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Augusto Buonicore*
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A"Meu conselho é que esqueçam de maio de 68. Por quê? Porque acabou! Foi extraordinário, formidável, mudou nossas vidas, mudamos a vida. Mas não vamos voltar ao tema eternamente". Daniel Cohn-Bendit, 40 anos depois.
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Neste mês em que comemoramos os 40 anos das grandes mobilizações operário-estudantis que abalaram a França e o mundo, a palavra de ordem que mais se houve é “esqueçam 1968!”. Por sinal este é o título do último livro do ex-l’enfant terrible da esquerda ortodoxa, outrora vermelho e hoje verde, Daniel Cohn-Bendit. O presidente direitista Sarkozy, por sua vez, chegou afirmar que sua eleição representava o último prego no caixão de Maio de 1968. Então duas questões nos assaltam: O que foi o Maio de 1968? Será que ele ainda tem algo a nos ensinar nos dias de hoje?
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Não podemos julgar um movimento daquela envergadura apenas tendo por referência o imaginário construído pelas lideranças estudantis e intelectuais a elas vinculados, como Sartre, Morin, Castoriadis e Marcuse. Estes tendiam ver a juventude universitária como a vanguarda revolucionária da sociedade, em substituição ao proletariado cada vez mais integrado ao sistema capitalista. Consideraram o movimento em curso naquele momento apenas a realização prática da liberdade, negação de toda e qualquer tipo de autoridade. Castoriadis chegou mesmo a afirmar que o Maio de 1968 “abriu um novo período na História Universal”.
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Eram teses, em geral, elaboradas no calor da hora. Faltava aos seus portadores o distanciamento crítico necessário para uma análise mais profunda – fruto mesmo de suas propensões ideológicas. Confundiram as aparências (das palavras de ordem libertárias) com o conteúdo de classe real daquele movimento
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Por outro lado, não devemos julgar aquele movimento pelo que veio acontecer com a sociedade francesa e alguns de seus principais personagens, como Cohn-Bendit, Geismar, Roland Castro etc. Alguns teóricos, a partir de uma avaliação unilateral pós-fato, afirmaram que aquilo nada mais foi que uma ação necessária para que se abrisse o caminho à renovação do capitalismo – ou mesmo para que se criassem as condições para a hegemonia do neoliberalismo.
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Quem melhor expressaria esta idéia seria Regis Debray. Abandonando o esquerdismo – e as teses foquistas das quais foi o principal formulador – ele escreveu “Modesta contribuição às cerimônias oficiais do décimo aniversário”. Neste texto provocativo afirmou que o Maio de 1968 foi o “berço da nova sociedade burguesa”. Da mesma forma que a “república burguesa tinha festejado, na tomada da bastilha, seu nascimento, ela festejará o início de seu renascimento na tomada da palavra em 1968”. Debray afirmou existir uma “harmonia natural (...) entre as rebeliões individualistas de Maio e as necessidades políticas, econômicas e sociais do grande capitalismo liberal”. Continuou ele: “A comunhão dos egos sobre as barricadas tornou-se o egocentrismo generalizado, o sacrifício de si, o culto do eu ..., a exaltação das liberdades, a confirmação das desigualdades”. Ou seja, o movimento contestatório de 1968 produziu algo bastante diferente do que anunciara nas barricadas, numa espécie de “astúcia da razão” hegeliana – ou, mais precisamente, numa “astúcia do capital”.
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Existe ainda uma outra versão dessa mesma tese, só que defendida pela direita francesa. Segundo Sarkozy: “Os herdeiros de Maio de 68 impuseram uma idéia de que não havia nenhuma diferença entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira (...) que o aluno era igual ao professor (...) A herança de maio introduziu o cinismo na sociedade e na política” Ela havia “debilitado a ética do capitalismo e preparou o terreno para o capitalismo sem escrúpulos”.
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O destino de algumas das principais lideranças estudantis de 1968 parecia confirmar estas teses. Muitos transitaram de posições esquerdistas para o reformismo social-democrático ou mesmo para o liberalismo tout court. Cohn-Bendit, por exemplo, passou do anarquismo para posições favoráveis a guerra contra a Sérvia. Isso, no entanto, não depõe contra o Maio de 1968, apenas demonstra os limites políticos e ideológicos de sua direção.
O retrocesso no nível de consciência – que leva à capitulação diante da ideologia dominante e a integração à ordem – é um fenômeno típico dos períodos de recuo revolucionário. Isso aconteceu após a derrota da Comuna de Paris (1871) e da primeira revolução russa (1905). Muitos intelectuais revolucionários pequeno-burgueses abandonaram as alternativas coletivas e optaram por saídas individuais. Portanto, o que ocorreu na França e em outros países capitalistas, depois da derrota de 1968, não foi uma completa novidade histórica.
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Volto à questão inicial: o que foi o 1968 parisiense? Acredito que ele não chegou a se constituir propriamente numa revolução, como advogam os trotskistas, mas foi bem mais do que um simples protesto de estudantes “enfurecidos”, como afirmaram alguns de seus críticos. A junção de uma série de fatores, objetivos e subjetivos, criaram os germes de uma crise revolucionária que acabou não sendo aproveitada. Crise revolucionária ainda não é revolução.
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A França não atravessava uma crise econômica de graves proporções, vivia em meio aos “30 anos gloriosos” do capitalismo europeu. Isso não significava que os operários tivessem colhido todos os frutos desse desenvolvimento. Naqueles anos, pelo contrário, já começava a sentir uma relativa queda nos níveis salariais e do emprego, além do aumento do ritmo do trabalho. Nada que não tenha ocorrido em outras ocasiões. Assim, as teses economicistas estavam desarmadas para entender aquele acontecimento que abalou a sociedade francesa.
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Poucos anos antes, o país havia perdido suas colônias na África e Ásia. Foi derrotada pelos vietnamitas na famosa batalha de Dien Bien Phu (1954) e obrigada a dar independência para Argélia, depois de uma longa e sangrenta guerra colonial (1962). Por isso, naquele início de 1968, um fato ocorrido num lugar distante teve ali grande repercussão. Em fevereiro as tropas norte-vietnamita, sob o comando de Ho Chi-Minh, realizaram uma grande ofensiva político-militar contra as forças pró-imperialista do sul. Chegaram mesmo a invadir a embaixada dos Estados Unidos em Saigon. A solidariedade internacional ao povo vietnamita e a luta contra a intervenção estadunidense no conflito asiático atingiram um novo patamar.
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A contestação estudantil na França teve como um dos seus estopins a repressão que atingiu uma manifestação contra a guerra do Vietnã. Alguns jovens atacaram o escritório da American Express e um deles acabou sendo preso. No dia 22 de Março os estudantes ocuparam a reitoria da Universidade de Nanterre, periferia de Paris, e ocorreram choques com grupos de extrema-direita. O reitor solicitou a intervenção da polícia, que invadiu a escola. Nova intervenção policial ocorreria em 2 de maio.
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A partir desse momento começaram as mobilizações de solidariedade na tradicional Universidade de Sorbonne. Novos conflitos com os direitistas ocorreram e a própria sede da União Nacional dos Estudantes Franceses (UNEF) sofreu um atentado. O reitor tomou a infeliz decisão de, também, convocar a polícia. No dia 3 a universidade foi invadida e fechada. Sorbonne. Sua ocupação pela polícia foi como um ato de sacrilégio para a intelectualidade e os setores médios da sociedade. Estava dada a largada para o maio quente francês.
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No dia seguinte os estudantes tomaram o Bairro Latino, onde se encontrava a universidade, e foram duramente reprimidos. O movimento se alastrou e os confrontos de rua se multiplicaram. Alguns dos líderes foram presos e condenados há vários meses de prisão. Cohn-Bendit, emigrado alemão e um dos líderes estudantis, foi ameaçado de ser expulso da França. Surgia uma nova palavra de ordem: “Somos todos judeus alemães!”. Graças à crise vivida pelo Partido Comunista, nas universidades fervilhavam grupos de extrema-esquerda: anarquistas, trotskistas, maoístas etc.
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No dia 6 cerca de cinqüenta mil estudantes marcharam sob o Arco do Triunfo. Ocorreram novos confrontos. A repressão usava cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo e os jovens respondiam com as pedras retiradas do calçamento. Estas se tornariam um dos símbolos daquele movimento.
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O auge do enfrentamento ocorreu em 10 de maio, no que ficou conhecido como “a noite das barricadas”. Uma nova manifestação marchou por Paris e passou diante da prisão onde ainda se encontravam os líderes estudantis presos. Logo após, os participantes resolveram, numa proposta insólita, tomar o Bairro Latino e cercar à polícia que ainda se encontrava alojada na Sorbonne. Ergueram-se barricadas – o slogan era “Vamos cercar a polícia!”. Na calada da noite o governo decidiu desocupar as barricadas e começou a luta de rua. Nos choques que se seguiram, dezenas de pessoas ficaram feridas.
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As imagens da violência policial indignaram os parisienses e aumentou a solidariedade popular aos estudantes. Ao contrário do que se podia imaginar, naqueles dias conturbados, o movimento estudantil gozou de simpatia da maioria da população da capital. Hobsbawn falou em 61% de pessoas favoráveis ao movimento e apenas 16% que lhe eram claramente hostis.
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Em resposta a violência policial, os estudantes rebelados ocuparam as demais universidades. As centrais sindicais, atendendo ao pedido de apoio, convocaram uma greve geral para o dia 13 de maio. Nesta data cerca de um milhão de pessoas marcharam pelas ruas de Paris. Lado a lado, mas não muito confortáveis, estavam os dirigentes do movimento estudantil, das centrais sindicais e do Partido Comunista. O conflito subitamente mudou de qualidade. Escreveu Hobsbawn, “somente esta segunda fase criou possibilidades revolucionárias”.
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A greve geral foi planejada para durar apenas de 24 horas, mas ela desencadeou uma reação em cadeia, provando que o descontentamento dos operários era tão grande quanto o dos estudantes. Greves espontâneas começaram a pipocar até se transformarem numa outra greve geral por tempo indeterminado. Um dos pontos de partida foi a paralisação da fábrica Sud-Aviation em Nantes, ocorrida em 14 de maio.
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No dia seguinte foi a vez da Renault em Cleon paralisar seus trabalhos. O exemplo foi seguido pelas demais empresas, inclusive a Renault de Billancourt – a maior fábrica do país com os seus mais de 35 mil trabalhadores. O método era o mesmo: paralisação, ocupação da fábrica e “seqüestro” da direção da empresa. As bandeiras vermelhas tremularam nos portões de algumas empresas.
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O número de trabalhadores em greve cresceu de maneira geométrica. No total, cerca de 10 milhões de trabalhadores se envolveram no movimento paredista que durou mais de duas semanas e atingiu seu ápice entre os dias 22 e 23 de maio. Era, segundo alguns historiadores, a maior greve geral que se teve notícia na história do capitalismo até então. Esse é um lado pouco conhecido do Maio parisiense. Esquecimento necessário para a construção do mito sobre a passividade operária.
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A gigantesca greve operário-estudantil, que ganhou amplo apoio dos setores médios urbanos, levou a uma semi-paralisia do regime do general De Gaulle. Criando uma das mais graves crises políticas desde o fim da II Guerra Mundial. Desenhava-se no horizonte uma crise revolucionária e o velho general, enfraquecido, tentava manobrar em meio à turbulência que ameaçava devorá-lo.
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No dia 24 de maio, o presidente anunciou que o governo realizaria algumas reformas educacionais e prometeu um aumento salarial para os trabalhadores. Imediatamente os representantes governamentais e patronais começaram a negociar com as centrais sindicais uma pauta de reivindicação. Os resultados dessas conversações seriam os chamados “acordos de Grenelle”, numa referência à rua onde se localizava o Ministério do Trabalho, lugar da negociação.
Nos acordos eram estabelecidos: aumento de salário de 10%, redução gradual da jornada de trabalho, reconhecimento dos sindicatos dentro das fábricas etc. No entanto, uma das principais reivindicações do movimento grevista que era a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais não foi conseguida. Ela já havia sido conquistada na greve geral de 1936, durante o governo da Frente Popular, e depois foi retirada pelos governos conservadores que se seguiram. Os operários tinham a esperança de poder reconquistá-la através da sua greve.
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Os patrões concordaram apenas com a redução em duas horas – até 1970 – das jornadas acima de 48 horas e de uma hora para as jornadas de 45 e 48 horas. Durante as negociações o líder sindical comunista Krasucki afirmou: “é preciso ter por objetivo o retorno às 40 horas, sem fixar uma data, com um regulamento contratual por indústria”.
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Levando em conta a situação da indústria francesa, o tamanho da greve e a gravidade da crise política, as conquistas foram relativamente pequenas. Por esse motivo, os acordos foram amplamente rejeitados nas assembléias operárias e, inclusive, o número de grevistas chegou a aumentar. Criava-se assim uma crise de representação.
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Para o historiador comunista inglês, “os operários foram mais avançados que seus dirigentes” ao levantar questões que iam para além do simples aumento de salários, como o “controle social da indústria”. Continuou ele: “Se o PC tivesse reconhecido a existência e o alcance do movimento popular e agido adequadamente, teria adquirido suficiente impulso para forças seus aliados indecisos de esquerda tradicional a seguir a sua linha” e concluiu categórico: “os que perdem a iniciativa perdem o jogo”. Séguy, secretário-geral da CGT, no auge do movimento, afirmou: “Os dez milhões de operários em greve não reivindicam o poder para a classe operária e sim melhores condições de vida e de trabalho, e a imensa maioria deles expressou sua adesão à democracia com a palavra de ordem: governo popular.”
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Aproveitando-se dos impasses vividos pelo movimento, De Gaulle ensaiou uma ofensiva. Em 29 de maio viajou até às bases militares francesas na Alemanha Ocidental para obter o apoio do general Massu, conhecido carrasco do povo argelino. Voltou ao país e fez um duro pronunciamento público contra o perigo representado pelos comunistas, anunciou a dissolução da assembléia nacional e a convocação de novas eleições. No mesmo dia uma manifestação de cerca de 1 milhão pessoas, a chamada “maioria silenciosa”, marchou em apoio ao presidente e contra a greve geral. Em 13 de junho, dentro dessa ofensiva conservadora, foram proibidas as organizações políticas de extrema-esquerda (anarquistas, trotskistas e maoístas).
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O PCF e o Partido Socialista se uniram para defender o fim das greves para poderem preparar melhor as eleições, que acreditavam poder vencer. As direções sindicais realizaram acordos setoriais. A partir de então o movimento estudantil refluiu e as greves, que ainda resistiam, foram sendo aniquiladas pela repressão patronal. A Renault de Billancourt voltaria ao trabalho em 17 de junho. Poucas greves resistiriam até o final daquele mês.
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O resultado desse processo foi que, traindo todas as expectativas, a direita venceu amplamente os dois turnos das eleições parlamentares, que se realizaram nos dias 23 e 30 de junho. Os partidários de De Gaulle aumentaram sua bancada de 358 para 487 cadeiras. Um fato inédito.
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Hobsbawn escreveu criticamente: “A prova de fogo de um movimento revolucionário não é sua disposição para erguer barricadas em qualquer oportunidade, mas sua presteza em reconhecer quando as condições normais da rotina política deixam de funcionar e em adaptar seu comportamento a nova situação.” Aquela organização que deveria ser a vanguarda “manteve-se por detrás das massas sendo incapaz de reconhecer a seriedade dos movimentos estudantis até que as barricadas foram erguidas, de reconhecer a disposição dos operários para uma greve geral indefinida até que as ocupações espontâneas forçaram a mão de seus líderes sindicais, apanhados de surpresa uma vez mais, quando os operários rejeitaram os termos do acordo para por fim a greve”.
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As esquerdas não conseguiram estabelecer uma tática que permitisse romper o impasse criado. Enquanto o PCF jogava todas as suas cartas na preparação das eleições parlamentares, a palavra de ordem esquerdista era “eleição é traição”. Uns apostavam tudo na espontaneidade (despolitizada) do movimento e outros nas eleições, que poderiam trazer uma vitória da esquerda. Desse desencontro histórico foi se construindo a vitória político-eleitoral de De Gaulle e dos porta-vozes da ordem.
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Apesar do caráter utópico do projeto esboçado por parte importante das lideranças estudantis e intelectuais, o Maio de 1968 não foi a realização, ainda que fugaz, da utopia anárquico-comunista. Ele, pelo contrário, foi à expressão de uma luta de classes que atingiu um patamar bastante elevado, pondo em xeque a estabilidade do regime e em polvorosa a burguesia e seus representantes. A greve geral operária deu ao movimento uma radicalidade qualitativamente maior que as palavras de ordem pichadas nos muros de Paris. Neste sentido podemos dizer que, ao contrário do que pensam muitos de seus interpretes, o Maio de 1968 foi o reverso da utopia.
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Imagens de 1968
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http://www.topfoto.co.uk/gallery/paris1968/ppages/ppage1.html
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Documentário (em francês) sobre o movimento de maio de 1968:
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http://www.youtube.com/watch?v=BcDCsCGdOm4&feature=related
Cenas da luta de barricadas de 10 de maio:
http://www.youtube.com/watch?v=aFUUZFM1ORk&feature=related
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Algumas cenas da greve geral que abalou a França:
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.http://www.youtube.com/watch?v=rWkcVt5GY-I&feature=related
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Bibliografia
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Ali, Tariq – “Mayo del 68. Adónde ha ido a parar toda la rabia?” in Rebelión, 31/03/2008
Cohn-Bendit, Daniel – O grande bazar, Ed. Brasiliense, 1988.
Duclos, Jacques – Anarquistas de ontem e de hoje, Ed. Sociais, 1974
Ferry, Luc e Renaut, Alain – Pensamento 68, ed. Ensaio, 1988.
Matos, Olgaria C. F. – Paris 1968: As barricada do desejo, Ed. Brasiliense, 1981
Mandel, Ernest – Da Comuna a Maio de 68, Ed. Antídoto, 1979
Hobsbawn, Eric – “Maio de 1968” in Revolucionários, Ed. Paz e Terra, 1985
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*Augusto Buonicore, Historiador, mestre em ciência política pela Unicamp
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