HÁ muito que eu
trocava da melhor vontade todas as consoadas por qualquer sensoada, visto que,
no mínimo, uma ceia de comezaina destravada a soar a superstição é sempre de
uma noite que soa mal aos ouvidos de alguém como eu que tenho passado a vida a
ouvir dislates, além de arrotos e outros ruídos estomacais.
Em
contrapartida, uma refeição sem coisa soada pode ser alegremente um repasto sem
barulhos indesejáveis, dentro ou fora de casa.
Verifico e registo
que por entre palavras mortas há palavras a germinar, como julgo que também
pensa o linguista Salikoko Mufwene, para quem “falar da evolução da linguagem
não é uma metáfora”.
Teve, aliás, o
arrojo de criar uma teoria geral das espécies aplicada à comunicação e parece
que não foi tempo perdido. Disse mesmo que “há palavras inglesas noutras
línguas, porque, provavelmente, é mais fácil transmitir o significado com as
palavras inglesas do que com as palavras indígenas. Mas também é uma forma de
mostrar que alguém está atualizado no conhecimento do mundo.”
É, de resto, o
que vão fazendo muitos decisores, muitos analistas encartados, muitos
comentadores e muitos estrategas de café.
Mas quem sou eu
ara falar destas coisas, quando vejo que até o profissionalismo é uma forma de
avacalhar a natureza humana, dando como vantagem a capacidade de um fulano ser
cada vez menos genuíno e cada vez mais a máquina especializada e afunilada para
um ofício?
Penso até na
origem do nome António que comecei por encontrar na onomástica lusitana como a
marca de um genial orador barroco e andarilho que fixou o tecido da minha
língua, movendo-se sob uma válvula achatada de um molusco bivalve marinho da
família Pectinidae a que ainda chamamos vieira.
Na verdade,
António, segundo o Ciberdúvidas, é “talvez o nome mais popular da antroponímia
portuguesa, permanece de origem obscura, se bem que alguns lhe encontrem
etimologia etrusca que deu em latim ‘antonius’, “inestimável”, ou etimologia
grega, ‘anthonomos’, o ‘que se alimenta de flores’.
É certo que
existia já em Roma, designando uma ‘gens’ famosa da qual o mais conhecido é
Marco António”, mas daí a admitir que um certo António de Santa Comba se
alimentava de flores, embora andasse sempre encostado a uma cerejeira que
floria no Patriarcado de Lisboa, vai uma distância enorme.
E isto sem ter
em conta a vila de Vieira de Leiria, onde em tempos me refugiei por uma semana,
quando a PIDE, ainda sem saber o meu nome, andava à minha procura, por motivos
que não são agora para aqui chamados.
Vale a pena
saber que a área desta freguesia é constituída por dois elementos geológicos e
que um deles, representado por uma cobertura de areias de praia e de areias e
dunas, ocupa toda a faixa litoral. Podem também ser incluídos neste conjunto
moderno os aluviões do Lis. Na margem sul deste rio, entre as dunas do litoral,
a faixa aluvial é muito estreita e os aluviões penetram numa depressão
interdunar situada junto à praia de Vieira.
Mas, se um
António pode ser padre e até jesuíta, como pôr em dúvida as suas profecias,
incluindo as mais estapafúrdias, como a do Quinto Império, coisa universal e
sob a égide de Portugal?
2023 12 25
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