domingo, 27 de dezembro de 2009

Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe

DIGESTIVOS >>> Literatura

Quarta-feira, 23/12/2009
Literatura
Julio Daio Borges


Digestivo nº 409 >>> Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe

Poe, reza o clichê, inventou o gênero terror e as histórias de detetive. E Poe impressionou Baudelaire e, no Brasil, foi traduzido por ninguém menos que Machado de Assis. Mas Poe é muito mais que isso. Poe, em matéria de terror, inventou as múmias que ressuscitam (muito antes do cinema inventar-se a si próprio); os pets que são mortos e revivem (acabando com a graça de todo e qualquer Stephen King); e os loucos que tomam conta do hospício, bem como o “defunto autor” (contemporâneos ou antecessores do nosso Machado?). As histórias de detetive Poe inventou sem querer e, se fosse vivo, teria se arrependido da proliferação do gênero numa subliteratura que ele nunca praticou. Poe impressionou Baudelaire porque viveu como o mesmo – como um poeta –, com direito a doses de loucura no final e deixando sérias dúvidas sobre sua causa mortis. (A última história de terror de Poe?) Embora o entretenimento tenha se apossado de suas criações, o que nos faz pensar que ele possa ter alguma coisa a ver com isso, Poe era um literato e como tal escreveu, felizmente. A prova viva está nesta nova edição, pocket, de Histórias Extraordinárias, selecionadas, traduzidas e apresentadas por José Paulo Paes. Saber da vida de Poe não é fácil como não é, igualmente, fácil lê-lo hoje. Incrível como simples histórias do século XIX podem arrepiar os cabelos de alguém no século XXI – quando o audiovisual banalizou qualquer susto –, mas podem... Poe está à espreita! E nunca morre.
  Histórias Extraordinárias
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Historias Extraordinarias

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Sinopse

Nestes contos - selecionados e traduzidos por José Paulo Paes -, Edgar Allan Poe (1809-1849) imaginou algumas das mais conhecidas histórias de terror e suspense da literatura, tramas que migraram da ficção direto para o imaginário coletivo do Ocidente. É o caso de 'O gato preto', a tenebrosa história de um assassinato malogrado, ou de 'O poço e o pêndulo', que apresenta uma visão macabra da ansiedade da morte. Pioneiro dos contos de mistério, como 'A carta roubada' e 'O escaravelho de ouro', Poe deu a seus personagens notável profundidade psicológica. Usando diversos artifícios narrativos inovadores, criava climas e situações aterrorizantes.
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Saiu na Imprensa:

Jornal do Commercio (PE)  /   Data: 11/1/2009
A vida e as mortes de Poe
Schneider Carpeggiani
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O ideal não seria falar do nascimento de Edgar Allan Poe, mas da sua morte. Em 3 de outubro de 1849, o escritor norte-americano foi encontrado delirante, largado pelas ruas de Baltimore e (detalhe insólito) usando roupas de terceiros. Faleceu quatro dias depois num quarto de hospital. Fim coerente para uma longa trajetória de alcoolismo, excessos de todos os tipos e de falência financeira. E mais: coerente para quem ajudou a forjar a literatura moderna com uma obra sobre o reverso da fortuna. Se hoje você se assusta com os vampiros vegetarianos de Stephenie Meyer (de Crepúsculo), com as longas sagas de Stephen King ou mesmo com o serial killer de extrato de tomate de qualquer filme B em cartaz, saiba que a raiz de todos seus medos está em Poe.
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Para alguém que escreveu grandes clássicos sobre contatos imediatos com o Além, nascer não parece um grande negócio. O seu bicentenário de nascimento não motivou grandes homenagens nem relançamentos do mestre do terror, tanto no Brasil quanto no exterior. O mais recente título a chegar às livrarias brasileiras é a competente edição de bolso de Histórias Extraordinárias, com seleção, tradução e apresentação de José Paulo Paes.
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Estão lá os essenciais O poço e o pêndulo e O barril de amontillado. Há ainda exemplos daqueles textos considerados os primeiros contos policiais da literatura ocidental (A carta roubada e o O escaravelho de ouro) e os representantes do horror psicológico, como O coração delator.
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No ensaio presente na edição de bolso, José Paulo Paes deixa claro o incômodo que a obra de Poe provoca na crítica especializada: “Diante da obra literária de Poe, a atitude mais comum da crítica moderna é antes de restrição que de aplauso. Atitude bem diversa da de Charles Baudelaire, no século 19, que saudou no autor do poema O corvo de o ‘mágico das letras, que intuíra verdades imortais e fora dotado da divina faculdade de conjurar emoções supraterrenas’”.
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Se o poeta francês Baudelaire compreendeu e disseminou o escritor, é que ambos carregavam inegáveis traços em comum. Alguém que escreveu um livro chamado Flores do mal, sobre as fraturas da modernidade à solta pelas ruas de Paris, era o nome ideal para entender o criador de tramas macabras como O gato preto e a vampiresca Berenice. Baudelaire e Poe eram cúmplices na modernidade.
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A obra ficcional de Poe costuma ser alvo fácil de críticas negativas. Seus fracos seriam um estilo mecânico, personagens ocos (quando suas crias são cheias de camadas “invisíveis” a olho nu) e tramas excessivamente repetitivas. O problema maior de Poe talvez nem seja qualquer derrapada no estilo literário, mas a escolha nos temas.
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“Existe uma variação de reconhecimento em relação há determinados estilos literários. Com o policial, por exemplo, isso estaria mudando de uns anos para cá, com a consagração de certos nomes. Aqui no Brasil nós temos um autor como o García Roza. Com o gênero de terror, isso ainda não acontece, porque há muita coisa ruim sendo publicada. E, de certa forma, o cinema tomou da literatura a função de provocar sustos. Mas o que eu não gosto nesse terror moderno é que ele é excessivamente over”, explicou a escritora Heloísa Seixas, em conversa com o JC. Heloísa foi responsável por traduzir e organizar as antologias A casa do passado – Dez grandes contos de terror e Visões da noite – Histórias de terror sarcástico.
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Se a autora reclama do fator over das histórias de terror atuais, Poe seguia a lógica contrária. “Ele é o rei da sutileza, e é a sutileza que provoca medo. É preciso até resistência para atravessar suas primeiras páginas e se entregar ao seu ritmo”, conclui Heloísa.
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Sobre o autor:


PAES, JOSE PAULO
Nasceu em Taquaritinga, São Paulo, em 1926. Estudou química industrial em Curitiba, onde publicou seu primeiro livro de poemas, em 1947. Trabalhou num laboratório farmacêutico e numa editora de livros, aposentando-se para poder dedicar-se inteiramente à literatura. Pesquisador, tradutor, ensaísta e poeta, também foi colaborador regular na imprensa literária. Morreu em 1998. Obras publicadas: Cúmplices,1957. As quatro vidas de Augusto dos Anjos, 1957. Meta palavra. São Paulo,1974. É isso ali. Rio de Janeiro,1984. Um por todos. São Paulo,1986. A poesia está morta mas juro que não fui eu. São Paulo,1988. Um passarinho me contou. São Paulo,1996.Poemas para brincar. São Paulo,1996. Os perigos da poesia,1997.
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POE, EDGAR ALLAN
Nasceu em Boston, em 1809. Órfão adotado por uma família de Richmond, tornou-se jornalista e poeta. Viveu em Nova York e em Baltimore, onde faleceu em 1849.
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