sábado, 24 de maio de 2008

25 de Abril - «olhares» - «entrevistas» - «verdades» (24)





3º Congresso da Oposição Democrática


30 anos do 25 de Abril
Criado segunda-feira, 12 de Abril de 2004
Última actualização terça-feira, 27 de Abril de 2004


30 anos do 25 de Abril
O inqualificável acto contra Dias Amado
Por António Melo
13.04.2004
Público
O Prof. Dias Amado, um dos mais qualificados médicos-analistas portugueses foi afastado compulsivamente da Faculdade de Medicina de Lisboa em Junho de 1947, numa das periódicas purgas que o regime de Salazar costumava fazer nas Universidades para punir os oposicionistas e advertir os recalcitrantes.

Em Novembro de 1963, no regresso de uma viagem ao México, foi detido pela PIDE, acusado de ligação às Juntas de Acção Patriótica, organização da órbita do PCP, acusação que nem a PIDE conseguiu sustentar em tribunal, dada a conhecida proximidade de Dias Amado à Acção Socialista, de que foi um dos fundadores, em 1942.
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Foi, provavelmente, uma represália pela sua saída do país e dos contactos tidos numa área da América Latina onde, em 1961, Henrique Galvão sequestrara o paquete Santa Maria. O "Times" noticiou a sua prisão, apresentando-o como grão-mestre da maçonaria, o que veio acirrar a animosidade de Salazar contra ele.
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Levado a julgamento em Outubro de 1964, foi absolvido, quase um ano após ter sido detido.
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Tinha 62 anos e atravessava uma fase de graves problemas de saúde, de que se andava a tratar com Monteiro Baptista, médico amigo. Não seriam de extrema gravidade, pois viveu até aos 90 anos, mas provocavam-lhe frequentes estados infecciosos.
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Foi o que ocorreu durante a permanência dos primeiros seis meses no Aljube. Em Agosto, numa das visitas, queixou-se ao genro, o médico analista Sérgio Carvalhão Duarte, de padecimento de um abcesso, que lhe provocava febre.
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Separado por duas redes e um corredor de vigilância, era impossível observá-lo clinicamente, mas o facto dele se queixar alarmou o genro, que de imediato se dirigiu ao guarda, inquirindo: "Quem é o médico daqui?". Não obteve qualquer resposta, mas ao sair da visita deu conta de um antigo colega que vinha de lá de dentro e atirou-lhe de rompante: "És tu o médico disto?". Que teve resposta imediata: "Não, mas vem aqui atrás."
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O médico responsável era Gama Barata, por sinal uma pessoa bem conhecida da Praia das Maçãs, onde ambos passavam férias estivais, com consultório em Lisboa.
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Por isso, foi com um descontraído "Ó sr. doutor!" que se lhe dirigiu. A resposta veio agreste: "Não o conheço", o que deixou atordoado Carvalhão Duarte, que mudou de registo e foi de imediato ao assunto: "Diga-me como está o meu sogro?". Incomodado e acelerando a passada deixou cair uma graçola digna de registo: "Tudo o que lhe posso dizer é que o seu sogro não está em casa."
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Através de um amigo, pôde saber que outro médico da PIDE era Carlos Magalhães, que fazia parte da equipa do Ramón la Féria, no então Sanatório do Lumiar, actualmente Hospital Pulido Valente.
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Ramón la Féria duvidou de início que Carlos Magalhães "pudesse trabalhar para a PIDE", mas logo que o confirmou, pressionou o seu assistente a tratar convenientemente o Prof. Dias Amado, que ainda fora professor de ambos no primeiro ano do curso.
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O que este fez, aproveitando, ao que disse, um dia em que estava de serviço e Gama Barata de licença.

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