quinta-feira, 29 de abril de 2010

Arte e Poesia em Modus Vivendi

os nomes que damos às coisas

Vivemos sobre a terra. Apresento-te
a nossa casa, os nomes que damos às coisas,
as honras que nos são destinadas,
este corpo de sangue e nervos.
Sobre ele que julgamos vivo
dizes minha razão. A da vida
e a de outras coisas que se percebem.
Os barcos retomam lentos o seu lugar
em volta de um coração marinho.
Como se morre aqui?
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João Miguel Fernandes Jorge
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22 de abril de 2010

Jean-Frederic Schall

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Marie-Madeleine Guimard, bailarina da Ópera de Paris no século XVIII
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Diz

Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.
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Eugénio de Andrade
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21 de abril de 2010

Ivan Rabuzin

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Terra

Onde ficava o mundo?
Só pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e há poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia julgar.
Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava outro povo.
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio.
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Fernando Namora
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20 de abril de 2010

Al-Gharb

A minha amada é aprazível a meus olhos
como o trigo maduro ondeando em seara.
Fios de prata enfeitam-lhe os cabelos,
como a neve branca enfeita o distante cimo.
O tempo que passou marcou-lhe a pele,
como o arado ao campo fértil,
mas o seu corpo é deleitável
como as mais finas vestes,
e a sua voz é água cantante,
na fonte à sombra do jardim.
Por entre os vinhedos de Silves
persigo a corça fremente,
e suave é o abandono da presa
nas mãos do caçador.
Ela me deu crianças trigueiras
como a terra do Al-Gharb,
cujo riso enche de alegria
o coração de quem ouve!
Tão longe estão as cidades de Deus
e Ele tão perto do meu coração!
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Muhammed El-Magrebi
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