A Verdade Histórica
Correm já na Internet duas cartas abertas, uma, da autoria do Coronel reformado Manuel Bernardo e dirigida ao Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa e, outra, assinada pelo Coronel Sousa e Castro em resposta ao primeiro.
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Manuel Bernardo é um oficial com quem me cruzei uma ou duas vezes na vida e que, por conseguinte, mal conheço – fiquei a saber que, no 25 de Abril de 1974, foi saneado embora desconheça como foi reintegrado antes do 25 de Novembro de 1975 (uma vez que afirma ter sido frequentador assíduo do gabinete de Jaime Neves, no Regimento de Comandos). Ao que sei, tem publicados, pelo menos, dois livros sobre a época conturbada do pós-Revolução de 25 de Abril. Pelo que dele li, é marcadamente um homem que se identifica com a direita política; às vezes, pressente-se-lhe, até, uma ponta de ódio pela Revolução levada a efeito na madrugada de 25 de Abril de 1974.
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Por que razão escreve Manuel Bernardo uma carta aberta ao Professor Marcelo Rebelo de Sousa? Pelo simples motivo de este ter prefaciado o livro do Coronel Sousa e Castro, dando, deste modo, cobertura às afirmações do autor. Nessa epístola aberta, Manuel Bernardo para além de confundir a realidade distorce-a, descontextualizando afirmações de Sousa e Castro.
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Para quem como eu faz História, através da busca constante da verdade, estas polémicas são interessantes, mas perigosas, porque dão cores diversas aos factos passados.
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Tanto Sousa e Castro como Manuel Bernardo lutam por verdades que julgam “verdadeiras”, mas fazem-no a partir da sua “trincheira”, do seu posto de observação e com as “lentes dos binóculos” que antecipadamente escolheram.
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A verdade histórica, aquela que vai interessar aos historiadores e que irá ser tomada como a síntese possível de se fazer, não resulta dos testemunhos de Sousa e Castro, de Otelo Saraiva de Carvalho, de Vasco Lourenço, de Pires Veloso ou de outros que deixaram para os vindouros as suas interpretações. Eles foram meros “soldados” na “batalha” que ocorreu; uns mais bem colocados do que outros, mas todos tiveram uma visão “rasteira” da verdade. Esta, se de facto, foi alguma vez completamente apreendida, esteve nas mãos dos “generais” e esses não a confessaram.
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Os grandes condutores de todo o processo foram Álvaro Cunhal, Costa Gomes e, em posição muito mais baixa, Mário Soares. Os dois primeiros nunca revelaram tudo o que souberam nem todos os mecanismos que movimentaram. O terceiro escapa-se a deixar dito o que realmente sabe da “grande intriga” internacional.
Ainda está por divulgar todo o alcance do pensamento e do comportamento político do grande obreiro da Democracia em Portugal: Costa Gomes. Foi nas mãos dele e pelas mãos dele que passaram as rédeas do Poder, as rédeas que conduziram o “cavalo à solta” que foi todo o PREC.
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Álvaro Cunhal foi o motor de uma mudança. Uma mudança que ia para onde?
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São muitos os que defendem que iria para o comunismo, mas dizem-no por facciosismo, falta de informação ou mero mimetismo político. O mais que se sabe é que ia para a democracia. Mas que democracia? Esta? A Outra? Ou a que se vive na Madeira, por exemplo?
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Quem é que, de facto, coordenou o PREC? Washington ou Moscovo? Porque os estrategistas do Processo Revolucionário em Curso (PREC) estavam fora de Portugal, só os “generais” poderiam responder. E não se pense que Vasco Gonçalves era um “general”; ele, como todos os outros, incluindo Mário Soares, foi um “soldado” melhor colocado.
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A verdade há-de ser encontrada quando se cruzarem informações dispersas, documentos perdidos e não é o Coronel Manuel Bernardo nem o Sousa e Castro que são detentores de verdades absolutas. Até, porque, em História, não há verdades absolutas!
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Coronel Luís Alves de Fraga
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PortugalClub - seg 28-12-2009 00:03
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