sábado, 24 de maio de 2008

25 de Abril - «olhares» - «entrevistas» - «verdades» (18)


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* Fotos de Victor Nogueira (Évora)
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30 anos do 25 de Abril
Criado segunda-feira, 12 de Abril de 2004
Última actualização terça-feira, 27 de Abril de 2004

Tiago Petinga/Lusa
Lino de Carvalho tem acompanhado as questões da política agrícola no Parlamento, onde é deputado e vice-presidente

Livro "Reforma Agrária da utopia à realidade"
Lino de Carvalho conta história da Reforma Agrária
Por São José Almeida
12.04.2004
Público
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Trinta anos depois do 25 de Abril, Lino de Carvalho decidiu fazer o registo sistematizado da Reforma Agrária e dar-lhe o título de "Reforma Agrária Da Utopia à Realidade", volume editado pela Campo de Letras, na colecção Campo da História, que amanhã é formalmente lançado na Livraria Parlamentar, na Assembleia da República, depois de um primeiro lançamento no passado dia 5, em Évora, cidade pela qual é eleito deputado à Assembleia da República desde 1987.

Vice-presidente da Assembleia da República, enquanto deputado pelo PCP - de que é militante desde de 1969 e cujo Comité Central integra desde Dezembro de 1988 -, Lino de Carvalho tem, nos últimos 17 anos, dedicado-se às questões relacionadas com a agricultura e as políticas e estratégias agrícolas ou ausência delas em Portugal. A sua mais recente área de intervenção parlamentar, no capítulo agrícola, foi precisamente a defesa de políticas de incentivo à exploração agrícola do perímetro de rega da Barragem do Alqueva, sendo o responsável pelo projecto de lei do PCP que procurou instituir um "banco de terras" estatal para arrendamento e um limite máximo de extensão da propriedade na zona.
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Tendo como imagem de capa um pormenor de óleo de Rogério Ribeiro, "Unidade Colectiva de Produção", o livro inclui também uma recolha interessante de espólio documental de cartazes, folhetos de propaganda e fotografias da época relacionadas com a Reforma Agrária.
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No prefácio, Fernando Oliveira Baptista sustenta que este livro "revela uma preocupação e um percurso inconformados com a paralisia a que a grande propriedade conduziu o Alentejo" um diagnóstico que, segundo o mesmo professor, se identifica, "nas suas grandes linhas, com o traçado há sete décadas por Mário de Castro, um autor hoje esquecido, mas de quem Lino de Carvalho quis recuperar o testemunho em defesa da Reforma Agrária". Oliveira Baptista salienta mesmo que o facto de Lino de Carvalho referenciar Mário de Castro demonstra a "forma abrangente e consensual como Lino de Carvalho conduz a argumentação e retira conclusões".
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O espírito de abertura com que o deputado comunista, Lino de Carvalho, fez este livro é salientado ainda por Fernando Oliveira Baptista quando afirma: "A profunda discordância com Lopes Cardoso, ministro da Agricultura no VI Governo Provisório e parte do I Governo Constitucional, não o levaram, com justiça, a omitir que 'este sempre assumiu a necessidade da Reforma Agrária e não hesitou em afirmar que esta configurava uma das grandes conquistas alcançadas pelas massas trabalhadoras após o 25 de Abril de 1974'."
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A estrutura do livro parte das "Razões para uma Reforma Agrária", em que Lino de Carvalho começa a fazer o historial da Questão Agrícola e da luta pela reestruturação agrária e agrícola do Alentejo. Depois passa a apresentar o processo da ocupação-colectivização dos latifúndios alentejanos para se dedicar, de seguida, ao que chama de "Contra-Reforma Agrária". Isto sem deixar de abordar os "níveis produtivos e as preocupações sociais da Reforma Agrária". Por fim, Lino de Carvalho dedica um capítulo à questão: "Há lugar para uma nova Reforma Agrária?".
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Com a autoridade de ter estado ligado ao processo da Reforma Agrária - foi membro fundador dos secretariados das Unidades Colectivas de Produção/Cooperativas Agrícolas e vice-presidente da Federação nacional de Cooperativas de Produção e ter estado ligado à organização das 12 Conferências da Reforma Agrária - Lino de Carvalho dá assim o seu contributo para a historiografia da revolução do 25 de Abril e do Portugal do século XX.
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Mas não deixa de advertir: "Não é pois uma obra académica ou o resultado de uma aturada investigação, que continua por fazer, a partir do imenso espólio documental existente e da memória viva daqueles que protagonizaram o processo da Reforma Agrária e a sua liquidação. É tão-somente o produto da minha memória, do meu próprio arquivo e das minhas reflexões. Seguramente incompleto." Mas com certeza incontornável para quem quiser fazer a história da Reforma Agrária.

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