sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Joana Gorjão Henriques - Mais de meio milhão de portugueses identifica-se como não branco

 Primeiras estatísticas oficiais sobre origem étnico-racial da população portuguesa divulgadas esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística. [ Inquérito às Condições de Vida, Origens e Trajetórias da População Residente em Portugal (ICOT)]

Joana Gorjão Henriques

22 de Dezembro de 2023, 11:16

Primeiras estatísticas oficiais sobre origem étnico-racial da população portuguesa divulgadas esta sexta-feira CLAY BANKS / UNSPLASH

Pelo menos mais de meio milhão de portugueses - precisamente 535,6 mil - identifica-se como não-branco. Este é o resultado das primeiras estatísticas oficiais sobre origem étnico-racial da população portuguesa divulgadas esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) que revelam que há 6,4 milhões de pessoas que se identificam como brancas, 169,2 mil como negras, 56,6 mil como asiáticas; 47,5 mil como cigana; e 262,3 mil com origem ou pertença mista.

Além disso, 1,4 milhões de pessoas têm background imigratório: 947,5 mil são imigrantes de primeira geração e a maioria desses (65,2%) reside em Portugal há mais de dez anos.

Este é um retrato inédito da população segundo a sua origem étnico-racial divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). São, de facto, as primeiras estatísticas oficiais sobre a caracterização da população residente de acordo "com a sua origem e pertença étnica, e sobre a sua percepção dos fenómenos de discriminação e desigualdades".

A população que se identifica com os grupos étnicos negro, asiático e origem ou pertença mista tem as maiores proporções de background imigratório (90,3%, 83,7% e 69,2%, respectivamente). Os grupos étnicos com origem ou pertença mista (67,9%) e os negros (64,3%) são os que apresentam mais pessoas empregadas - seguidos dos brancos (62,9%). Do total, só cerca de metade da população (4,7 milhões) dos 18 aos 74 anos está empregada, segundo este inquérito.

Outra das conclusões é que mais de 1,2 milhões de pessoas disseram ter sofrido discriminação e mais do dobro - 2,7 milhões - disse já ter presenciado actos de discriminação. Por outro lado, são 65% os portugueses que consideram que há discriminação - o grupo étnico, cor da pele, orientação sexual e território de origem são apontados como os factores mais relevantes na discriminação percebida e testemunhada.

No questionário, era referido: "Portugal é uma sociedade com pessoas de diversas origens. Pretende-se melhorar a informação sobre essa diversidade na sociedade portuguesa, pelo que gostaríamos que respondesse a algumas questões sobre a forma como se identifica relativamente à sua origem, pertença, história ou percurso familiar". E apresentam várias hipóteses, incluindo a de a pessoa não responder ou não saber: asiático, branco, cigano, negro, origem ou pertença mista".

Já sobre discriminação questionava-se se "em Portugal, alguma vez sentiu que foi ou é tratado/a de forma discriminatória?", "com que frequência" e quais as características que "podem estar na origem dessa discriminação" - cor da pele, grupo étnico, idade, religião, sexo, opiniões políticas, território de origem, escolaridade, incapacidade/problema de saúde, situação económica/condição social, orientação sexual, outra.

Seguem-se perguntas sobre as situações em que isso ocorreu (emprego, saúde ou família entre outros) e os locais (polícia, vizinhança, etc). O INE quis também saber se as pessoas tinham feito queixa à polícia ou outras entidades. Interessou também saber a percepção dos respondentes sobre a discriminação.

O INE definiu uma amostra de 35 mil casas, distribuídas por Portugal, e uma população dos 18 aos 74 anos.

O objectivo é que os dados recolhidos possam “produzir e apoiar a definição de políticas públicas”, algo que foi definido no plano de acção da União Europeia contra o racismo 2020-2025, mas também no Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação 2021-2025.

Este documento surge em sequência do chumbo pelo INE em 2019 de inclusão de uma pergunta sobre a origem étnico-racial nos Censos 2021. Na altura, um grupo de trabalho que estudou o tema a pedido do Governo defendeu que o Censos deveria ter aquela pergunta, mas o INE considerou que era complexo fazê-lo e sugeriu antes um inquérito.

Em 2021/2022 foi feito o inquérito piloto para testar estas perguntas. O objectivo é “melhorar o conhecimento sobre a diversidade da população residente em Portugal, com enfoque na sua pertença/identificação étnica, trajectórias geracionais e condições de vida objectivas”. Quer-se avaliar as condições de vida da população em várias áreas: qualidade do emprego, saúde, educação, habitação, mobilidade, redes de socialização.

Se a pertença étnica foi o resultado de uma auto-classificação das próprias pessoas, já a origem foi "observada pela naturalidade do respondente e dos seus ascendentes, até à terceira geração".

tp.ocilbup@hgj 

https://www.publico.pt/2023/12/22/sociedade/noticia/12-milhoes-discriminadas-portugal-2074587

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