Digestivo nº 291 >>> No Rest for the Wicked?
No Brasil, em que se lê mais na infância, na adolescência e na juventude do que na idade adulta, a salvação, para o mercado editorial, são os livros didáticos. Para os autores, também. Quantos não se refugiaram, quase que para sempre, nos infantis – como Monteiro Lobato e Ana Maria Machado? Quantos não encontraram nos infanto-juvenis uma mina de ouro – como Ziraldo e seu Menino Maluquinho? Recentemente, até Miguel Sanches Neto – um dos poucos autores relativamente “novos” e verdadeiramente adultos – experimentou no gênero, com O Rinoceronte Ri. E Angeli não poderia ignorar o canto da sereia. Talvez não por isso, mas lançou Ozzy, no início da década passada: não um menino mas um pré-adolescente, de camiseta larga, bermuda folgada, gorro e skate à mão. Uma mistura, se formos analisar, de anos 80 com 90: estilo californiano tardio, combinado com grunge; espasmos diluídos da cultura hippie (hoje quase um palavrão), com o cientificismo da tecnologia e do computador. Ozzy é divertido como o Angeli sempre foi, mas não tão visceral como suas origens – é o Angeli mais “família”, autor da Flip, que de tanto combater o sistema foi absorvido por ele (embora charmosamente negue). Mas Angeli é gente boa; merece todo o sucesso e dinheiro. Ozzy, que estreou na Folhinha em 1993, sai agora em álbum, inicialmente quatro volumes, pela Companhia das Letras. O Ozzy, para quem precisa de uma referência mainstream, é o Calvin do Angeli. Sei que você pensou nos Skrotinhos, mas é mais light do que isso. Ozzy é um inconseqüente, mas não agride; é um transgressor, mas sem apelar para sexo e drogas (só rock’n’roll; ou para o que sobrou...). O Angeli virou marca. E foi merecido.
>>> Ozzy - Angeli - 54 págs. - Companhia das Letras.
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