sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Carnaval no Brasil

Bomba: a herança de religiões, igreja e terreiro ao carnaval


Diga mesmo: em que canto do mundo cabem juntos reisado, maracatu, caboclinho, coco, urso, boi, la ursa, orquestra e escola de samba? E não é qualquer reisado não. É único do Recife, cujo mestre, seu Geraldo, de 83 anos de idade, também tem o título do brincante mais velho da cidade, em atividade. Quem o vê cantando e dançando entende por quê.

Por Ana Braga, no Diário de Pernambuco



E a corte de Portugal ainda nem tinha se mudado para o Brasil, quando o Maracatu Nação Elefante foi fundado, em 15 de novembro de 1800. Os integrantes se orgulham, com razão, de dizer que é uma “relíqui”(sic). Já o caçula dos maracatus nação ou de baque virado, o Encanto da Alegria, de 1998, tornou-se o Ponto de Cultura Voz da Criança Pelo Maracatu, do Ministério da Cultura. Neste carnaval, aliás, o grupo está de luto pela fundadora, dona Ivanize de Xangô.

Mas, basta um tum-tum-tum, para sair menino de tudo quanto é casa, batucando até em tambor de brinquedo. Outra mulher, dona Juracy, mantém a Tribo Canindé, um caboclinho centenário. Contaque “segurar o caboclo em si é fácil. Díficl é a parte profana”.

O profano quer dizer o carnaval. Porque muita coisa do folclore que a gente vê nos dias de Momo, desfilando nas ruas e em cima de palco, tem origem mesmo na religião, na igreja e nos terreiros. E a Bomba do Hemetério, comunidade da zona norte do Recife, é feita dos dois.

“Muita gente saiu da zona rural do estado procurando uma várzea na capital e achou a Bomba. Esse êxodo trouxe o maracatu, o coco de engenho e outras manifestações. E nessa fusão, nesse diálogo com o urbano, essa gente, simples, ficou com a mente aberta, sem preconceitos”, pensa o professor de música e pesquisador da cultura popular, Givanildo Amâncio, conhecido como Gil. Filho de seu Amâncio, coquista famoso da Bomba, e irmão do Maestro Forró, da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, Gil sentiu, um dia, vergonha de ser da Bomba.

“Hoje é privilégio. O menino batuca desde cedo no tambor de brinquedo porque a alma dele é brincante. Existe uma espécie de espírito folclórico pairando sempre sobre as comunidades de risco social. Como um instinto de preservação e sobrevivência. Falta o Estado fazer a parte dele, de dar condições desse saber ser retransmitido às crianças”, diz Gil.

A Bomba tem ainda o Boi de Nelson ou Boi Teimoso, a Gigantes do Samba, a troça Abanadores do Arruda e o Maracatu Nação Estrela Brilhante. Agora diga: em que canto do mundo cabe tanta coisa junta?

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in Vermelho 31 DE JANEIRO DE 2008 - 12h36

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imagem - Maracutu 2003

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