sexta-feira, 2 de maio de 2008

Jovens e Política Frustração

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De: Manuel Miranda - Coimbra

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Os jovens não querem saber da política.

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O 25 de Abril ficou marcado pela intervenção do Presidente da República.

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Cavaco Silva centrou o seu discurso do 25 de Abril num estudo encomendado à Universidade Católica.

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Segundo esse estudo, os jovens vivem à margem da política, indiferentes, descrentes dos políticos.

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Esse estudo não traz nada de novo, nada que não fosse há muito conhecido. A novidade são as percentagens registadas, se é que essas são fiéis e se os inquéritos de que resultam são credíveis.

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Os “jovens não sabem e pouco querem saber da vida política nacional”. Os inquiridos “dizem interessar-se pouco ou nada pela política”. São conclusões desse estudo.

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Os jovens, quando entrarem no mundo do trabalho, quando começarem a sentir as dificuldades da vida, depois das ilusões das facilidades caírem nas frustrações de sonhos não realizados, vão descobrir que a política e os políticos têm responsabilidades que condicionam a vida das pessoas.

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Seria bom que os políticos tirassem lições do discurso do Presidente da República.

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Uma lição: Se há tanta indiferença e desconhecimento da política, os resultados eleitorais deveriam de ter leituras diferentes daquelas que os partidos dão. Os partidos arvoram-se em vencedores, sabendo que os eleitores desprezam os políticos a quem deram os seus votos. A arrogância que acompanha partidos vencedores, entrincheirados nas maiorias das urnas, não se coaduna com o significado dos votos expressos.

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Outra lição: Se os cidadãos estão de costas viradas é porque não encontram na política e nos políticos motivos de satisfação, de credibilidade. O exemplo dado pelos políticos fundamenta a descrença. São promessas abundantes que não são para cumprir. São mentiras sistemáticas em discursos falsos. É a corrupção instituída. É o arranjismo dos políticos ávidos de tacho, políticos que começam cedo a preparar suas carreiras à cotovelada para subir e adquirir influência. São ordenados acumulados, políticos que ganham em vários carrinhos, na política e nas empresas. São políticos que acumulam ganhos como políticos e como comentadores encartados nas rádios, televisões e jornais. São políticos que acumulam pensões de reforma só porque passaram pelas administrações de empresas, porque deram aulas alguns meses, são empregos feitos à medida, sem mérito avaliado, tachos oferecidos porque a política é generosa para os políticos. A política dá para acumular várias reformas de muitos milhares de euros, impedidas aos cidadãos a quem se impõe contenção salarial, a quem se considera que reformas de 300 ou 500 euros são reformas suficientes.

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São políticos ávidos de carreira, prontos para saltarem para Bruxelas, onde sabem ganhar bem, narcisicamente envoltos nas teias das burocracias.

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É o oportunismo dos políticos que têm por profissão fazer política e nada mais fizeram desde a juventude.

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O Presidente da República lamenta a atitude de indiferença dos jovens perante a política na mesma semana que na Assembleia se aprovou um tratado que tem implicações futuras para todo os cidadãos europeus. A aprovação foi feita à margem de qualquer discussão fora da Assembleia. As elites sabedoras decidiram pelos cidadãos, como a querer dizer que os referendos e as eleições só servem para confirmar aquilo que as elites políticas de carreira querem.

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Se os resultados do estudo espantam e preocupam, talvez fosse importante procurar saber se a informação cumpre o seus deveres. Está em causa um sistema de informação ligada aos poderes instituídos.

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O Presidente encontra motivos de preocupação. O Presidente tem responsabilidades. Ele foi primeiro-ministro durante várias legislaturas. Os jovens da “geração rasca” do seu tempo de governo são agora pais dos jovens de costas viradas à política.

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O alheamento dos jovens tem muitas causas. O desencanto, a frustração resultam de tantas promessas de facilidades para a vida e o que se lhes dá é trabalho precário, direitos reduzidos, desemprego. Um mundo de frustrações, de desencantos.

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E para terminar:

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O estudo foi encomendado à Universidade Católica. Será que uma das universidades estatais não estaria apta a fazer esse estudo?

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Será que a visita do Presidente da República à Madeira, terminada poucos dias antes do discurso, credebilizou os políticos e a política?

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Mas não se pode meter tudo no mesmo saco. Há políticas boas e políticas más. Há políticos dedicados à causa pública e há políticos dedicados aos seus interesses e vaidades. Há informação que desperta e há informação que adormece.

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in PortugalClub

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Foto de Jorge Simão in

Portugal: grandes problemas para un pequeno país (en tamaño)

Galizacig



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