segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Feudalismo - Era uma vez na Idade Média ....


APOSTILA – HISTÓRIA – 1º Bimestre/2005

Profº Responsável: Fausto Henrique G. Nogueira

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Feudalismo

A base do modo de vida feudal que vigorava na maior parte da Europa, na Idade Média, era a lealdade e a obediência que as pessoas deviam a um senhor, e do qual recebiam proteção. Esta lei feudal aplicava-se também à terra. Segundo suas regras, toda pessoa devia serviço ao senhor pela terra que ocupava. Esses serviços dependiam da posição da pessoa e da extensão de terra que possuía. Quando ela morria, podia deixar a terra para os filhos, desde que cada geração continuasse leal ao senhor e obedecesse aos costumes tradicionais de sua localidade.

Em grande parte da Europa feudal, aterra era organizada em manors ou mansões. O homem que ganhava uma mansão diretamente do rei era o senhor daquela mansão. Em troca de suas mansões, muitos nobres, no princípio, deviam servir ao rei, lutando por ele. Mas, geralmente pagavam a outros homens para lutarem no seu lugar.

Em troca das terras recebidas, para nelas trabalharem, os camponeses faziam trabalhos braçais para o senhor e às vezes pagavam aluguel. Esses trabalhos incluíam arar e fazer a colheita na demesne (casa de fazenda} do senhor, ou ainda transportar os produtos da terra. Em 1200, esses serviços eram regulamentados pela lei e pelos costumes locais. Um camponês a quem o senhor pedia para fazer além do estabelecido podia apelar para seus companheiros arrendatários e para

os documentos locais onde estavam registrados serviços anteriores, a fim de se defender da exigência do senhor.

O poder da Igreja Medieval

Ampliando sua influência sobre a sociedade, dos pobres aos privilegiados, a Igreja tornou-se uma grande proprietária de terras, a maior "senhora feudal" da Europa. E assim, seja por razões religiosas, econômicas ou políticas, quase todos passaram a temer e a adorar a Santa Madre Igreja. Entre os fatores que lhe permitiram exercer a hegemonia ideológica e cultural da época {teocentrismo) estão: sua incalculável riqueza, sua sólida organização hierárquica e a herança cultural greco-romana.

Conveniente e adequada ao período - um mundo dividido em estamentos, necessariamente desiguais – a Igreja, através do clero, transmitia à população uma visão de mundo que permitia ao mesmo tempo reforçar e justificar o predomínio dos senhores feudais {clero e nobreza). Leia as palavras de um religioso medieval:

"Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor..."

o Concílio de Nicéia, realizado em 325, institucionalizou a união entre o Estado e a Igreja. Esse concílio, presidido por Constantino, tinha por finalidade preservar a unidade da Igreja, ameaçada pelo arianismo, corrente religiosa de origem oriental. Assim, os bispos reunidos em Nicéia, apoiados na autoridade do Estado, elaboraram a doutrina oficial da Igreja, iniciando o combate às concepções consideradas heréticas e às antigas religiões pagãs. Finalmente, em 391, o Imperador Teodósio, por meio do Edito de Tessalônica, declarou o cristianismo como a religião oficial do Império Romano, marginalizando os outros credos religiosos.

O processo de organização hierárquica do clero já havia se completado, até o século V, constituindo uma pirâmide: na base estavam os sacerdotes das dioceses; a seguir vinham os bispos das províncias, que se subordinavam aos bispos das capitais provinciais, chamados bispos metropolitanos ou arcebispos; finalmente vinham os patriarcas, bispos das principais metrópoles do Império, como Roma, Constantinopla, Jerusalém e Alexandria. Em 455, apoiado pelo imperador Valentiniano, o bispo de Roma assumia a chefia de toda a Igreja: adotando o nome de Leão I, tornou-se o primeiro papa da cristandade.

Após o pontificado de Gregório I, apenas no Império Bizantino se formaram resistências significativas à estrutura pontifícia. O antagonismo entre as duas igrejas, já evidenciado desde os tempos do papa Leão I, culminaria em 1054 com o Cisma do Oriente e a criação da Igreja Ortodoxa.

Com a estruturação do feudalismo na Alta Idade Média, em sintonia com a ascensão do cristianismo, progressivamente consolidou-se, de um lado, o poder particularista dos senhores feudais e, de outro, o poder universal da Igreja.

A igreja tinha sua estrutura dividida em duas categorias: clero secular, isto é, aqueles que viviam fora dos mosteiros (padres, bispos e arcebispos) e clero regular, os que viviam nos mosteiros (beneditinos, franciscanos, etc.).

A religião, da primeira fase da Idade Média, era pessimista, fatalista e, ao menos teoricamente, se opunha a tudo quanto fosse terreno (visto como se fosse um compromisso com o diabo). Considerava-se o ser humano em si mesmo, como fraco e incapaz de quaisquer boas ações, a menos que fosse favorecido pela graça de Deus. O próprio Deus era onipotente, escolhendo de acordo com os seus desígnios aqueles seres humanos que entrariam no paraíso e deixando todo o resto seguir o caminho da perdição; era essa a base da chamada "predestinação agostiniana", concebida por Santo Agostinho e Boécio.

Até o século VII, predominou a Filosofia Patrística, que de acordo com Chauí

"... Resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião -o Cristianismo -com o pensamento dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. (...) A patrística foi obrigada a introduzir idéias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a idéia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. (...)

Para impor as idéias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (ou através da Bíblia e dos Santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. (...) Dessa forma, o grande tema de toda a Filosofia Patrística é o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e fé (...)".

Mas depois do século IX, essas atitudes pouco a pouco deram lugar a sentimentos mais otimistas e a um interesse crescente pelas coisas terrenas. As causas originais relacionavam-se diretamente com o progresso da educação monástica, com o aparecimento de um governo mais estável e com o aumento da segurança econômica. Mais tarde, outros fatores, como a influência das civilizações sarracena e bizantina e a prosperidade das cidades e vilas, levaram a cultura da época feudal a um apogeu magnífico de realizações intelectuais, nos séculos XII e XIII. Ao mesmo tempo, a religião tomou um aspecto menos abstrato e se transformou numa instituição mais profundamente preocupada com os assuntos desta vida.

No século XIII essas concepções religiosas vieram a prevalecer. A vida neste mundo foi considerada, então, de extrema importância, não apenas como uma preparação para a eternidade, mas também em si própria. A natureza humana deixou de ser considerada totalmente depravada. Portanto, o homem podia colaborar com Deus no empenho de conseguir a sua salvação. Ao invés de pôr em relevo a onipotência de Deus, os filósofos e teólogos passaram a acentuar a justiça e a misericórdia divinas.

Talvez as mudanças mais importantes tenham sido relacionadas com a matéria doutrinária e as atitudes religiosas. A primeira grande sinopse da teologia da segunda fase da Idade Média foram a "Sentenças" de Pedro Lombardo, escrita na segunda metade do século XII. Uma exposição mais ampla da doutrina estava contida na "Suma Teológica" de São Tomás de Aquino e nas decisões dos concílios da Igreja especialmente o Quarto Concílio de Latrão, em 1215. Os elementos mais importantes dessa nova teologia eram, talvez, a teoria do clero e dos sacramentos.

A adoção dessas duas teorias fundamentais -a do sacerdócio e a dos sacramentos -teve efeitos poderosos na exaltação do poder do clero em tornar a religião da igreja latina quase tão mecânica quanto o antigo paganismo romano. O catolicismo medieval, no entanto, salvou-se de degenerar num sistema puramente ritualista devido a dois outros traços que caracterizaram o período final do feudalismo. Um deles foi a adoção, pelos principais teólogos, de uma filosofia racionalista e o outro, o desenvolvimento do humanismo. O humanismo, na religião, se exprimiu de vários modos: pela revolta contra o ascetismo egoísta dos monges e ermitões, pelo naturalismo de S. Francisco, e, talvez, principalmente pela veneração dos santos e da virgem Maria.

O aparecimento dos frades, no século XIII, constituiu sem dúvida o movimento de reforma mais significativo. Embora os frades sejam, frequentemente, considerados apenas como uma espécie de monges, eram na realidade bastante diferentes. Originalmente não eram, em absoluto, membros o clero, mas homens leigos. Ao invés de se encerrarem em mosteiros, devotavam todo o seu tempo a trabalho de beneficência à pregação e ao ensino.

O desenvolvimento das novas ordens foi o sintoma de uma tentativa para harmonizar a religião com necessidades de um mundo que já havia deixado completamente o que alguns chamaram de "Idade das Trevas". Chegara-se então a compreender que o principal interesse da religião não era capacitar alguns monges a salvar suas próprias almas a expensas da sociedade, mas, sim, ajudar afazer deste mundo um lugar onde a vida fosse mais feliz e a arrancar as camadas populares da sociedade "do atoleiro de ignorância e pecado".

Os primeiros monges cristãos eram eremitas solitários. O conceito de uma vida religiosa comunitária, na qual o indivíduo desaparecia na adoração conjunta de Deus, era o ideal de Benedito de Núrsia, que fundou a ordem beneditina no sul da Itália no Séc. VI. Os regulamentos da ordem foram compilados no código de Benedito e eram muito rígidos. Um esquema determinava os horários para oração, trabalho, refeições e sono. As orações, o ponto central da existência de um monge, deviam ser feitas sete vezes por dia.

Todos os mosteiros procuravam ser tão auto-suficientes quanto possível, e assim acabavam por se envolver com agricultura de forma mais ou menos específica. Os cistercianos, no entanto, foram mais bem-sucedidos do que muitas outras ordens. Isso é demonstrado nas ótimas construções que erigiam.

Muitas ordens religiosas recebiam terras de devotos, na esperança de serem abençoadas neste mundo e no próximo. Isto aumentava a extensão de terras que possuíam e fez com que a riqueza dos mosteiros também aumentasse. Quando consolidaram a posse das terras, comprando mais ainda, transformaram-nas em fazendas-modelo ou granjas altamente organizadas.

Os templários eram uma ordem de cavaleiros formada depois da primeira Cruzada (1096-9) para guardar as rotas para a Terra Santa e proteger os lugares sagrados. Até serem desfeitas em 1308, estas ordens tiveram várias vastas propriedades, muito similares às dos cistercianos. Ruínas de uma delas que data do séc. XIII foram escavadas em South Witham, Lincoinshire.

Os agricultores monásticos tiveram tanto sucesso que no séc. XIII uma grande parte da terra arável da Europa pertencia a eles e quase todos os proprietários leigos de terra tinham um membro de ordem religiosa como vizinho.

No povoado medieval, a igreja paroquial ocupava o centro principal. A maioria do povo acreditava que, seguindo os ensinamentos da Igreja, iria para 0 céu depois da morte e seria poupada dos terríveis sofrimentos do inferno. Pediam também ajuda para os problemas desta vida. Como poucos sabiam ler, a história do cristianismo era contada aos fiéis através dos murais, estátuas e vitrais das igrejas.

Nos domingos e dias santos, iam à igreja para tomar parte nos serviços religiosos, que eram todos em latim. Por isso, a maioria nem sempre entendia a cerimônia. O pároco tinha por obrigação ensinar o evangelho cristão aos paroquianos e encorajá-los a viver de acordo com as leis de Deus.

O papa era o chefe da Igreja Católica, "portanto" tinha autoridade sobre todos os seus súditos. Como "representante de Deus na Terra", numa época em que todos acreditavam em Deus, no céu e no inferno, o poder do papa para influenciar as decisões dos reis e de seus conselheiros era enorme. Os inimigos da Igreja eram considerados inimigos de Deus, e o papa tinha poder para excomungar quem praticasse o mal {segundo o considerado pela igreja) ou desafiasse sua autoridade. Esse castigo terrível consistia em excluir o culpado de todos os serviços da Igreja e a sua condenação irrevogável ao inferno, após a morte.

O rei ideal, apesar de todas as lendas, jamais existiu no período medieval. Segundo o ideal da época, ele deveria possuir muitas virtudes, entre elas, ser cristão devoto, legislador astuto, um homem instruído, que protegia estudiosos e filósofos, e um diplomata habilidoso capaz de resolver as brigas entre seus súditos tanto quanto enfrentar inimigos estrangeiros perigosos. Alguns chegavam, ainda, a acreditar que o rei podia fazer milagres e curar doenças.

O poder do rei era passado de pai para filho, não tinha nada a ver com habilidade. Alguns reis eram tão incapazes que seus conselheiros precisavam designar um "regente" para governar.

O poder temporal do Papa {aquele advindo da riqueza que acumulara) trouxe conflitos com as monarquias medievais, como é o caso da Questão da Investidura {sobre o direito de nomear sacerdotes para cargos eclesiásticos, disputado pelo Papa e o Imperador).

O alto-clero de Roma estimulava inúmeros negócios envolvendo a religião, como, por exemplo, o comércio de relíquias sagradas {simonia), pois acreditava-se que os objetos usados por Cristo, pela Virgem ou os santos tivessem o poder de fazer milagres. A fraude tornava-se, assim, inevitável, pois era fácil convencer que qualquer lasca velha de madeira era um elemento da verdadeira cruz de Cristo. Burns reforça esta afirmação, relatando que

"... as igrejas da Europa possuíam pedaços de madeira da verdadeira cruz em quantidade suficiente para construir um navio. Nada menos de cinco tíbias do jumento montado por Jesus quando entrou em Jerusalém eram exibidas em lugares diferentes, para não falar em doze cabeças de João Batista. "

Vendiam-se também indulgências, isto é, o perdão dos pecados. Inicialmente, as indulgências não eram concedidas em troca de pagamento em dinheiro, mas apenas como prêmio a obras de caridade, jejuns, participação numa cruzada. Foram os papas da Renascença que instituíram este comércio de perdões, que muitas vezes passavam pelas mãos de banqueiros que os negociavam à base de comissão. Como exemplo, Burns cita os Filggers de Augsburgo que se encarregavam de vender indulgências para Leão X, com a permissão de embolsar um terço da receita. Este tráfico alcança, no século XIV as proporções de um escândalo gigantesco, que vai se transformar em uma das causas da Reforma Protestante do século XVI.

No Ocidente Medieval, havia também os considerados marginalizados. Incluíam nesse grupo: portadores de certas doenças, como os leprosos, ou de comportamentos anormais, suicidas ou loucos, ou ainda os estrangeiros, mendigos e errantes. Alguns grupos de mulheres eram igualmente discriminados e vitimas de preconceitos como veremos a seguir.

A inquisição

Tinha, como principal objetivo descobrir e julgar os praticantes de heresias (doutrinas contrárias ao dogma católico), mas ultrapassou essa finalidade, freando movimentos políticos e sociais, contrários às classes dominantes. Os Tribunais da Inquisição aplicavam penas que iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.

Considerando-se possuidora e guardiã da verdade divina, a Igreja julgava-se obrigada a expurgar da cristandade a heresia - as crenças que questionavam a ortodoxia cristã. Para a Igreja, os hereges eram "culpados de traição, contra Deus e portadores de uma infecção mortal". Atraídos por falsas idéias, os hereges, podiam abandonar a verdadeira fé e negar a si mesmos a salvação, como também eram uma constante ameaça aos poderes da sociedade da época.

Para impor a obediência, a igreja usou seu poder de excomunhão. A pessoa excomungada não podia receber os sacramentos ou frequentar os serviços religiosos -punição terrível, numa época de fé. Ao tratar com um governante recalcitrante, a Igreja poderia declarar o interdito sobre o seu território, o que na prática negava aos súditos desse governante os sacramentos (embora se pudessem fazer exceções). Realizava também o julgamento de heresias. Antes do século XIII, os bispos locais eram responsáveis pela descoberta e julgamento dos hereges. Em 1233, o papado criou a Inquisição, tribunal especialmente destinado a combater a heresia os acusados eram considerados culpados até que fosse provada a sua inocência. Não eram informados do nome de seus acusadores, nem podiam recorrer a advogados. Para arrancar dele uma confissão, era permitida a tortura. Se persistisse em suas crenças, era entregue às autoridades civis para ser queimado na fogueira.

Heresias, Mulheres e Bruxas

As heresias da Baixa Idade Média, presentes na cristandade desde o século XI, foram, em alguns casos, a via escolhida por grupos leigos para participar mais intensamente da vida religiosa.

Muitas heresias se confundiram no seio das populações com a concepção rudimentar que tinham do cristianismo; mesclaram-se com a religiosidade popular. Alguns movimentos representaram o anseio, nutrido por uma espiritualidade ardente, de participação mais efetiva de grupos leigos fadados a permanecer, de acordo com a hierarquia da Igreja, na condição de crentes, fiéis, seguidores das normas estabelecidas. Os textos deixados pelos religiosos, basicamente as únicas fontes para o estudo das heresias, registram, na maior parte, uma proporção considerável de mulheres na composição dos movimentos.

O Registro do escrivão da Inquisição de Carcassona, com informações relativas ao período de 1250 a 1267, contém 293 citações de pessoas cujas penas foram diminuídas. Delas, 47 foram mulheres.

O fenômeno da grande "caça às bruxas", ocorrido principalmente entre os séculos XV e XVII, teve seus elementos psicológicos motivadores do processo, constituídos antes do século XV. A eliminação de um grupo arbitrariamente considerado indesejável e pernicioso para as instituições medievais revela o preconceito e a discriminação provocados pela Igreja, que encontrou reflexos muito tempo depois, atingindo outras religiões outros mundos.

"As transformações na imagem e conceituação das magas, curandeiras, adivinhas, etc. acompanharam a evolução das sociedades européias e dependeram dos fatores crença-descrença nos poderes a elas atribuídos, de acordo com as diferentes épocas.

A crença nos poderes mágicos e nos praticantes da magia remonta a Antiguidade. Os textos revelam a presença de magas ou magos, tanto nas civilizações antigas do Oriente Próximo, quanto no mundo greco-romano e no mundo germânico. Os cronistas, os pensadores cristãos e os textos legislativos da Alta Idade Média européia atestam a crença das populações em charlatães, pitonisas, em filtros mágicos e malefícios de toda espécie. "

O posicionamento dos religiosos, a partir do século XIII, modificou-se, acompanhando as transformações políticas, culturais, e econômicas ocorridas nesse período. O diabo ganhou importância na imaginação das pessoas, inclusive dos clérigos. O medo do demônio gerou o medo das feiticeiras. O medo de ambos gerou a perseguição e o extermínio do inimigo visível: as bruxas.

A difusão desses novos valor.es morais trouxe uma mudança radical na concepção da feitiçaria. Na consciência das autoridades floresceu a idéia de que havia pessoas sujeitas a uma " desnaturalização " voluntária, prontas a deixar o serviço de Deus para adorar o diabo. A idéia de ligação das atividades mágicas, característica da feiticeira, com o culto demoníaco e a depravação sexual alterou sua imagem anterior, transformando-a progressivamente na bruxa. O fenômeno da bruxaria, ao contrário da feitiçaria, é grupal. Temia-se não apenas a bruxa, mas a reunião delas: o sabat.

Antes do século XIV, as autoridades religiosa e civil preocuparam-se com o problema da magia, mas da magia masculina. Consideravam os magos como invocadores do demônio. A invocação transformava o diabo no servidor do mago.

Daí em diante a preocupação foi direcionada à mulher. Ao contrário do mago, a bruxa era vista como adoradora do demônio. Este, de servo, transformou-se em senhor. Agora a bruxa era a serva em potencial, a responsável por atos sexuais abomináveis, pela impotência dos humanos, por malefícios de toda espécie. A imagem grotesca do sabat é representada por uma orgia.

O combate feroz, iniciado pela Inquisição contra as "maléficas", reprimia a sexualidade feminina. Muitas mulheres, acusadas de comportamentos anormais, arderam na fogueira. Os primeiros casos de perseguição ocorreram no Languedoc e as vitimas eram adeptas do catarismo. Heresia, bruxaria, loucura, todos os comportamentos estranhos despertavam suspeita.

Dois inquisidores da Alemanha, pertencentes à Ordem dos Dominicanos, escreveram um grande código destinado aos delitos da bruxaria. O Malleus Malejicarum, um dos primeiros manuais de caça às bruxas, aparecido em 1486, foi o resultado intelectual de uma longa atividade contra as práticas demoníacasmágicas. Nos primeiros capítulos, os autores insistem na necessidade de se acreditar na ação das "maléficas" e na sua colaboração com o demônio. Falam dos íncubos e súcubos, demônios noturnos incitadores do desejo carnal e criadores de seres dados à bruxaria. Segundo eles, pela ação das "maléficas", as bruxas, o diabo inspira o ódio ou o amor, proíbe a procriação ou o ato carnal. Depois, os autores demonstram o poder das bruxas e a maneira de combater e destruir as suas numerosas obras nefastas.

No meio do combate, da condenação e do expurgo, os "sinais" denunciadores da bruxa, variados, múltiplos, fáceis de serem detectados, colocavam qualquer pessoa suspeita na mira dos defensores da ordem.

O trabalho do camponês na Europa Feudal

Apesar do renascimento urbano, a Europa medieval continuou tendo uma população maior no campo do que nas cidades. Segundo os estudiosos de história rural, 90% dos habitantes nesse período viviam em áreas agrícolas.

Um dos únicos aspectos que igualava a situação dos homens camponeses era a relação de dependência pessoal e econômica que os subordinava aos nobres e ao clero. Nos documentos da época recebiam vários nomes; eles aparecem designados pela palavra "rústicos". Também eram identificados pelo termo "vilãos", porque viviam em geral numa vila, isto é, num domínio rural, sob a autoridade de um senhor. Outras vezes, ao falar deles, utilizava-se simplesmente a palavra "pobre". Em geral deviam obediência, obrigações e impostos ao senhor da tenência em que moravam, plantavam e colhiam. Tenência, manso ou casal eram nomes dados à parte da propriedade senhorial entregue às famílias de trabalhadores .

Uma parte dos camponeses dos séculos XI e XII era descendente de famílias de colonos. Desde época da crise do Império Romano muitos pobres, abandonando as cidades, fixaram-se no campo e tornaram-se arrendatários dos grandes possuidores de terra, perdendo o direito de abandonar a gleba.

A palavra servus provém do latim e significa "escravo". Porém, escravo e servo não são a mesma coisa. Sob o ponto de vista juridico" escravo não possui liberdade alguma, constituindo uma propriedade de alguém. O servo é uma pessoa semilivre; não possui liberdade plena mas também não é um mero instrumento de trabalho. Os servos "acasados", isto é, que permaneciam numa terra, poderiam acumular um mínimo para a sua sobrevivência. Além do servo, havia os camponeses livres, pequenos proprietários que, entregando suas terras, continuaram trabalhando na condição de arrendatários. Nesses casos, os camponeses faziam questão de deixar claro que entregavam a terra, não suas pessoas. Eram designados como rendeiros ou foreiros, isto é, homens livres devedores de uma parte fixa da produção ao senhor.

No início do século XIV, pequenos proprietários conseguiram se libertar do domínio senhorial (Por exemplo, quando obtinham sucesso com a lavoura em seus mansos). Havia comunidades de homens livres. Dependendo da região ou do país, entretanto, existiam ainda comunidades servis. Além disso, uma quantidade considerável de pessoas permanecia sem terra, vendendo o seu trabalho em troca de produtos ou de dinheiro.

A condição social dos habitantes das áreas rurais era péssima, o que gerou insatisfação e deu origem a grandes movimentos de rebeldia. Os motivos decorreram da conjuntura da crise generalizada vivida no Ocidente europeu e se desdobraram em inúmeros momentos de luta e tensão social, que caracterizaram a fase de consolidação da crise do sistema feudal.

Entra em Cena o Comerciante

Hoje em dia, poucas pessoas abastadas guardam cofres cheios de ouro e prata. Quem tem dinheiro não o deseja guardar, mas sim movimentá-lo, buscando um meio lucrativo de investimento. Tenta achar onde colocar seu dinheiro de forma a ter uma retirada proveitosa, com o juro mais alto. O dinheiro pode ser aplicado em negócios, em ações de uma companhia siderúrgica; pode ser empregado na aquisição de apólices do governo, ou num sem-número de outras coisas. Hoje há mil e uma maneiras de se aplicar capital, na tentativa de obter mais capital.

Mas logo no início da Idade Média, tais portas não estavam abertas aos ricos. Poucos tinham capital para aplicar, e os que o possuíam pouco emprego encontravam para ele. A Igreja tinha seus cofres cheios de ouro e prata, que guardava em suas caixas-fortes ou utilizava para comprar enfeites para os altares. Possuía grande fortuna, mas era um capital estático, e não continuamente movimentado, como as fortunas de hoje. O dinheiro da Igreja não podia ser usado para multiplicar sua riqueza, porque não havia saída para ele. O mesmo acontecia à fortuna dos nobres. Se qualquer quantia ia ter às suas mãos, por impostos ou multas, os nobres não podiam investi-Ia em negócios, porque estes eram poucos. Todo o capital dos padres e dos guerreiros era inativo, estático, imóvel, improdutivo.

Mas, não se necessitava diariamente de dinheiro pára adquirir coisas? Não, porque quase nada era comprado. Um pouco de sal, talvez, e algum ferro. Quanto ao resto, praticamente toda a alimentação e o vestuário de que o povo precisava eram obtidos no feudo. Nos primórdios da sociedade feudal, a vida econômica decorria sem muita utilização de capital. Havia uma economia de consumo, em que cada aldeia feudal era praticamente auto-suficiente. Se alguém perguntar quanto pagamos por um casaco novo, a proporção é de 100 para 1 como você responderá em termos de dinheiro. Mas se essa mesma pergunta fosse feita no início do período feudal, a resposta provavelmente seria: "Eu mesmo o fiz". O servo e sua família cultivavam seu alimento e com as próprias mãos fabricavam qualquer mobiliário de que necessitassem. O senhor do feudo logo atraía à sua casa os servos que se demonstravam bons artífices, afim de fazer os objetos de que precisava. Assim, o estado feudal era praticamente completo em si - fabricava o que necessitava e consumia seus produtos.

Sem dúvida, havia um certo intercâmbio de mercadorias. Alguém podia não ter lã suficiente para fazer seu casaco, ou talvez não houvesse na família alguém com bastante tempo ou habilidade. Nesse caso, a resposta à pergunta sobre o casaco poderia ser: "Paguei cinco galões de vinha por ele". Essa transação provavelmente se efetuou no mercado semanal mantido junto de um mosteiro ou castelo, ou numa cidade próxima. Esses mercadores estavam sob o controle do bispo ou senhor e ali se trocavam quaisquer excedentes produzidos por seus servos ou artesãos ou quaisquer excedentes dos servos. Mas com o comércio em tão baixo nível não havia razão para a produção de excedentes em grande escala.

Só se fabrica ou cultiva além da necessidade de consumo quando há uma procura firme. Quando não há essa procura, não há incentivo à produção de excedentes. Assim sendo, o comércio nos mercados semanais nunca foi muito intenso e era sempre local. Um outro obstáculo à sua intensificação era a péssima condição das

estradas. Estreitas, malfeitas, enlameadas e geralmente inadequadas às viagens. E ainda mais, eram frequentadas por duas espécies de salteadores -bandidos comuns e senhores feudais que faziam parar os mercadores e exigiam que pagassem direitos para trafegar em suas estradas abomináveis. A cobrança do pedágio era uma prática tão comum que "quando Odo de Tours, no século XI, construiu uma ponte sobre o Loire e permitiu o livre trânsito. sua atitude provocou assombro".

Outros obstáculos retardavam a marcha do comércio. O dinheiro era escasso e as moedas variavam conforme o lugar. Pesos e medidas também eram variáveis de região para região. O transporte de mercadorias para longas distâncias, sob tais circunstâncias, obviamente era penoso, perigoso, difícil e extremamente caro. Por

todos esses motivos, era pequeno o comércio nos mercados feudais

locais.

Mas não permaneceu pequeno. Chegou o dia em que o comércio cresceu, e cresceu tanto que afetou profundamente toda a vida da Idade Média. O século XI viu o comércio evoluir a passos largos; o século XII viu a Europa ocidental transformar-se em consequência disso.

As Cruzadas levaram novo ímpeto ao comércio. Dezenas de milhares de europeus atravessaram o continente por terra e mar para arrebatar a Terra Prometida aos muçulmanos. Necessitavam de provisões durante todo o caminho e os mercadores os acompanhavam afim de fornecer-lhes o que precisassem. Os cruzados que regressavam de suas jornadas ao Ocidente traziam com eles o gosto pelas comidas e roupas requintadas que tinham visto e experimentado. Sua procura criou um mercado para esses produtos. Além disso, registrou-se um acentuado aumento na população, depois do século X, e esses novos habitantes necessitavam de mercadorias. Parte dessa população não tinha terras e viu nas Cruzadas uma oportunidade de melhorar sua posição na vida. Freqüentemente, as guerras fronteiriças contra os muçulmanos, no Mediterrâneo, e contra as tribos da Europa oriental eram dignificadas pelo nome de Cruzadas quando, na realidade, constituíam guerras de pilhagem de bens e de terras. A Igreja envolveu essas expedições de saque num manto de respeitabilidade, fazendo-as aparecer como se fossem guerras com o propósito de difundir o Evangelho ou exterminar pagãos, ou ainda defender a Terra Santa.

Desde os primeiros tempos realizaram-se peregrinações à Terra Santa (houve 34 entre os séculos VIII e X e 117 no século XI). Era sincero o desejo de resgatar a Terra Santa, e apoiada por muitos que nada ganhavam com isso. Mas a verdadeira força do movimento religioso e a energia com que foi orientado fundamentavam-se grandemente nas vantagens que poderiam ser conquistadas por certos grupos.

Primeiro, havia a Igreja. Animada, sem dúvida, por um motivo religioso honesto. Mas também com o bom senso de reconhecer que se tratava de uma época de luta e, assim, dela se apoderou a idéia de transportar o furor violento dos guerreiros a outros países que se poderiam converter ao cristianismo, caso a vitória lhes sorrisse. A Clermont, na França, no ano de 1095, dirigiu-se o papa Urbano II. Num descampado, já que não havia edifício suficientemente grande para abrigar os que queriam ouvi-lo exortou os fiéis a se aventurarem numa Cruzada, nos seguintes termos, segundo o depoimento de Fulcher de Chartres, que estava presente: "Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem, impiedosamente, contra os fiéis, em guerras particulares, lutarem contra os infiéis. ..Deixai os que até aqui foram ladrões tornarem-se soldados. Deixai aqueles que outrora se bateram contra seus irmãos e parentes, lutarem agora contra os bárbaros, como devem. Deixai os que outrora foram mercenários, a baixos salários, receberem agora a recompensa eterna. .."

Segundo, havia a Igreja e o Império Bizantino, com sua capital em Constantinopla, muito próximo ao centro do poder muçulmano na Ásia. Enquanto a Igreja Romana via nas Cruzadas a oportunidade de estender seu poderio, a Igreja Bizantina via nelas o meio de restringir o avanço muçulmano ao seu próprio território.

Terceiro, havia os nobres e cavaleiros que desejavam os saques, ou estavam endividados, e os filhos mais novos, com pequena ou nenhuma herança -todos julgavam ver nas Cruzadas uma oportunidade para adquirir terras e fortuna.

Quarto, havia as cidades italianas de Veneza, Gênova e Pisa. Veneza foi sempre uma cidade comercial. Qualquer cidade localizada num arquipélago a isso era obrigada. Se as ruas de uma cidade são canais, é de esperar que sua população se sinta mais à vontade em um barco que em terra. E o que se passa com os venezianos. Ainda, Veneza apresentava uma localização ideal para a época, pois o bom comércio era o do Oriente, tendo o Mediterrâneo como saída. Uma vista d'olhos no mapa será o suficiente para mostrar por que Veneza e outras cidades italianas se tornaram centros comerciais tão importantes. O que o mapa não mostra, mas também é verdade, é que Veneza permaneceu ligada a Constantinopla e ao Oriente, depois que a Europa ocidental se dispersou. Uma vez que Constantinopla, durante muitos anos, foi a maior cidade na região do Mediterrâneo, essa constituía uma vantagem a mais. Significava que as especiarias orientais, sedas, musselinas, drogas e tapetes seriam transportados para a Europa

pelos venezianos, que mantinham a rota interna. E porque foram originariamente cidades comerciais, Veneza, Gênova e Pisa desejavam privilégios especiais de comércio com as cidades ao longo da costa da Ásia Menor. Nessas cidades viviam os odiados muçulmanos, os inimigos de Cristo. Mas isso fazia alguma diferença aos venezianos? Nem por sombra. As cidades comerciais italianas encaravam as Cruzadas como uma oportunidade de obter vantagens comerciais. Assim é que a Terceira Cruzada teve por objetivo não a reconquista da Terra Santa, mas a aquisição de vantagens comerciais para as cidades italianas. Os cruzados atravessaram Jerusalém, em demanda das cidades comerciais ao longo da costa.

A Quarta Cruzada começou em 1201. Desta vez, Veneza desempenhou o papel mais importante e lucrativo. Villehardouin foi um dos seis embaixadores que se dirigiam ao doge de Veneza para solicitar ajuda, em transporte, aos cruzados. Assim se refere a um acordo estabelecido em março daquele ano:

" - Senhor, aqui viemos em nome dos nobres barões de França que adotaram a cruz. ..eles vos rogam, por amor de Deus...fazer o possível para conceder-lhes transporte e navios de guerra.'

" - Sob que condições?' -perguntou o doge.

" - Sob quaisquer condições por vós propostas ou aconselhadas, se forem capazes de cumpri-las' -replicam os enviados...

"- Nós forneceremos huissiers [navios com uma porta - huis - na popa, que podia ser aberta para dar entrada aos cavalos] com capacidade para transportar 4.500 cavalos e 9 mil escudeiros, e navios para 4.500 cavaleiros e 20 mil soldados de infantaria. O acordo compreenderá o fornecimento e alimentos por nove meses para todos esses homens e cavalos. E o menos que faremos, sob a condição de que nos paguem quatro marcos por cavalo e dois marcos por homem...'

" - E faremos ainda mais: juntaremos 50 galés armadas, por amor de Deus; sob a condição de que, enquanto perdurar nossa aliança, em cada conquista de terra ou dinheiro que realizarmos, por mar ou terra, teremos a metade, e vós a outra...'

"Os mensageiros. ..declararam: ,- Senhor, estamos prontos

a firmar este acordo".

Podemos concluir, desse acordo, que embora os venezianos estivessem desejosos de ajudar a marcha dessa Cruzada, "por amor de Deus", não permitiam que tão grande amor os cegasse quanto à melhor parte da pilhagem. Eram grandes homens de negócios. Do ponto de vista religioso, pouco duraram os resultados das Cruzadas, já que os muçulmanos, oportunamente, retomaram o reino de Jerusalém. Do ponto de vista do comércio, entretanto, os resultados foram tremendamente importantes. Elas ajudaram a despertar a Europa de seu sono feudal, espalhando sacerdotes, guerreiros, trabalhadores e uma crescente classe de comerciantes por todo o continente; intensificaram a procura de mercadorias estrangeiras; arrebataram a rota do Mediterrâneo das mãos dos muçulmanos e a converteram, outra vez, na maior rota comercial entre o Oriente e o Ocidente, tal como antes.

Se os séculos XI e XII presenciaram um renascimento do comércio no Mediterrâneo, ao sul, viram também o grande despertar das possibilidades comerciais nos mares do norte. Nessas águas, o comércio não renasceu. Pela primeira vez, tornou-se realmente intenso. No mar do Norte e no Báltico, os navios corriam de um ponto a outro para apanhar peixe, madeira, peles, couros e peliças. Um dos centros desse comércio nos mares do norte era a cidade de Bruges, em Flandres. Tal como Veneza, ao sul, constituía o elo da Europa com o Oriente, Bruges estabelecia contato com o mundo russo-escandinavo. Restava apenas, a esses dois centros afastados, encontrar seu melhor ponto de encontro, onde a grande quantidade de artigos necessitados pelo norte poderia ser trocada facilmente pelos produtos estranhos e caros do Oriente. E como o comércio, tendo um bom começo, cresce como uma bola de neve rolando a encosta, não demorou muito para que se descobrisse esse centro comercial. Os mercadores que conduziam as mercadorias do norte encontravam-se com os que cruzavam os Alpes, vindos do sul, na planície Champagne. Aí, numa série de cidades, realizavam-se grandes feiras, sendo as mais importantes em Lagny, Provins, Barsur-Aube e Troyes. (Se o leitor já se mostrou intrigado algum dia quanto ao uso do peso troy, aqui está a resposta: era o sistema de pesos usados em Troyes, há séculos, nessas grandes feiras. )

Hoje o comércio é contínuo, em toda parte. Nossos meios de transporte são tão aperfeiçoados que as mercadorias dos pontos extremos da terra chegam, em fluxo constante, às nossas grandes cidades, e tudo quanto precisamos fazer é ir às lojas e escolher o que queremos. Mas nos séculos XII e XIII, como vimos, os meios de transporte não estavam tão desenvolvidos. Nem havia uma procura firme e constante de mercadorias em todas as regiões, que pudesse garantir às lojas uma venda diária durante todo o ano. A maioria das cidades, por esse motivo, não podia ter comércio permanente. As feiras periódicas na Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha e Itália constituíam um passo em prol do comércio estável e permanente. Regiões que, no passado, dependiam do mercado semanal para satisfação de suas necessidades mais simples descobriram que esse mercado era inadequado às oportunidades do comércio em desenvolvimento. Poix, na França, era uma dessas regiões. Solicitou ao rei que concedesse permissão para o estabelecimento de um mercado semanal e duas feiras por ano. Eis um trecho da carta do rei, a respeito: "Recebemos a humilde petição de nosso querido e bem amado Jehan de Créquy, senhor de Canaples e de Poix ... informando-nos que a mencionada cidade e arredores de Poix estão localizados em terreno bom e fértil, e a mencionada cidade e arredores são bem construídos e providos de casas, povo, mercadores, habitantes e outros, e também lá afluem, passam e tomam a passar, muitos mercadores e mercadorias das vizinhanças e outras regiões, e isto é esquisito e necessário à realização das duas feiras anuais e um mercado cada semana... Por essa razão é que nós ...criamos, organizamos e estabelecemos para a mencionada cidade de Poix ...duas feiras por ano e um mercado por semana."s Na verdade, as feiras mais importantes da Champagne eram de tal forma preparadas que duravam todo o ano – quando uma acabava, a outra começava, etc. Os mercadores com suas mercadorias deslocavam-se de feira para feira.

É importante observar a diferença entre os mercados locais semanais dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras do século XII ao XV. Os mercados eram pequenos, negociando com os produtos locais, em sua maioria agrícolas. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revende dores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul.

Vejamos a seguinte proclamação, datada de 1349, referente às feiras da Champagne: "Todas as companhias de mercadores e também os mercadores individuais, italianos, transalpinos, florentinos, milaneses, luqueses, genoveses, venezianos, alemães, provençais e os de outros países, que não pertencem ao nosso reino, se desejarem comerciar aqui e desfrutar os privilégios e os impostos vantajosos das mencionadas feiras... podem vir sem perigo, residir e partir -eles, sua mercadoria, e seus guias, com o salvo-conduto das feiras, sob o qual os conservamos e recebemos, de hoje em diante, juntamente com sua mercadoria e produtos, sem que estejam jamais sujeitos a apreensão, prisão ou obstáculos, por outros que não os guardas das ditas feiras..."

Além de convidar os mercadores de todas as partes para participar das feiras, o regulamento da Champagne lhes oferece salvo-conduto para ir e voltar. Isso era importante, numa época em que os ladrões infestavam as estradas. Com frequência, também, os mercadores que se dirigiam às feiras ficavam isentos dos penosos impostos e direitos de pedágio, normalmente exigidos pelos senhores feudais durante as viagens. Tudo isso era determinado pelo senhor da província onde a feira se realizava. O que acontecia se um grupo de mercadores era atacado por um bando de salteadores na estrada? Nesse caso, os mercadores da província em questão onde o roubo fora efetuado eram, eles próprios, banidos das feiras. Isso representava, sem dúvida, um castigo terrível, já que significava a paralisação do comércio daquela localidade.

Mas por que o senhor da cidade onde a feira se realizava preocupava-se em fazer esses preparativos especiais? Simplesmente porque a feira proporcionaria riqueza aos seus domínios e a ele pessoalmente. Os mercadores que efetuavam negócios nas feiras pagavam-lhe pelo privilégio. Havia uma taxa de entrada e de saída, e de armazenamento das mercadorias; havia uma taxa de venda e uma taxa para armar a barraca na feira. Os mercadores não se opunham a esses pagamentos, porque eram bem conhecidos, fixados, e não muito altos.

As feiras eram tão grandes que os guardas normais da cidade não lhes bastavam; havia a polícia da própria feira, guardas especiais e tribunais. Quando surgia uma disputa, os policiais da feira intervinham e nos tribunais da feira ela era resolvida. Tudo era organizado cuidadosa e eficientemente.

O programa das feiras era comumente o mesmo. Depois de alguns dias de preparativos, nos quais se desempacotava a mercadoria, armavam-se as barracas, efetuavam-se os pagamentos e cuidava-se de todos os outros detalhes, inaugurava-se a grande feira. Enquanto dezenas de saltimbancos procuravam divertir o povo que se movia de barraca em barraca, prosseguiam as vendas. Embora produtos de toda espécie fossem vendidos durante todo o tempo, alguns dias eram reservados ao comércio de tipos especiais de mercadorias, como fazendas, couros e peles.

Por um documento datado de 1429, relacionado à feira em Lille, temos conhecimento de uma outra característica importante desses grandes centros comerciais: "... ao mencionado Jehan de Lanstais, por nossa graça especial, concedemos e concordamos (...que em qualquer parte do dito mercado, em nossa mencionada cidade de Lille, ou onde quer que a troca do dinheiro seja levada a cabo, ele pode estabelecer-se, ocupar e empregar um balcão e trocar dinheiro. ..pelo tempo que nos agrade...em troca do i que ele nos pagará, cada ano, através de nosso recebedor em Lille, a soma de 20 libras parisienses."

Esses trocadores de dinheiro representavam parte tão importante da feira que, tal como havia dias especiais dedicados à venda de fazendas e peles, os dias finais da feira eram consagrados a negócios em dinheiro. As feiras tinham, assim, importância não só por causa do comércio, mas porque aí se efetuavam transações financeiras. No centro da feira, na corte para troca de dinheiro, pesavam-se, avaliavam-se e trocavam-se as muitas variedades de moedas; negociavam-se empréstimos, pagavam-se dívidas antigas, letras de crédito e letras de câmbio circulavam livremente. Aí os banqueiros da época efetuavam negócios financeiros de tremendo alcance. Unindo-se, dominavam amplos recursos. Suas operações cobriam negócios que se estendiam através de todo um continente, de Londres ao Levante. Entre seus clientes contavam-se papas e imperadores, reis e príncipes, repúblicas e cidades. Negociar em dinheiro levou a consequências tão grandes que passou a constituir uma profissão separada.

Esse fator é importante porque demonstra como o desenvolvimento do comércio trouxe consigo a reforma da antiga economia natural, na qual a vida econômica se processava praticamente sem a utilização do dinheiro. Havia desvantagens na permuta de gêneros, nos prim6rdios da Idade Média. Parece simples trocar cinco galões de vinho por um casaco, mas na realidade não era nada fácil. Era necessário procurar quem tivesse o produto desejado e quisesse trocá-lo. Introduza-se, porém, o dinheiro como meio não importa o que necessitem na ocasião, porque pode ser trocado por qualquer coisa. Quando o dinheiro é largamente empregado, não é necessário carregar cinco galões de vinho pela redondeza, até encontrar alguém que queira vinho e tenha um casaco para trocar. Não; basta vender o vinho por dinheiro, e então, com esse dinheiro, comprar um casaco. Embora a transação de troca simples se transformasse com isso numa transação dupla, com a introdução do dinheiro, na realidade poupavam-se tempo e energia. Assim, o uso do dinheiro toma o intercâmbio de mercadorias mais fácil e, dessa forma, incentiva o comércio. A intensificação do comércio, em troca, reage na extensão das transações financeiras. Depois do século XII , a economia de ausência de mercados se modificou para uma economia de muitos mercados; e com o cresci-

mento do comércio, a economia natural do feudo auto-suficiente do início da Idade Média se transformou em economia de dinheiro, num mundo de comércio em expansão.

Crise do Feudalismo e Transições

No século XIV, na Europa Ocidental, a população vivia dentro de determinadas características, que vinham sendo construídas desde o século III, e às quais denominamos Feudalismo. As relações de produção se baseavam no trabalho servil prestado fundamentalmente nas terras dos "senhores feudais": os nobres e os elementos da alta hierarquia da Igreja Cat6lica.

O crescimento da população, verificado entre os séculos XI e XlV foi extraordinário. Os nobres aumentaram em número e tomaram-se mais exigentes com relação aos seus hábitos de consumo: isso determinava a necessidade de aumentar suas rendas e para consegui-lo, aumentou-se grandemente o grau de exploração da massa camponesa. Esta superexploração produziu protestos dos servos, consubstanciados em numerosas revoltas e fugas para as cidades. A repressão a esses movimentos foi enorme, mas a nobreza e o alto clero tiveram razões para temer por sua sobrevivência.

Paralelamente, importantes alterações do quadro natural provocaram sérias conseqüências. Durante o século XIII ocorrera uma expansão das áreas agrícolas, devido ao aproveitamento das áreas de pastagens e à derrubada de florestas. O desmatamento provocou alterações climáticas e chuvas torrenciais e contínuas, enquanto o aproveitamento da área de pastagens levou a uma diminuição do adubo animal, o que se refletirá na baixa. produtividade agrícola. Com as péssimas colheitas que se verificaram, ocorreu uma alta de preços dos produtos agrícolas. Os europeus passaram a conviver com a fome. Os índices de mortalidade aumentaram sensivelmente e, no século XIV, uma população debilitada pela fome teve que enfrentar uma epidemia de extrema gravidade: a Peste Negra, que chegou a dizimar cerca de 1/3 dos habitantes da Europa.

Dificuldades econômicas de toda ordem assolavam a Europa, que passou a conviver com um outro problema: o esgotamento das fontes de minérios preciosos, necessários para a cunhagem de moedas, levando os reis a constantes desvalorizações da moeda. Isso só fazia agravar a crise.

No plano social, ao lado dos problemas já levantados, importa verificar o crescimento de um novo grupo: a burguesia comercial, residente em cidades que tendiam para uma expansão cada vez maior, pois passaram a atrair os camponeses e os elementos "marginais" da sociedade feudal.

Politicamente, a crise se traduz pelo fortalecimento da autoridade real, considerado necessário pela nobreza, temerosa do alcance das revoltas camponesas. A unificação política, ou surgimento dos Estados Nacionais, aparece, desta forma, como uma solução política para a nobreza manter sua dominação.

Finalmente, a crise se manifesta também no plano espiritual-religioso. Tantas desgraças afetaram profundamente as mentes dos homens europeus, traduzindo-se em novas necessidades espirituais (uma nova concepção do homem e do mundo) e religiosas (a Igreja Cat6lica não conseguia atingir tão facilmente os fiéis, necessitados de uma teologia mais dinâmica).

Esta crise é o ponto de partida para se compreender o processo de transição do Feudalismo ao Capitalismo. Para melhor compreendê-la, selecionamos alguns documentos que permitirão um entendimento das questões provocadas pela Peste Negra, no que se refere à demografia e às modificações na mentalidade da sociedade européia.

"Em relação à peste negra, presume-se que tenha ceifado mais de um terço dos habitantes da Europa ( cerca de 40%, por exemplo, em Navarra e na Inglaterra), proporção que apresenta evidentemente variações regionais. De fato, a gravidade das devastações foi, no seu conjunto, junção do grau de concentração populacional: mais acentuada nos meios urbanos do que nos campos, menor nas montanhas do que nas planícies. Mas os efeitos da peste negra não devem ser considerados isoladamente,o reaparecendo em seguida de dez em dez ou de quinze em quinze anos, a pandemia impediu que a população se reconstituísse. Pior ainda, as várias recidivas da peste que marcaram a segunda metade do século XIV e o século XV atingiram sempre particularmente as classes etárias mais jovens, ou seja aqueles que não tinham passado pelas pestes anteriores e não estavam por isso minimamente imunizados. Finalmente, a peste mostrou-se também seletiva quanto aos grupos sociais atingidos: as camadas mais pobres parecem ter sido as mais dizimadas ( devido às piores condições de higiene e ao fato de os pobres não terem meios de abandonar facilmente os lugares mais fortemente contaminados). Certos historiadores sublinharam por isso o caráter simultaneamente "infantil e proletário" das pestes medievais .

As consequências das epidemias de peste não podem ser estudadas independentemente da conjuntura geral da época. ( ...)

O impacto da peste foi mais específico no domínio mental. Os acessos mortais que provocava (súbitos, inexplicáveis, angustiantes) perturbaram profundamente o clima psicológico da época. Em primeiro lugar, intensificaram fortemente as tensões sociais: a exacerbação do "ódio de classe em tempo de epidemia", é um fenômeno bem conhecido e verificado em outras épocas. Cólera contra os ricos, portanto,o mas também ( e ainda mais violenta) contra as minorias: Judeus ou leprosos, suspeitos de terem atraído a vingança de Deus , ou ainda mais concretamente acusados de propagarem a epidemia envenenando os poços. Dar as matanças generalizadas, os massacres...

Outro grande escape para o reflexo de agressividade provocado pela angústia foi a multiplicação das seitas de flagelantes, que pela mortificação pública procuravam conter o castigo divino. Movimento de histeria coletiva que se propaga através de toda a Europa e atinge os mais graves excessos.

Num plano mais geral, a peste e o seu cortejo de horrores suscitam (ou, mais propriamente, aceleram) uma transformação das sensibilidades, particularmente perceptível no domínio da literatura e da arte. A morte torna-se um dos temas prediletos de artistas e poetas".

"Da mesma forma como em todos os regimes fundados na exploração do homem pelo homem, o tempo de equilíbrio e de criação do regime feudal foi de duração limitada. Na Europa, nos séculos XIV e XV, vemos eclodir e prolongar-se uma crise geral da sociedade feudal. Não é a última. Ainda que o declinar do mundo feudal dure relativamente menos tempo que o do mundo antigo, ocupa, não obstante, também vários séculos (XV -XVIII) até o momento em que uma nova classe –a burguesia -persegue conscientemente sua destruição e sua substituição.

No século XIV, torna-se evidente em todos os países da Europa Ocidental que o regime feudal tinha deixado de ser favorável ao desenvolvimento das forças produtivas. Nem a extensão, nem a intensificação da agricultura podem fazer frente ao aumento da população. Os arroteamentos detêm-se, as terras esgotam-se. Fomes terríveis, seguidas de epidemias, afetando sobretudo os mais pobres, sucedem-se com um ritmo bastante rápido. A "Peste Negra" -1348-1349 -é a mais célebre; mas o característico não é o aparecimento dessas calamidades Gáhaviam ocorrido muitas outras), mas a sua repetiÇão e seu resultado: numerosas aldeias despovoadas, numerosas terras abandonadas. A constituição, por cima da estrutura política feudal, dos primeiros Estados Nacionais provoca guerras terríveis (Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra). Destruições que vão acompanhadas de grandes levantes camponeses: em 1358, a 'Jacquerie' na França do Norte; em 1381 a revolta dos trabalhadores na Inglaterra. Esses fenômenos são bastante gerais (são constatados também na Espanha e Alemanha): em muitos casos são concomitantes. Não são, então circunstâncias locais, mas uma crise de conjunto que os provoca.

A crise provém, sem dúvida alguma, do agravamento da exploração das massas camponesas, não tendo mais como contrapartida um desenvolvimento das forças produtivas, porque os impostos senhoriais chegaram a ser puramente parasitários, e aumentam com o gosto pelo luxo e com o desenvolvimento das trocas no seio das classes superiores. Além disso, com o progresso do poder real, que tende a organizar o Estado moderno, soma-se à fiscalização feudal uma fiscalização real. Por último, no interior do próprio campesinato, esboça-se uma diferenciação social e aparecem oposições entre ricos e pobres na comunidade aldeã.

A estabilização da sociedade camponesa foi lenta e foi levada a cabo sob diversas formas; entre os séculos XVI e XIX. Recordemos quais foram essas formas principais e em que medida dificultaram, ajudaram ou orientaram a instalação do capitalismo:

Quando os camponeses se encontram em condições de consolidar sua possessão sobre aterra e quando, graças à manutenção dos direitos coletivos sobre os bosques e campos de pastagens comuns, a coesão da comunidade aldeã subsistiu como pôde, abriu-se o caminho para a propriedade camponesa livre, mas sempre propriedade parcelada.

Pelo contrário, nos países situados a leste do Elba, a lentidão dos progressos técnicos e um menor desenvolvimento das trocas comerciais permitiram aos senhores fundiários a manutenção de um poder exclusivo sobre seus rendeiros.

Na regiões mediterrâneas, particularmente naquelas regiões da Itália onde a economia monetária foi mais precoce, pôde ser elaborada, a partir do século XIII, uma forma de transição entre a economia feudal e a economia capitalista. É a parceria.

Por último, a forma mais elevada da transformação das relações de produção no campo, ainda durante o feudalismo, foi o arrendamento.

O futuro pertencia a esses arrendatários capitalistas; mas enquanto durasse o regime feudal e sua forma de Estado, esses indivíduos continuavam sofrendo o peso dos dízimos, dos tributos feudais, ao mesmo tempo que a injusta repartição dos impostos reais e as dificuldades para o comércio. Certamente, às vezes esses arrendatários integravam-se de uma forma contraditória no regime existente, daí conseguindo retirar lucros, tornando-se arrendatários dos direitos senhoriais e entregando-se localmente a variadas atividades comerciais. Mas a tendência fundamental, a longo prazo, era esses arrendatários terem interesse, pelas mesmas razões dos pequenos camponeses ou dos burgueses, na destruição do regime feudal."

Exercícios

1. (Fuvest 85) Uma característica da Idade Média foi o surgimento de heresias.

a) Que são heresias?

b) Quais as principais reações da Igreja Católica diante das mesmas naquele período ?

2. (Fuvest 87) Como estava organizada a estrutura da sociedade feudal?

3. (Fuvest 96) É sabido que as Cruzadas foram um fenômeno histórico muito importante na Idade Média. Comente suas motivações:

a) religiosas.

b) econômicas e políticas.

4. (Ufpr 94) Analise quatro aspectos característicos da sociedade feudal européia.

5. (Ufscar 2004) A razão de ser dos carneiros é fornecer leite e lã; a dos bois é lavrar a terra; e a dos cães é defender os carneiros e os bois dos ataques dos lobos. Se cada uma destas espécies de animais cumprir a sua missão, Deus protegê-la-á. Deste modo, fez ordens, que instituiu em vista das diversas missões a realizar neste mundo. Instituiu uns - os clérigos e os monges - para que rezassem pelos outros e, cheios de doçura, como as ovelhas, sobre eles derramassem o leite da pregação e com a lã dos bons exemplos lhes inspirassem um ardente amor a Deus. Instituiu os camponeses para que eles - como fazem os bois, com o seu trabalho - assegurassem a sua própria subsistência e a dos outros. A outros, por fim - os guerreiros -, instituiu-os para que mostrassem a força na medida do necessário e para que defendessem dos inimigos, semelhantes a lobos, os que oram e os que cultivam a terra.

(Eadmer de Canterbury, século XI.)

a) Identifique o contexto histórico no qual as idéias defendidas pelo autor desse documento se inserem.

b) Justifique a relação do documento com o contexto histórico especificado.

6. (Unesp 92) "Deus colocou o servo na terra para trabalhar e obedecer."

Analise os compromissos, fortemente influenciados pela ação de uma instituição feudal, vinculados ao enunciado acima.

7. (Unesp 96) Leia atentamente o texto.

"Servidão: uma obrigação imposta ao produtor pela força e independentemente de sua vontade para satisfazer certas exigências econômicas de um senhor, quer tais exigências tomem a forma de serviços a prestar ou de taxas a pagar em dinheiro ou em espécie."

(Maurice Dobb - A EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO)

a) A "corvéia" e a "talha" estavam entre as "exigências econômicas" dos senhores em relação ao servos. Esclareça no que consistiam.

b) O que diferencia a servidão da vassalagem?

8. (Unicamp 95) O feudo era a principal unidade de produção da Idade Média.

a) Como se dividia o feudo?

b) Explique a função de cada uma das partes do feudo.

9. (Fuvest 92) Qual o papel das cidades na transição da Idade Média para a Idade Moderna?

10. (Ufscar 2003) Os crimes das bruxas ... superam os pecados de todas as outras pessoas; e vamos declarar que punição merecem, sejam como Hereges, sejam como Apóstatas. (...)

Mas punir as bruxas dessa forma não parece suficiente, porque não são simples Hereges, e sim Apóstatas. Mais do que isso: na sua apostasia, elas negam a Fé por qualquer prazer da carne e por qualquer receio dos homens; mas, independentemente de sua abnegação, chegam a homenagear os demônios, oferecendo-lhes o seu corpo e a sua alma. Fica claro portanto que, não importa o quanto sejam penitentes e que retornem ao caminho da fé, não se lhes pode punir como aos outros Hereges com a prisão perpétua: é preciso que sofram a penalidade extrema.

(Heinrich Kramer e James Sprenger. "Malleus Maleficarum", 1484)

a) Em que contexto histórico se propagaram as idéias do texto?

b) Quem foram as principais vítimas da disseminação dessas idéias e quais foram as conseqüências que essas pessoas sofreram?

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Sobre a Idade Média pode viajar pelo interessante blog pedagógico a visitar, de linguagem acessível, e donde foi retirada a gravura do topo:

Era uma vez na Idade Média ....

1 comentário:

Belisa disse...

Olá

Adorei os poemas angolanos, estão simplesmente maravilhosos e com o dialeto ainda são mais bonitos.
Quanto a este tema "Idade Média" tenho que ler,pois é matéria de que gosto, mas tenho de ter mais tempo.Agora já estou a olhar para as horas. Vou imprimir e depois leio com calma, mesmo sem computador. Faço isso muitas vezes.

Beijos estrelados