10 de dezembro de 2009
Encontro
Encontro de duas mãos
que procuram estrelas,
nas entranhas da noite!
.
Juan Ramón Jiménez
.
que procuram estrelas,
nas entranhas da noite!
.
Juan Ramón Jiménez
.
09 de dezembro de 2009
Chamamento
Quando eu estiver com as raízes
chama-me com tua voz.
Irá parecer-me que entra
a tremer a luz do sol.
.
Juan Ramón Jiménez
.
chama-me com tua voz.
Irá parecer-me que entra
a tremer a luz do sol.
.
Juan Ramón Jiménez
.
08 de dezembro de 2009
Bartolomé Esteban Murillo
Nossa Senhora da Imaculada Conceição
.
Ondulação
O luar ondula
fluindo e refluindo
para não acabar a maré cheia
nesta praia onde
ponderável eu me encontro indo
— o pensamento em rumos ignorados
e ao sabor dos presságios. . .
Em breve, à minha volta no areal,
esperanças, de branco, vaporosas,
chorando alto naufrágios
à vista da magia de seus mundos,
com suas lágrimas,
quais enxadas na terra, poderosas,
cavarão sulcos fundos.
E elas ali se hão de enterrar
quando o luar fugir...
Mas com elas enterrarei os meus insultos
à minha nobre angústia de vibrar,
à minha vã desgraça de sentir!
.
Edmundo de Bettencourt
.
fluindo e refluindo
para não acabar a maré cheia
nesta praia onde
ponderável eu me encontro indo
— o pensamento em rumos ignorados
e ao sabor dos presságios. . .
Em breve, à minha volta no areal,
esperanças, de branco, vaporosas,
chorando alto naufrágios
à vista da magia de seus mundos,
com suas lágrimas,
quais enxadas na terra, poderosas,
cavarão sulcos fundos.
E elas ali se hão de enterrar
quando o luar fugir...
Mas com elas enterrarei os meus insultos
à minha nobre angústia de vibrar,
à minha vã desgraça de sentir!
.
Edmundo de Bettencourt
.
07 de dezembro de 2009
Paul Signac
magia, sonho ou pesadelo?
.
O Intenso Brilho
É impossível no mundo
estarmos juntos
ainda que do meu lado adormecesses.
O véu que protege a vida
nos separa.
O véu que protege a vida
nos protege.
Aproveita, pois,
que é tudo branco agora,
à boca do precipício,
neste vórtice
e fala
nesta clareira aberta pela insônia
quero ouvir tua alma
a que mora na garganta
como em túmulos
esperando a hora da ressurreição,
fala meu nome
antes que eu retorne
ao dia pleno,
à semi-escuridão.
.
Adélia Prado
.
estarmos juntos
ainda que do meu lado adormecesses.
O véu que protege a vida
nos separa.
O véu que protege a vida
nos protege.
Aproveita, pois,
que é tudo branco agora,
à boca do precipício,
neste vórtice
e fala
nesta clareira aberta pela insônia
quero ouvir tua alma
a que mora na garganta
como em túmulos
esperando a hora da ressurreição,
fala meu nome
antes que eu retorne
ao dia pleno,
à semi-escuridão.
.
Adélia Prado
.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
.
Adélia Prado
.
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
.
Adélia Prado
.
06 de dezembro de 2009
Louis-Edouard Dubufe
contenção decidida
.
O vestido
No armário do meu quarto escondo de
tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes
delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
.
Adélia Prado
tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes
delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
.
Adélia Prado
O Som Revisto
A porta presa
em pedra
aguarda a força
do vento.
mão revisita o tampo da mesa
e a cabeceira reduz o espaço
entre o passado
e o aparente
esforço: fechar a porta
na passagem
do corpo.
O som revisto da pedra
enquanto retirada.
.
Pedro Du Bois
.
em pedra
aguarda a força
do vento.
mão revisita o tampo da mesa
e a cabeceira reduz o espaço
entre o passado
e o aparente
esforço: fechar a porta
na passagem
do corpo.
O som revisto da pedra
enquanto retirada.
.
Pedro Du Bois
.
05 de dezembro de 2009
Meditação
à beira de um poema
Podei a roseira
no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira
constelada,
os botões,
Alguns já com rosa- pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizam-se
diante do recorrente milagre.
maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro
.
Adélia Prado
.
Podei a roseira
no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira
constelada,
os botões,
Alguns já com rosa- pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizam-se
diante do recorrente milagre.
maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro
.
Adélia Prado
.
Albert Lynch
retrato simples de jovem mulher sofisticada
.
Separação
Isso é uma declaração de amor:
Declaro que te quero
E isso é claro como meu desejo.
Declaro que te admiro
Todo ato teu me é visível, claro.
Declaro que cresço a cada passo
Que nossas mãos, dadas, acompanham.
Declaro que sou tua
Livremente e espontaneamente tua,
Como só meu sentimento puro
Pode lindamente me levar a ser.
Declaro que sou uma, única
E que és igualmente único para mim
Como derivados da mais pura diversidade.
Declaro toda inspiração a que me inspiras
Levando-me através da mais completa fantasia.
Declaro minha loucura
Que assim retorna mansamente
E torna essa declaração
Declaração de independência.
.
Adriana Sampaio
.
Declaro que te quero
E isso é claro como meu desejo.
Declaro que te admiro
Todo ato teu me é visível, claro.
Declaro que cresço a cada passo
Que nossas mãos, dadas, acompanham.
Declaro que sou tua
Livremente e espontaneamente tua,
Como só meu sentimento puro
Pode lindamente me levar a ser.
Declaro que sou uma, única
E que és igualmente único para mim
Como derivados da mais pura diversidade.
Declaro toda inspiração a que me inspiras
Levando-me através da mais completa fantasia.
Declaro minha loucura
Que assim retorna mansamente
E torna essa declaração
Declaração de independência.
.
Adriana Sampaio
.
04 de dezembro de 2009
Não reparei em ti
Não reparei em ti
Todos os dias me cumprimentaste
Nunca olhei para ti
Pelo meu nome gritaste
Nunca te respondi
Agora que me abandonaste
Todos os dias choro por ti.
.
Manuel Pinto
.
Todos os dias me cumprimentaste
Nunca olhei para ti
Pelo meu nome gritaste
Nunca te respondi
Agora que me abandonaste
Todos os dias choro por ti.
.
Manuel Pinto
.
Corpo cansado
Fatigado, o corpo deixo-o cair por entre os véus
Com os braços prostrados sobre o ventre
Assim permaneço
Sem que o tempo ocupe espaço
Os olhos deixo-os seguirem o seu rumo
Como a folhagem de Outono também eles caem e se fecham
Não sei se acordada ou a dormir
Reclino a cabeça deixando os cabelos caídos pelo chão
Sonho
Viajo para uma noite de Verão em que o horizonte te traz
E contigo vem toda a vontade e loucura
Que tornou a distância vazia
Ou a estrada um paralelo que se cruza
Contigo vieram histórias e narrativas
Dúvidas que metamorfoseamos em verdade
Mãos que se tornam asas
E gestos incessantes que depravam, viciam e seduzem
Contigo veio também o destempero
De querer consumir num momento
Tudo aquilo que não cabe numa vida
.
Madalena Palma
.
Com os braços prostrados sobre o ventre
Assim permaneço
Sem que o tempo ocupe espaço
Os olhos deixo-os seguirem o seu rumo
Como a folhagem de Outono também eles caem e se fecham
Não sei se acordada ou a dormir
Reclino a cabeça deixando os cabelos caídos pelo chão
Sonho
Viajo para uma noite de Verão em que o horizonte te traz
E contigo vem toda a vontade e loucura
Que tornou a distância vazia
Ou a estrada um paralelo que se cruza
Contigo vieram histórias e narrativas
Dúvidas que metamorfoseamos em verdade
Mãos que se tornam asas
E gestos incessantes que depravam, viciam e seduzem
Contigo veio também o destempero
De querer consumir num momento
Tudo aquilo que não cabe numa vida
.
Madalena Palma
.
Sem comentários:
Enviar um comentário