Quarta-feira, 9/12/2009
Artes
Julio Daio Borges
Digestivo nº 181 >>> Libertinos Líricos Quem hoje navega pela internet e acha que ela é a própria manifestação do inconsciente coletivo (ou da total ausência de superego) deve saber que quem começou com essa história – de botar o bacalhau pra fora – foi, nos Estados Unidos, entre outros, Robert Crumb. Crumb é o traço por trás de “Fritz the Cat”, “Zap Comix” e, atualmente, reeditado pela Conrad, “Mr. Natural”. Na bem-comportada sociedade dos EUA nos anos 50, ele e seu irmão (que enlouqueceu e se suicidou – muito depois) colocaram suas idéias em ebulição. Crumb confessou seus desejos mais bárbaros (sexuais?) em histórias de machismo, até racismo, e subversão. Seus personagens copulam como coelhos (na era do “sexo livre”), masturbam-se a céu aberto, falam o que pensam – não protelando quaisquer vontades; não guardando nenhum recalque. Era a “liberação”. E era a “contracultura”. Robert Crumb hoje mora na França (numa cidade de que não quer dar o nome) e saiu dos Estados Unidos justamente por se preocupar com a “corrupção” a que sua filha adolescente poderia estar exposta. Não é irônico? Reclamou das drogas e, aliviado, confessou que, na terra de Napoleão, o máximo que ela poderia encontrar – para fumar – seria haxixe. Faça o que eu digo, mas não o que eu faço (ou o que, um dia, eu disse para fazer). Já Mr. Natural é um velhinho sacana de barba, que mente compulsivamente sobre sua biografia, e que não consegue escapar do estigma de “guru” – personificado pelo seu maior “cliente”, Flakey Foont. Natural conta lorotas sobre a “nova era”, para seduzir as moças desavisadas, e não se furta a explorar ingênuos e crianças – a fim de obter sempre mais prazer. Uma visão, sem escrúpulos, do macho branco adulto? Pode ser. Felizmente, Crumb, um artista prolífico, é o retrato de uma época – e julgá-lo sob as lentes do presente “politicamente correto” é uma total perda de tempo. Crumb lembra nossa adolescência de hormônios descontrolados. E só por isso já vale a pena. >>> Mr. Natural - Robert Crumb - 119 págs. - Conrad |
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