Quando a ProPublica surgiu, houve quem duvidasse de que jornais como o New York Times ou o Wall Street Journal estivessem dispostos a publicar trabalhos de uma redacção externa on-line. É certo que trazia o lastro do melhor jornalismo de investigação norte-americano, mas o pioneirismo do modelo abria espaço a interrogações. Cedo se percebeu que este era um caso especial. A consagração chegou anteontem, quando o júri dos Pulitzer atribuiu o Prémio de Jornalismo de Investigação a um trabalho da ProPublica editado na The New York Times Magazine.
Um trabalhador da construção civil suspenso por um guindaste salva uma mulher do rio Des Moines: prémio fotografia Notícias de Última Hora (Mary Chind/The Des Moines Register/Reuters)
O artigo The Deadly Choices at Memorial, de Sheri Fink, publicado em Agosto do ano passado, revela como, devido ao furacão Katrina, face ao receio de subida das águas, sem geradores nem contacto com o exterior, alguns médicos exaustos de Nova Orleães tomaram decisões controversas: aplicar injecções letais a alguns doentes para os quais poderia não ser possível garantir uma transferência para outro local.
Foi a primeira vez que os Pulitzer distinguiram um trabalho produzido por um meio on-line, ainda que publicado na imprensa tradicional. Mas pode ser apenas a primeira de muitas. "É qualquer coisa que vamos ver mais vezes nos próximos anos, à medida que aumentar a colaboração entre entidades", admitiu Sig Gissler, administrador dos Prémios Pulitzer, citado pela Reuters.
A devastadora história sobre Nova Orleães é um exemplo daquilo para que a ProPublica foi criada: "Fazer luz sobre possíveis abusos de poder ou falhas na defesa do interesse público, para que se possa aprender com isso e encontrar soluções", escreveu o seu director, Paul Steiger, depois de revelada a distinção.
Neste caso o artigo "forneceu informação crucial para quem tem que desenhar estratégias para lidar com desastres médicos", disse. "As questões-chave são quem deve ser salvo em primeiro lugar e quem o decide", considera ainda Steiger, mentor e líder da ProPublica, que começou a divulgar os seus trabalhos em Junho de 2008. Steiger foidurante 15 anos, e até 2007, director executivo do Wall Street Journal, período durante o qual o jornal conseguiu 16 Pulitzer.
Outro trabalho da ProPublica - um artigo sobre falhas na supervisão de enfermeiros na Califórnia, de Tracy Weber e Charles Ornstein, publicado no Los Angeles Times - foi finalista na categoria Pulitzer de serviço público. Mas quem recebeu este que é o prémio principal dos galardões apadrinhados pela Columbia University foi o jornal Herald Courier, de Bristol, Virgínia, com um trabalho sobre o lado negro dos direitos de exploração de gás natural naquele estado.
Fazer face à crise
A aposta no "jornalismo original" é um traço de identidade da ProPublica, um projecto que pretende preservar a investigação como "essência" do jornalismo e que se reclama das "melhores tradições de serviço público do jornalismo americano". "Vivemos uma situação em que proliferam as fontes de opinião, mas as fontes dos factos nos quais essas opiniões se baseiam estão a diminuir", refere na sua "carta de princípios".
A distinção da ProPublica e de Sheri Fink - partilhada na categoria de Investigação com Barbara Laker e Wendy Ruderman, do Philadelphia Daily News, com um trabalho sobre narcotráfico por polícias -, é vista por Paul Steiger como um sinal de que o modelo "não lucrativo e não partidário" da sua redacção "pode dar uma contribuição significativa para as necessidades de informação do povo americano, numa era de explosivas mudanças nos jornais e nos outros media".
Com uma redacção de 32 jornalistas, escolhidos entre os mais de 400 que enviaram currículos, a ProPublica, com sede em Manhattan, aposta num "jornalismo informativo de interesse público". Os seus textos são oferecidos gratuitamente e em exclusivo ao meio que Steiger e os seus colaboradores consideram que dará mais projecção à história. E colocados na sua própria página Internet.
O modelo não lucrativo assenta no financiamento privado de dez milhões de dólares anuais que lhe é assegurado pela Fundação Sandler, dos milionários mecenas Herbert e Marion Sandler - que desde os anos 80 apoiam diferentes organizações, como a Human Rights Watch e a American Civil Liberties Union -, e em contribuições individuais.
Estas condições têm permitido manter uma redacção que dedica mais meios à investigação do que a maior parte dos grandes jornais onde, sobretudo em tempos de crise, o investimento em histórias próprias de fundo é cada mais raro.
Para Hélder Bastos, investigador da Universidade do Porto e um dos fundadores do Observatório de Ciberjornalismo, o reconhecimento do trabalho da ProPublica tem o "lado bom" de mostrar que "o jornalismo procura fazer face à crise com novas formas de negócio que consigam rentabilizar um jornalismo de qualidade, virado para a investigação". Mas "põe a nu as fragilidades da imprensa mainstream".
A vitória da Enquirer
A redacção de Paul Steiger acabou por dar uma ajuda ao New York Times no seu despique particular com o Washington Post, que desta vez amealhou o maior número de prémios. O Post, com quatro Pulitzer - Informação Internacional, Feature, Opinião e Crítica - ganhou quatro prémios, contra três do Times - Jornalismo de Investigação (com a ProPublica), Informação Nacional e Reportagem de Divulgação. O prémio de Notícias de Última Hora coube ao Seattle Times e três jornalistas do Dallas Morning News foram distinguidos com o Pulitzer de "excelência editorial".
Para além da novidade ProPublica, os sinais dos tempos fizeram-se também sentir no prémio de cartoon, atribuído pela primeira vez a um a suporte on-line: o site www.sfgate.com, do San Francisco Chronicle, foi distinguido pelas tiras cómicas animadas de Mark Fiore. Na Fotografia, o galardão de Notícias de Última Hora foi para uma repórter do Des Moines Register e o de Feature para um fotógrafo do Denver Post. O prémio para Informação Local coube a uma jornalista do Milwaukee Journal Sentinel.
Houve ainda, este ano, um vencedor não-oficial: a revista sensacionalista The National Enquirer, não ganhou qualquer galardão mas viveu o seu momento de glória. Foi aceite como concorrente aos prestigiados prémios com os seus trabalhos sobre um relacionamento extraconjugal do senador democrata e ex-candidato à Casa Branca John Edwards. Um caso ignorado pelos media tradicionais. "Ganhámos respeitabilidade", disse o director, Barry Levine, à Bloomberg TV.
Na literatura, que, tal como a música, é uma área também premiada pelos Pulitzer, os destaques foram para a Ficção, com Tinkers, livro do estreante Paul Harding, e História, com Lords of Finance, um trabalho de Liaquat Ahamed sobre o modo como quatro banqueiros enfrentaram a crise de 1929.
The Dead Hand: The Untold Story of the Cold War Arms Race and Its Dangerous Legacy, de David E. Hoffman, ganhou no campo da Não-Ficção. Na categoria Biografia foi distinguido The First Tycoon, de T. J. Stiles, que retrata o magnata Cornelius Vanderbilt
Foi a primeira vez que os Pulitzer distinguiram um trabalho produzido por um meio on-line, ainda que publicado na imprensa tradicional. Mas pode ser apenas a primeira de muitas. "É qualquer coisa que vamos ver mais vezes nos próximos anos, à medida que aumentar a colaboração entre entidades", admitiu Sig Gissler, administrador dos Prémios Pulitzer, citado pela Reuters.
A devastadora história sobre Nova Orleães é um exemplo daquilo para que a ProPublica foi criada: "Fazer luz sobre possíveis abusos de poder ou falhas na defesa do interesse público, para que se possa aprender com isso e encontrar soluções", escreveu o seu director, Paul Steiger, depois de revelada a distinção.
Neste caso o artigo "forneceu informação crucial para quem tem que desenhar estratégias para lidar com desastres médicos", disse. "As questões-chave são quem deve ser salvo em primeiro lugar e quem o decide", considera ainda Steiger, mentor e líder da ProPublica, que começou a divulgar os seus trabalhos em Junho de 2008. Steiger foidurante 15 anos, e até 2007, director executivo do Wall Street Journal, período durante o qual o jornal conseguiu 16 Pulitzer.
Outro trabalho da ProPublica - um artigo sobre falhas na supervisão de enfermeiros na Califórnia, de Tracy Weber e Charles Ornstein, publicado no Los Angeles Times - foi finalista na categoria Pulitzer de serviço público. Mas quem recebeu este que é o prémio principal dos galardões apadrinhados pela Columbia University foi o jornal Herald Courier, de Bristol, Virgínia, com um trabalho sobre o lado negro dos direitos de exploração de gás natural naquele estado.
Fazer face à crise
A aposta no "jornalismo original" é um traço de identidade da ProPublica, um projecto que pretende preservar a investigação como "essência" do jornalismo e que se reclama das "melhores tradições de serviço público do jornalismo americano". "Vivemos uma situação em que proliferam as fontes de opinião, mas as fontes dos factos nos quais essas opiniões se baseiam estão a diminuir", refere na sua "carta de princípios".
A distinção da ProPublica e de Sheri Fink - partilhada na categoria de Investigação com Barbara Laker e Wendy Ruderman, do Philadelphia Daily News, com um trabalho sobre narcotráfico por polícias -, é vista por Paul Steiger como um sinal de que o modelo "não lucrativo e não partidário" da sua redacção "pode dar uma contribuição significativa para as necessidades de informação do povo americano, numa era de explosivas mudanças nos jornais e nos outros media".
Com uma redacção de 32 jornalistas, escolhidos entre os mais de 400 que enviaram currículos, a ProPublica, com sede em Manhattan, aposta num "jornalismo informativo de interesse público". Os seus textos são oferecidos gratuitamente e em exclusivo ao meio que Steiger e os seus colaboradores consideram que dará mais projecção à história. E colocados na sua própria página Internet.
O modelo não lucrativo assenta no financiamento privado de dez milhões de dólares anuais que lhe é assegurado pela Fundação Sandler, dos milionários mecenas Herbert e Marion Sandler - que desde os anos 80 apoiam diferentes organizações, como a Human Rights Watch e a American Civil Liberties Union -, e em contribuições individuais.
Estas condições têm permitido manter uma redacção que dedica mais meios à investigação do que a maior parte dos grandes jornais onde, sobretudo em tempos de crise, o investimento em histórias próprias de fundo é cada mais raro.
Para Hélder Bastos, investigador da Universidade do Porto e um dos fundadores do Observatório de Ciberjornalismo, o reconhecimento do trabalho da ProPublica tem o "lado bom" de mostrar que "o jornalismo procura fazer face à crise com novas formas de negócio que consigam rentabilizar um jornalismo de qualidade, virado para a investigação". Mas "põe a nu as fragilidades da imprensa mainstream".
A vitória da Enquirer
A redacção de Paul Steiger acabou por dar uma ajuda ao New York Times no seu despique particular com o Washington Post, que desta vez amealhou o maior número de prémios. O Post, com quatro Pulitzer - Informação Internacional, Feature, Opinião e Crítica - ganhou quatro prémios, contra três do Times - Jornalismo de Investigação (com a ProPublica), Informação Nacional e Reportagem de Divulgação. O prémio de Notícias de Última Hora coube ao Seattle Times e três jornalistas do Dallas Morning News foram distinguidos com o Pulitzer de "excelência editorial".
Para além da novidade ProPublica, os sinais dos tempos fizeram-se também sentir no prémio de cartoon, atribuído pela primeira vez a um a suporte on-line: o site www.sfgate.com, do San Francisco Chronicle, foi distinguido pelas tiras cómicas animadas de Mark Fiore. Na Fotografia, o galardão de Notícias de Última Hora foi para uma repórter do Des Moines Register e o de Feature para um fotógrafo do Denver Post. O prémio para Informação Local coube a uma jornalista do Milwaukee Journal Sentinel.
Houve ainda, este ano, um vencedor não-oficial: a revista sensacionalista The National Enquirer, não ganhou qualquer galardão mas viveu o seu momento de glória. Foi aceite como concorrente aos prestigiados prémios com os seus trabalhos sobre um relacionamento extraconjugal do senador democrata e ex-candidato à Casa Branca John Edwards. Um caso ignorado pelos media tradicionais. "Ganhámos respeitabilidade", disse o director, Barry Levine, à Bloomberg TV.
Na literatura, que, tal como a música, é uma área também premiada pelos Pulitzer, os destaques foram para a Ficção, com Tinkers, livro do estreante Paul Harding, e História, com Lords of Finance, um trabalho de Liaquat Ahamed sobre o modo como quatro banqueiros enfrentaram a crise de 1929.
The Dead Hand: The Untold Story of the Cold War Arms Race and Its Dangerous Legacy, de David E. Hoffman, ganhou no campo da Não-Ficção. Na categoria Biografia foi distinguido The First Tycoon, de T. J. Stiles, que retrata o magnata Cornelius Vanderbilt
.
.
Prémio Pulitzer
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Prêmio Pulitzer é um prêmio estadunidense outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e música. É administrado pela Universidade de Colúmbia em Nova Iorque. Foi criado em 1917 por desejo de Joseph Pulitzer que, na altura da sua morte, deixou dinheiro à Universidade de Colúmbia. Parte do dinheiro foi usada para começar o curso de jornalismo na universidade em 1912.
.
O primeiro Prêmio Pulitzer foi dado em 4 de Junho de 1917, e é anunciado sempre em abril. Os indicados são escolhidos por uma banca independente.
.
Os prêmios são anuais e divididos em 21 categorias. Em vinte delas, os ganhadores recebem um prêmio de dez mil dólares em dinheiro e um certificado. O vencedor na categoria Serviço Publico de Jornalismo ganha uma medalha de ouro; o prêmio de Serviço Público é sempre dado a um jornal, não a um indivíduo, mesmo que um indivíduo seja citado.
.
Apenas matérias e fotografias publicadas por jornais nos Estados Unidos são eligíveis pelo prêmio de jornalismo.
.
Categorias do Prêmio Pulitzer nas definições de 2006, na ordem que foram anunciados:
- Serviço Público
- Furo de reportagem
- Reportagem investigativa
- Reportagem explicativa
- Reportagem de denúncia
- Reportagem nacional
- Reportagem internacional
- Reportagem especial
- Comentário
- Crítica
- Editorial
- Projeto editorial
- Furo de reportagem Fotográfica
- Fotografia
- Ficção
- Drama
- História
- Poesia
- Ensaio
- Música
- Homenagens
O Prêmio Pulitzer e a cultura popular
- No jogo de aventura da LucasArts Zak McKracken e os Alien Mindbenders (1988), um jornalista chamado Zack McCracken tenta ganhar o Prêmio Pulitzer.
- Na telenovela da emissora ABC All My Children o personagem Edmund Grey (John Callahan) era um jornalista que ganhou o Prêmio Pulitzer.
- Homer Simpson ganhou o Pulitzer por publicar uma fofoca na internet em The Computer Wore Menace Shoes, um episódio de The Simpsons.A fofoca era sobre um desvio de verba que o prefeito fez para construir uma piscina gigante.
- Nos quadrinhos, Clark Kent, Lois Lane, e Perry White foram descritos como vencedores do Prêmio Pulitzer.
- No filme Superman Returns, Lois Lane ganhou o prêmio por um artigo intitulado "Por que o mundo não precisa do Superman" e também no filme Superman II de 1980, Lois Lane sonha com este premio ao escalar a Torre Eifell em Paris, para cobrir um atentado terrorista que acaba sendo salva por Superman.
- No seriado de televisão The West Wing, o repórter Danny Concannon é um vencedor do Prêmio Pulitzer.
- No filme Encontrando Forrester, Sean Connery é William Forrester, um escritor que ganhou o Prêmio Pulitzer.
- O filme As Horas, dirigido por Stephen Daldry, foi baseado no livro homônimo de Michael Cunningham, que recebeu o prêmio Pulitzer de 1999.
Sem comentários:
Enviar um comentário