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1953 - Asas
1963 - A Liturgia do Sangue
1964 - Tempo da Lenda das Amendoeiras
1965 - Adereços, Endereços
1968 - Insofrimento In Sofrimento
1970 - Fotos-grafias
1970 - Ary por Si Próprio
1973 - Resumo
1974 - Poesia Política
1975 - Lllanto para Alfonso Sastre y Todos
1975 - As Portas que Abril Abriu
1977 - Bandeira Comunista
1979 - Ary por Ary
1979 - O Sangue das Palavras
1980 - Ary 80
1983 - Vinte Anos de Poesia
1984 - As Palavras das Cantigas
1984 - Estrada da Luz
1984 - Rua da Saudade
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Não  posso deixar de aqui deixar algumas, de entre muitas, poesias que me  marcaram desde sempre.
 Os putos
Os putos. Uma  bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo
Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.
 Poeta Castrado, Não!
Poeta Castrado, Não!
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo
Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.
A cidade é um chão de palavras pisadas
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A  cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a  palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a  palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um  pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A  cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue  pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como  estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras  desertas
como jardins mandados arrancar.
A  palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma  rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não  há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de  uma luz que não há.
 Poeta Castrado, Não!
Poeta Castrado, Não!.
 
Serei  tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema  de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista  cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado  não!
Os que entendem como eu
as linhas com que  me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto  lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um  poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e  também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a  poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem  como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é  seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não  se fala
--- é tão vulgar que nos cansa ---
mas que  dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do  frio não reza a história
--- a morte é branda e letal ---
mas  que dizer da memória
de uma bomba de napal?
E o  resto que pode ser
o poema dia a dia?
--- Um  bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho  que vai nascer
parido por asfixia?!
--- Ah não me  venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo  o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau  profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta  televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta  castrado não!
Meu  amor, meu amor
. 
Meu amor meu amor
meu  corpo em movimento
minha voz à procura
do seu  próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a  escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e  nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor  meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha  nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós  parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar  devagar.
Cavalo à  solta
. 
Minha laranja amarga e doce
meu  poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada  e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve  breve
instante da loucura.
Minha ousadia
meu  galope
minha rédea
meu potro doido
minha  chama
minha réstia
de luz intensa
de voz  aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a  gente certa.
Em ti respiro
em ti eu provo
por  ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em  ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu  corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha  coragem de correr contra a ternura.
Por isso digo
canção  castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por  isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do  meu trigo.
Meu desafio
minha aventura
minha  coragem de correr contra a ternura.
.
 
 
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