segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Mário Crespo deixa "JN" e publica crónica censurada




A crónica do jornalista da SIC - "O Fim da Linha" - que não foi publicada hoje no "Jornal de Notícias" por decisão da direcção, sairá em livro já no próximo dia 11. A obra reúne mais de cem crónicas publicadas nos últimos dois anos por Mário Crespo e tem prefácio de Medina Carreira. Leia a crónica censurada no final da notícia e a nota da direcção do "Jornal de Notícias".
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Mário Crespo reagiu de imediato à decisão da direcção do "Jornal de Notícias" de não publicar a sua última crónica, prevista para a edição de hoje do jornal.
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Hoje mesmo, o jornalista e pivô da SIC recebeu a garantia de publicação - já no próximo dia 11 e lançado no Grémio Literário - de um livro, que terá um prefácio de Medina Carreira. onde a crónica censurada - "O Fim da Linha" - "surgirá à cabeça". Ainda hoje, seguirá uma queixa para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, onde o jornalista requer à ERC que averigue a ingerência governamental em matérias editoriais.
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Com o título "O fim da linha", a crónica de Mário Crespo prevista para hoje no "JN" relatava um almoço mantido entre o primeiro-ministro e os ministros dos Assuntos Parlamentares e da Presidência com um "executivo da televisão", onde se apontava o jornalista da SIC e pivô do Jornal das Nove como "um problema" a resolver".

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                                       "Louco" e "profissionalmente impreparado"


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No referido almoço, os governantes terão ainda considerado que Mário Crespo era "louco" e "profissionalmente impreparado". "Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre", comenta o jornalista na sua coluna de opinião.
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Contactado pelo Expresso, Mário Crespo recusa revelar o nome do "executivo de televisão" presente no almoço, preferindo "salvaguardar a sua identidade, enquanto for possível". No entanto, garante o jornalista, o teor da conversa com José Sócrates, Jorge Lacão e Pedro Silva Pereira "foi confirmado pelo próprio" responsável televisivo, assim como por "duas outras pessoas presentes no restaurante e que ouviram a conversa".
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De acordo com Mário Crespo, só "ontem à meia-noite" foi informado, telefonicamente, pelo director do "JN", José Leite Pereira, de que a sua crónica habitual não seria publicada. "É um privilégio do director que não contesto, mas esclareci de imediato que não escreveria mais para o jornal", disse ao Expresso o jornalista da SIC.
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Lição para os media
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A crónica integral - que poderá ser lida em link que segue no final deste texto - foi hoje de manhã publicada no site do Instituto Sá Carneiro. Mário Crespo garante que "não sabia sequer que esse site existia" e diz desconhecer a forma como o texto lá foi parar. "Apenas enviei, como sempre o fiz, a crónica para as moradas electrónicas do 'JN'", acrescentou ao Expresso.
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Para o jornalista a situação descrita no almoço entre governantes, assim como a recusa na publicação da crónica, é uma situação "grave" e "uma lição para os media em geral de que não é possível censurar".
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Mário Crespo garante ainda que "nunca" tinha sofrido qualquer reparo por parte dos responsáveis editoriais do "JN" sobre o conteúdo das suas crónicas e que foi "surpreendido" pela decisão. No entanto, assume "sentia que estava numa zona de risco".
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                                                       SEGUE-SE O ARTIGO CENSURADO:
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O Fim da Linha  por Mário Crespo

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Dia de Orçamento.

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O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
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Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
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Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
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Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
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Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
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Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
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Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos média como tinha em 2009.
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O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
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O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
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O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
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Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
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Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
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Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada. Mário Crespo
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.http://www.institutosacarneiro.pt/archive/img/Mario_Crespo_Item.jpg
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In PortugalClub - seg 01-02-2010 21:53
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