sexta-feira, 16 de maio de 2008

A EMIGRAÇÃO ITALIANA



POR QUE OS COLONOS ITALIANOS FUGIRAM PARA O BRASIL E OUTROS PAÍSES
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A Itália, em 1887, passava por grandes dificuldades; teve que vender tudo o que era possível vender: terras do Estado, bens eclesiásticos, linhas férreas, a Régia dos Tabacos. E
sobrecarregou o povo com taxas desumanas. Havia falta de escolas, de estradas, de hospitais, de água tratada e de saneamento básico.

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A malária matava 40.000 pessoas por ano; a pelagra, 100.000. Entre 1884 e 87 o cólera tinha matado 55.000 pessoas. As estatísticas falam em 400.000 mortes por ano.

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Metade eram crianças com menos de cinco anos, porque a comida era escassa, a higiene quase nula e a consulta médica a um preço proibitivo.

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Dos 3.672 trabalhadores nas minas sicilianas de enxofre, só 203 foram declarados sãos e aptos para o serviço militar.

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O resto era tudo doente.

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Dos 30.000.000 de habitantes, 21.000.000 eram colonos. O arado era ainda aquele de prego, o mesmo usado por Cincinato,
2.000 anos antes. Entretanto, a Inglaterra, a França e a Alemanha já haviam ingressado na era industrial. A Itália parecia um País de miseráveis analfabetos. Só o Piemonte e a planície do Pó demonstravam um pouco de progresso agrícola.

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Não havia dinheiro para comprar remédios e as roupas se enchiam de remendos superpostos; os doentes eram colocados em mangedoura por falta de leitos hospitalares, e o porco vivia dentro de casa como um da família. A venda de crianças como mercadoria era um costume muito difundido, tanto no Sul como no Norte da Itália.

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Centenas de milhares de italianos viviam ainda em grutas ou cabanas de pau a pique e barro, sem janelas, ou em escavações feitas na rocha. Segundo dados de 1879, aí viviam na média 10 pessoas por vão.

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No Norte, os colonos comiam carne somente uma vez por mês; no Sul, uma vez por ano. No Norte, comiam exclusivamente milho, porque era mais barato e alimentava mais. Os trabalhadores braçais comiam quase só pão preto de cevada, feito somente duas ou três vezes por ano. E sobre esse pedaço de pão, escasso e duro como uma pedra, foi imposta uma taxa, que causou revoltas sangrentas na Sicília e ao longo do Pó.
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Em 1861, somente 600.000 podiam votar: eram aqueles que tinham um patrimônio ou uma renda. Eram os "Signori". E só os abastados podiam ser votados. Portanto, o povo comum não tinha representantes no Congresso. Os colonos não tinham propriedades; viviam do trabalho escravo.
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As massas populares não eram consideradas povo. Quando se falava em "povo", entendia-se a burguesia: os funcionários, os comerciantes, os advogados, os médicos, etc. Os outros (e eram os quatro quintos) não contavam nada. Os cargos políticos eram impostos pelo Rei.
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Com essa situação, com as autoridades insensíveis às necessidades das massas populares, começaram os primeiros movimentos emigratórios. Os colonos fugiam de um País ingrato, que nunca foi sua verdadeira Pátria.

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Só então foi concedido a todos os italianos o direito de votar, mesmo àqueles que já tivessem emigrado para outros países. E entre os que ficaram, afinal o Governo começou a erradicar o analfabetismo. E para facilitar esta tarefa, introduziu entre o povo leituras amenas, como "As Aventuras de Pinóquio".

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Em 1861, sobre os 26.000.000 de habitantes, apenas 600.000 falavam o italiano. Em 1886, sobre 100 italianos, pelo menos 70 ainda assinavam o nome com uma cruz. Nas escolas se usava o dialeto. O próprio Rei era fraco na língua italiana. Cada Região falava o seu dialeto. Faltava uma língua comum. Finalmente, ficou decidido que a língua oficial seria o toscano, porque foi a língua usada por Dante Aleghieri, quando escreveu "A Divina Comédia", obra-prima da literatura italiana. Assim, todos tiveram que aprendê-la. Mas os emigrantes eram considerados "miserabili analfabeti".

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Não era só a pobreza e o analfabetismo, mas também o problema da cultura. Os burgueses sempre ignoraram os humildes, que para não morrerem de fome, foram obrigados a fugir, a emigrar.

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Em 1850, sobre 1.800 Comunas do Reino de Nápoles, 1.500 não tinham estradas. Em muitas regiões, não sabiam o que era o dinheiro; as trocas se faziam em natura, como no tempo de Cícero. "Il sostentamento di un bracciante costa meno di quello di un asino." O sustento de um trabalhador braçal custa menos do que o de um burro.

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As terras pertenciam a quem não tinha amor ao campo; quem trabalhava os campos era um servo, o descendente dos escravos. Havia grandes propriedades burguesas, conseguidas pelos "notabili" através da usurpação e da aquisição de terras tiradas da Igreja. Nessas propriedades os colonos eram explorados; não tinham nenhum vínculo com a terra. Por isso, havia uma vontade terrível de terra, não somente de possuí-la, mas de sair do nada, de conquistar uma dignidade. Foi assim que acolheram com entusiasmo a Giuseppe Garibaldi, porque esperavam a distribuição das terras e se atiraram com fúria sobre as propriedades dos "galantuomini", latifundiários, mas foram barrados e espancados.

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Entre 1860 e 1865 houve revoltas e massacres no Sul da Itália; muitos bispos foram expulsos ou presos. Aqui começa o período da longa emigração.

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A Sicília, no final de 1798, era uma nação a parte. Lá ainda estava em voga o feudalismo. Dois terços da população vivia na miséria: não tinha direito a nada. Um terço era constituído dos "nobili", que tinham todas as terras em suas mãos. Eram 142 príncipes, 788 marqueses, 1500 entre duques e barões. Os habitantes eram os servos da gleba: nela trabalhavam gratuitamente. Fora do feudo não havia outras terras disponíveis. Se o colono quisesse viver, era obrigado a sofrer em silêncio. Para fugir dessa escravidão, só lhe restava a emigração. A viagem para a América será a sua liberdade.

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Alguns repetiam: "Sarà quel che sarà. Peggio del presente non sarà. Tentiamo la sorte. E poiché abbiamo, presto o tardi, da morire, tanto vale di lasciare la nostra pelle in America come in Europa... Viva l`America! Morte ai signori!... Noi andiamo in Brasile. Ora toccherà ai padroni lavorare la terra."

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Apesar dessas exclamações, o êxodo se desenvolve em clima pacífico. Geralmente, o padre da localidade os acompanha para assisti-los, porque o Governo nada faz para protegê-los. Às vezes, os emigrantes eram obrigados a esperar vários dias no porto a chegada do navio.

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A travessia do Atlântico, em velhos navios, era dramática. Vejamos:
. No navio "Carlo Raggio" 34 emigrantes morreram de fome.
. No navio "Matteo Bruzzo" 18 passageiros morreram de fome.
. No navio "Frisca" 27 passageiros, amontoados de modo incrível, morreram asfixiados.
. No navio "Pará" 39 morreram de sarampo.

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O Governo Italiano era anticlerical: matou padres, fechou seminários, confiscou seus bens. O povo, por ser religioso, preferiu ficar do lado da Igreja. Por isso, a pedido da mesma, ficou 50 anos sem acorrer às eleições. Assim, os emigrantes não receberam nenhuma ajuda do Estado.

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No Brasil, os emigrantes se dirigiram para os Estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e os Estados do Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo). Aqui fundaram pedaços da Itália: Nova Roma, Nova Vicenza, Nova Veneza, Nova Trento, Novo Treviso, Nova Pádua, Nova Údine, Vale Vêneto, etc. Mas onde se deram melhor foi nos Estados do Sul.

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Grandes levas dirigiram-se também para a Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Canadá, México, Austrália e principais países da Europa. Mas de chegada sofreram muito. No Paraná foram colocados no litoral (Antonina), onde tiveram que conviver com a malária e muito calor. Alguns morreram, outros, desenganados com o "Paese della Cucagna", voltaram para a Itália; os que ficaram subiram a Serra do Mar e se localizaram em Curitiba, no Bairro de Santa Felicidade, hoje o mais próspero e sofisticado Centro Gastronômico do País.

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Graças à vontade férrea, a maioria venceu na vida e se tornou proprietário, alguns bem abastados. "Dove lo Stato era fallito, gli straccioni erano riusciti" (Manzotti). "Onde o Estado faliu, os maltrapilhos tiveram sucesso."

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Alertada por Scalabrini, bispo de Piacenza, a Igreja viu a necessidade de proteger os emigrantes e dar-lhes assistência religiosa. O próprio Scalabrini fundou uma Ordem Eclesiástica para formar padres que atendessem a esses coitados, abandonados à própria sorte. Depois de formados, os enviou a todos os Países onde houvesse emigrantes. São chamados Padres Scalabrinianos, que ainda hoje os há pelo Brasil e pelas diversas partes do mundo.

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Scalabrini tornou-se o bispo querido dos emigrantes: dedicou toda a sua vida na defesa deles. Na Itália, lutou durante 30 anos para que o Governo fizesse leis justas que os amparassem, leis que saíram somente em 1901.

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O bispo de Piacenza quis verificar in loco a situação dos emigrantes nos diversos países. Foi aos Estados Unidos, onde foi recebido pelo Presidente Roosevelt. Em 1904 veio ao Brasil. Visitou São Paulo, percorreu algumas fazendas de café, onde trabalhavam os emigrantes em lugar dos escravos negros, que foram libertados pela "Lei Áurea". Inaugurou escolas, hospitais e orfanatos. Depois veio ao Paraná: visitou Santa Felicidade; achou bonita a igreja. De Curitiba, foi até Ponta Grossa, "l`ultimo confine della civiltà; il resto è tutto bosco; all`interno vivono gli indiani, nello stato selvaggio, discendenti della popolazione che i Gesuiti, nel 1700, avevano convertito."

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Terminada a visita ao Paraná, vai a Santa Catarina e Rio Grande do Sul: aqui visita Encantado, Veranópolis, Garibaldi, Caxias do Sul, "la prima e la piú civile delle colonie italiane". Em toda parte, o bispo Scalabrini era sempre esperado com festa, muita alegria e muito carinho. Todas essas andanças eram feitas no lombo do cavalo e já doente.

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De volta a Piacenza, faleceu como um santo, em 1905, quando o Papa Pio X cogitava em sagrá-lo Cardeal, e já era visto como o futuro Papa.

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Em 1935, começou o processo de sua beatificação.

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Os emigrantes italianos, com sua saída, permitiram o progresso da Itália, diminuindo a população e fazendo sobrar alimento para os que ficaram. Mas, os coitados, indiretamente expulsos da Pátria, e recomeçando sua vida no meio do mato e entre animais ferozes, e com falta de tudo, ainda enviavam tanto dinheiro aos parentes no "Paese" de origem, que o Ministro das Finanças da Itália considerou essas remessas um "ruscello d`oro", um filete de ouro. Porém, a Itália só ultimamente começou a se interessar por seus filhos "all`estero" (no estrangeiro), calculados em 20.000.000, a maioria vivendo no Brasil.

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Esta é a triste história da emigração italiana, "una storia dimenticata", uma história esquecida do Governo Italiano. Os descendentes desses emigrantes devem dar muito valor à luta de seus antepassados.

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Traduzido e resumido por Rafael Baldissera do livro "STORIA DIMENTICATA'' do escritor italiano Deliso Villa, que pode ser encontrado em:
SAGRA - DC LUZZATO
Rua João Alfredo, 448
Cidade Baixa
90050-230
Porto Alegre-RS

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http://br.geocities.com/genealogiabaldissera/aemigracaoitaliana.htm

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1 comentário:

Anónimo disse...

ficou otimo esse blog adorei gostaria que pusseçe mais informaçãoes sobre a familia caproni que imigrou para minas gerais