Chorei!
Perfeitamente presente, no espírito, o momento em que recebi a triste notícia da morte do nosso Zeca Afonso!
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Morava em Aradas, ao tempo, e foi no sótão que eu usava para ouvir música e trabalhar.
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Estava a ouvir rádio, o que nem era tão habitual como isso! O locutor de serviço anunciava que o Zeca tinha falecido! Chorei, como nunca havia chorado por pessoa que não era da família! Muito! Não que seja eu um durão! Mas a figura amiga do Zé Afonso, que eu tive o gosto de conhecer pessoalmente, de com ele falar, ocupava/ocupa no meu cofre de memórias o gavetão mais sumptuoso, mais apreciado!
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Habituado desde os tempos de Coimbra a venerar a sua coragem, a sua arte, a sua luta anti-fascista, para mim e para milhões, o Zé Afonso será um histórico Português que não mais verá desvanecida a merecida memória de cidadão honesto e honrado; de pessoa dotada de um sentido musical invulgar com uma capacidade poética acima da média! Trauteei, desde sempre, todas as suas composições. Vibrei com cada um dos discos que editou. Animei, atabalhoado, muitas tertúlias com as suas composições!
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Na guerra colonial, foi com o Zeca, com a sua musa e o seu exemplo, que consegui levar de vencida a terrível e podre situação de antagonismo perante indivíduos que compreendia e respeitava: os guerrilheiros, que "construíam o seu país", como ele escreveu e cantou numa das suas trovas!
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Para ele o dinheiro era um acessório, e bem que poderia ter vivido muito mais rico, materialmente, do que viveu.
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Em Aveiro, onde vivo e onde ele nasceu, a Câmara que sempre foi CDS até há 8 anos atrás, nunca lhe deu sequer nome a uma rua! Há hoje, por mor do PS, uma placa na 'Baixa de Stº António' mas sem dignidade, sem genica, sem significado nem beleza! Resta a consolação de saber que o Presidente da Câmara centrista que lhe negou a evocação, já ninguém o recorda. E quando morrer, lá irá o dito para o tal caixote dos vulgares... Ao contrário do nosso Zeca, que perdurará ad secula seculorum!
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Já depois do 25 de Abril, certa manhã encontrei-me com ele casualmente:vínhamos os dois no comboio para Lisboa, a partir do norte. E na plataforma, a caminho da saída - seriam umas dez e trinta, meti conversa. Fomos seguindo para a porta, até que ele me perguntou: "Tens aí dinheiro? É que venho de uma sessão de canto livre, em Amares, e aqueles mariolas esqueceram-se de me dar alguma coisa. E eu ainda não tomei o pequeno-almoço!"... Palavras para quê? O Zeca era um dos seres que ultrapassa a concepção mais complexa que possamos conceber! Para ele, o que importava mesmo era o seu semelhante oprimido e explorado! Ele, a quem tantos exploraram, na sua imensa despreocupação com os bens materiais deste mundo...
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- "Canta sempre para nós, oh Zeca, que é sangue e seiva a tua voz!" disse o Zé Mário. Eu subscrevo. Todos os de boa vontade o farão, também!
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Do Blog artenosatos, de José Paracana.
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Do Blog artenosatos, de José Paracana.
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Somos nós os teus cantores
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-O Zeca Morreu!
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– Foram as palavras que meu pai, apoiado na janela, disse como num desabafo. Eu apenas sabia que o Zeca que só mais tarde se me mostrou José Afonso era uma voz saída do aparelho de música todos os sábados de manhã e um incómodo um quase descontentamento se me dava caso não a ouvia. No despontar de minha infância o Zeca era aquele cantor que fazia os olhos de meu pai olharem longe, alcançando horizontes que ainda não compreendia. Por isso aquela notícia se anunciou estranha, era como se por algum motivo o disco não mais fosse girar e aquela cantiga tão bela não mais soasse.
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– Foi o nosso cantor!
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– Foi o nosso cantor!
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– Foi a única frase soluçante que até hoje ouvi de meu pai, que laconicamente deslocou a agulha encontrando o disco em movimento. Maio maduro Maio quem te pintou, quem te quebrou o encanto nunca te amou … num gesto quase de imitação sentei-me à janela olhando o horizonte e imaginando que o Zeca era o meu cantor, que naquele momento apenas eu e meu pai o ouviam. O horizonte tão quotidiano como que se pintou e eu via lá longe uma falua que vinha lá de Istambul, e Maio para mim, que nem sabia de cor os meses do ano, passou a ser o melhor deles todos.
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- Quem foi o Zeca pai?
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– Meu pai reclinado na cadeira parecia já adivinhar a pergunta
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- O Zeca foi o maior cantor e compositor português, foi poeta, usou a música como arma política, lutou contra o fascismo … foi o nosso cantor. Foi então que me lembrei das discussões dos domingos a noite em que eu deitado provocando o gato ouvia falar de uma tal Revolução, palavra da qual não sabia o significado mas achava bonita.
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Cresci ouvindo Zeca, todos os dias primaveris, abrindo as janelas, punha o disco “Venham mais cinco” ou “Com as minhas tamanquinhas” continuando a achar que o Zeca era o meu cantor e em segredo ia apontando letras das quais palavras saltavam enigmáticas de minha imaginação. Um dia já mais velho passei numa loja e vi a um canto um CD com uma mão na capa; era do Zeca, comprei-o e trazia com um disco um livrinho que tinha fotos, fotos do Zeca. Um homem meio despenteado com olhos semi-cerrados por detrás de uns grandes óculos que a força da imaginação tentava endireitar. Durante muito anos rejeitei aquelas fotos; para mim aquela voz profunda e bela que ouvia nas canções não tinha um rosto próprio, talvez um vago perfil de um homem encostado à janela. José Afonso, para mim sempre Zeca, morreu há 20 anos, tempo em que deixou de ser apenas o meu cantor, passou a ser a voz de Abril, um cantor sem igual que nos brindou com a mestria de suas composições acompanhadas com a firmeza de seu carácter. Mais do que cantor, sua obra se transcende na mensagem de inconformismo caiada de rebeldia poética e concisa. Ainda hoje olho o horizonte que há 20 anos o Zeca transformou e sinto que não morreu, vive hoje e sempre na obra e em sua imagem inalterável. É tempo de se ouvir Zeca Afonso, ouvi-lo em casa, nas escolas e universidades, nas rádios e televisões, ouvi-lo sobretudo em nossa tão íntima realidade pois hoje somos nós os teus cantores!
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Adriano Campos
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Do Blog da AJA
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- Quem foi o Zeca pai?
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– Meu pai reclinado na cadeira parecia já adivinhar a pergunta
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- O Zeca foi o maior cantor e compositor português, foi poeta, usou a música como arma política, lutou contra o fascismo … foi o nosso cantor. Foi então que me lembrei das discussões dos domingos a noite em que eu deitado provocando o gato ouvia falar de uma tal Revolução, palavra da qual não sabia o significado mas achava bonita.
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Cresci ouvindo Zeca, todos os dias primaveris, abrindo as janelas, punha o disco “Venham mais cinco” ou “Com as minhas tamanquinhas” continuando a achar que o Zeca era o meu cantor e em segredo ia apontando letras das quais palavras saltavam enigmáticas de minha imaginação. Um dia já mais velho passei numa loja e vi a um canto um CD com uma mão na capa; era do Zeca, comprei-o e trazia com um disco um livrinho que tinha fotos, fotos do Zeca. Um homem meio despenteado com olhos semi-cerrados por detrás de uns grandes óculos que a força da imaginação tentava endireitar. Durante muito anos rejeitei aquelas fotos; para mim aquela voz profunda e bela que ouvia nas canções não tinha um rosto próprio, talvez um vago perfil de um homem encostado à janela. José Afonso, para mim sempre Zeca, morreu há 20 anos, tempo em que deixou de ser apenas o meu cantor, passou a ser a voz de Abril, um cantor sem igual que nos brindou com a mestria de suas composições acompanhadas com a firmeza de seu carácter. Mais do que cantor, sua obra se transcende na mensagem de inconformismo caiada de rebeldia poética e concisa. Ainda hoje olho o horizonte que há 20 anos o Zeca transformou e sinto que não morreu, vive hoje e sempre na obra e em sua imagem inalterável. É tempo de se ouvir Zeca Afonso, ouvi-lo em casa, nas escolas e universidades, nas rádios e televisões, ouvi-lo sobretudo em nossa tão íntima realidade pois hoje somos nós os teus cantores!
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Adriano Campos
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Do Blog da AJA
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donde foi retirada a gravura. Clicar para ler.
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