sábado, 9 de fevereiro de 2008

Indonésia - 1965 - o começo da grande matança


30-09-2007

COMBATES DA MEMÓRIA ( 12 )

Indonésia, 1965:
o começo da grande matança


Completam-se hoje precisamente 42 anos sobre o golpe de Estado desencadeado na Indonésia pelo General Suharto (à esquerda, em foto da época) contra o regime do Presidente Sukarno, a pretexto de resposta a um golpe de Estado que estaria em preparação pelo PKI (Partido Comunista da Indonésia, com um milhão e meio de membros nessa altura) e que nunca foi provado ou demonstrado.
Mais do que a perda de poder de Sukarno que, em Abril do ano seguinte, foi obrigado a transferi-lo para Suharto, o que mais dramaticamente marca o dia 30 de Setembro de 1965 é o ínicio de um dos maiores massacres da segunda metade do século XX. Com efeito, durante os três meses finais de 1965 e durante o ano de 1966, perante um generalizado silêncio e indiferença internacional, as forças do Exército e as milicias para-militares GAP-Gestapu
assassinaram entre meio milhão a um milhão de comunistas, sendo outras centenas de milhar de indonésios condenados a longas penas de cadeia, bastando assinalar que, quando a ditadura de Suharto terminou em 1998, milhares de indonésios ainda se encontravam presos em relação com os acontecimentos de Setembro-Outubro de 1965.

Entre os que sofreram a repressão, encontrava-se um dos mais prestigiados escritores indónésios e várias vezes indigitado para o Nobel, Pramoedya Ananta Toer (1), falecido em 2006, e que passou largos anos na prisão da Ilha de Buru (Molucas) e viveu mais de uma década sob regime de prisão domiciliária e que, numa entrevista ao Expresso de 31.7.99. afirmava : «Os massacres foram o resultado duma conspiração internacional, com o objectivo de abrir o país ao investimento e capital estrangeiros. De facto, a indiferença da comunidade internacional em relação aos massacres indica alguma cumplicidade; só assim se pode explicar que nenhuma comissão internacional de inquérito se tivesse ocupado, na altura, do ocorrido. Doutro modo, teria sido investigado imediatamente. Por isso, somos nós próprios que teremos de realizar essa investigação. Mas vai ser difícil. Não estou muito satisfeito com a forma como se prepararam as eleições de Junho, porque a questão dos massacres não foi abordada, o que se pode interpretar como uma forma de legitimar as atrocidades cometidas sob Suharto. Os partidos que participaram tornaram-se, assim, em extensões do antigo regime. »
Tal como acontece com a «luz verde» dada por Gerald Ford e Henry Kissinger à invasão de Timor-Leste em 1975 (ver aqui), The National Security Archive da George Washington University tem online vastíssima documentação oficial comprovando a implicação da Administração norte-americana, designadamente do Presidente Lyndon Johnson e do Secretário de Estado Dean Rusk (fotos à esquerda) no golpe de Estado de Suharto, envolvendo aspectos que vão desde a entrega pelo embaixador norte-americano Green de 50 milihões de rupias ao GAP-Gestapu (ver aqui) até ao fornecimento pela Embaixada norte-americana de listas de dirigentes e quadros do Partido Comunista da Indónésia ao Exército indonésio (ver aqui).

Por fim, só quero assinalar que, como sinal da consabida sensibilidade e independência da grande imprensa norte-americana, no período de 30 de Setembro de 1965 até 14 de Junho de 1966, nem a situação na Indonésia, nem o golpe de Suharto, nem o massacre massivo de comunistas tiveram direito a capa da TIME (como se pode constatar aqui ) mas já a assumpção total do poder por Suharto teve direito à capa (em baixo) de 15.6.1966 da revista, com um satisfeito «insert» onde se lê «Indonésia: o país que os comunistas perderam».



(1) De Pramoedya Ananta Toer estão publicados em Portugal
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Esta estranha terra, Fabulosa Jacarta, Solilóquio mudo e A rapariga de Java, todos na Quetzal.

tempo das cerejas - combates-da-memória-12

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