domingo, 10 de fevereiro de 2008

Beato Salazar (19) - textos vários





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O maior português de todos os tempos (1) Zé Povinho ou Fernão Mendes Pinto
- Victor Nogueira
O 25 de Abril - Os Prós e os Contras da Democracia - Victor Nogueira e outros
Um 1º de Maio no tempo do fascismo - Victor Nogueira
Uma greve no antigamente - Victor Nogueira
Reflexões sobre a história e os diferentes ângulos de visão - Victor Nogueira
O Maior Português de sempre (6) - Salazar porquê ? - Luis Alves de Fraga e comentários de Victor Nogueira e outros
1926 a 1974 - 48 anos sem direitos - Victor Nogueira
25 de Abril - Reflexão e alguns dados - Victor Nogueira
Mortos com os «safanões» ordenados por Salazar e Caetano (1) - Victor Nogueira
Mortos com os «safanões» ordenados por Salazar e Caetano (2) - Victor Nogueira
Achamentos, Descobrimentos ou Encontros de Culturas - uma outra abordagem ! - Victor Nogueira
Um outro ponto de vista sobre a crise em Portugal e no Mundo - Victor Nogueira
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* Miguel Torga
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Coimbra, 27 de Julho de 1970 - Morreu Salazar. Mas tarde demais para ele e para nós, os que o combatíamos. Para ele, porque não morreu em glória, como sempre deve ter esperado; para nós, porque o não vimos morrer na nossa raiva, na nossa humilhação, na nossa revolta. Viveu a frio conscientemente, envolto numa redoma de severidade gelada, a meter medo, e acabou por morrer a frio inconscientemente, numa preservada agonia amolecida, a meter dó. A doença desceu-o de super-homem a homem, e, a duração dela, de homem a farrapo humano. E, quando há pouco chegou a notícia de que se finara de vez, nenhum estremecimento abalou o país. Nem o dos partidários, nem o dos adversários. Para uns, a sombra definitiva do cadáver sobrepôs-se apenas à bruxuleante luz do ídolo; para os outros, o sentimento de piedade cobriu cristãmente o ressentimento sectário. A obra de domesticação nacional estava realizada há muito por uma tenacidade dominadora que utilizava apenas as qualidades negativas do português, e não tinha outra sabedoria do tempo senão a lição da rotina sancionada nos códigos do passado. A fome de aventura, a inquietação da liberdade, o alento da esperança, o orgulho, o brio, a alegria e a coragem - tudo fora sistemática e impiedosamente apagado na lembrança da grei. Daí que se não vislumbrem quaisquer sinais de tristeza aterrada, e, menos ainda, de euforia redentora. A nação inteira passou, sem qualquer sobressalto, de respirar monotonamente com ditador, a respirar monotonamente sem ele.

Miguel Torga in Diário XI, edição do Autor, 2.ª edição revista, 1991 – 1.ª edição de 1973



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