — fique à vontade para comentar…

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