LEMBRO-ME de há
muitos anos ter feito a revisão final do “O Burro de Ouro”, do genial Apuleio,
para a Editorial Estampa, onde conheci pessoalmente o Herberto Hélder que me
havia recomendado para essa tarefa, não sei com que fundamento.
“Metamorfoses”
(do latim Metamorphoseon libri XI, provavelmente a denominação original) ou “O
Burro de Ouro” (Asinus aureus, título dado por Santo Agostinho em “De Civitate
Dei”, XVIII, 18) é um romance de Apuleio (século II d.n.e.), o único romance da
literatura latina integralmente preservado e, juntamente com “Satyricon, de
Petrónio, (este apenas parcialmente preservado) constitue a única realização do
romance antigo em latim.
Embora o tema
da magia seja central na narrativa, a obra não é citada na “Apologia sive pro
se de magia”, a alegação do autor, quando julgado sob a acusação de prática de
magia, em 158.
Por isso,
presume-se que a elaboração do romance seja posterior a essa data, sendo
composto das aventuras burlescas e fantásticas de um homem que se vê
transformado num inteligentíssimo burro.
Posteriormente,
como é bem sabido, Boccaccio, Cervantes e Fielding elaboraram adaptações livres
dessa obra.
A edição
princeps foi impressa em Roma, em 1469.
Para que
conste.
P. S. – E agora
um petisco para quem goste de provar e saborear iguarias exóticas.
Em “O Burro de
Ouro”, Lucius, o narrador, faz uma viagem de até a Tessália para tratar de
negócios. Na cidade de Hipata, hospeda-se na casa de Milo, proeminente cidadão
que era amigo de um amigo de Lucius.
Há rumores de
que Panfília, esposa de Milo, é uma bruxa que costuma transformar-se em
diferentes criaturas para fugir de casa e ter casos extraconjugais com jovens
da cidade. Também se diz que ela transforma aqueles que a dececionam em coisas
estranhas, tais como pedras ou vacas.
Morrendo de
curiosidade por ver tais prodígios, Lucius decide unir o útil ao agradável.
Seduz Fotis, a lúbrica criada dos seus anfitriões, e convence-a a levá-lo
secretamente ao quarto de Panfília que é onde ocorrem os encantamentos.
Lucius observa
Panfília a esfregar um unguento na pele e a lentamente se transformar numa
coruja. Depois que ela deixa o quarto, voando pela janela, Lucius convence
Fotis a deixá-lo experimentar o unguento mágico em si mesmo.
Após Fotis
garantir saber de um contrafeitiço, ele despe suas roupas e esfrega o unguento
na pele. Para sua surpresa, ao invés de se transformar numa ave, converte-se
num jerico.
Lucius não
consegue admoestar Fotis, já que perdera a voz humana.
Fotis, alias,
garantira saber também aplicar um contrafeitiço para as transformações em
asnos. Segundo ela, Lucius precisa apenas de mastigar algumas pétalas de rosa
para voltar a ter a forma humana, imediatamente. Embora Fotis normalmente
prepare guirlandas de rosas para as suas aventuras amorosas na cama, esta noite
ela se esquecera de colhê-las. Assim, Lucius terá que esperar no estábulo até
que ela possa procurar algumas rosas, logo pela manhã.
Entretanto,
ladrões invadem a casa de Milo a meio da noite e roubam os seus bens de valor,
além de todos os cavalos e asnos presentes no estábulo, inclusive o infeliz
Lucius.
Começam então
as suas divertidas desventuras, com Lucius tentando encontrar e comer pétalas
de rosas para voltar a ser um homem, já que tinha conseguido escapar-se dos
ladrões. Queria ser apanhado por qualquer outra pessoa, o que não conseguiu.
Em paralelo com
a narrativa principal – Lucius tentando recuperar sua forma humana –, são
contadas diversas histórias curtas, ouvidas a outras personagens pelo narrador.
Após muitas
aventuras e escapar a uma particularmente “malvada”, a cristã, Lucius é vendido
a uma dupla de cozinheiros, que descobrem que ele é inteligente e decidem
usá-lo para ganhar dinheiro.
A fama deste
incrível asno que gera ouro espalha-se por toda a região e Lucius começa a ser
procurado por algumas mulheres que têm um fetiche muito curioso.
Depois de
suportar toda forma possível de humilhação, Lucius volta finalmente à forma
humana, graças à intervenção da egípcia deusa Ísis, da qual ele se torna
sacerdote, ou discípulo, ou apóstolo em estilo cristão.
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