segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sophia no Modus Vivendi



Deriva - Sophia de Mello Breyner
Navegações VII, p. 65
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Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nús bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
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Só do Preste João não vi sinais
As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri
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Sophia de Mello Breyner Andresen
(poema oferecido por N.M.)

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Iluminura do Wappenbuch de Conrad Grünenberg (Constance, 1480). München, Bayerische
Staatsbibliothek, Cgm, 145, p. 53). 

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(Preste João)
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